sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O meu filme

Ela estava no seu canto tentando sossegar-se, ainda assim sentia-se muito fraca. A sua pulsação era estranha: quase não tinha pulso mas, ao mesmo tempo, estava com taquicardia. Por vezes não se sentia nada bem e hiperventilava, nessas alturas receava ter um ataque de pânico. Então, tentava acalmar-se. Na verdade, ela passava os seus dias a tentar acalmar-se. Agora doíam-lhe as costas, os músculos estavam demasiado hirtos para fluir normalmente: “são os nervos, atacam-me sempre alguma coisa”. Ela enganava-se nos caminhos, não percebia que a relva não pisada significava uma rua sem saída. Tinha medo de atravessar estradas sem orientações, algo que dissesse: “parem, agora vou passar”. Ela queria passar, queria passar há já muito tempo, mas existiam tantos obstáculos, os dos outros, os dela. Os dela eram um carnaval de terror, os dos outros eram um inferno. Ela não exagerava, simplesmente ninguém olhava com atenção para ela, então, passava despercebida. Um dia entrou num sítio bonito e sentiu tonturas, não estava habituada a sítios bonitos, foi-se embora rapidamente. Ela gostava muito de ver filmes e pensava que a sua vida dava vários filmes, um deles podia chamar-se: “Um dia o meu coração acelerou”.