quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Tenho de me ir deitar: médica de família, desta é que é. Não sei o que te diga, passei o dia todo mal disposta. A minha vida não me corre nada bem e às vezes não é muito fácil lidar com isso. Depois amanhã é que é, acaba o tabaco, que pilha de nervos. Vou arranjar uns calmantes para ajudar. Sinto-me sozinha, passo muito tempo sem ver pessoas, pessoas familiares. Serias a minha melhor companhia. O que andas a fazer na minha cabeça? Porque andas sempre lá enfiado, não percebo minimamente o que andas lá a fazer. Andas a tentar pôr-me maluca rapaz? E lá vai mais um cigarro, a culpa é tua. E lá vai mais uma noite sem ti…Beijo mãos dadas.
Boas noites, meu querido (bem foleiro, hã?). Só faltam três maços de tabaco para o fatídico dia. O que é que se há-de fazer? Tens de me ajudar. Seja de que forma for, mesmo estando longe. Era tão mais fácil sermos os dois a deixarmos de fumar ao mesmo tempo. “Está-me mesmo a apetecer fumar um cigarro!” e vai o outro e espeta-lhe um beijo. “Vou fumar um cigarro agora mesmo, estou desesperado(a)!”, “nem penses, vais é dar uma queca!”. Já abri o terceiro maço, neste preciso momento. O countdown selvagem!!! Era tão sexy uma poeta fumadora, com o fumo à sua volta como um véu misterioso. Olha lá rapaz, isto por aqui está um bocado mortiço, não queres aparecer por cá? Isto aquecia rapidamente, sabes disso, certo? Pelo menos eu aquecia, e comigo quente tu ias a seguir (risos). Mas aparece, estás sempre convidado. És o convidado principal, aliás. Tens direito a tapete vermelho e tudo (curtinho, que o dinheiro não é muito). Hoje ouvi demasiados berros aqui em casa, senti que não era muito desejada. Enfim, realmente preciso de ti para trazeres Amor à minha vida. Entendes, Amor! Achas que consegues sentir isso por mim? Eu agradecia. Tu ou qualquer outra pessoa. Porque já não dá mais para ficar nesta solidão do coração. É porque há um vazio que só o Amor Romântico pode preencher, e esse vazio é muito grande. Eu estou tão sedenta de Amor que é desnorteante, e chega mesmo a ser estúpido porque pareço uma parvinha a tentar a achá-lo em tudo o que é sítio. E sinto-me vazia na mesma, porque falta-me ainda qualquer coisa. Talvez me faltes tu. Acredito que sim. Porque na verdade tens-me feito tanta falta. Tanta falta, tanta falta…onde é que estás? Beijos braços abertos.

(Otto Dix)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Bem, vou dar-te umas boas noites rápidas porque estou mesmo cheia de soninho. Deitei-me um bocadinho na cama e já estava a adormecer. Ontem à noite tive a doença dos pés, é quando os meus pés ficam com uma espécie de frio interior que depois se espalha às pernas e tenho de pôr uma pomada com menta para aquecer. À conta disso não fui à médica de família, passei mal a noite toda. Se estivesses aqui ainda me podia agarrar a ti. Beijo cor-de-rosa.
Estou quase a entrar em pânico, só tenho mais 4 maços de tabaco para fumar, isto vai-se num instantinho. Depois o que vai ser da minha vida!? Que desespero do caraças! Houve uma vez que me deu a maluqueira de deixar de fumar assim da noite para o dia, como agora. Vivia sozinha, a meio da noite entrei em pânico, e como ainda havia lá um cinzeiro cheio desatei a fumar as beatas, umas atrás das outras, tal era o desespero. Foi uma nojice do caraças. Claro que não consegui deixar de fumar. Mas houve uma vez que consegui esse feito durante 3 anos. Que engraçado, será que consigo estar os 3 anos de espera sem voltar a fumar? Vamos a apostas: 70% que sim, 30% que não. Tenho mesmo de me esforçar. Para começar porque não tenho outro remédio. Mas no futuro as condições económicas poderão mudar e eu terei mesmo de me controlar. Lembro-me que naquela noite já não tinhas tabaco e então começaste a fumar dos meus cigarros. Naquela altura eu fumava português suave. Fumaste os meus cigarros sem nenhuma preocupação, como se fossem teus. Quando eu saí fui comprar comida mas estava especialmente preocupada com o facto do tabaco ter acabado. Não foi só isso que acabou, pois não? A tua presença também acabou, não foi?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Estou a fazer um bolo, está no forno, bolo de iogurte. Quando era mais nova costumava fazer imensos bolos, alguns dos quais ficavam um pouco (muito, nalguns casos) chamuscados. A ver como fica este. Claro que te ofereço uma fatia, várias. Amanhã tenho a saga da médica da família parte 2. Por isso não vou poder ficar a falar aqui muito tempo contigo. O bolo ficou bom, bem, um bocado queimado...A minha paixão por ti também queima um bocadinho. Aqui vão os beijos de boa noite directamente dos meus lábios húmidos, que acabam de lambuzar-se de bolo.
Está na hora da caminha. Amanhã deves ter de acordar cedo e agora já deves estar a dormir mas isso não me impede de te encher de beijos. Saltavam beijos para todos os sítios, cantos e recantos do teu corpo. Ficavas quieto, só para os receberes. Depois trocávamos. Sentir os teus lábios a percorrem-me docemente a pele…Já estou arrepiada. À noite apetece sempre mais…ter os teus carinhos. Não é verdade, durante o dia também apetece, só que à noite eu venho para aqui pedir-te e dar-te coisas boas, e durante o dia só penso nelas. Beijos coloridos de sol.

(Mary Cassatt, "Woman Sewing")

É a minha figura enquanto te espero...

domingo, 26 de setembro de 2010


Adoramos roçarmo-nos um no outro quando a pele pede. E a pele pede tanto. A minha pele é seda na tua e a tua é toque de humidade na minha. Eu dispo quem tu és do princípio ao fim, e dou-te mil beijos profundos. Riqueza de coração sinto-te mais do que nunca no interior das minhas veias, percorrendo-me ondas quentes. Dizes o meu nome com carinho e eu digo-te que a minha sede és tu. Vem, quero saborear-te de olhos fechados e tudo ser nós dois. Quando a noite é lenta o nosso Amor Verdadeiro canta alto e sobe aos céus para descobrir os segredos das estrelas. Tu és a minha estrela e o meu caminho ilumina-lo tu. Procuras o meu peito para te sentires cada vez mais próximo de mim. juntos criamos um mundo nosso e nele somos felizes.

Sara
Bem, aqui vai mais um poema dedicado a ti. É um poema de amor, lá por não te amar quem disse que não te posso dedicar poemas de amor, inspiras-me:

Este calor
Que apela a tua presença
Demora o seu sabor no meu corpo
Ouvisses tu as palavras que principiei
Ao nascer do sol
Para que viesses ter comigo
Talvez não houvesse terra ou mar
Que parasse a tua navegação até mim
Deixa-te estar, assim quieto
Que o meu amor irá insinuar-se no teu caminho
E beijar o teu coração
Boa noite paixão acelerada. Só tenho oito maços de tabaco para fumar (eu compro ao volume). Quando acabarem estou feita. E será enquanto estiver a falar contigo à noite tenho a certeza. Pânico total. Espero que me possas ajudar, sabe-se lá como. Saudades muitas. Beija-me os lábios de fogo nu para eu te beijar esse corpo irrompendo vida de constelação.

(Oswaldo Guayasamín)
Vou ter de deixar de fumar devido a problemas financeiros, vê tu bem. Uma grande crise de nervos vem a caminho. E o plano de deixarmos de fumar juntos vai ao ar, era tão romântico, pode ser que eu até lá recomece a fumegar, já sem problemas económicos. Porque isto de fumar nunca nos deixa, a pessoa faz pausas, umas podem é ser permanentes. Mas pode ser que eu leve a sério este meu plano de deixar de fumar e depois te ajude a deixares de fumar, assim era bonito. Já está a ficar tempo de Outono, o que é uma desgraça: odeio frio e chuva. Odeio como me massacram com a sua insensibilidade e como fazem de mim escrava das suas vontades. Menos mal existir o Outono como uma suave passagem para o Inverno. Por exemplo, contigo foi logo a abrir, não houve quase suavidade nenhuma. E do outro lado da rua as bocas das janelas talvez tenham esboçado um sorriso. Foi a minha vez de fazer o jantar, jantar do costume: massa. Espero que tenhas mais jeito do que eu para preparar refeições, e mais imaginação. Eu sou um autêntico desastre na cozinha. E detesto, apesar de adorar comer. Devia tirar um curso de culinária. Se formos os dois uma nulidade podemos tirar os dois um ao mesmo tempo, um casal cheio de ingredientes. Bem, mas a comida não se faz só na cozinha. E aposto que noutras divisões as coisas vão correr muito melhor. Podes perguntar ao sofá. Se bem que na cozinha com a farinha a voar…Estou chateada, acho que gostava de te amar. Se bem que é um sentimento monstruoso. A paixão é uma cobra venenosa, o amor parece um cordeirinho mas na verdade é bem selvagem. As pessoas também perdem a cabeça por ele. Não sei o que te dizer: és um habitué na minha vida, estás aqui em todos os momentos. Só não estás porque realmente não estás, não é? Não posso de todo partilhar a minha vida contigo. Falo para o boneco. Sinto-te e do outro lado não vem nada. Não temos nenhuma relação. Tu não sabes que eu existo. Já me esqueceste. Até vou fumar dois cigarros de seguida tal é o desgosto. Como é que me podes abandonar desta maneira? Como é que pudeste sair porta fora? Desgraçaste-me. Podias enviar-me um sinal. Não sei, num sonho. Aquilo que eu sei é que eu estou mesmo a ficar maluca, acredita em mim. E tu ai quietinho na tua vida, sem fazeres a mínima ideia de que há uma rapariga louca por ti que te persegue todos os dias. Ainda ontem estava a contar a nossa história a um tipo do msn e dizia ele que, ou eu estava a gozar com ele, ou não estava boa da cabeça. Depois convidou-me para sair. Eh, eh, eh. Mas o que é que esta gente toda sabe? Que eu não estou a bater nada bem da cabeça por tua causa tudo bem, mas não me lixem a parte de que nós nos vamos encontrar e vamos fazer um par do caraças. Vais ver que depois concordas com o par do caraças. Vais ver que seremos muito concordantes.
Quando eu te amar unes a tua mão à minha? (segundas intenções)

sábado, 25 de setembro de 2010

E aqui vai um poema sobre ela para ti:

