segunda-feira, 9 de junho de 2008

Desarrumar a melodia que o meu trono trepadeiro traz. O olhar é ansioso. Não te esqueci à entrada da linguagem, onde se misturam todos os compassos, no desfazer dos sonhos dos imperadores. Podes nadar, mas o mar quebra a tua braçada. Tento agarrar-me, mas apenas seguro a minha cabeça de mil palavras. A carruagem já avança e liberta o que tem estado trancado nos pensamentos do pó. Uma pesada carga vai-se afastando. Os rubis, as esmeraldas e tudo o que sejam pérolas abrem-se no olhar de alguém que inunda um arco-íris há muito abandonado. Sim, coração meu humano tens o teu tempo de seres uma corrente que transforma a solitária lágrima da esperança na terra que irrompe continuamente em qualquer coisa significante. Troco o negócio por qualquer flor. Tenho um canto a dizer: a interminável estrada fragmentada do impossível deserto ao ritmo das folhas que abrem as árvores. Uma partida será sempre uma partida porque há um começo que se solta nos ramos, captando o meu olhar de estrela da tarde.

(Francis Picabia, "Machine Turn Quickly")
Jack, para nós é um autocarro chamado desejo-te...

Eu trilhei, eu trilho, eu apenas vou numa direcção, uma direcção que não tem nome. Paro em pensões imundas, como o que os pobres comem. Tenho a vontade vadia de desencravar os atrelados e fugir com a Liberdade. O dia é grandioso e o animal disparou. Estou à frente de tudo, dessas histórias que deviam estar mortas, das cores que desbotam e das colinas altas que crepitam terramotos e cheiram a canas de açúcar.

Não me digas que nunca te disse. Os campos dividiram-se em pedaços e cada pedaço meu falou contigo sempre. Quase em frente à tua casa disse-te o que restava da minha plantação. O brilhar de todos os dias antigos, também te falei neles. Eu fiz todas as guerras, sem armas, com os pés quebrando-se no chão…

(Hieronymous Bosch, "Death and the Miser")
achas que o meu sangue
podia dizer-te
que há uma substância nocturna
em mim
e tu olharias de frente
a noite mais terrível
conseguindo ser
o impossível acto de ser
o movimento que me chama
para a vida
e transformar-te num presente
cheio de folhas novas no ar
e mostrar-mas?

P.s.: nunca se olha de frente a escuridão, mas terias de olhar-me…


A fala desarticulada falou a exacta hora de quem disse na altura certa estou a partir, apanha-me a mão. A noite era sempre assustadora, uma idade demasiado velha e eu envelheci com ela. Eterna refém, demorei-me demasiado tempo, mas soube dizer-te que escoava-me na perdição do tempo. O rio, um rio sem lenha transportou-me rente ao seu fundo. As minhas palavras eram curtas mas falavam-te deste despenhar. A hora inexacta encerrou o que restava da abertura das pálpebras.


Surgir na profundidade das tuas pegadas e aprofundá-las, sentindo-as num tempo desmedido enquanto caminhas. Levas contigo a maldição da ilha de que não te libertas, enquanto eu entro à revelia. Sou a nudez que escorre as águas turvas e alimento o porto seco que arranco da tua canção. Quem diz a hora fúnebre? A desolação é o teu som, respiras sem pausas, eu apenas consumo os estremecimentos. Há um estranho brilho em todos os cantos do teu olhar, eu escavo o som do ar para permanecer no teu horizonte.

(Williaw Blake, "The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun")
Conversa de autocarro: “Nunca mais poderei regressar à inocência.”

(Eu pensei: eis uma grande verdade. Pensando melhor, há apenas uma forma: Eu sou a inocência. Mas é tão perigosa como atirar-se para a linha do comboio quando este está a segundos de passar…)


a tua linguagem
é a matéria pura
que faz acordes com a minha
qual a minha palavra
que deseja a tua?
há um gesto que procura
inicialmente o teu ele
é a própria sede
é o som dos jardins
o crescimento lento das árvores
porque os teus ramos
entrelaçam-se
sumptuosamente nos meus

P.s.: que classe: entrelaçam-se sumptuosamente nos meus... estava inspirada ou quê?


Era o melhor passo que dava, esse na tua direcção. Prendia-me esse teu rosto de poema que escrevi algures na palma da minha mão. As horas eram incertas, uma insondável palavra libertadora surgia ao longo dos dias: O rasto de ouro da tua voz ia permanecendo em mim. Uma folha rodopiando, nunca caindo, sempre rodopiando, foi o que perdurou, o que perdi, o que sentirei sempre falta.

(Revell and Wiley)
Conversa no autocarro: "Why can't we be ourselves like we were yesterday?"

(Eu pensei: porque a vida é fodida, porque as pessoas são fodidas, porque... porque.. porque... ekdbdjsbckcbdkcbcjkcbjcbcjc................")


a tua luz respira-se
como o cheiro da terra
eu só encontro
frescura em ti
ardes na minha mão
porque a tua presença nua
é um gesto antigo
do qual já não me lembrava
amava as estrelas
mas tenho o corpo
submerso de feridas
quero afundar-me
na tua imensidade
mas há um medo
mas há um medo em mim
de arder em cinzas
seguravas-me na mão
enquanto a matéria
se elevava em si mesma?

P.s.: isto não é uma cena a piscar o olho ao nirvana...


