domingo, 19 de setembro de 2010

Já não me lembro da tua voz, mas sei que não era esganiçada, nem rouca, nem arrastada. Não bebemos nada naquela noite, a não ser um copo de vinho cada um. Não sei se tinhas bebido alguma coisa antes mas diria que não tinha sido nada de especial pois não me parecias de todo alcoolizado, não sabias a álcool. O teu sabor a fogo despertando a minha polpa era maravilhoso. Estou ansiosa por ouvir novamente a tua voz. “Lembras-te de mim?” “Sim lembro-me.” E quem sabe se ainda nessa conversa eu possa pespegar-te um beijo, o que acho muito difícil, tenho de ir com mais calma claro. O que fazemos, estamos ali a falar um bom bocado e depois…trocamos de telemóveis, e vamos pelos modos convencionais, um cinema, um café? E tenho de ser eu a convidar, calculo? Prefiro o beijo na loucura da noite. Bem, o beijo é inevitável, já falámos sobre isso. Serei eu que terei de o pôr cá de fora para ti (ai de ti se me estragas os planos!). E depois havemos de nos agarrar com sofreguidão…eu pelo menos…pensa bem…cinco anos nesta história à tua espera sem um único abraço. O desejo crescerá, os corpos irão querer mais e teremos de ir à pressa para um sítio onde possamos fazer essas coisas que os amantes fazem. Que momento tão bonito, poder estar assim contigo nessa união de corpos, que não será apenas isso para mim. Vê lá que eu agora já faço amor contigo, no sossego da noite, imagino-nos aos dois rebolando-nos um sobre o outro e pronto. Já imaginas o resto quando o meu toque emocionado vai de encontro ao seu objectivo. São passarinhos a cantar por todo os lados, em todas as árvores, de todos os ramos, perseguindo a visão das nuvens.
Vou dormir. Para além do edredão espera-me um óvulo vaginal, pois é o tal, não me estou a dar mal com eles, não são tão maus como eu imaginava. E a gata, esqueci-me da gata, já está deitada em cima da minha cama. E lá vamos nós: só faltas tu. Até te deixava pores-me o óvulo. Bem, resta-me imaginar…Boa noite. Beijo luar sereno.

(Howard Hodgkin "Lovers")
No outro post dizia “sei onde estou, sei o que quero”, mas na verdade acho que não sei onde estou. Sinto-me perdida sem ti, em todo este tempo que falta. Falta-me o chão, três anos é tanto tempo. E eu já tenho tantas saudades tuas. Os dois anos que passaram foram mais fáceis porque eu pensava muito menos em ti. Agora morro de saudades tuas todos os dias, é difícil de aguentar. Isto pode parecer muito bonito e romântico mas comporta sofrimento e mal-estar. Estou às aranhas, preciso de me agarrar a alguma coisa. Sei que pensas em mim, mas gostava de saber como, com que frequência. O tempo às vezes é tão lento…e agora mais lento vai ficar. Não sei onde estou, tu não estás nesta aventura comigo seja lá onde estiveres. Estou sempre inquieta por tua causa, fico confusa com os meus sentimentos. Não sei onde é que eles se situam. Faz-me confusão aperceber-me de que gosto muito de ti tendo em conta de que tudo se deveu a uma só noite. Queria chamar-lhe qualquer coisa, ao que sinto. Entendes? Talvez tenha medo, é um passo demasiado arriscado. Mas na verdade isto é tudo tão confuso que eu não te posso dizer nada com certeza. Não sei onde estou quando vou passear sem ti, quando vou para a cama sem ti, quando falo e tu não me respondes.
Claro que é fácil falar, tratado para aqui, tratado para ali. Diz um dos tratados “Já tenho tudo o que é preciso para esquecer esse rapaz: não passa de um produto da minha imaginação, não existe, é uma fantasia que alimentei durante dois anos e não me traz qualquer tipo de felicidade.” Mas está tão impregnado em mim, tão entranhado por mim toda que é muito difícil ser minimamente racional. Fantasia? Certo. E se eu gostar realmente desta fantasia? Parece-me que eu respiro a sua respiração. Além disso não se pense que é apenas um devaneio meu, estou com os pés bem assentes na terra embora toda esta história pareça uma loucura. Sei onde estou, sei o que quero. A minha imaginação funciona a cem à hora mas quem sabe se não torna o impossível possível. Essa história de não me trazer felicidade é muito subjectiva porque eu às vezes ando aos pulinhos pela casa, cheia de sorrisos para cá e para lá. E não existe como? Se sinto tanto o rapaz que desperta a minha substância mais luzente. Portanto, tenho tudo o que é preciso para esquecê-lo mas acho que não é possível tal feito.
Estou a ouvir a música “In the Temple of Love” dos Sisters of Mercy. O que me ocorre dizer é: where the fuck are you? Não podes tropeçar em mim na rua? Pelas minhas contas tens vinte e sete aninhos, na verdade faz-me um pouco de confusão ter de imaginar-me a envolver-me com uma pessoa tão mais nova, ainda faz diferença, cinco anos são uma eternidade, são o tempo que eu tenho de esperar por ti. Podes estar no b a ba da vida, e eu aqui tão avançada. Tenho de te mostrar o tratado que escrevi sobre este assunto, dizendo que estavas mais bem servido com uma tipa da tua idade, virgem na vida como tu, mas claro que entretanto já mudei de ideias. Aliás tenho vários tratados: como te quero esquecer e de como te vou esquecer seja de que forma for. Como não estás aqui e isso faz-me sofrer, era melhor eu pensar um bocadinho menos em ti, levar a bom termo o meu tratado “esquecer-te”. Saber-te no meu futuro mas apagar-te da minha memória por uns tempos. Porque já deves ter percebido isto é uma verdadeira obsessão. E tudo à conta de uma única noite, vê lá o sentido que isto faz. Para mim só faz sentido sabendo eu que me sinto sozinha e carente, com uma grande necessidade de amor. E que há um certo (grande?) grau de loucura dentro de mim para eu embarcar nesta história. É o grande Sonho de Amor que me move.