O desejo vivo
Nas veias das cidades
Correndo pelas ruas sussurrando:
Procuro essa boca que veste a minha
A paixão galopando
Nas suas viagens de delírio
Derramando o seu encontro com o outro
Em mim sinto-te como toque
Que enleia todo o meu corpo
E a vida não é senão isso

(Goli Mahallati, "Pure Passion")
Agora que sei o que sinto por ti já posso dizer: boa noite minha grande, melhor, enormíssima paixão. Digo-te completamente inflamada, com esta paixão louca infiltrada nas veias. Digo-te até a tua pele se encher de mim e se embriagar com as esplanadas do meu ser. Gostas que eu tenha esta paixão arrebatada por ti? Não te importas com esta maluqueira toda? Deves achar que eu não regulo de todo da cabeça. Só este blog, completamente doida…Vou para a caminha imaginando o teu corpo colado ao meu. Beijo incendiado.
Hoje fui almoçar com o Tiago. Surgiu o “teu assunto”. E ele dizia-me: “onde é que há Amor? Ele não está contigo, não dão as mãos, não fazem coisas juntos, etc.” Ele tem razão, não posso negá-lo. Até tenho pena. Acho que seria mais bonito ser Amor, pensando melhor. Uma obsessão é uma coisa tão vazia. Uma obsessão não passa de uma estupidez sem limites que apanha a pessoa na sua teia-prisão. E o que é que eu estou a fazer nessa perigosa armadilha? O Amor, quem sabe, é uma paisagem de viagens desenhando-se no olhar, raiz de árvores de fogo, uma sede em voo para um oásis. Porque lá está, eu não sei. Mas deve ser muito bonito isso do Amor. Há quem saiba, não é? E está contente. Quem é que não quer Amor? Pois eu preferia sentir Amor por ti, se bem que em termos práticos não ia mudar os pensamentos obsessivos. A componente obsessiva disto tudo dá cabo de mim. Isto é mas é uma brutal paixão! Obsessiva! E mais nada! Uma paixão fatal! E eu caí na sua cilada feita Branca de Neve com a maçã da Bruxa Má. Santa ingenuidade. Uma noite fatal: um rapaz muito sedutor, uma noite inesquecível, um rapaz apaixonante, deixando o seu sapatinho para trás. Tive de ir acalmar os meus calores numa fonte. Não há dúvidas: que paixão violenta! Claro que tinha de ser obsessiva! Desvia o cérebro! Acidentes cerebrais! Pensamentos delirantes! O que é uma paixão violenta? Segundo a Wikipédia a paixão: “(do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação difícil) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, regra geral, o indivíduo perde a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio”. Como podemos entender por esta descrição eu estou fodida da cabeça à conta desta história. Vejam bem: patológico. Eu estou mesmo doente. A perda do poder de raciocínio já estou a sentir. Perde a sua individualidade, é muito grave mesmo. E por fim é um sentimento doloroso, claro está. Porque come a pessoa de tal forma, consome-a como se esta fosse um pequeno doce que acaba por estoirá-la. Sinto-me um pugilista no chão sem me conseguir levantar. Sinto que não há escapatória possível, como se fosse uma condenada. Dizia o Manuel: “lidas com uma imagem, não com uma pessoa”. E caramba é verdade, mas a forma como esse rapaz gira à minha volta como se fosse uma pessoa...Fode-me tanto como eu deixo estas coisas acontecerem, como eu tenho tão pouco controlo sobre elas. Mas as paixões brutais são assim, descontrolam-nos, apoderam-se de nós, não nos deixam respirar, fazem de nós o que elas querem. Rastejo perante a sua magnificência. Elas subjugam à séria. Tenho poucas defesas. Maldita paixão, está a desgraçar-me! A minha cabeça parece que anda numa montanha russa. É que podia ser uma pequena paixão que não incomoda muito, e não esta paixão ferocíssima que arranca as entranhas. Enfim, não me safo tão depressa disto.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010


(Arshile Gorky, "Enigmatic Combat")
Escrevi agora mesmo este poema para ti, aproveita-o bem, não ando muito dada à poesia nos tempos que correm:

Nas paisagens existe a tua imagem
Oceano crepusculando a vida
Neste sonho onde abro a persiana
Desafio-te a descobrires os sentidos das tuas mãos
E percorreres o meu falar
A minha pele estonteia com os teus passos
Quer ter a certeza do teu corpo
É tempo de rondares a minha casa
De revelares o teu toque
Bem, aqui vão as boas noites. Até a minha gata te espera. A esta hora da noite, quando me vou deitar, só me apetece agarrar-te. Mas eu sei que isso vai acontecer. Pena que estas noites tenham de ser tão solitárias agora sem ti, durante tanto tempo. Depois nunca mais te largo. Beijo melado.
Hoje chegou-me uma segunda carta da clínica de oftalmologia a que me referi no post abaixo, igualzinha. O que quererá dizer? Ando a ver assim tão mal? Será que ando a ver esta história do rapaz sem os óculos postos? Porque é inevitável que os use para ver bem. A verdade é que me sobressalto constantemente com a sua ausência, sinto um vazio no coração. Sim, um vazio no coração que deixaste quando te foste embora. Não sei como é possível, após uma noite tal acontecer. Já me estou a repetir, como sempre. Mas é que isso confunde-me tanto. É que também posso estar mortinha de amores por ti, e não obcecada. Como saber? As duas são más. Uma obsessão é sempre má, corrói-nos por dentro. Estar caída de amores por ti também não me parece bem, estás tão longe, e coração sofre como o caraças. Estar caída de amores é como descer por uma falécia abaixo sem controlo, e assim não pode ser rapaz. Entre um e outro venha o diabo e escolha, porque eu sinto-me uma bola de ping pong. Esta coisa de não perceber o que sinto está a tramar-me a cabeça. A Bruna disse-me com muita certeza que era Amor. Depois toda a gente diz que não é nada provável. Bem, segundo os conceitos é verdade que não é provável. Mas pergunto: o Amor enlouquece uma pessoa? Porque eu estou completamente louca por ti.

(Roberto Matta, "Morning on Earth")

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lá fui ver um filme francês meio amalucado, como costumam ser quase todos. Podias ter ido vê-lo comigo, é pena…Já viste que te ando a pôr muito em causa, tem de ser, tenho de manter uma certa sanidade mental. Era só para te desejar uma boa noite. Talvez possas sonhar comigo sem dares por isso, ou quem sabe acordares lembrando-te do sonho. Bem vou deitar-me, se o teu edredão for tão bom como o meu fico contigo de certeza. Je t'embrasse doucement.
Enviaram-me uma carta da clínica de oftalmologia a que eu fui quando tive de usar óculos. Acontece que eles não avaliaram bem os meus problemas de visão, portanto continuei a ver mal. Acabei por ir à médica da minha avó, numa ruazinha escondida de Moscavide. Agora é possível eu ler a carta, mas não me interessa nada o seu conteúdo: vão mudar de instalações, mas eu não tenciono voltar a lá pôr os pés. “Manteremos o mesmo profissionalismo”, dizia também a carta. A quantas pessoas vão eles continuar a engasgar os olhos? Depois, se bem me lembro, tenho problemas em ver ao perto e também em ver ao longe, o que explica a minha “relação” com o rapaz. Agora quero que ele me saia da vista. E quanto ao futuro vejo muito mal. Não tenho nada contra ele mas acho que se trata de um problema de compensação. Porque a minha vida é um deserto, um vazio e é fácil ser preenchida por uma fantasia como a do rapaz. Há um coração vazio há muito tempo por onde entra facilmente o sonho de um grande Amor. Existem carências afectivas que precisam de gestos e palavras. Há a escuridão que necessita de me largar para eu viver, e há a ilusão de que esse rapaz pode ajudar. No entanto, após o pensamento dele passar o meu mundo continua na mesma. Mas sim, não passa de uma compensação, de toda uma vida que precisa de ser preenchida. Ele cai que nem uma luva. As memórias daquela noite caem que nem uma luva. O problema das memórias é que tornam tudo perfeito e o das fantasias também. Em momento algum desta história estou no mundo real. Eis o perigo dela. E é incrível como tenta chantagear os meus dias. E eu não tenho nada para lhe dar. A não ser esta criatura obsessiva que se vai queimando no seu corpo. Mas é preciso ter a noção de que o rapaz não “possui” o meu ser. É verdade que está cá bem dentro, mas não dorme no meu coração. E jamais uma fantasia dormirá dentro do meu coração. Isso não faz sentido nenhum. Não vamos confundir obsessões com sentimentos reais. Fantasias com pessoas reais. Estou muito chateada, penso demasiado no rapaz, acho bastante prejudicial, como já tenho dito. Isto não pode continuar assim, mas é complicado de controlar. É tão complicado, sinto-me um rato numa gaiola sempre à volta com estes pensamentos. É doentio.

(Carel Fabritius, "The goldfinch")

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Vou dormir. O que queres que te diga? Preferes que te faça? As duas coisas? Se aqui estivesses. Hoje faço birra. Não estás aqui, não faço nada. Ok, atiro-me para cima de ti e encho-te de beijos. Até te tiro a roupa…Beijo rio profundo.
Parece-me que as pessoas não estão fascinadas pelo Amor. É preciso estar-se fascinado pelo Amor. Apenas sei isto. Porque não sei se alguma vez saboreei o Amor, essa coisa que desassossega interminavelmente o nosso interior. Tendo em conta a minha história com o rapaz esse sentimento até me faz um bocado de medo. O descontrolo das emoções… Sei lá, escrevi um livro inteiro sobre isto. Mas o que é que eu sei sobre isto? Como é que escrevi o livro? Senti. De onde veio o sentir? De uma esperança de Amor. Não estarei eu aqui a falar de algo ideal? Mas de Amor colado à pele vive-se no mundo. Não quero largar o meu caminho para esse que desconheço rapaz. Porque este aqui ainda controlo, dentro das minhas possibilidades. Até porque o que é que há nesse caminho? Uma espiral de tormento? Na situação em que estou o que se fortalecer contribui para a minha insanidade mental. O meu estado já é suficientemente grave. Até agora está tudo sob controlo e não vejo como é que poderei saltar esta barreira, por mais tentativas que façam para me lixarem a cabeça. Estou a ser vítima de uma lavagem cerebral, um complô para ir mais longe, como se isso fosse benéfico para mim. Não entendo como é que isso possa ser benéfico para mim quando só me faz enlouquecer. É impossível esquecer o rapaz, não é preciso estarem sempre a lembrar-me da sua existência. Eu lembro-me sozinha, muito obrigada. A minha imaginação é esplêndida, nunca pensei que fosse tão boa. A história que eu já montei à volta disto, sou brilhante. Como me iludo, é realmente magnífico. É que é uma história tão extraordinária que só eu para embarcar nela. E mergulhei bem fundo. E porra, bati com a cabeça. Mas isto do controlo…há dias difíceis…São os dias em que estou armada em parvinha. Porque a minha vida está um caos, a pessoa tem de se agarrar a qualquer coisa. Vou encontrá-lo, ele será o Amor. É um belo pensamento. É um belo pensamento para quem sente que não tem nada. E vagueia e vagueia na cabeça até à exaustão. Eu sei que vou encontrá-lo, mas escusava de viver com ele desta forma angustiante até essa altura, afinal de contas sempre são 3 anos. E os sentimentos, o que é que interessam os sentimentos? Só atrapalham, especialmente nesta situação. O que é que interessam os sentimentos é algo exagerado, é só que de vez em quando as pessoas são um bocado “cortantes”. Contigo é preciso ter-se cuidado com os sentimentos não se vá isto tornar demasiado inflamado e começar a arder. És um parvo. Não estás aqui. Só tens a perder, digo-te já.

