quinta-feira, 5 de novembro de 2015


Sabotaste-me, entraste por uma pequena frincha do meu coração, lembraste? Vinhas com muitas mochilas, todas repletas do teu Amor Verdadeiro. Vinhas com muitos coraçõezinhos, apenas para mim, tinhas estado a cultivá-los, apenas para mim. Entraste no meu coração sem eu dar por isso e brincaste com o seu vermelho, misturaste o teu com o meu, ficou vermelho cornalina, o Nosso vermelho. Não dei conta que estavas cá dentro, foste a minha maior surpresa, fiquei do tamanho da alegria. O teu coração no meu interior faz o meu coração pulsar mais e mais, agora o meu coração apenas sabe pular, ele pula como um gafanhoto tonto. Entraste no meu coração como um clandestino, agora ele é o meu destino para a Eternidade. E mais. e mais.




Comprimidos



- desejava um comprimido para a dor de cabeça, por favor. Preciso de uma coisa que a faça passar rapidamente – disse o senhor nº 1


- por acaso ela fez-lhe algum mal para se querer ver livre dela – disse o senhor nº 2


- desculpe? Dói-me a cabeça, é doloroso, compreende? Claro que quero ver-me livre dela


- e se eu não gostasse do senhor, ia buscar a minha caçadeira de canos cerrados para me ver livre de si?


- o senhor parece maluco a falar, acha que está a dizer coisa com coisa?


- vocês não pensam no outro lado, a dor de cabeça também tem direito a existir, é um ser vivo como todos os outros


- sim, lá viva está, e está a ficar ainda mais viva com essa conversa sem sentido


- devia era tomar um comprimido para respeitar os outros, isso vendo-lhe. Veja bem, está com sorte, comprando esses comprimidos ofereço-lhe uma amostra dos comprimidos “como identificar um cato negritus”


- um cato está a sair-me o senhor, desde que aqui cheguei tem estado a espicaçar as minhas dores de cabeça. Se não me vende os comprimidos vou à farmácia mais adiante


- mãos ao alto, não vai a lado nenhum


- o senhor é totalmente louco, agora aponta-me uma caçadeira?


- e não é uma caçadeira qualquer, é uma caçadeira de canos cerrados. Agora vai assinar este documento dizendo que não vai comprar comprimidos para a dor de cabeça noutro sítio, vai deixar a sua dor de cabeça viver em liberdade


- mas posso assinar esse documento e depois comprar à mesma…


- nem por isso, depois leva consigo uma pulseira que lhe dá choques elétricos caso você queira comprar os comprimidos


- espere lá, tome lá, tome lá a minha dor de cabeça, adeus


- que raio, o tipo passou-me mesmo a dor de cabeça. Porra, onde meti os meus comprimidos para as dores de cabeça?


- nem penses pá, quietinho, senta-te aí na tua cadeira a descansar, pode ser que as dores de cabeça te passem, mas mostraste gostar tanto delas que não me parece que se vão embora – disse a caçadeira de canos cerrados


- e se eu for buscar os comprimidos para a dor de cabeça o que me vais fazer?


- dou-te um tiro


- tu já nem funcionas, apenas serves para meter medo às pessoas


- pum! Agora que já arrumei o tipo posso sacar-lhe as chaves para abrir os armários dos comprimidos e arranjar algo para a minha dor de dentes


Quando mexes no meu coração ele arde com uma estranha febre. Disseste-me que se chamava Amor Verdadeiro, não quis acreditar. Quis ler sobre isso mas não encontrei nada, mas tinha-te encontrado a ti, não queria mais nada a entrar pelos meus poros. Estranha febre esta que pulsa dentro de mim toda, aquece cada gota de sangue minha, rebenta cada veia minha. Tenho sangue real agora, olha como é todo azul. Nado no meu interior, num mar claro que se enche sempre dos teus peixes. Mexe ainda mais no meu coração: vem daí com as tuas baleias azuis. Serei o seu krill, espero-te.
Fui à caça de um lenço de papel pois precisava de me assoar e tinha uma certa urgência. Os lenços de papel tinham feito greve e não se encontravam em lado nenhum. Estava mesmo muito aflita e, então, fui à manifestação dos lenços de papel. Estavam mesmo lixados com a vida de lenço de papel, li num cartaz: “não nos agradecem no final!” Fui falar com um grupo que parecia mais pacífico, rabujaram imediatamente comigo: “são pessoas como a senhora que nos tratam como lixo”. De aflita passei a estar em pânico, nenhum dos lenços de papel cedia, então, peguei no cartaz e assoei-me. Depois, fugi a sete pés, não quis ser linchada.

Somos as almas gémeas que começaram antes de tudo, começaram já lado a lado, num dia de ervas frescas olhámo-nos e nunca mais nos largámos. Soubemos que era para a Eternidade, embora ainda não soubéssemos o que era a Eternidade. Foram os teus olhos azuis, dirás, eu direi o mesmo, soubemos imediatamente. E ficámos deitados os dois entre as ervas frescas e um céu adorável.

