domingo, 14 de dezembro de 2008


("Bloody Sunday", Derry, 30 de Janeiro de 1972)
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Neste dia o 1° Batalhão do Regimento de Paraquedistas do exército britânico dissolveu uma manifestação pacífica a favor dos Direitos Civis e contra o governo da Irlanda do Norte. Vinte e seis pessoas foram feridas. Treze delas morreram naquele dia, sendo que seis eram menores. Uma outra faleceu meses depois, em consequência dos ferimentos que recebera. Todas estavam desarmadas e cinco delas foram alvejadas pelas costas.
Os manifestantes protestavam contra a política do governo irlandês de prender sumariamente pessoas suspeitas de actos terroristas. Essa política era dirigida contra o Exército Republicano Irlandês, o IRA, uma organização clandestina que lutava pela separação da Irlanda do Norte e posterior união com a República da Irlanda. Após o "Domingo Sangrento", o IRA ganhou um número enorme de jovens voluntários, acabando por fomentar um ciclo de 25 anos de violência, perpetuado por ambas as partes. Questões de índole religiosa, que na verdade estão intimamente relacionadas com a incapacidade das partes envolvidas em aceitar as suas diferenças e viver pacificamente com elas, fizeram com que estivessem sempre voltadas de costas uma para a outra. De um lado, uma fazia tudo para não abrir mão do "seu" território, enquanto a outra parte lutava por deixar de ser subordinada ao invasor. É importante relembrar que a Irlanda do Norte foi ocupada pelos britânicos no início do século XIX.
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Actualmente nos cinemas:
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Título: Fome
De: Steve McQueen
Sinopse: Prisão de Maze, Belfast, Irlanda do Norte, 1981. Bobby Sands é um activista do IRA que começa uma greve de fome contra o tratamento cruel que dão aos prisioneiros. Sands, que morreria pouco tempo depois, vítima de ataque cardíaco, tenta conseguir para os activistas do IRA o estatuto de presos políticos e acaba por se transformar num símbolo da luta armada do grupo.
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Porque o terrorismo
de uma parte é normalmente alimentado pelo terrorismo da outra.
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Processo de Paz na Irlanda do Norte:
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Com o Acordo de Belfast em 1998, onde participaram todos os interessados, foi possível chegar-se a um acordo e convencer o IRA a entregar as armas.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Sunday Bloody Sunday

Demasiado sangue nas minhas mãos que tu seguravas na mesa do bar onde tinha entrado com todo o corpo a tremer. Conhecias a luta dos meus passos e o teu toque foi como um abraço. À medida que me retorcia em dores sentia a esperança do teu calor. Mas tinha o corpo carregado de balas e a morte nos olhos. Dizias que me ias salvar, eu ria-me, bebia copos de cerveja atrás de copos cerveja: “não vês que eu já a tenho cá dentro?” O sangue era um rio que jorrava por ti, um rio que nunca secava em ti. Tu salvavas-me, salvas-me à pressa, seguravas o meu mergulho para a morte mas não se salva tantas pessoas da morte ao mesmo tempo.

Uma arma apontada
A pontaria vem direita a mim
Um dia escuro sem palavras, sem pessoas
As suas vozes morreram antes de mim
Um longo rastilho de um ser espezinhado
Que nunca mais deixou de rastejar
Nunca mais se chamou o mesmo
Com as entranhas a arrastarem-se no esterco
Do mundo que agora é uma atrocidade
Contra o meu ser
Uma arma apontada
Quem vai puxar o gatilho?
Serei eu
Mas agradeço a vossa ajuda

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


(Sentadas rente ao chão)
- Só há noites porcas que vejo das janelas por onde salto todos os dias para te encontrar e te dizer que estou contigo a um milímetro da tua dor, mas nunca nos podemos tocar porque dentro da amizade no meio da sujidade há sempre gente corrompida que nos quer comprar para nos esfregar no chão azedo das beatas e das escarretas. - Digo-te olá, já ao fim de uma longa noite, sabes que há um cheiro a podre que invade tudo, mas ainda há em mim para ti um certo brilho de luz de verdade que diz que a perdição não nos afoga por completo. Ao completar esta frase rio-me porque sei que é a maior mentira que já disse. Vieste aqui porque a tua solidão é igual à minha e magoa tanto que sangras ainda mais do que eu. - Hoje não tenho nada para enrolar as tuas feridas, desculpa amiga, tenho gelo nos olhos porque está tudo demasiado negro. Segura os braços com força, estás a sujar o chão tudo e daqui a pouco levamos ainda mais porrada se nos encontraram neste estado, duas tipas sozinhas, miseráveis, com uma placa na testa que não vemos: maltratem-nos.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Isto por aqui é assim:

Os relógios continuam a bater as horas e quando param há mãos que surpreendemente fazem com que eles batam de novo, mãos que reconheço minhas, pois apenas minhas mãos são.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Talvez as luzes de Natal me pudessem deixar menos reflexiva. Está tudo enovelado, um mundo que anda ao sabor das curvas acidentadas dos passeios que piso nas ruas sujas por lamas daqui e dali. E eu? Caminho, por vezes... Menos reflexiva, dizia... Pois bem, olho para as luzes e elas são tão opacas que pouco ou nada me inspiram. Muito menos confiança. São tranças luzindo o que os humanos não conseguem ser ou fazer... Talvez ser uma traça, talvez pudesse ser menos reflexiva sendo uma traça comendo o alimento do Natal, devorando as roupas ainda quentes pois a carência é também uma necessidade. No fundo, o meu caminho de traçado pouco tem.

Carpinteira


(Sam Wang, "Dead Bird")

Há tantos desertos
Percorro-os dentro e fora
Um esforço em ferida que me deixa sem pele
Repetindo-se no chão soturno
Que vai à minha frente
Criança sem olhos sou
De relento em relento
Nunca consegui ser o ser
Ouve-me, porque nunca falo
Mais do que os mil livros que gritei
Nas areias dos desertos que conheci
Ouve-me e leva-me palavras
Porque nunca conheci
Uma solidão tão grande dentro de mim

Sara
Choro todos os dias pela minha menina, o meu coração está despedaçado sem ti ao pé de mim... Os meus dias são sempre escuros e solitários e nunca houve Inverno tão frio como este...sem ti. Como estás, sem mim, nesse país quente, cheio de novidades, pessoas que tropeçam na tua vida, cheias de algo que tu não conheces e tens a curiosidade de querer saber? Como estão esses aromas, esses sabores de África, só sua, que agora possuís, e ardem dentro de ti? Conta-me, conta-me, porque aqui só há camadas de roupa por cima de camadas de roupa e pessoas rezando para que faça menos frio. Invejo-te quando te imagino de sandálias pisando uma qualquer areia que desconheço mergulhando nesse mar quente e rindo-te, esse riso que tão bem conheço, esse riso que digo ser meu, como se pudesses ser minha assim, as duas deitadas num pano chamado toalha, o céu brilhando em cima, os olhares brincando com a energia do sexo em baixo. Conta-me com quem estás agora, quem te toca, em vez de mim? Quero saber, não para me doer, mas porque sempre foi assim... Ver-te feliz nessas paisagens que filmas constantemente com os olhos rebeldes, com essa força imparável que sempre amei em ti. Foi sempre o que quis para ti... Mas diz-me amor, quem te toca aí? Porque se ninguém o faz, fá-lo-ei pelas vezes de quem o deveria fazer a ti...

Da Sofia para a Inia