domingo, 3 de agosto de 2008


(Pink Night Owl)
Praia do Meco

Sempre de volta com Inia ou Nuska, os corpos livres, nus... O sol batendo neles aquecendo o seu frio... As ondas desmanchando os seus puzzles, fonte de prazer, a água no estado puro, o gostinho a sal que fica no corpo... As palavras que estendemos na areia ou no papel ou que trocámos sem fim entre nós... No fim a comida no restaurante do costume... Duas amigas, dois caminhos cruzados desde os 16 anos...

Sofia
Don't it make You smile?
Don't it make Me smile?
When the sun don't shine, it don't shine at all
Don't it make Me smile?
I miss You already... I miss You always
I miss You already... I miss You all day
This is how I feel...

(Pearl Jam)
Meu Amor Bianca,

Com este calor abrasador como tu, minha flor, só a relva fresca é uma possibilidade. Temos estado juntos nela, mas um pouco afastados. Minha querida, árvore que se estica no horizonte, tanto furor e já percebi que és tímida. No outro dia sem querer nossos lábios de lã quase se tocaram e tudo ferveu. Entendes Bianca que tu e eu só estamos bem a sós na relva bem juntos e como diz o povo "seja o que deus quiser".

desejo-te; quero-te; canção de liberdade; amor; ansejo-te; maravilhas-me; és o arco-íris; felicidade...

O Teu Amor,

Bruno

Rebola-te comigo na relva, sim?
Acabaram os "antigos" do Heliosfera, uma vez mais, são sempre confusas estas transferências ; )
Antigo

o amor de estar
no sopro do olhar
que desliza
da tua vida gravitando
no arco das minhas mãos
sobre a tua face nua
a revelação do invisível
nas carícias embriagadas
pelos nossos mundos
expandindo-se
no presente absoluto

P.s.. presente absoluto... epá, caramba... nada a acrescentar ; )

Carpinteira


A metáfora da guerra que no mundo subterrâneo move moinhos de árvores negras interdita a circulação. As curvas são o desencontro das palavras nunca ditas. Há tantas paredes de bolor e ferrugem que são seres reais com olhos penetrantes doentes de cólera que desaguam nos nossos vales. As sombras são demasiado fortes e a leveza está inanimada. Neste planeta imenso a voz escreve o sabor azedo dos teus gestos e a tua voz sempre gritando. És um coágulo nas minhas veias e não consigo verter-te para dentro dos poços. Vê este espelho, vê-te nele.

Carpinteira
Antigo

Bianca, esse castigo que te faz abrir cinquenta portas e nenhuma está suficientemente aberta. É um castigo viver assim Bianca, viver não querendo ser ausente e sentir o pavor instalando-se. Bianca, um, dois, três riscos para passar. Ris-te. Chama-se qualquer coisa como ironia. "Estás a olhar para mim, pois olha bem esta flor rara que agora se cansa e foge num repente." Foram feridos sentidos, queimaste-te nas brasas Bianca, nas chamas, no fundo das entranhas, respirando mais do que a vida. Estás pálida, mas não inconsciente...

Carpinteira
Antigo



(Lyonel Feininger, "Dünen am Abend")
Antigo

Sou um pássaro azul e o meu voo é o mais azul de todos. Respiração rápida, livre se levanta, onde tudo começa, numa rajada de ar única, rompante como a abertura do céu, num desejo perfeito no espaço límpido que deseja ascender a todas as margens e futuros além.

