sábado, 17 de junho de 2017


Amálgama de Borboletas

 

És a borboleta de ascendência solar que cria todas as paisagens de alimenta animal, vejo-te borboletinha de olhos abertos ou fechados, vejo as tuas asas quando estou acordado ou a dormitar, as tuas cores sempre em enlevo transluzem o que desejas fazer-me de bem e de bom. Voas à minha volta o dia inteiro, faça sol ou chuva ou diamante. És uma borboleta muito travessa e adoras rodopiar de um lado para o outro enquanto fazes desenhos no ar de estrelas-de-substância-vital, fazes lembrar a melga que mora connosco. Num repente paras o teu voo e assentas em mim, ofereces-me o pólen-de-mel-açúcar que apanhaste com os teus sorrisos pois achas que eu como o pão de cereais que tu comes. Guardo o teu pólen-de-mel-açúcar no meu interior, numa caixinha chamada: és o meu calor. Gostas de pousar as tuas antenas no meu corpo, a tua mão ternurenta conhece bem a minha perna peluda, gostas também de me despentear e de me fazer cócegas debaixo das asas: assim fazes-me voar borboletinha!

 

Dedicado ao Fiel

Vocês, vocês aí que nunca leem aquilo que eu escrevo, que nunca me ouvem com vontade de ouvir e de aprender. Eu sou aquela que escrevo e todas as minhas palavras respiram a minha vida. Vida solitária a minha, escrevo coisas embelezadas de tesouros e vocês cortam-me com tesouras. Esta é a "Poesia da Minha Vida". Ninguém ouve, talvez eu oiça...


CENTOPEIA


 

Aguaceiro de tormento

percorre a pele sensível

A cantiga que sei de cor

continua infatigável a tocar

A centopeia perdeu o tato

seu corpo de mil bocados

não desiste de caminhar

Nessa chuva miudinha

que torna bolorento o horizonte

ao som da mesma melodia

ela entra pela noite insistente

O olhar já exausto

não cessa de perscrutar

vai noite adentro

até a alvorada rebentar


Ass: Carpintas Pintas

Sabes de mim mais do que querias mas dessa amalgama do itens íntimos aproveitas sempre para me dizeres que depois das lágrimas vem o Nosso sorriso.


Gostas de framboesas?

LIA AMARI

Lia adorava o seu último nome: Amari. Era o último nome mas vencia todas as corridas de automóveis de luxo e de jogatanas de berlindes. Lia tinha berlindes de todas as cores e tingia os arcos dos arco-íris com eles, atirava os berlindes ao ar com muita força e eles pintavam rabiscos com mensagens encriptadas. Não era grande leitora pois achava que os livros não tinham palavras entornadas do interior da respiração célere do escritor, palavras de cores sub-subterrâneas, perguntava: “porque não escrevem as histórias com a cor da vida quando é irrespirável e de cor parda?” Lia escrevia páginas sonoras quando ia brincar para o campo, um som verde cheio de lagos com barquinhos a remos e patos que miam. Amari era o seu melhor sorriso e ela era especialista em sorrisos e também em furacões de brincar que desenhava na areia de ondas sábias que apanhava com as mãos. Lia andava triste, um dia percebeu porquê, então libertou da gaiola azul a sua pássara Beatriz, então Beatriz foi verdadeiramente azul, um azul que enriquece o céu. Um dia Beatriz pousou no parapeito de Lia e disse-lhe: Amari-te.