terça-feira, 19 de outubro de 2010




(Emil Nolde)
Hoje fui ver o documentário “Gateiras” dos meus amigos Tiago e Ana. Aposto que ias gostar tanto dele como eu. A seguir uma grande festança cheia de gente, tão bom. Aposto que te ias dar bem com toda a gente. O Tiago disse-me para eu aceitar a tristeza, para eu deixar-me estar triste. Na verdade parece-me inevitável eu estar triste e tudo me doer, portanto é deixar sentir essas coisas naturalmente. Sinto que tão depressa as coisas não vão mudar, tenho de ser paciente. O termo que aqui se aplica é ser resistente. O que é muito difícil quando a pessoa já está tão cansada. Não tive um minuto de sossego desde que isto tudo começou. Que Inferno! O conselho do Tiago pareceu-me muito acertado, acalmou-me um bocadinho. Não posso começar a atacar-me porque eu não sou culpada, nem nunca fui culpada. Se soubesses o quão difícil é lidar com isto tudo rapaz. É uma parte minha a puxar para cima, a outra a puxar para baixo. E a que puxa para baixo é com muita força porque algo com ainda mais força ainda a puxa mais. Esse algo é a tortura onde vivo todos os dias. Mudando de assunto. Tens-me feito falta. Ando a fazer amor contigo, o que é uma vergonha, dado que a nossa relação é suposta ser uma relação apenas de companheirismo. Uma réstia de paixão? Bem, pode ter a ver com o facto de eu não ter sexo com ninguém há algum tempo. Enfim, que se lixe. Mas olha, eu gosto muito de ti. Queria que soubesses isso, mas mesmo a sério. Tipo não sei onde estás, o que estás a fazer, mas gosto muito de ti. Não há muito a acrescentar. Quer dizer, eu conheci-te numa noite e gostei quase instantaneamente de ti, nunca te esqueci, penso constantemente em ti desde aí. Gosto de ti, não é? Porque tu és especial, como outras pessoas são especiais para mim, e vieram até mim de formas especiais. Não penses que és mais especial do que as outras pessoas. Mas vê como preciso de vir para aqui contar o meu dia, desabafar contigo, falar sobre a nossa relação (e tanto que eu falo dela). Há quem ache que eu te amo. Eu acho que não porque para isso era preciso eu conhecer-te, estar contigo, essas coisas todas e nós só passámos uma noite juntos e eu nem me lembro do que dissemos, só me lembro da parte carnal. Não é possível amar uma pessoa nas circunstâncias em que estou, isso seria uma história de encantar muito bonita, mas nós vivemos no mundo real. No mundo real as pessoas amam-se, encantam-se estando uma com a outra. Nesta distância de desconhecimento o amor é uma ilusão. Nesta distância de desconhecimento não faz sentido falar em amor. Não há uma única palavra. Não há um único toque. Silêncio. Não te posso amar, não sei quem tu és. Não se ama assim. Não é possível. Ama-se com o carinho de várias noites. E tu nunca estás comigo, apesar de eu te chamar. Beijo pirata.