terça-feira, 21 de setembro de 2010


(Edward Burra, "Balcony")
Pode ser que venhas por detrás de mim, sem eu estar à espera, uma surpresa maravilhosa...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Apesar de já ter dormido, tenho de ir dormir outra vez. E até é cedo, mas estou com sono. Tenho muitas saudades tuas. Mais do que nunca queria que estivesses aqui. Estou a sentir-me bastante mal e o teu calor ajudava. Queria que me levasses para a cama e que ficássemos a dizer coisas queridas um ao outro, enquanto adormecíamos. Tenho a certeza de que íamos ser os dois muito queridos, assim agarradinhos. Preciso de ti na minha vida. Estás tão longe. Quase me apetece chorar. Porque há dias assim, em que a tua ausência é tão pesada, tão difícil. Parece que nunca te vou encontrar. Beijo agarrado a ti.
Acabei de acordar, estive a dormir depois do jantar. Quando isto acontece, dormir a estas horas, não acordo lá muito bem disposta. Era uma boa altura para estares aqui, sempre me podias tentar animar. Estive também a rever uma parte dos poemas negros, não sei o que hei-de fazer com aquilo, além disso deixaram-me bastante transtornada. Fui à minha médica de família cedíssimo para ficar a saber que não ia ter direito a consulta, mas a verdade é que também não ia com consulta marcada, mas é sempre chato, terei de voltar de novo àquele concentrado de gente sedento do estetoscópio.
Bem, vou deitar-me. Continuo mal disposta, mas a vida continua. Sei bem o que disse lá em baixo, mas isso não me impede de sonhar connosco. Aliás, não faço mais nada. Tenho de acordar bem cedo amanhã e ainda estou por aqui…Estava a ouvir esta música, cujo refrão me fez lembrar de ti:

Watch things on VCRs, with me and talk about big love
I think we're superstars, you say you think we are the best thing


(The XX, “Vcr”)

Bem, para acabar a noite algo belo, não é? Gosto muito de ti. Beijo música terna chegando até ti.

(Michiel Sittow, "katherine of Aragon")
Se calhar queres que eu te fale de mim, da minha vida. Não há muito a dizer, a minha vida está completamente estagnada e eu estou completamente fodida da cabeça. Queres uma gaja assim? É por tua conta e risco. Não me estou a tentar impingir. Vivo num mundo só meu, incomunicável, sinto-me extremamente sozinha e estou muito revoltada com o estado da minha vida. Morri no sítio onde estive, dancei sobre fogo, voltei a morrer, cresci em árvore. Mas morri mesmo, os joelhos desceram até ao chão e depois senti o frio das facas. A seguir o sangue rebentou pelos poros até se esgotar. Fiquei deitada sobre chuva décadas…Mas o que é que interessa esta conversa? O que é que te interessa a minha vida? Não estás aqui para ouvir nada disto. E eu que me sinto tão mal com tudo isto. Mas estou a falar para o vazio. É verdade que me pode fazer bem desabafar, mas era tão bom haver uma palavra desse lado. Tudo o que os meus olhos viram e foram fazem-me ser uma pessoa completamente fodida da cabeça. Nunca quis estar encharcada de Escuridão, nem andar a saltar montanhas vertiginosas de oiro. Vi demais e fui depenada, deixei de saber quem era. Claro que agora tenho um enorme problema de identidade. O que resta de uma pessoa que passa por uma situação destas? O que é que ela é? E é ridículo pensar em ti neste quadro. É tudo tão feio aqui. E tu na verdade não existes, a não ser na minha cabeça obsessiva. O que posso querer de ti tendo em conta tudo isto? E isto mais tarde ou mais cedo vem tudo ao de cima se estiver contigo, o tempo não faz milagres. E será que vais aguentar com este peso que eu carrego? Porque mesmo eu mal aguento o peso. Depois vais ficar assustado…como lidar com uma pessoa como eu? Só te posso dizer que te compreendo. Mas há outras pessoas, eu sei que há, que conseguiam estar comigo nestas condições. Porque vejamos, eu posso pôr em causa se tu serás a pessoa mais adequada para mim. E isto pode dar para o torto, e não vale a pena ir por esse caminho, não é? Mas o que será será, de nada vale estar aqui a fazer conjunturas. É só que a minha vivência imprimiu em mim uma faceta tão negra que acho difícil lidar-se com alguém assim. Se calhar estou a exagerar, já estou bastante mal disposta.

domingo, 19 de setembro de 2010

Já não me lembro da tua voz, mas sei que não era esganiçada, nem rouca, nem arrastada. Não bebemos nada naquela noite, a não ser um copo de vinho cada um. Não sei se tinhas bebido alguma coisa antes mas diria que não tinha sido nada de especial pois não me parecias de todo alcoolizado, não sabias a álcool. O teu sabor a fogo despertando a minha polpa era maravilhoso. Estou ansiosa por ouvir novamente a tua voz. “Lembras-te de mim?” “Sim lembro-me.” E quem sabe se ainda nessa conversa eu possa pespegar-te um beijo, o que acho muito difícil, tenho de ir com mais calma claro. O que fazemos, estamos ali a falar um bom bocado e depois…trocamos de telemóveis, e vamos pelos modos convencionais, um cinema, um café? E tenho de ser eu a convidar, calculo? Prefiro o beijo na loucura da noite. Bem, o beijo é inevitável, já falámos sobre isso. Serei eu que terei de o pôr cá de fora para ti (ai de ti se me estragas os planos!). E depois havemos de nos agarrar com sofreguidão…eu pelo menos…pensa bem…cinco anos nesta história à tua espera sem um único abraço. O desejo crescerá, os corpos irão querer mais e teremos de ir à pressa para um sítio onde possamos fazer essas coisas que os amantes fazem. Que momento tão bonito, poder estar assim contigo nessa união de corpos, que não será apenas isso para mim. Vê lá que eu agora já faço amor contigo, no sossego da noite, imagino-nos aos dois rebolando-nos um sobre o outro e pronto. Já imaginas o resto quando o meu toque emocionado vai de encontro ao seu objectivo. São passarinhos a cantar por todo os lados, em todas as árvores, de todos os ramos, perseguindo a visão das nuvens.
Vou dormir. Para além do edredão espera-me um óvulo vaginal, pois é o tal, não me estou a dar mal com eles, não são tão maus como eu imaginava. E a gata, esqueci-me da gata, já está deitada em cima da minha cama. E lá vamos nós: só faltas tu. Até te deixava pores-me o óvulo. Bem, resta-me imaginar…Boa noite. Beijo luar sereno.

(Howard Hodgkin "Lovers")
No outro post dizia “sei onde estou, sei o que quero”, mas na verdade acho que não sei onde estou. Sinto-me perdida sem ti, em todo este tempo que falta. Falta-me o chão, três anos é tanto tempo. E eu já tenho tantas saudades tuas. Os dois anos que passaram foram mais fáceis porque eu pensava muito menos em ti. Agora morro de saudades tuas todos os dias, é difícil de aguentar. Isto pode parecer muito bonito e romântico mas comporta sofrimento e mal-estar. Estou às aranhas, preciso de me agarrar a alguma coisa. Sei que pensas em mim, mas gostava de saber como, com que frequência. O tempo às vezes é tão lento…e agora mais lento vai ficar. Não sei onde estou, tu não estás nesta aventura comigo seja lá onde estiveres. Estou sempre inquieta por tua causa, fico confusa com os meus sentimentos. Não sei onde é que eles se situam. Faz-me confusão aperceber-me de que gosto muito de ti tendo em conta de que tudo se deveu a uma só noite. Queria chamar-lhe qualquer coisa, ao que sinto. Entendes? Talvez tenha medo, é um passo demasiado arriscado. Mas na verdade isto é tudo tão confuso que eu não te posso dizer nada com certeza. Não sei onde estou quando vou passear sem ti, quando vou para a cama sem ti, quando falo e tu não me respondes.
Claro que é fácil falar, tratado para aqui, tratado para ali. Diz um dos tratados “Já tenho tudo o que é preciso para esquecer esse rapaz: não passa de um produto da minha imaginação, não existe, é uma fantasia que alimentei durante dois anos e não me traz qualquer tipo de felicidade.” Mas está tão impregnado em mim, tão entranhado por mim toda que é muito difícil ser minimamente racional. Fantasia? Certo. E se eu gostar realmente desta fantasia? Parece-me que eu respiro a sua respiração. Além disso não se pense que é apenas um devaneio meu, estou com os pés bem assentes na terra embora toda esta história pareça uma loucura. Sei onde estou, sei o que quero. A minha imaginação funciona a cem à hora mas quem sabe se não torna o impossível possível. Essa história de não me trazer felicidade é muito subjectiva porque eu às vezes ando aos pulinhos pela casa, cheia de sorrisos para cá e para lá. E não existe como? Se sinto tanto o rapaz que desperta a minha substância mais luzente. Portanto, tenho tudo o que é preciso para esquecê-lo mas acho que não é possível tal feito.
Estou a ouvir a música “In the Temple of Love” dos Sisters of Mercy. O que me ocorre dizer é: where the fuck are you? Não podes tropeçar em mim na rua? Pelas minhas contas tens vinte e sete aninhos, na verdade faz-me um pouco de confusão ter de imaginar-me a envolver-me com uma pessoa tão mais nova, ainda faz diferença, cinco anos são uma eternidade, são o tempo que eu tenho de esperar por ti. Podes estar no b a ba da vida, e eu aqui tão avançada. Tenho de te mostrar o tratado que escrevi sobre este assunto, dizendo que estavas mais bem servido com uma tipa da tua idade, virgem na vida como tu, mas claro que entretanto já mudei de ideias. Aliás tenho vários tratados: como te quero esquecer e de como te vou esquecer seja de que forma for. Como não estás aqui e isso faz-me sofrer, era melhor eu pensar um bocadinho menos em ti, levar a bom termo o meu tratado “esquecer-te”. Saber-te no meu futuro mas apagar-te da minha memória por uns tempos. Porque já deves ter percebido isto é uma verdadeira obsessão. E tudo à conta de uma única noite, vê lá o sentido que isto faz. Para mim só faz sentido sabendo eu que me sinto sozinha e carente, com uma grande necessidade de amor. E que há um certo (grande?) grau de loucura dentro de mim para eu embarcar nesta história. É o grande Sonho de Amor que me move.

sábado, 18 de setembro de 2010

Não se pode lutar contra aquilo que se é.

