terça-feira, 15 de março de 2011

As nuvens bebem vinho às escondidas e, na sua embriaguez, gozam com o sol e a chuva. A embriaguez gosta de tudo o que mexa, ainda no outro dia via-a actuar sobre ramos de macieiras, que expulsaram todas as maças, cujo divertimento, já embriagadas também, foi dar dentadas às flores.
Rapaz, estou tão gorda! Se calhar nem me vais reconhecer. Não deves gostar de mim assim. Lembras-te de mim toda bonitinha, toda jeitosinha, toda sexy. Eu já não sou assim. Engordei tanto! Sinto-me tão mal com isso e não consigo emagrecer. Fantasias a Sara antiga e não como eu estou agora e isso entristece-me tanto. Não irás desejar-me como estou agora de certeza. Acredita, estou mesmo muito diferente. Acho que não me vais reconhecer. Devo ter de fazer a figura de palhaça: “olá, lembras-te de mim?”, e tu “não”, “ah e tal, sou aquela rapariga daquela noite…”. Vais lá saber quem sou eu com 500 quilos a mais. E mais, com um cabelo nojento, que resolveu encaracolar da noite para o dia e que não tem penteado nenhum de jeito. Vais ficar perplexo a pensar: “como é que uma gaja tão gira se transformou numa tipa tão desinteressante fisicamente?”. E tu és tão giro, podes ter as miúdas todas que quiseres. Porque é que havias de escolher uma rapariga tão pouco atraente? Quando nos reencontrarmos e me vires neste estado deves ficar tão desiludido rapaz. Não me vais querer! Não me vais desejar! Hoje recebi a carta da Sara, aquela que tenho estado à espera, tão bonita, o poema que ela me escreveu vai abaixo. Gosta de mim, só um bocadinho, eu preciso tanto disso, mesmo que seja só uma fantasia tua. Vasculha dentro de ti e se descobrires alguma coisa sobre mim dá-me, dá-me tudo! Eu passo o tempo a dar-te tudo. Não sei como não chega até aí. Chega? Aqui chegam sinais mas não sei se és tu.


Nós sonhamos o sonho que habita
No mel dos dias
E deliciamo-nos com a beleza das paisagens
Que nos surgem em flor no olhar
Se te rires
Vou atrás da tua respiração de vida
Sigo a paixão que tu és
Sei que desejas
Uma mão cheia de frutos
Mas repara como ela cresce já em ti
Quando acenas da margem
Para o outro lado do rio
Sente este amor que te envio
Num chá a duas
E leva-me a morar contigo
Nesse teu campo onde sempre correste

Sara