sábado, 11 de setembro de 2010


(Egon Schiele)
Fiquei a saber que não vou ter mais nenhuma relação antes de te reencontrar. Grande merda, não achas? Isso significa que vou estar três anos sem ter sexo. Bem, a última vez que fiz foi em Fevereiro deste ano e a experiência não foi nada agradável. Estava com um ex-namorado, fui beber uns copos e às tantas já estava um bocado alcoolizada. Ele convidou-me para ir a casa dele e eu já estava a ver o quadro todo, não me apetecia muito mas já não fazia sexo há muito tempo e essa situação já me estava a chatear bastante…Depois pronto, sexo. A dada altura eu quis parar, no meio do acto, o tipo ficou lixado, começou a insistir. A noite acabou comigo a fazer-lhe um broche e a vomitar-lhe para cima da pila. Deu para me rir, não em frente dele claro. Ele estava a insistir tanto, comigo a dizer-lhe que não, foi muito bem feito. Mas só de pensar em três anos. Bem, já me aconteceram períodos longos, mas foi quando eu estive mal. Não me parece que vá estar mal nos próximos três anos, era ter o universo todo contra mim. Pronto, há outros meios, mas não dá paciência. Tu não deves ter problemas nesta área aposto, bem me lembro do teu “ataque”. Deixa lá que só não te ataquei porque começaste a falar da tua ex e como ainda estavas apaixonado por ela, não eras digno da minha consideração. Ou julgas o quê? Eu sou uma femme fatale. (risos) Mas deixa estar, vamos fazer muito sexo, até nos sentirmos a ir ao fundo como os navios...
Estou muito triste com o assunto “abandono”. Arranjei uma bela confusão e agora vou ter de a resolver. Tu naquela noite acabaste por me abandonar, não foi? Saltaste por cima de todas as romãs que se abriram entre nós, pela passagem dos lábios no florir da manhã, pelas palavras com sabor a música solar. Eu fiquei sentada no sofá a olhar para o vazio, com um grande aperto no coração. Fiquei completamente perdida, uma flor a escurecer. Porque doía tanto a tua ausência? Porque desde o momento primeiro da poesia rimada e não rimada os frutos que cresciam nas nossas mãos eram magníficos, e os bosques por onde passávamos eram iluminados pelos nossos passos. Já não me lembro da conversa que tivemos mas sei que foi muito bonita. Lembro-me que fizemos sexo e também isso foi muito bonito. A forma como me conquistas-te: a história das bocas e dos olhos do outro lado do prédio, nas janelas. E eu, muito tímida, a atirar-me para cima do teu colo. E tu, com uma grande lata, a “atacares-me” logo de seguida. Não sei, foi tudo tão intenso e maravilhoso que era impossível não ter toda esta influência sobre mim. Doeu, quando te foste embora. E dói não te ter ao meu lado. É que mexeste mesmo comigo! Só gostava de saber se mexeu também, nem que seja um bocadinho, contigo. Mas aposto que sim, não foi uma coisa de um lado só. Mas continuo a dizer, pena que esteja nesta busca sozinha, contigo ao meu lado era tão mais bonito. Dizem que pensas em mim. Como serão esses pensamentos, com que frequência os terás? Quanto terás meu dentro de ti?

(Gino Severini, "Dançarina")
Já é tarde, estou com soninho. O que andarás a fazer às 3 da manhã desta sexta feira? O que é que poderias estar a fazer às 3 da manhã desta sexta feira comigo? Ui, tanta coisa. Mas com esta temperaturazinha e com a pouca roupa com que estou…Eu acordava logo. A noite toda. Deixa estar que tu também não ficavas atrás. Ou julgas que eu te deixava dormir como a última vez? Isso acabou meu menino, estás cansado toma umas boas vitaminas. E se acabasses por adormecer, ao menos que fosse em cima de mim para eu beber o resto da tua chama, para me aproximar da ternura do teu coração. Queria ficar aqui a escrever-te durante mais tempo, mas estou mesmo com soninho. O que te posso mais dizer, o costume: tenho tantas, tantas saudades tuas! Gostava que também tu andasses à minha procura, era mais bonito. Assim é muito solitário. Sei que também pensas em mim, mas não andas atrás do meu coração. Assim é muito solitário. Vês o que eu digo, quando eu estou com sono fico mais frágil. Fico triste por saber que este meu sentimento só é sentido por mim e eu sinto-me tão próxima de ti. Achei aquela noite tão especial, revejo-a constantemente, ela desencadeou todo este meu sentir, ficou-me na pele, foi ao encontro de tudo o que sou e preciso. Preciso de ti na minha vida porque senti-te muito profundamente e tudo o que foste fez sentido, abriste em mim novas pétalas. Podes achar isto um exagero mas é o que sinto. Aliás, podes achar tudo o que eu digo um exagero, mas mais honesta do que isto não é possível. Depois falamos melhor sobre este tema. Boa noite. Um beijo arrebatador.
Vim agora do concerto do Leonardo Cohen. Gostei muito, o tipo é um velhote mas está lá para as curvas. Lançou 11 álbuns de música e publicou 15 livros de poesia. Atenção: a poesia dele não rima. De qualquer forma gostava que soubesses que havia um lugar vazio ao meu lado. Parece que foi de propósito. Claro que seria o teu lugar.

E lá cantava ele: “there ain't no cure for love”
Na tarde que se passou tinha que trabalhar, mas não me apetecia mesmo nada. Pensei: talvez pudesse ficar aqui a pensar em ti, passeando no teu rosto, luzindo as tuas colinas. Talvez pudesses ser tu desta vez a chamares por mim…Eu cobria-te com a cola da minha boca, que era para não fugires. Já tenho 35 poemas dedicados a ti. O título é muito bonito: “Segues comigo a grande valsa de um caminho?”. Eu sei que segues, mas mesmo assim pergunto-te, vou querer ouvir a resposta. Tantas certezas em relação a ti, não é? Eu sei que aquela noite não te foi indiferente. Acordámos o mais profundo de nós dois e tudo saiu com uma força tremenda cá para fora. Foste-te embora porque tinhas assuntos para resolver, caso contrário tinhas ficado ali comigo, tinhas ido comigo…

(Helen Frankenthaler, "Mountains and sea")