terça-feira, 18 de novembro de 2008



(Sudão: Abutre esperando que a criança morra)

As mãos nunca param de tremer
Milhares pés atravessam o som da lama
Metade afoga-se e os outros nem choram
Se tens fome come os braços
O abismo é um pouco mais à frente
Tenho uma boneca sentada ao colo
Falta-lhe metade da cabeça ardida
Falta-lhe o peito, um buraco
Do tamanho de dois dedos
Milhares de pés enterram-se
E tu pegas em mais armas em nome…

(Todos)
O mundo, mais valia a pena rebentar com ele. Tu que marcas passo com a visão colada
à televisão, vendo de olhos vendados. Tu que andas na rua e cospes sobre os que de tão visíveis são aos teus olhos invisíveis parecem.
Dizem que é a crise, dizem que afecta todos… Ainda ontem vi o Ritz lotado. Dá-me uma esmola, só quero comer, não passar um Inverno tão frio, tenho filhos… “Vai trabalhar preguiçoso, como toda a gente” Dá-me um trabalho, estou há um ano a procurar…
Tu que olhas de cima e te julgas mais e mais, apenas és mais uma ratazana que ajuda o mundo a rebentar.

Todos