Carpinteira


os mortos, os mortos… eles têm os rostos inchados, os rostos chupados, eles nem sequer ouvem a tristeza do nosso coração infinito… consigo amar-te até seres, mas deixaste de o ser nesse rosto frio, morto… morto… que esfriou com o passar das horas… eu corri ao teu encontro nesses dias em que eras minha e tudo nos pertencia… levantas-te voo… não consigo correr mais porque não me devolves o olhar… os mortos, os mortos, eles não têm mãos, nem dias para gastar, nem dias, nem novas paisagens… eu não tenho de me despedir pois não? essas memórias carregadas das tuas imagens são o meu coração respirando o que foi a tua canção… deixaste de cantar onde agora a vida é cinzenta escura neste céu que cobre a minha vida… há vestígios de tudo o que foi e permaneces morta, tal como os mortos que morrem nessa solidão terrível, aquela a que te acorrentaram… os mortos, os mortos, estás morta e permanecerás morta nessa violência com que te atravessou o medo… correste a liberdade, correste até te cansar a vida… um órgão que derramou e tudo acabou… prenderam-te, amarraram-te e esmagaram quem devias ser… morreste e não soubeste morrer porque querias correr… porque o ar sabia a liberdade… os mortos, os mortos, incham e calam-se e são para sempre livros fechados… lembro-me de ti… acariciei o teu cabelo nos meus sonhos e fiz-te rir, fiz-te rir muito… nos meus sonhos ainda sabes o meu nome e sabes que sou aquela que nasceu primeiro… devolves-me as nossas horas? as músicas que ouvias, os cordéis que fazias, as brincadeiras… o som do vento não diz nada, já não estás aqui, apenas o veneno de um rosto e um corpo que irá furar o chão… serás sempre luz, serás sempre o riso que ri comigo… porque não te podes rir agora? esse riso crava-se no fundo da minha pele e levanta-a deixando-a na desolação… mas sim, ri-te, ri-te, porque na verdade é tudo o que possuímos, é tudo o que possuímos …

Carpinteira


A minha tia Lita morreu ontem. Ela tinha o síndrome de Down e era a segunda filha de seis filhos que a minha avó teve, nasceu logo a seguir ao meu pai. Lembro-me bem dela na minha infância. Não percebia bem a doença dela pois era nova demais, mas gostava de cirandar à sua volta quando estava em casa dos meus avós. Sei que foi feliz, acho que sim, toda a família a adorava e na Casa de Saúde em que esteve a partir de certa altura fez amigas entre as outras pessoas. É isso que interessa não? A minha imagem dela sempre foi e será aquele sorriso, aquele riso só dela, o sorriso, o riso à Lita de felicidade.

Sara
Antigo



(Pierre-Auguste Renoir, "Girls at the piano")
Antigo

Se morreste não voltas nunca mais, vives já fora de mim, embora eu seja aquela que aceitou todas as tuas dádivas, todas as horas que não cessaram de crescer no cume mais alto da beleza onde agora fecho os olhos sentindo-te. Esta é a minha oração. Ramos perdidos que liberto do descanso e dou uma vida agitada, uma existência de vontade habitada em mim. Se morreste os pássaros soltam-se em todas as direcções e viajam o teu nome através da força das paisagens. Esta é a minha oração.

À Lita

Sara


Blackfield: "Where is my love?"

Endless fields of emptiness in my dark and wounded heart
Where is my love?

The freezing moment when you turned your head and waved goodbye
Where is my love?

Even all the biggest storms can't take my pain away
Where is my love?
Noisy happy people crossing streets from side to side
Where is my love?

I gave you everything I could but you want the stars
Where is my love?
Endless fields of emptiness in my dark and wounded heart
Where is my love?

Even all the biggest storms can't take my pain away
Where is my love?
Noisy happy people crossing streets from side to side
Where is my love?

Carpinteira
Antigo

A minha família sempre foi uma família de Grandes Mulheres. Dê por onde der, vá por que caminho for, eu não serei aquela que irá quebrar a "tradição familiar".

Embora para algumas pessoas sejam invisíveis eu já dei algumas provas desta minha "herança familiar", mas o caminho continua, é sempre levantado do chão...

Sara
Antigo



(Amedeo Modigliani, "Jeanne Hebuterne")
Antigo

Saí agora na estação de comboios da Damaia e debaixo de um banco, mas bem visível, estava uma pistola. Eu fiquei um pouco surpresa, mas nada de mais. Comentei com o bacano que vinha ao meu lado, que não conhecia de lado nenhum: "as coisas que uma pessoa encontra..." Ao que ele respondeu: "estava para ir lá ver a cena, mas epá não quis e tal". Epá, se calhar ele em casa tem uma melhor e tal. Se não fosse o facto de eu própria já ter visto umas armas e tal, se calhar tinha ido lá ver a cena e tal. Desde que não me apontem uma à cabeça tá-se bem... Podem apanhar-me num período depré e eu dizer: "epá dispara lá essa merda de uma vez por todas e a ver se acertas à primeira que eu não tenho o dia todo!" Isso tinha piada pá.

