sexta-feira, 26 de setembro de 2008


(Andrew Stock, "Arctic Skua")
verde mar claro
bem perto de mim
consigo sentir-te
molha-me os pés devagar
com as tuas ondas
de doçura rebentando lentas
enquanto escuto de olhos semicerrados
esse som só teu que me encanta
mar claro verde
alcança o meu coração
oiço já o seu despertar
alimentado pelo baloiçar
meigo das tuas ondas
claro verde mar
agora libertando-me de todo
o que me rodeia
dentro de ti vou entrar
Língua-Mar

A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores-navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar , viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.


Adriano Espínola - Nasceu em Fortaleza em 1952. Professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Ceará e professor-leitor na Université Stendhal-Grenoble III (1989-91). Autor de vários livros de poesia e de antologias em português e em inglês.