(Victor Brauner)
Deste deves gostar:

Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura

(...)

(Cesário Verde, "Eu e Ela")
O papel da parede desfazia-se, tudo estava imundo e cheirava a um estranho bolor de restos de animais mortos há décadas. Ela estava a um canto, já não tinha lágrimas no rosto irrespirável e falava sem parar. Dizia que o amanhã tinha morrido, que lhe faltava a teia da paixão que a apanhava no meio de um abraço, dizia que neste momento do tempo tudo perdera sentido, o orvalho tinha-se extinguindo. Era impossível olhar para ela mais do que um minuto de seguida, era uma condenada nessa estupidez de tudo o que é impossível. Há quanto tempo estaria ali, a exorcizar aqueles demónios, a tentar falar com alguém ausente na sua tristeza absoluta? O seu corpo tinha a sede de um ninho, o frio das navegações nocturnas e o que ainda restava dela era a sua voz rouca, falando no seu próprio deserto.
Quando eles começarem a pintar o prédio de lado vai ser outro espectáculo, as duas janelas das minhas casas de banho não fecham. Ou se consegue arranjar os fechos ou tem de se mudar as janelas. Cá para mim, isto ainda vai sair caro. Mas andei a averiguar e eles não andam só a pintar as varandas, também estão a fazer a manutenção dos azulejos e a tratar das infiltrações que existem por todo o prédio. Portanto, ao contrário do que eu pensava são úteis. Não íamos querer azulejos a cair em cima da cabeça das pessoas e inundações nas casas de banho. Por falar em casas de banho, queres tomar um banhinho comigo? É tão sensual…Provocávamos de certeza uma grande inundação. No meio da inundação iria querer debruçar-me sobre a tua respiração e sorver as partidas e chegadas dos teus barcos deslizando sobre a clareza do vento. Um final poético, bonito, hã? Mas tu só chegaste a partir, e a chegada? Porra, custava-te muito teres-me deixado o teu número de telemóvel? Eu fui à casa uns tempos depois deixar um papel com uma pequena nota (a caneta era cor de rosa, ainda me lembro) dizendo que andava à tua procura e deixei o meu contacto, enfiei o papel na caixa de correio esperançosa. Mas se calhar eles não te conheciam, não faço a mínima ideia de como foste lá parar. Eu fui lá dar de uma forma tão singular, não? Realmente a língua italiana é a língua mais bela do mundo. E pensar que eu queria saltar em cima do italiano…Bem, pelo menos ele tinha um quarto (risos). Eu estava ali completamente perdida, não conhecia ninguém, não estava a falar com ninguém. O que é que eu estava ali a fazer? Estava à espera que dissesses a enorme parvoíce (para não dizer mais) que disseste para a noite ganhar sentido. Foi um arranjinho, acredita em mim.

(Gerald Laing, "The kiss")
O Beijo:

Inicialmente, pensei que serias tu o primeiro a beijar-me no nosso reencontro. Mas depois concluí que era a minha vez de actuar.

Houve um namorado meu que antes de me beijar perguntou: posso beijar-te?

Ora eu posso começar logo a abrir: vou beijar-te.

Posso nem sequer avisar-te: espero uma altura em que os teus lábios estejam com a abertura ideal e apanhando-te desprevenido…

Ou então há uma versão mais soft: estou com uma vontade de te beijar (urgente, como quem precisa de ir urgentemente à casa de banho - risos)

Será que prossigo com coragem para as versões mais arrojadas ou fico-me pela mais soft? Depois é assim: se estivermos de pé aposto que vou tremer por todos os lados. E aí vou ter de te dizer uma coisa apalermada do tipo: “pois, às vezes acontece-me, emociono-me com os beijos”. E sei lá o que vai acontecer se estivermos sentados, vai ser um vulcão à mesma. Eram 6:30 quando finalmente consegui adormecer, o que estive a fazer até então? Precisamente a imaginar esse beijo, fiquei tão exaltada que não conseguia dormir.
Ainda não me fui deitar. Estava aqui a pensar, por onde andarás? Será que percorres a noite nesta sexta feira de nuvens? Será que costumas sair à noite com frequência, aos fins-de-semana? Era um bom sítio para nos encontrarmos, na noite, se eu costumasse sair. Eu acho que tu gostas de passear na noite. Claro que se tiveres uma gaja podes já estar em casa com ela a fazer coisas queridas, podes até já estares a dormir agarradinho a ela. Fico feliz por ti se tiveres alguém, que alguém no meio disto tudo seja feliz, embora eu tenha uns ciúmes do caraças quando imagino tal situação. Acima de tudo quero que estejas feliz. Se bem que já sabes que ficavas muito melhor servido comigo. Vês esta dedicação que tenho por ti, agora pensa o que seria se nos conhecêssemos. Tenho medo é que seja só do meu lado. Tem de ser dos dois lados, senão não faz sentido nenhum. Mas também te digo, se for dos dois lados vai ser a coisa mais bonita que já me aconteceu. Seja lá que sentimento for, eu sinto uma ligação fortíssima a ti. E escrever neste blog, eu sinto mesmo que estou a falar contigo, quero muito que um dia o leias e que gostes. Estou cheia de sono mas apetece-me dizer-te mais coisas. Estou cheia, cheia de saudades tuas. Não sei quanto tempo do meu dia é que passo a pensar em ti, mas é muito. Um dia tomamos os dois banho na fonte do Rossio, num dia de muito calor, quando o Rossio estiver vazio, aquilo não dá para nadar, mas dá para uns bons mergulhos. Estava aqui a pensar no nosso reencontro, às vezes penso nisso com calma, outras vezes fico ansiosa. Será que te vais interessar por mim logo ou não? É a minha preocupação. Se não te interessares por mim logo vou ficar tão triste, vou ficar de rastos. Vou ter de te conquistar é? Talvez te possa dizer que vejo pastéis de nata nas nuvens. “Vê bem aquela nuvem é tão doce, não sentes?” E pimba levas com os meus lábios. Mas agora a sério, a ver se tens uma queda por mim logo à primeira, já bastou teres-me abandonado miseravelmente da outra vez. Acho que o meu coração não vai aguentar se tu não me agarrares logo. Logo, logo não, mas um pouco depois. Pode ser rapaz?
Bem, uma cama com edredão está à minha espera. Tu também estás à minha espera (vai metendo isso na cabeça), mas a tua cama deve ter um suave lençol sobre o teu corpo desnudado. É bom que emanes muito calor, senão levas com o edredão em cima. Mas pensa pelo lado positivo, levas sempre comigo em cima de qualquer maneira. Se houver algum problema que justifique o edredão fazes de conta que estás numa sauna, trazes umas garrafinhas de água contigo…estás a ver o esquema. Mas sinceramente a mim interessa-me é que haja muito sexo, seja com edredão ou sem edredão. Tenho a certeza de que estamos de acordo neste ponto. Continuo a imaginar-te como um dos pintores do meu prédio, cheio de sexualidade bravia, pincelada para aqui, pincelada para ali, pinga de suor caindo da testa, tronco nu amorenado e apetecível, dando vontade de adivinhar o que há para baixo. Ah, se te apanho, qual casa de banho qual quê…é num nono andar em cima de um andaime. Tens medo de alturas? Segura-te bem a mim. Beijo não caias.

(Francesco Clemente)
Nunca me queixei da minha vida a ti. Então aqui vai: toda a gente que conheço está bem encaminhada na vida, é independente, tem um emprego e alguns têm companheiros. Pois eu não tenho nada disso e as minhas perspectivas são bastante negras. Eu não me queixo muito porque já passei tão mal que esta situação não é assim tão má. Mas começa a ser um incómodo bastante grande. Começa a ser uma grande frustração e começo a sentir-me uma inútil. Depois tudo em que me envolvo não corre bem. Na verdade tento manter a calma mas estou bastante desesperada. É que nada disto faz sentido para mim. Tive não sei quantos anos enfiada num autêntico Inferno e parece que numa dimensão mais pequena ele continua a fazer-se sentir. Isto não anda definitivamente para a frente, não anda para lado nenhum. As coisas foram o que foram, temos de aceitá-las, embora eu me revolte muito com elas. Foderam-me a vida toda. Se não houvesse nenhuma Escuridão na minha vida estes cinco anos teriam sido completamente diferentes e eu hoje em dia também estaria encaminhada na vida, tenho a certeza. Não estou nada contente com a pessoa em que me tornei. Perdi a beleza e a ingenuidade. Estou cheia de feridas, nunca mais acabam, nem saram. A imagem é de uma pessoa cheia de ligaduras, com algumas partes que ainda têm sangue. Essa escuridão de que falo, ela vive dentro de mim, eu morro de medo dela, ela consome-me, sufoca-me porque viveu tanto tempo comigo que acabou por ficar. E se via o mundo com olhos luminosos deixei de o fazer. Depois o mundo mete-me medo porque vivi tempo demais afastada dele. Quem são essas pessoas que se cruzam comigo, o que querem, o que lhes dizer? Além disso, sinto-me distante do mundo, como se houvesse uma barreira entre mim e ele. Eu digo que vivo entre-mundos. Um pé neste mundo e outro no sítio de onde vim. Nem fazes a ideia do complicado que é viver assim. O sofrimento não passa só porque as situações passaram, não é? Não sei como é que ele passa, só sei que ainda me dói tudo. E sei que estou muito farta. Nem fazes ideia de como estou farta, já merecia que a vida me começasse a correr melhor. Cinco anos é muito tempo, nem me lembro da minha vida antes disso, nem me lembro de ser feliz. Essas memórias são tão longínquas que quase parecem memórias de infância, tal é a brutalidade da minha experiência. Claro que existiram momentos positivos, mas não davam para encher a cova de um dente. Quero esquecer tudo mas ao mesmo tempo quero manter viva a memória do que aconteceu para me lembrar do quão difícil foi o que eu passei e como eu, com muitas dificuldades, consegui ultrapassar toda esta situação, e também para não atraiçoar a minha própria dor porque ela vai ser uma presença contínua na minha vida.