Nas noites brancas não posso deixar de ser a solitária que recorda as avalanches, aquelas que sinto afundarem o meu mundo. A neve, de que cor é a neve? Da minha janela eu nem a via cair, ela apenas se enroscava nos meus braços e se o coração batia eu só sentia o frio estalando as raízes da pele. Há uma festa no cemitério e neva muito, as horas pararam e o chão treme. Todas as janelas estão fechadas, o coração bate cercado por uma muralha negra. E a neve continua, continua a cair…


(Hung Li)

Dói sempre uma despedida, esses olhos abertos de mato que não cheguei a ver. Confiei na estrada que era uma história sem razão a não ser um verso aceso pelo nosso fogo. Lembro-me de termos escrito no início de uma cauda que corria a palavra promessa. Se conquistámos todas as cidades, porque partiste? No silêncio da minha boca o teu nome foi sempre dito, continuando a repetir sempre a nossa promessa.

Costumava apaixonar-me por ti todas as noites, quando os telhados gotejavam o meu medo. Chamava-te olhos de lume quando o chão era mais duro do que a pedra. Os meus cabelos entrançados sorriam em fotografias antigas e eu podia ser os degraus de uma casa rumo a um leme que não via nunca. Errava pela noite com o apagar desse lume, não podias levar-me até aos meus desejos porque o vento não se agarra. Provei o sabor dos gritos nessas noites em que me apaixonava por ti, no indecifrar das tuas palavras, mais secas do que o vento que atirava pela boca.
Porque o céu nos explode nas mãos, uma agulha que não deixa de sangrar os dedos. Essa mão que agarra, agarra e vai tentando agarrar...


Good Charlotte: "Let Me Go"

Down in the streets outside of Washington, D.C.,
I wasted all my time and you were there with me,
Back then it meant so much to have you by my side,
I always had your back and you always had mine,

Sayin' Let me go,
Have some fun,
Well my decision sucks to you,
But I'm so young,

We'd hang out late and fight just trying to have fun,
We were such punk ass kids but we knew everyone,
And who could see through such blazed up bloodshot eyes,
There was a plan for us one day we'd realize
Sayin'

na, na, na, na, na, na, na

(Point.Of.View)
regressa à terra
regressa comigo
nos braços do vento
porque sei dos seus contornos
conheço os cavalos
das suas tempestades
dispo-me sempre
invadindo-me das suas águas
o medo é só uma ponte
eu levo-te ao outro lado
o caminho é fechar os olhos
fechas os olhos comigo?

P.s.: olha que eu tenho medo do escuro, tens de deixar a tua luz acesa...

DREAMS NEVER DIE
Actual

Quando disse "em força", não estava a pensar numa força major Beatriz! Juro que te vou às trombras se te ris!

S.
Actual


(Sigmar Polke, "Tischruecken (Seance)")

Actual

Sara, porque longos são os anos e o sítio onde me encontro é o mesmo de sempre... Os pombos ainda estão vivos, mas por pouco tempo. E o que te dizer para além do que já foi dito, se tudo se repete de novo... Sara, irás ouvi-lo uma vez mais, uma outra vez...
Actual

Não sei se te doia Tom, dentro do sangue. O braço é próximo do coração e tu estavas no meu campo de visão. Doia-te o medo, e dentro do medo apenas rastejamos. O teu olhar Tom, consigo vê-lo daqui... Rastejas para onde?
Actual (portanto, de hoje 9 de Junho)

Adoro quando a loiça se empilha, muito artístico. É o que eu digo... sangue de artista... ; )

Pensando melhor, actual? Bem, há algo novo: não saí na minha estação e eis que saio na Reboleira. "Reboleira, que merda é esta?" Nem sabia onde estava (normalmente não sei, mas há dias piores). Volto para dentro do comboio e saio na estação seguinte: Amadora, minha conhecida. Foi a primeira vez. Com os comboios... nos autocarros e no metro é o pão nosso de cada dia. Já nem levo a sério: primeiro entro em pânico, a seguir rio-me e depois digo: "é sempre a mesma merda!" Passeio pela Amadora, há que aproveitar... A última vez que lá fui foi para pagar a conta da água, esquecida sabe-se lá como... A cereja em cima do bolo era aparecer o pica, já no sentido da Damaia, uma vez que para a Amadora o meu passe não passa. Teria sido giro sim, coima que pode ser 100 vezes superior ao bilhete, e eu a dizer ao pica: "mas olhe que eu pedi até à Amadora, eu moro aqui e não na Damaia." Passava, não passava? A estação da Damaia de dia tem outros encantos, mas à noite, à noite é que vibra. Vejo-a da minha janela... há uma puta de uma árvore à frente, mas enfim... Mas eu apanho com a saída secundária, que ainda tem mais encantos... tenho de fazer uns corta-matos por aí... Há pessoal que passa por mim e olha-me com um ar de durão e/ou mauzão... dá-me logo vontade de rir... Estás fodido da vida? Eu também... Faz parte da número? Eu também tenho uns números, são é do curso avançado... (eh, eh, eh) Se calhar vou adoptar esse ar, a vida provavelmente vai ser-me facilitada, não? No supermercado estava a ver que tinha de andar à porrada... com uma gaja que estava a embicar com o meu carrinho das compras. Fez-me esse ar de durona, eu fiz-lhe o meu (espero ter aprendido bem a lição)... Se ela me chateasse mais alguma vez acabava no chão com os sumos todos a jorrarem-lhe em cima... Estou tão bem disposta, não estou?

Não compreendo porque é que toda a gente diz que tenho de escrever a história da minha vida, ela não é nada de especial. Cada vez que tento torná-la mexida mais parada ela fica.

Queridinhos, qual de vocês é que quer assinar este texto?

Ninguém? Não me acredito!!! Tanta gente, tanto barulho e nada?!

Ok, ok. A minha vida não é nada de especial, eu é que sou!

Está bem assim gente? Ah, agora querem assinar todos. Não assina ninguém, seus macanbuzios, eu sou uma durona!!!