sexta-feira, 25 de julho de 2008



(Flor da Romãzeira)
Uma centopeia notificada
Do que não sabia
Porque o seu correio estava cheio de beatas
Por apagar, por acalmar
Mas a vida não se apaga dessa forma
Num momento desenfreado

Se talvez ela não vivesse na penúria
Ruminando os pedaços dos caminhos
Ah, como a vida poderia adequerir
Aquela beleza de que falam as teias dos sentidos
No entanto, ela via nos biombos das ruas onde se deitava
E nos laços das montras objectos únicos
Caldos de sabor à beira de um passeio
Essa centopeia que caminhava
De pernas calçadas para fora

As ruínas, dizia, são as menos importantes
Embora permanecesse uns tempos
De relógios em que os ponteiros apontam longos nelas
Mas de seguida convertia-se no fim
Para desarrumar mais uma canção que airava em si
Mil cacos que podem ser cascas de laranjas amaciando os teus pés. Se o sul é tão longe porque se abrem caminhos soltando as folhas mortas das árvores, sabendo a exactidão dos passos a dar. O norte quis ser tractor e o oeste disse-lhe que podia ser fosse o que fosse pois as fontes não se devem prender, senão as águas nascem desertas. Lá longe navega um rio com um coração. Galileu sempre disse: é o sol que anda à volta da terra... ou é a terra que anda à volta do sol? Ou é o sul...


(Valente Malangatana)
O homem não é do tamanho sólido da rocha e à volta da sua cabeça a sua voz voava afogada, voava em nada, voava tapando-lhe os olhos ou abrindo-lhe os berlindes, como lhes chamava. O homem não estava seguro em cima do muro onde passeava contando um, dois, quatro, vinte e já se desequilibrava rindo-se... Sem si o mundo eram mundos, mundos de degraus que iriam continuar a subir ou a descer... Ele era um jacto, contou 487... riu-se... depois desceu do seu mundo e o seu mundo foi-se deitar na relva. Pensou que os olhos eram um órgão estranho, o olhar era uma capacidade estranha, a sua preferida, deitou-se na relva e deixou-se estar ali a tarde inteira...