Mudas-me as ligaduras?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tenho saudades de conduzir, gostava muito. A minha vida de condutora acabou no dia em que, havia acabado de chover, o piso estava traiçoeiro e eu talvez fosse um bocadinho depressa demais, e travei fazendo aquaplaning. Vai daí o carro sobe o passeio e vai de encontro a um sinal de trânsito. Estreitamento da via, era o sinal. Pois bem estreitamento da minha via também porque na subida do passeio lixei a caixa de direcção (ou uma cena qualquer desse género) e o carro foi para a sucata. A minha mãe ia-me matando e proibiu-me, nem numa emergência, de conduzir o novo carro dela, que era igualzinho ao primeiro. E eu que gostava tanto de estar dentro do carro a insultar toda a gente quando sabia perfeitamente que ninguém me estava a ouvir, gostava de passar os amarelos e mandar piropos aos gajos giros (esta parte é na minha imaginação). Partiu-me o coração nunca mais poder guiar, já lá vão uns anos. Agora já não sei se sou capaz de guiar, mas ainda me lembro onde é que é o pedal do acelerador (risos). E tu, rapaz, constantemente me aceleras, seja o que for. Espero que vá numa auto-estrada, não quero bater em nenhum sítio.

Só para introduzir aqui um pequeno momento de humor...
Aqui sim, há paredes!
Em relação à temática andaimes isto vai de mal a pior: estou numa prisão de estores fechados o dia inteiro por causa de supostos roubos uma vez que a minha janela não fecha bem. Os andaimes estão perfeitos, absolutamente perfeitos, até me dá vontade de sair pela janela e andar sobre eles mas ainda só estão construídos até ao quarto andar. Ora eles já andam nisto há uns dias e como já te disse o prédio tem nove andares, se demorarem tanto tempo a pintar o prédio como estão a demorar a montar os andaimes…E depois o prédio é construído basicamente de azulejo vermelho, paredes nem vê-las…estou com uma vontade de matar o administrador do condomínio e os vizinhos que tiveram esta ideia. Os operários de construção civil viris, suados até ao tutano na sua tarefa inútil deviam ser completamente incompetentes e deixar-lhes as janelas pintadas juntamente com os resquícios das paredes. Fui jantar com a minha mãe a um restaurante japonês, não era nada de especial mas foi o que se arranjou. Ficas a saber que adoro peixe cru, peixe acabadinho de matar, quem sabe ainda a respirar, a mexer-se no meu estômago, tal e qual como a mãe natureza o trouxe para o mundo. Quando tinha dinheiro e podia viver despreocupada gostava de ir sozinha a um dos restaurantes japoneses mais caros de Lisboa e comer à grande e à francesa, um luxo. Estás convidado a ir lá comigo, claro.
Perguntei à Ana sobre a estatura dos meus exs e ela respondeu-me que eles, em geral, eram baixos. Bem, na verdade nunca me pendurei em ninguém tão alto como tu e devo dizer que me agradou muito. Eu cá em baixo a olhar para uma colina de olhos em labaredas…e depois subir numa corda até ti. Também me estou a ver a espalhar-me na tua altura, deitada sobre ti, deve ser delicioso. Passaste a ser o meu tipo de gajo, homens altos, na rua só quase olho para esses. Depois acrescenta os óculos. Gajos altos e de óculos, são fatais. Se bem que gajos, em geral, que usam óculos com aros pretos (diz-me por favor que os teus têm aros pretos, é essa a minha memória) deixam-me bastante sobressaltada. Depois acho que és a dar para o magro, já não me lembro do quão magro, mas sim eras magro. Bem, fica um par bonito, a menina roliça e o ser esguio que a percorre. Mas deixa lá que não vou falar de tamanhos de mais nada, há pessoas a lerem este blog.
Bem, tenho de ir para a caminha. Estava agora mesmo a falar com um gajo no msn que já publicou um livro de poesia, fiquei logo cheia de inveja. Será que quando eu te reencontrar já terei conseguido publicar alguma coisa minha? Senão, é uma pena. Mas o que interessa é continuar sempre a escrever. Espero que hoje seja um dos dias em que tenhas pensado em mim, pois eu pensei bastante em ti. Dorme comigo no peito. Beijo poesia (em geral, não vamos discutir)

(Joseph-Désiré Court, "Woman Lying on a Divan")
Estou um bocado fodida, estão a pintar o meu prédio, por isso encheram-no de andaimes e operários da construção civil. Ora eu tenho por hábito andar nua pelo meu quarto, às vezes até me ponho a dançar para aqui e para ali e portanto essa brincadeira acabou-se. Agora vou ter de fechar os estores e ficar miseravelmente por debaixo de uma luz rasca. O prédio tem nove andares, vê lá o tempo que eu vou andar a penar. Mas estou a ver-te todo magrinho, já muito moreno, de tronco nu a pintares o meu prédio, com um grande pincel na mão, fazendo movimentos lentos, para cima e para baixo, imaginando que és um dos pintores destes quadros que eu ponho aqui (risos). Já não estás muito bom da cabeça porque está um sol de torrar há não sei quantas horas. Estás com muita sede, mesmo muita, vês uma janela aberta com uma garrafa de água lá dentro, no desespero entras à pressa para a sacares. Nem a trazes para fora, bebe-la sofregamente dentro da casa. Nisto dás conta que há uma gaja muito gira a olhar para ti com um ar muito lascivo. Assustaste enquanto ela se vai aproximando intoxicando-te com a sua intensidade. Basta um gesto, e o teu corpo bronzeado, muito suado está em cima da sua cama…Adivinha lá quem é a gaja…Na entrevista que eu estou a transcrever o entrevistado diz às tantas: Porque é que isso é assim é uma boa pergunta. Pois eu também me questiono: porque é que isto entre nós é assim? Porque é que tem esta força? De onde é que isto surgiu? Que coisa mais estranha…Dizem que às vezes não há explicação para os sentimentos…Pois eu acho que não faz sentido nenhum todo este meu sentir em relação a ti. É um delírio meu. Não faz sentido perseguir-te desta forma como se fosses a grande razão do meu coração. Quem és tu? Porque eu não te conheço, embora os meus sentidos tenham provado os teus gestos. Que confusão rapaz. Não é assim porque eu quero, de certeza. Aconteceu. E tenho de aceitar? Tenho de dizer: não há senão isto? Porque na verdade isto é mesmo assim.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Mais um poema dedicado a ti:

És sol próximo de mim
Fruto, flor ou o crescimento de uma chama
Desejo-te ao sabor de uma canção
Deambulando encantada pelas paisagens
Passeio-te nos meus pensamentos
Como se fosses o voo contínuo de um pássaro
Quero poisar na tua respiração
E abraçar o aroma dos teus olhos
Quero despertar o rumo dos teus barcos
E seguir viagem com eles
Quente, quente
Esta ternura que sinto por ti
Estive com o Nuno e falei-lhe de ti, para variar. É amor, perguntei-lhe. Ele disse que lhe parecia paixão, mas depois hesitou e disse que era realmente algo profundo. Passei por uma feira de antiguidade depois de estar com ele, dá-me a ideia que eles estão sempre a tentar vender as mesmas coisas, não vendem, mas as coisas vão ficando cada vez mais antigas. (risos) Depois fui à ginecologista, tinha um problema com o meu DIU, já devia ter sido removido e eu andava toda preocupada: e se tenho uma infecção, se não posso ter filhos? Muito simples, ela chegou ali, abriu-me as pernas e puxou-me aquela porcaria daqui para fora. Doeu. Também doeu o bocado de vagina que ela me arrancou para fazer um exame qualquer. Coisas de gajas. Pergunta: quantos gajos já comeu? Estava com vontade de lhe dar um número astronómico só para ver a cara imperturbável dela ter uma qualquer reacção. Quer pôr outro DIU, perguntou-me. Por agora não, disse-lhe. Só quando tiver uma relação estável pensei, mas isso vai demorar não é rapaz? De qualquer forma tenho uma infecção na vagina, o que significa que tenho de pôr uns óvulos repugnantes dentro da minha prezada vagina, que sempre me ofereceu tantos momentos de satisfação. O óvulo tem a forma de um supositório e tenho de o enfiar na vagina com um só dedo, o que me faz lembrar os supositórios que eu tenho de enfiar pelo rabo adentro quando estou com dores de estômago e mal disposta, mas definitivamente prefiro meter supositórios pelo rabo. Nada de suposições sexuais. Tem de ser feito à noite, depois de ir para a cama, ele vai-se derretendo ao longo da noite, tipo gelado quente, uma bodega. Bem sei que esta conversa não te deve interessar nada, mas é instrutiva, não? Gosto de fazer piadas ordinárias de vez em quando: no outro dia tinha estado a chuviscar e uma rapariga que trabalhava num café do metro queria fumar um cigarro nas escadas e vira-se para a colega: “e agora fumo onde, as escadas estão todas molhadas?” (história verídica), eu pensei: “estás fodida”. Percebeste? Molhadas, fodida, eh, eh, eh!