Carpinteira


Às vezes parece que o mundo ficou longe e fala baixinho. A Primavera é lamacenta e já não corro como dantes, deixei até de saltar à corda. Mas a minha verdade é a proximidade e uma voz encharcada de poesia. Salto as poças que tentam apanhar os pés e corro atrás do vento, dos seus sons cantantes. Há demasiada vida, tutta la vita nelle mani. Percorro-a com a sensibilidade dos dedos cegando o absurdo, dissolvendo o que parece indivisível. Ah, o inimaginável mundo da exploração de consciência desperta. Sorver os objectos, alimentar-me de banquetes, respirar fundo, embarcar contigo numa aventura e saltar à corda no fim do dia porque nunca se esquece o que está dentro de nós de forma ilimitada.

Carpinteira


chuva púrpura
nos nossos beijos
no instante de luz
que somos
nesta busca
do encontro
da palavra certa
para a respiração do amor
que fala
por mil bocas
a minha força viva
em ti
é um corpo livre
recomeça sempre
junto ao teu ser

P.s.: há que frisar: a minha força viva... sim, sim... ela está bem viva!

Carpinteira


Dentes de Leão

Lembraste de como o mundo era perfeito? Vês como o mundo é perfeito quando sopras as flores e elas voam para sempre... Lembraste de as soprares quando eras infância, tudo ser perfeito e o mundo era uma nuvem cor de rosa crescendo em ti. As laranjeiras à tua frente estão agora carregadas de laranjas, carregadas de ti e há um comboio que parte. Ele parte sempre e tem um mercado lá dentro que tu compras com o sorriso dos teus olhos.

Oriana
Antigo

Algo se passa na saída da estação de comboios da Damaia onde saio, há um grande rebuliço por lá e eu quero saber o que raio se passa! Já tinha reparado neste facto noutras ocasiões... A minha formação não me larga. Credo! Será algo relacionado com a venda de armas ilegais? Depois daquele encontro de 3º grau debaixo do banco da estação estou por tudo... Eh, eh, eh! Também quero uma, só para fazer parte da cena, do ambiente aqui da zona... Sem balas, claro, não vá matar um passarinho sem querer...

Esta conversa... será o início do delírio e da demência?

Carpinteira


Conversa no autocarro: "Não deixes o pão comer o cão!"

(Eu pensei: lá está, delírio e demência, progressão rápida e eficácia garantida...")

Carpinteira


Lendo o Manual Merck Online, penso que o passo seguinte após a leitura das Perturbações da glândula da tiróide seja o Delírio e a demência...

"Embora o delírio e a demência sejam descritos, muitas vezes, em conjunto nos livros de medicina, na realidade são duas perturbações bastante diferentes. Ao falar do delírio descreve-se uma alteração repentina e habitualmente reversível no estado mental, caracterizada por estados de confusão e de desorientação. A demência é uma doença crónica de progressão lenta que causa uma perda de memória e uma diminuição extrema de todos os aspectos da função mental; ao contrário do delírio, costuma ser irreversível." No meu caso, a demência teria uma progressão rápida e o delírio seria também irreversível...

Carpinteira
Antigo



(Leon Spilliaert, "Vertigo, Magic Staircase")
Antigo



(Dente de Leão)

Eu Sou um Dente de Leão e o Vento Voa Comigo...
Antigo



(8 1/2)

Não sei quem estava em delírio maior neste filme, o Marcello Mastroianni ou o Federico Fellini... : )

Claro que os gajos ficam malucos com a Claudia Cardinale. Digamos que vai bem sim senhora...

"Guido Anselmi é um realizador de cinema que tenta descontrair-se após o seu grande último êxito. No entanto, não consegue um momento de sossego, pois a sua mulher, a sua amante, o seu produtor e todos os amigos estão constantemente a pressioná-lo sobre uma coisa ou outra e procurando mais trabalho. Ele luta com o seu consciente, encontra-se numa crise de inspiração e não consegue uma ideia nova. Enquanto pensa, começa a recordar os grandes acontecimentos da sua vida e todas as mulheres que amou e abandonou. Um filme autobiográfico de Fellini sobre as tentativas e adversidades de realização cinematográfica. Nunca se fez uma obra tão genial sobre o processo de crição no cinema."

Ah, o processo de criação...