Estava a ser um dia mau para mim mas tu vieste com esse teu ser divertido para me sacares sorrisos. Primeiro não quis saborear as tuas palavras mas tu mexeste em mim e disse-te a rir: “vê bem o disparate que estás para aí a dizer”. Tinhas uma prenda para mim, oferendaste-me, entre os teus disparates. Eram dois dados, “mas que raio, para quê?”, perguntei meia zonza. “Vamos brincar”, propuseste. O jogo era simples, se eu tivesse a pontuação mais alta apenas dizias coisas sérias e se tivesses a pontuação mais alta continuavas a dizer disparates e “roubo-te um beijo”. Achei um disparate mas concordei, avisei-te: “costumo ter sorte ao jogo”, e ri-me. Joguei primeiro: dois quatros, era uma boa pontuação. Gozaste: “tão pouco”, e jogaste. Saiu-te um quatro e um seis, tinhas ganho. “Azar ao jogo, sorte ao Amor”, e com isto deste-me um beijo. O dia continuou, um dia muito bom, apenas dizias disparates, eu só me ria. 
Era uma vez uma chama que pensou para si própria: “tenho pouca vida”, mas não quis ir até a uma fogueira buscar mais. Então, foi ao supermercado comprar fósforos e, como estava toda garganeira, levou os mais caros. Tentou acender-se ainda mais com eles mas a coisa não correu bem e ela queimou-se. Foi para o hospital com queimadoras em 3º grau e foi muito bem tratada. Após algumas semanas no hospital estava como nova e, como gostou muito da comida do hospital, sentiu-se com mais vida. Foi falar com as cozinheiras para lhes pedir umas quantas receitas. Elas acharam estranho pois ninguém gosta de comida de hospital, mas passaram-lhe as tais receitas. A chama passou a comer muito bem e muito e engordou bastante. Ficou preocupada, então, embebedou-se de água, o problema estava resolvido. Depois, foi tirar um curso de pirotecnia e estreou-se numa grande festa de cidade: nunca sentiu tanta vida!

Disse-te que seria a tua Poesia para sempre e tu choraste. Chorei também pois, de lágrimas puras em cache decorrendo pela cara, eras essa Poesia que sempre procurara. Disseste que ninguém te escrevia tão bem como eu e eu abri o sorriso mais resplendoroso que habitava no meu interior. Tu retribuíste o sorriso com as tuas mãos nas minhas e choraste novamente. Então, abraçámo-nos, e éramos dois mares azulões abraçados. Apenas sabemos ser assim abraçados e, quando as nossas lágrimas se uniram, eram dois campos verdes felizes em cache decorrendo pelas nossas caras.
Estava a sair do meu caracol e eis que me constipo. Reparei logo que não era uma constipação normal pois fez com que esta lesma marada ficasse mais parada, muito mole. Diz que sim, diz que a constipação faz isto mas não, a minha constipação é diferente, meia demente, e meti-me na casca. Não queria sair mas apetecia-me ir à piscina divertir-me, mas quem vai à piscina no meio do Inverno? Mas sim, está vazia, é só para mim. Quando lá cheguei estava cheia de caracóis e caracoletas a banharem-se, faziam bicha para saltar das pranchas. Saltei para dentro da piscina e pensei: coitados, vão ficar todos constipados. Quando chegou à minha vez de saltar da prancha deu-me o medo, não queria dar cabo da minha casca, mas fui em frente, fechei bem os olhos e fui em frente. Quando cheguei à água ouvi um “crash” e apercebi-me que tinha sido a minha casca, mas logo, logo, apareceu um pessoal bacano oferecendo-me para a arranjar. O arranjo demorou pouco tempo e, quando dei conta, a constipação tinha passado, então, fui a uma mariscada com o pessoal.

“É só Amor”, já te disse. E voei para fazer um desenho no céu apenas para ti. Eu, joaninha apaixonada, desenhei-te um coração cheio do meu Amor para saberes quem sou, toda Amor para ti, esse Amor diferente dos outros: Amor Verdadeiro. Quis que fosse de muitas cores, então, fui buscar luzes de Natal e as cores fizeram muitas cores para ti. E era um coração tão luzente, como Nós dois. Meu joaninho, o Natal está à porta, vais-me oferecer tudo o que eu desejo, verdade? Uma das prendas és tu, vens numa grande caixa cheia de laços, vens e ofereces-me as tuas asas, verdade? Quero as tuas asas para voar melhor.
Contigo comigo fluo melhor, o meu rio enfrenta menos obstáculos, sou livre…sempre te disse: contigo sou livre. Lembras-te? Sabes que sim e vens atrás de mim, desejas saborear a minha corrente. Conheço os ventos, sabes? E alcanço-te com eles à minha beira. Não preciso, eu sei. Alcanço-te porque me alcanças. E quando nos alcançamos é para a Eternidade. E mais. e mais.

Quando eles se juntam com os seus bolinhos muito "açucarados" tudo fica cor-de-rosa, são gulosos e comem-nos todos, e depois comem-se um ao outro. Delicious!