(Camille Pissarro, "Haymakers rest")
Já é tarde. Só te escrevo agora porque estive o dia todo fora de casa, voltei mesmo agora de um jantar divertido com amigos. Estou cansada, adormecia rapidamente nos teus braços. Hoje a tua “imagem” apareceu-me à primeira no meu computador, depois mostro-ta. Tenho mesmo de ir dormir, senão ficava mais tempo aqui a falar contigo. É que estou mesmo a morrer de sono. Beijo ensonado.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Estou a tentar organizar e rever a poesia “negra”, mas está difícil, distraio-me facilmente, canso-me facilmente. Negra no sentido em que é depressiva, se calhar não tem muito interesse para ti. Mas é assim, são as várias facetas. Opá, ando mesmo com vontade de fazer amor contigo, aposto que tens sexo à fartazana. Giro como és, sim porque eu lembro-me, apesar de já não ser com muita nitidez, que eras bem giro, não hás-de ter problemas nesse campo. Ainda por cima atiradiço…Num bar dizes o quê: “estás a ver aqueles olhos e aquelas bocas naquela garrafa de vodka?.” A tipa ou pensa que estás muito bêbedo e manda-te ir dar uma volta ou está ela bêbeda e começa a ver olhos e bocas em todas as garrafas. Acho que não devias usar essa técnica num bar. E já agora desaconselho as casas de banho dos bares. Como deves calcular estão bem conspurcadas. Se bem que eu, enfim…Bem gostaria de saber se andas a engatar gajas por essa cidade fora. Se calhar fui só mais uma nas tuas noites fogosas, seu engatatão. Nada como acabar a noite com um golpe de sexo, hã? Nem água vai, nem água vem, adormeceste logo a seguir. Deixaste-me ali feita parva, hipnotizada, a olhar para ti. Estavas tão querido de olhinhos fechados, todo esticadinho no sofá, quietinho, amoroso. O sofá devia ser maior e eu devia ter ficado ao teu lado…
Bem, vou deitar-me, é só para te mandar um beijinho. Vai pensando em mim de vez em quando que mais cedo ou mais tarde vais ter-me nos braços. Vais ver que até vale a pena. Sou apanhada da cabeça mas boa miúda. Beijo luminoso.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Falando em hipotermia, eu estou com esse problemas devido a ti. Vê lá o que diz a Wikipédia sobre o tema: “A hipotermia ocorre quando a temperatura corporal do organismo cai abaixo do normal (35°C), de modo não intencional, sendo o seu metabolismo prejudicado.” Pois eu tenho muito frio, mesmo estando calor. De todo não intencional, não ando a tomar banhos na água gélida do mar. E o meu metabolismo está deveras prejudicado, especialmente a parte psíquica. Estou a enlouquecer sem ti, o meu corpo vai arrefecendo nesta loucura de veias despertas querendo tudo em ti! Mas mudando de assunto, porque este já conheces. Hoje fui ao Pingo Doce e estava sem óculos, não conseguia ver nada. Lembrei-me logo de ti, da nossa noite. Eu bem tentava ver os produtos mas estava difícil. Lá pus os óculos, não gosto muito, mas não tenho outro remédio. Eu queria era ver-te, pá…Há uma piada que eu gosto muito de contar sobre o Pingo Doce: “estimados clientes do Pico Doce pedimos desculpa pelo incómodo mas teremos de fechar mais cedo por motivo de rusga”. Normalmente as pessoas não acham muita piada, especialmente os meus pais, a quem já contei esta piada milhares de vezes. Eu acho que é excepcional. Não achas?

(Claude Monet, "The Beach at Trouville")
Bambino mio, come stai oggi? Senza me stai male, vero? Sentes-te perdido, falta-te o sabor a sol, há uma melancolia secreta em ti, uma inquietação permanente. Eu sei. Eu sei que também tu me procuras mas não sabes. Eu abro as conchas das tuas manhãs e faço-te brilhar, sou as palavras desabrochando no teu silêncio. Há em ti este desejo poro a poro de mim, há em ti a vontade de provares todos os meus poemas, como se eles fossem a festa das marés às portas da areia. Mas não te preocupes, essas maleitas vão ter um fim, o que desanima agora será alegria no tempo aberto às colinas onde correremos como animais livres. Hoje almocei com a Ana, falámos sobre o assunto “abandono”, ficou tudo esclarecido. A ver se me livro desta temática de uma vez por todas. Ela vai tirar férias, está a pensar em ir à praia, ainda está bom tempo. Se me convidasses para ir à praia eu dizia-te: “pois, a praia, a areia (escaldante), o mar (poluído), o horizonte (cheio de anúncios parvos), ocasionalmente gaivotas (esfomeadas, a comer qualquer merda). Um sítio fascinante. Pessoas, muitas pessoas, criancinhas (feias) aos berros. O sol a foder-me a pele cristalina. Litros de creme piolhoso invadindo-me o corpo todo, bem, pelo menos recebo uma massagem nas costas (mas a qualidade depende da pessoa, portanto). Mar, nem tocar-lhe com um dedo senão morro de hipotermia. Mas não deixa de ser um sítio fascinante…” Vai ser um drama levares-me à praia, como estás a ver.
Já começo a fechar os olhinhos. Tenho de me despedir de ti, por hoje claro. Achas que eu te deixava? Só se fosse louca. Mas sou um bocado louca por estar durante cinco anos há tua espera. Espero que valha a pena rapaz! Pela amostra acho que sim. Mas amostras são amostras, depois o produto pode ser outra coisa. Agora só me apetece chamar-te coisas queridas. É sinal de que estou mesmo com sono, fico totó. Aposto que gostas que te chamem coisas queridas, se não gostares passas a gostar. Desculpa lá estar a falar-te assim, é o sono. Quando eu estiver contigo e com sono tens de ter um bocado de paciência. Bem, tens de ter paciência em geral (risos). A caminha espera-me. Beijos flores em abertura.
Olha, e se eu começa-se a chamar-te amor, tinha a sua piada, amor para aqui, amor para ali. Será que era do teu agrado, soava bem aos teus ouvidos? “Bom dia amor, dormiste bem?”, “Olá amor, fiz uma pausa só para te mandar um beijinho”. Era tão romântico, não? Mas não podemos ir tão depressa. Até porque essa história do amor ainda não está resolvida. Mas acho que nós dois ainda vamos longe.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010


(Robert Motherwell)
Olá outra vez. Estou agora a rever os meus poemas “Negros”, tenho de ter outra colecção de poemas pronta para concorrer a concursos, para já só tenho uma: “Canções de Ternura”, e vê tu bem é sobre Amor. Estou a pensar chamar a esta colecção: “A ferida por baixo da cicatriz, quem cura?” Tenho tantos poemas, tenho de os organizar. São 84 páginas, eu vou na 17, mas estou a ver na diagonal. Aqui vai um, acho que não é nada de especial, mas não estou para estar aqui a escolher:

Se o sonho volta a mão para dentro
O trigo não deixa vir a ceifa
A canção não desce do céu
Aqui, onde moram todas as raparigas
Há tristeza e chovem os tremores da terra
Os poetas cantam sem virtude
No vazio das paisagens
E a menina mais nova da aldeia
Pergunta à mãe: levas-me à praia?

Os poemas negros não são nada de especial porque, acima de tudo, foram uma catarse de momento. Há uma faceta minha muito negra, ficas já a saber. Passei por muitas merdas e muitas dessas coisas ficaram entranhadas em mim, é a vida. Chamo-lhe a Escuridão. É um sítio muito feio, mortífero. E apesar da minha vida ter mudado substancialmente, das depressões terem acabado, ainda a sinto dentro de mim.
Já não me lembro da tua cara. Eu sei, é uma desgraça, mas já passou tanto tempo e foi só uma noite. Como é que eu te vou reconhecer? Eu acho que sim, que te vou reconhecer no meio de outras pessoas ou quem sabe sozinho. Acho que vou ter contigo e dizer: “não sei se te lembras de mim, eu estou um bocado diferente, mas estivemos uma noite juntos, numa noite de um arraial gay há cinco anos atrás (se calhar esta parte dos cinco anos não te posso dizer, era expor-me demasiado, logo se vê, “há uns anos atrás” será melhor)”. Se não te lembrares terei de ser mais específica: “estivemos a noite toda a falar numa casa onde havia uma festa e depois fizemos sexo no sofá, acabaste por te ir embora porque recebeste uma mensagem da tua ex-namorada”. Assim lembraste de certeza. E depois? Pergunto-te como estão as coisas com essa ex-namorada e se já acabaste o curso (risos). São as únicas coisas de que me lembro da nossa conversa, tirando a parte da poesia rimada e não rimada (o começo da conversa). Claro que depois houve a história do engate através das janelas. E a história do menino não querer usar preservativo porque sabia que não tinha nenhuma doença, até aí tudo bem, mas sabia, incrivelmente, que eu também não tinha nenhuma doença, completa irresponsabilidade.
Estou aqui nestas horas tardias só para te desejar as boas noites. É sempre bom ir para a cama despedindo-me de ti. Acredita que subia por ti acima (um aparte, agrada-me muito seres alto, depois posso explicar melhor) e enchia-te de beijos, se estivesses aqui comigo. Depois fazia do teu corpo a minha cama. Ontem à noite fiz amor contigo, chamei-te duas vezes “amor”. Achas preocupante? Pois eu não sei o que achar, acho isto tudo muito confuso. Beijo artístico.

(Amadeo de Souza-Cardoso)
Chega sempre a uma (várias) altura do dia em que tenho necessidade de comunicar contigo. Quero sempre dizer-te que me faltas. Que te quero ao pé de mim. Agora estou a falar com o meu amigo carnal do msn e acabei de lhe dizer, no seguimento da nossa “conversa sexual”: “o que o sexo faz à cabeça das pessoas”. Ao que ele respondeu: “se sei, ui”. Eu sei que neste momento a falta dele está a foder a minha. É uma desgraça. E a conversa sobre sexo continua, estamos a concluir que o tipo é um bom amante. O que me leva a questionar: serás bom amante? Não é que a gente não possa dar a volta a isso, caso tenhas alguns problemas. Mas a julgar por aquela noite parece-me que não te sais nada mal. Eu também não faço a mínima ideia se sou boa amante, portanto. Bem, quando leres isto, já devemos saber. Será que te lembras que eu te fiz um broche, uma coisa como deve ser, esmerei-me? Agora a conversa já vai no sexo anal, vê tu bem. De repente passámos para o sexo ao ar livre. Ainda está calor suficiente para eu agarrar em ti e…em qualquer canto da cidade.

domingo, 12 de setembro de 2010

Hoje à tarde fui ao Museu da Electricidade ver uma exposição chamada “Povo”, uma exposição que quis atribuir sentido à panóplia de significados que a palavra tem. Era uma exposição riquíssima em termos de pintura e instalações, fiquei maravilhada. Já deves ter percebido que adoro pintura. Gostava que lá estivesses a ver os quadros comigo, podíamos debater ideias, eu ficava a conhecer os teus gostos e tu os meus. Depois fui a um evento no Jardim das Necessidades chamado “OutJazz”, com jazz ao vivo. Quando lá cheguei o jazz já tinha miseravelmente acabado mas deu para socializar ao som de música chillout (diga-se de passagem que não é definitivamente a minha cena). Um longo relvado, uma réstia de sol, beijos perdidos no horizonte ao som do riso das crianças. Onde estavas? Porque te senti ali…
Vou dormir. Espero que estejas a gostar da minha escolha de pinturas. Também custa a escolher sabes? Há bocado estava a falar sobre sexo…e agora apetecia-me. Mas só contigo. Vou-te confessar uma coisa, o orgasmo que tive contigo foi o melhor da minha vida. Mas a verdade é que eu estava num estado alterado de consciência. Mas não interessa, o que interessa é que foi magnífico, inesquecível! Depois precisamos de ter uma conversa séria e calma sobre a temática sexo, porque há aqui uns problemas do meu lado. Mas isso tem de ser frente a frente. Essa é uma boa posição, frente a frente (risos). Com a pica com que estou agora dava-te uma grande queca, ias ver! Estava aqui a dar uma vista de olhos a uns contos porno que tentei escrever. Não prestam para grande coisa mas ainda me dão um bocado de tesão se pensar em ti. Lá vou eu para a cama sem ti. Que se lixe, são só mais três anos de cama fria. Ao menos mandas-me um beijinho? Boa noite. Beijo dançarino.