Escusado será dizer que este é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos...

"Mi sembrava di avere le idee così chiare. Volevo fare un film onesto, senza bugie di nessun genere. Mi pareva d'avere qualcosa di così semplice, così semplice da dire, un film che potesse essere utile un po' a tutti, che aiutasse a seppellire per sempre tutto quello che di morto ci portiamo dentro. E invece io sono il primo a non avere il coraggio di seppellire proprio niente. Adesso ho la testa piena di confusione, questa torre tra i piedi… chissà perché le cose sono andate così. A che punto avrò sbagliato strada? Non ho veramente niente da dire, ma lo voglio dire lo stesso." (Guido Anselmi)

"Ma che cos'è questo lampo di felicità che mi fa tremare e mi ridà forza, vita? Vi domando scusa dolcissime creature non avevo capito, non sapevo, com'è giusto accettarvi, amarvi, e com'è semplice. Luisa, mi sento come liberato, tutto mi sembra buono, tutto ha un senso, tutto è vero. Ah, come vorrei sapermi spiegare... ma non so dire. Ecco, tutto ritorna come prima, tutto è di nuovo confuso, ma questa confusione sono io, io come sono non come vorrei essere, e non mi fa più paura. Dire la verità, quello che non so, che cerco, che non ho ancora trovato. Solo così mi sento vivo e posso guardare i tuoi occhi fedeli senza vergogna. È una festa la vita, viviamola insieme. Non so dirti altro Luisa né a te né agli altri. Accettami così come sono se puoi, è l'unico modo per tentare di trovarci." (Guido Anselmi)


"La mia vocazione più autentica mi sembra il rappresentare quanto vedo, quanto mi colpisce, mi affascina, mi sorprende..."

(Federico Fellini)

Carpinteira
Antigo

folha baloiçando
no meu murmúrio
onde os labirintos
se escondem
e as aves escutam
o que há de fértil
nas composições
que se erguem
ao longo dos ecos
das florestas
de cortinas densas
onde tu e eu
dançamos a noite
as vozes dos
seus sonhos

Carpinteira


Ensina-me a tua canção, aquela que cantas para mim, aquela cuja letra a tua bondade criou e quer sempre para mim:

"Virgem e Mãe Senhora Nossa Protegei-me e Guardei-me como Coisa Própria Vossa."

Sara


Doze árvores, uma família, chaminés robustas ao cimo dos telhados demorados em altura. Há uma luz vermelha que não pára de brilhar e um castelo que é a nossa fortaleza. Ergo uma bandeira, vou erguendo bandeiras, um de nós sabe o caminho. No cimo das varandas cantam-se todas as canções e tu ensinas-me mais uma.

A Nós (AI, AA, P, M, S, T, TM, C, G, T, L, C)

Sara
Antigo




(Matthew Woodson)
Antigo

A arte já sabemos nasce
da imperfeição das coisas
que trazemos para casa
com o pó da rua
quando a tarde finda
e não temos água quente
para lavar a cabeça.
Tentamos regular
com açudes de orações
o curso da tristeza
mudamos de cadeira
e levamos a noite
a dizer oxalá
como se a palavra
praticasse anestesia.

("Nocturno", José Miguel Silva)

Carpinteira


Um Verão feliz num cavalo branco percorrendo a perversidade do silêncio nos montes antigos. O horizonte intenso aberto escutando as formas de todas as coisas. Oiço agora as perguntas, elas doem enquanto afundam o caminho. O rio aqui contínua feliz, de uma simplicidade única. Mas o equilíbrio foi suspenso, um espaço ressequido que sinto em ti, alguém que é a mão da violência. Perscruto as pedras com o sabor das minhas mãos e sorrio. Elas tornam habitável o desejo, como a brisa de uma praia livre para o alcance das águas. Nada fecha este espaço de inundação de céu inteiro.

Sara


Posso estar toda tiróidica, reumatóidica, pulmóidica, colesteróidica, etc., mas este mês vou dar-lhe com força! (Aqui fica sempre bem um "So Help Me God", mas acho que já fiz esta piada há uns tempos atrás...)

