terça-feira, 8 de novembro de 2016



O sal trouxe a pitada de laranja e a pimenta a pitada de negro. Juntaram-se no blá, blá, blá a produzir muita escrita oral, no fim foram contabilizar a palavra mais usada: Saleiro.



Duas pitadas

Uma pitada de cor de laranja desmedida e uma pitada de negro infinda assim é a sonoridade que canta em mim. O teu som é feito de aves marinhas, ganha cores azuladas e é mar à minha roda. Ofereço-te uma laranja vinda do Outono e tu dás-me mil lantejoulas azuis para dançar ao vento. Somos os palácios onde moram príncipes e princesas e preparamos manjares de cores ao rubro. Uma pitada de cor de laranja e uma pitada de negro, mistura ideal para um casamento.


Essência de Fosferima

Palavra de grande importância inventada no dia 1/11/2016 e dedicada ao sentir.


Dia de máquina
 
À minha espera desassossega-se uma máquina de lavar loiça que se julga de potencial ganhador de medalhas que nunca chega a ganhar, no fim diz sempre entristecida: “estava quase a chegar ao ouro”, no entanto nem do bronze se aproximou. Tem no seu interior uma grande dilatação que se deve à sua destemida obrigação caseira de lavagens, tem também dentro de si uma enchente de pratos de gente grande e algumas bugigangas que se partem quando caem da falésia que termina numa cozinha demasiado antiga, olha-se para ela e apenas de vê um chão borrado de pedaços bem sulcados, são muitas marcas que soletram bem alto o uso da permanente sucção causada por sapatos imundos. A loiça não gosta de esperar por mim e tem um desejo irritado de voltar a estar nos armários amplos onde habita, quer voltar ao território onde está a sua arrumação, uma arrumação cuidada que amansa a sua pele delicada. Vou, então, sem vontade e com poucas forças pôr tudo no seu lugar, sei que os meus músculos braçais se vão queixar pois têm pouca rede interna de células ativas, sei que a loiça está cada vez mais irritada à minha espera, sonha com uma refeição-rainha aquando do menu do jantar. Vou ser corajosa, vou levantar-me com todo o meu dinamismo de marés vivaças necessário ao cumprimento desta tarefa de grande laboração. Se partir um copo é o normal, se partir um prato é uma grande falta de educação pela vida caseira de toda a gente que habita neste lar. Tenho um sonho: voltar a lavar a loiça à mão, quando era pequena fiz este exercício muitas vezes com um detergente fajuto que me deixava as mãos quase sem pele, recordo a experiência com carinho.