(Gerhard Richter, "Betty")
Por esta altura já deves ter percebido que eu gosto realmente de ti. Não se trata de uma paixãozeca de uma noite. Fiquei completamente apanhada por ti. O que é isto, pergunto? Já passaram dois anos: só penso em ti, só falo em ti, faço planos para nós dois, faço amor contigo. Dizem-me que é amor. O que penso disso? Fico confusa. Como é que se pode amar uma pessoa com a qual se esteve uma só noite e da qual quase nada se sabe? Mas por outro lado andas na minha cabeça há dois anos. E passados dois meses de estar contigo fiz estas duas perguntas numa almaterapia: “quem é aquele rapaz e qual é que é a importância dele na minha vida?”. Melhor deixar a poesia falar, ela sabe melhor do que eu…Mas o que é que tu queres de mim? É o meu amor? Acho que isso se pode arranjar (risos). Mas a sério, não consigo definir este sentir. Já percebeste que é muito forte, se fosse água rebentava com as margens do rio. Provoca um bem-estar emocional e ao mesmo tempo um certo sofrimento. Na verdade é um rodopio de emoções. Faz-me aflição não saber nada de ti, viver na incógnita…Quem serás, como estarás? Se te amo? Fico realmente confusa com essa pergunta. Gostavas que eu te amasse?
Já viste que tu não fazes ideia de que nos vamos encontrar novamente? Talvez o desejes…É que eu não faço a mínima ideia se estás com outra pessoa ou não. Se estiveres não faz sentido desejares estares com outra que nunca mais viste, ainda por cima havendo tão poucas possibilidades de a encontrares (pensas tu). Pensando que estás com outra pessoa tenho ciúmes, naturalmente. Que sorte a dela…Poder tocar-te todos os dias, sentir o teu olhar meigo sobre ela, as tuas palavras sossegadas como um vento no rosto. Quero-te, foda-se! Para agora! Eu costumo dizer isto muitas vezes: eu quero esse gajo, para agora. Mas entendes? Entendes mesmo? Entendes que às vezes sufoco neste meu querer? Vou escrever-te um poema para acalmar este meu calor:

Escrevo para ti
As minhas manhãs
Inclino o meu rosto ao vento
E chamo pelo teu nome
Há um rio que vem pelas minhas cidades
Que quer entrar pelo canto da tua navegação
Há silêncio entre os meus dedos
Falta a brisa das tuas mãos
Agora é de noite
Mas há-de regressar o teu coração

Acabadinho de escrever. Sinto-me melhor. Mentira, sinto-me pior, com mais saudades tuas. E vejam bem que rima um bocadinho…não foi de propósito. O que interessa é que tu rimes comigo. Esta agora até foi bonita, não? Depois discutíamos e dizíamos que não estávamos a rimar. (risos)

sábado, 11 de setembro de 2010


(Egon Schiele)
Fiquei a saber que não vou ter mais nenhuma relação antes de te reencontrar. Grande merda, não achas? Isso significa que vou estar três anos sem ter sexo. Bem, a última vez que fiz foi em Fevereiro deste ano e a experiência não foi nada agradável. Estava com um ex-namorado, fui beber uns copos e às tantas já estava um bocado alcoolizada. Ele convidou-me para ir a casa dele e eu já estava a ver o quadro todo, não me apetecia muito mas já não fazia sexo há muito tempo e essa situação já me estava a chatear bastante…Depois pronto, sexo. A dada altura eu quis parar, no meio do acto, o tipo ficou lixado, começou a insistir. A noite acabou comigo a fazer-lhe um broche e a vomitar-lhe para cima da pila. Deu para me rir, não em frente dele claro. Ele estava a insistir tanto, comigo a dizer-lhe que não, foi muito bem feito. Mas só de pensar em três anos. Bem, já me aconteceram períodos longos, mas foi quando eu estive mal. Não me parece que vá estar mal nos próximos três anos, era ter o universo todo contra mim. Pronto, há outros meios, mas não dá paciência. Tu não deves ter problemas nesta área aposto, bem me lembro do teu “ataque”. Deixa lá que só não te ataquei porque começaste a falar da tua ex e como ainda estavas apaixonado por ela, não eras digno da minha consideração. Ou julgas o quê? Eu sou uma femme fatale. (risos) Mas deixa estar, vamos fazer muito sexo, até nos sentirmos a ir ao fundo como os navios...
Estou muito triste com o assunto “abandono”. Arranjei uma bela confusão e agora vou ter de a resolver. Tu naquela noite acabaste por me abandonar, não foi? Saltaste por cima de todas as romãs que se abriram entre nós, pela passagem dos lábios no florir da manhã, pelas palavras com sabor a música solar. Eu fiquei sentada no sofá a olhar para o vazio, com um grande aperto no coração. Fiquei completamente perdida, uma flor a escurecer. Porque doía tanto a tua ausência? Porque desde o momento primeiro da poesia rimada e não rimada os frutos que cresciam nas nossas mãos eram magníficos, e os bosques por onde passávamos eram iluminados pelos nossos passos. Já não me lembro da conversa que tivemos mas sei que foi muito bonita. Lembro-me que fizemos sexo e também isso foi muito bonito. A forma como me conquistas-te: a história das bocas e dos olhos do outro lado do prédio, nas janelas. E eu, muito tímida, a atirar-me para cima do teu colo. E tu, com uma grande lata, a “atacares-me” logo de seguida. Não sei, foi tudo tão intenso e maravilhoso que era impossível não ter toda esta influência sobre mim. Doeu, quando te foste embora. E dói não te ter ao meu lado. É que mexeste mesmo comigo! Só gostava de saber se mexeu também, nem que seja um bocadinho, contigo. Mas aposto que sim, não foi uma coisa de um lado só. Mas continuo a dizer, pena que esteja nesta busca sozinha, contigo ao meu lado era tão mais bonito. Dizem que pensas em mim. Como serão esses pensamentos, com que frequência os terás? Quanto terás meu dentro de ti?

(Gino Severini, "Dançarina")
Já é tarde, estou com soninho. O que andarás a fazer às 3 da manhã desta sexta feira? O que é que poderias estar a fazer às 3 da manhã desta sexta feira comigo? Ui, tanta coisa. Mas com esta temperaturazinha e com a pouca roupa com que estou…Eu acordava logo. A noite toda. Deixa estar que tu também não ficavas atrás. Ou julgas que eu te deixava dormir como a última vez? Isso acabou meu menino, estás cansado toma umas boas vitaminas. E se acabasses por adormecer, ao menos que fosse em cima de mim para eu beber o resto da tua chama, para me aproximar da ternura do teu coração. Queria ficar aqui a escrever-te durante mais tempo, mas estou mesmo com soninho. O que te posso mais dizer, o costume: tenho tantas, tantas saudades tuas! Gostava que também tu andasses à minha procura, era mais bonito. Assim é muito solitário. Sei que também pensas em mim, mas não andas atrás do meu coração. Assim é muito solitário. Vês o que eu digo, quando eu estou com sono fico mais frágil. Fico triste por saber que este meu sentimento só é sentido por mim e eu sinto-me tão próxima de ti. Achei aquela noite tão especial, revejo-a constantemente, ela desencadeou todo este meu sentir, ficou-me na pele, foi ao encontro de tudo o que sou e preciso. Preciso de ti na minha vida porque senti-te muito profundamente e tudo o que foste fez sentido, abriste em mim novas pétalas. Podes achar isto um exagero mas é o que sinto. Aliás, podes achar tudo o que eu digo um exagero, mas mais honesta do que isto não é possível. Depois falamos melhor sobre este tema. Boa noite. Um beijo arrebatador.
Vim agora do concerto do Leonardo Cohen. Gostei muito, o tipo é um velhote mas está lá para as curvas. Lançou 11 álbuns de música e publicou 15 livros de poesia. Atenção: a poesia dele não rima. De qualquer forma gostava que soubesses que havia um lugar vazio ao meu lado. Parece que foi de propósito. Claro que seria o teu lugar.

E lá cantava ele: “there ain't no cure for love”
Na tarde que se passou tinha que trabalhar, mas não me apetecia mesmo nada. Pensei: talvez pudesse ficar aqui a pensar em ti, passeando no teu rosto, luzindo as tuas colinas. Talvez pudesses ser tu desta vez a chamares por mim…Eu cobria-te com a cola da minha boca, que era para não fugires. Já tenho 35 poemas dedicados a ti. O título é muito bonito: “Segues comigo a grande valsa de um caminho?”. Eu sei que segues, mas mesmo assim pergunto-te, vou querer ouvir a resposta. Tantas certezas em relação a ti, não é? Eu sei que aquela noite não te foi indiferente. Acordámos o mais profundo de nós dois e tudo saiu com uma força tremenda cá para fora. Foste-te embora porque tinhas assuntos para resolver, caso contrário tinhas ficado ali comigo, tinhas ido comigo…

(Helen Frankenthaler, "Mountains and sea")

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Já é tarde. Estou cheia de sono. E continuo a pensar em ti como as nuvens se vão desmembrando no céu (já não estou com muito jeito para metáforas, mas a ideia é “sem parar”). Deves perguntar-te como é que uma noite faz isto a uma pessoa. Eu também me pergunto, deixa lá. Mas agora já estou muito cansada, falamos mais tarde sobre este assunto, com mais calma. Boa noite. Beijinhos mimados.
Já é tarde, começo a sentir-me frágil. Estou a ficar cheia de saudades tuas. Queria que viesses por detrás de mim, me agarrasses lentamente e depois me apertasses um bocadinho, tudo de forma muito suave. A seguir podias começar a sussurrar-me ao ouvido umas palavras românticas, que eu aposto que tu sabes dizer muito bem tendo-me ao teu lado (eh, eh, eh). Podias exagerar, ser ultra-romântico, eu não me importava nada, bem pelo contrário. Eu podia deitar a cabeça sobre o teu colo e tu fazias-me festinhas, enquanto eu começava a fechar os olhinhos. Agora estou a ficar com sono a imaginar esta cena, mas estou a sentir-me muito acarinhada. Achas mal que eu comece a dizer que sinto a tua falta muitas vezes? Porque é verdade, e eu quero que tu saibas a falta que me tens feito, que me fazes, que me vais fazer…Falta tanto tempo ainda, é insuportável.
Tu levaste-me para uma casa de banho de acasalamento minúscula, sem janelas, escura. Quando te foste embora eu descobri outra casa de banho, espaçosa, com janelas e com paredes brancas luminosas, vê tu bem. Mas olha, já tive uma experiência sexual numa casa de banho, por isso não seria a primeira vez. Mas realmente não me estava a dar jeito nenhum aquela posição. Mas há mais casas de banho e mais posições. Mas diz lá se não deslizámos melhor os corpos no sofá?