"A change of speed, a change of style
A change of scene, with no regrets
A chance to watch, admire the distance
Different colours, different shades

We'll share a drink and step outside
An angry voice and one who cried
We'll give you everything and more
The strain's too much, can't take much more
Oh, I've walked on water, run through fire
It was me, waiting for me
Hoping for something more
Me, seeing me this time
Hoping for something else"

(Joy Division)

Liberdade, Amor e Eternidade

Carpinteira
Antigo



(Akif Hakan Celebi)
Antigo

Em relação ao post anterior "este mês vou dar-lhe com força!", ainda há outra hipótese a ser consagrada claro: o delírio e a demência... Mas lá está, nesse post não explicitei muito bem o que era "dar-lhe com força". E o delírio e a demência, quando são a sério, são com força... Eh, eh, eh! So Help Me God, agora sim!

Carpinteira
Antigo

Se fosse um tiro dispararia contra ti e cantava ao vento do oeste que a estação da neve terminara. Uma noite enamorada pela tocadora de harpa irrompe em fogo. Escorrega de mim o peso das folhas esquecidas de velho. Estendo os braços e assim por diante, por que escondes os olhos? Uma lista de estrelas abrindo os lábios, vou mais fundo que as embracações...

Carpinteira


Ich kam gegangen*

Destrói o que cobre a penitência, se são causas perdidas fala em relâmpagos, enterra os postiços com terra d'aço, a imaginação será sempre o teu fato-macaco. Por aqui não mais voltarei. Neste dia em que se respira fundo, que belas são as vistas.

*Vim caminhando

Carpinteira
Antigo



(Eugène Delacroix, "Andromeda")
Antigo

Jaime, eu queria a secreta viagem do teu nome no seu esplendor. Seguir-te porto após porto sabendo que não haveria a ilusão, mas as escamas desfazendo-se para eu ser contigo o casco mais forte dos cavalos e projectarmo-nos sem fronteiras no nosso encontro. Jaime, em ti sei que o amor torna a vida maior.

Carpinteira


anoiteço de novo
mas serei uma
estátua de movimentos velozes
ardendo as entranhas
nos quartos de aluguer
as cidades são éguas
que passam a correr
o som da liberdade
sei agora que
nunca fui parte de ti
porque os pássaros são gentis
e o teu vestido é branco
oferecendo apenas
superfícies lisas de gelo
numa festa que desejava
apenas o desejo
as minhas confidências
são a abertura lenta
de uma flor
uma espécie de jangada
abrindo o sulco de um rio
sou de novo quem sou
a égua que passa a correr

Carpinteira


A minha consciência encanta-se com as sensações das árvores e fala mais alto do que a voz de alguém. Quem fala comigo agora? Prolongas os cachos das uvas, mas o teu sabor é amargo. Saboreio este túnel de luz pobre amadurecendo até ao seu final. Os ruídos voltam, voltam sempre e eu respondo-lhes porque são aguçados e chamam-se as minhas feridas. O que me queres dizer? Eu salvei um cavalo-marinho, ele apresentou-me o mar inteiro. Tu falas-me de mordedoras e ainda me mordes. A areia perdida nas rochas, perdida entre as conchas abertas, as sombras das gaivotas escorrem agora para dentro de mim…

Carpinteira
Antigo



(Paul Cézanne, "Man in a room")
Antigo (mensagens da Heliosfera de Junho/Maio 2008)

talvez eu subisse a uma madrugada tua e a juntasse à minha, nós imensuráveis, impossíveis de dirigir... vegetação densa sempre cercando-nos... pareces reacender a descoberta das viagens enquanto caminhas... salva, hortelã-pimenta, a coroa das romãs curvando-se nas minhas palavras, um elemento da corrente que avança, tal como a tua...

Sara


Minha menina se foi ao mar
a contar ondas e pedrinhas,
porém se encontrou, de pronto,
com o rio de Sevilha.
Entre adelfas e sinos
cinco barcos se mexiam,
com os remos na água
e as velas na brisa.
Quem olha dentro a torre
adornada de Sevilha?
Cinco vozes contestavam
redondas como anéis.
O céu monta elegante
ao rio, de margem a margem.
No ar cor-de-rosa,
cinco anéis se mexiam.

(Federico García Lorca, de "Canciones Andaluzas")

Carpinteira


"Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas."

(Federico García Lorca - 5 de Junho de 1898/19 de Agosto de 1936)

Consegues ouvir-me...?

Carpinteira