(Gustave Caillebotte, "Bathers preparing to dive")

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Os meus olhos abrem-se
Na direcção dos teus dias
No inebriamento dos sentidos
Procuro o fulgor do teu coração
Vivo nesta alegria minha de saber
O teu encontro em mim
Deitada na planície dos sonhos
Apenas te sinto a correr cá dentro
E é amor esta invasão
De açúcar no sangue


Vê bem como está bonito o último verso. Eh, eh, eh. Até tenho um certo jeito. Sim, porque houve uma certa noite em que uma certa pessoa disse que a poesia que não rimava tinha menos qualidade do que a que rimava. E essa pessoa devia ter ficado caladinha e não ter falado sobre coisas de que não sabia. O problema é que não devia ter ficado caladinha coisa nenhuma. Porque senão nunca se teria iniciado a mais bela história de amor que eu jamais conheci. E a mais infernal também: quem é que espera cinco anos por uma pessoa depois de ter estado com ela durante uma noite? Já expliquei que estou num estado de loucura total? Claro que ninguém acredita em mim, acham que eu acredito nisto para preencher o meu vazio emocional. Pois há um vazio sim gajo, mas isso é porque faltas TU! E a ver se mudamos essas tuas opiniões sobre a poesia, senão temos chatices. Só faltava dizeres que gostas mais da poesia do Camões do que da minha ou uma coisa parecida.
Já jantei. Tudo muito simples, fiz uma bifana com arroz branco e encharquei tudo em litros de limão. Sou uma grande amante de limão, especialmente com carradas de sal. Sou alcoolimónica. E tu tens pancada com o quê? E lá passou mais um “21 minutos” por mim…Juro que não estava a espreitar para ver quando é que ele chegava. Devia estar a escrever poesia, não tenho escrito nada. Talvez vá escrever um poema para ti e o ponha aqui para to mostrar.

(Constantin Brancusi, "The Kiss")
Isto foi o que eu escrevi no meu diário sobre o nosso 2º Aniversário:

Primeiro dia das comemorações (26 de Junho): Eu e a Inês fomos ao Meco e eu dei um grande trambolhão ao descer aquela ravina de merda. Depois pôs-me de cuecas porque não tinha trazido o fato de banho. Levei uma eternidade a subir a ravina na volta e quando cheguei lá a cima comecei a pedinchar água e um tipo todo giraço deixou-me beber a garrafa dele quase toda, tão giro caraças. Quando chegámos a Lisboa a Inês não estava lá muito bem disposta, o que invadiu um bocado o ambiente. E não levámos as comemorações até ao fim, como estava estipulado para aquele dia. Mas gostei do que foi feito, foi romântico. O barquinho nadou um bocadinho naquela fonte onde tomei banho a seguir a estar com o rapaz. Recitei bem os poemas sentada em frente ao nº 21. As velas estavam bonitas em cima dos pastéis de nata, todas alegres, uma azul, a outra cor de rosa. Já o pastel de nata que comi não era nada de especial. Aquele que comi há dois anos deve ter sido mais apetitoso, uma vez que foi comprado a pensar num pequeno-almoço romântico. Os dois, aliás. Porque o gajo não comeu nenhum. só me comeu a mim (risos). Fez bem, eu sou bastante comestível (risos). O que sobrou, porque a Inês não quis comê-lo, levei-o para a minha mãe. À noite eu e o Luís fomos a um Arraia Gay no Terreiro do Paço, tal como eu tinha ido na noite em que nos conhecemos, mas não estava tão divertido e colorido como o outro. Mas fiquei a saber que existia uma coisa chamada speed dating, e às tantas só me apetecia ir para o meio daquelas gajas giras (risos).

Segundo dia das comemorações (28 para 29 de Junho): Eu e o Luís fomos maravilharmo-nos até ao Castelo de São Jorge. Foi um grande passeio, passámos o tempo a falaricar enquanto subíamos quase sem parar. Parámos no Miradouro de Santa Luzia para vermos a paisagem, estava um dia lindo. Quando chegámos ao castelo sentámo-nos um bocado, eu fumei um cigarro e de seguida contemplando o céu, procurando a sua aragem mais doce, atirei o avião ao pé de um poema da Sophia. Depois de pendurar o poema da esplanada (que estava em obras), aquela onde conheci o italiano que me levou ao nº 21 fomos jantar à Costa do Castelo (assinei na conta: “Nós somos o poema que se estende por todas as paisagens”). A seguir cavalgamos até ao Miradouro da Graça, onde perdi uma aposta de cinco euros com o Luís (agora chama-se “Miradouro Sophia Mello Breyner”).

O relógio bateu agora a meia noite, fazemos dois anos. Ponho a tocar a música “The Only One” dos The Cure. Vinte e sete para vinte e oito de Junho, foi nesta data que há dois anos atrás me apaixonei por ti. Por tudo o que eras. E continuo apaixonada. Porque o tempo nada apagou. Persigo o teu rosto, a tua pele, o teu cheiro. Não sei como me esconder de ti, estás demasiado dentro de mim. A seguir ponho a tocar a música “The Grateast” da Cat Power. Música que ponho a tocar muitas vezes quando penso em nós dois. Sentes a intensidade do meu sentir? Porque tudo em nós foi festivo. Nós dois fizemos poesia naquele dia. Sinto tantas saudades tuas. Dava quase tudo para estares aqui comigo. E eu contava-te esta história abraçada a ti. Achas que eu achei que ele era o Amor enquanto ele dormia Bruna? Porque eu estava a pensar em coisas maravilhosas. Eu estou feliz com as comemorações, muito feliz. Acho que foram muito bonitas. Acho que ele vai gostar no futuro (risos).
Não me ias querer aturar hoje, pois estou bastante irritada. Levantei-me a dizer: “sou uma merda, a minha vida é uma merda”. Bela forma de começar a dia, hã? Não fiz nada, só fui ao Cambridge inscrever-me. Falei com o meu amigo Tiago sobre o assunto “abandono”, o que também não me deixou lá muito bem disposta. Agora tenho de jantar sozinha, o que me desagrada muitíssimo, detesto comer sozinha. Nem com o raio das gatas posso contar, estão a dormir profundamente em cima da minha cama, não vou acordá-las só para me fazerem companhia. Até te convidava para vires jantar comigo, mas não faço a mínima ideia por onde andarás. Fica já a saber que não sei cozinhar, e se tu também não souberes então temos um problema. Bem, encontraremos uma solução de certeza…Também nos podemos cozinhar à vez e comermo-nos (piada básica).

(Sigmar Polke, "Primavera")
Ontem, quando fui ao Bairro Alto, dei um pulo ao “Purex” e quando vi aqueles gays todos agarradinhos lembrei-me instantaneamente de ti, como é óbvio. Estava ali um clima tão libidinoso, fiquei excitada admito. Aqueles corpos estremecendo na respiração uns dos outros…roçando-se, apertando-se…Lembro-me sempre da nossa noite, esse desejo transbordando os poros que nos fez encontrarmo-nos num ritmo despertando fontes esplendorosas. Fontes esplendorosas…talvez aches que é um bocado para o exagerado mas foi o que saiu.
Gostava de desabafar contigo os meus problemas, podias dar-me bons conselhos, tenho a certeza. Tenho um problema com as pessoas que me são mais próximas, acho que elas me “abandonaram” no longo período de tempo em que estive bastante mal. Elas resistem a essa ideia, o que magoa bastante. Mas sei que tenho de avançar com a minha vida e fazer as pazes com isso. Mas é difícil porque ainda me dói bastante. É preciso tempo…

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Welcome to Bianca's world. Hoje a minha personalidade Bianca veio ao de cima. Então, comecei a “matar” pessoas na rua e nos autocarros. Comecei a imaginar sangue a escorrer por todos os lados, cabeças a explodir, corpos estilhaçados. Queria estar possuída por um enorme sentimento de ódio. E em parte consegui, porque afastei todos os pensamentos positivos que poderia ter sobre as pessoas e nem em ti pensei. Quero manter-me assim para estar à vontade com os pensamentos negativos que tenho sobre as pessoas, assim escuso de me sentir culpada. Não é que a Bianca justifique esta situação é só que ela tem razões para se sentir assim. No que te diz respeito, não sei onde te encaixas, mas não tenho nenhum sentimento negativo em relação a ti, bem pelo contrário. Só gostava de pensar menos em ti…

(William Blake, "Satã Amor Adão e Eva")
Agora vou para casa dos meus avôs. Vou trabalhar com o meu avô, vou ajudá-lo na bibliografia que ele tem de fazer para o livro dele. Ele é tão desarrumado, nem fazes ideia, e julgo eu que sou desarrumada…Faz grandes monólogos, onde se perde inúmeras vezes, consegue ser bastante chato por vezes. Mas aprende-se muito com ele, nem fazes ideia das coisas que ele sabe, até ao mais ínfimo pormenor. A minha avó está praticamente cega. É horrível, só tenho vontade de lhe segurar a mão e dizer: “vai correr tudo bem”. Mas é inevitável. Uma grande mulher, digo-te eu. Também te digo que grande é este meu sentimento por ti…
Vou-me deitar…envio-te mil beijos mas não sei se eles vão chegar até ti…se os queres receber, não é? Temos de ser realistas. Eu estou para aqui completamente apaixonada por ti, mas sei bem que tu não deves nutrir os mesmos sentimentos por mim. É bem provável que estejas acompanhado. É pena porque os meus beijos são cinco estrelas…Envio-tos de qualquer maneira…
Estava aqui no site MyHeritage a preencher a minha árvore genealógica e já te pus cá: “rapaz”. É incrível mas não faço a mínima ideia de como te chamas, se calhar nem me chegaste a dizer. Então és o rapaz, o rapaz para aqui, o rapaz para ali…Se soubesse o teu nome acho que começava a delirar também com as letras, acho que é melhor assim…