domingo, 17 de abril de 2016


Beatriz ao lume
 
Beatriz era um sorriso constante, vivia no meu sangue e no meu interior eu era o par dela. Gostava de cantarolar o seu nome durante todo o dia, o seu nome derretia-se no meu. Beatriz cuspia fogo, falava na linguagem das fogueiras, toda ela crepitava. O som dos seus passos ouvia-se ao longe pois ela estremecia ao existir. Beatriz cantava como um verdadeiro grilo e eu pedia à noite de joelhos que ela cantasse o meu nome.

Quando o azul tem uma morada

Tília era azul, cintilava azul. Cantarolava uma canção azul e sorria ao voo feliz dos pássaros que se penduravam no olhar dela. Chupava rebuçados de mentol durante os seus passatempos e mergulhava em força nos seus pensamentos azuis. Jogava às escondidas com os raios de sol que entravam na casa onde morava com as fontes onde nasce o sol. Tinha duas mãos azuis perfeitas e enfeitava-as com doce de cereja. Quando a lua estava crescente ela sentia-se iluminada e aumentava de tamanho. Tília gostava de fumar cachimbo enquanto escutava as suas músicas de jazz preferidas. Lutava em vão contra as baratas que tinha em casa, elas comiam metade do seu jantar e dançavam sapateado ao mesmo tempo. Colecionava tempestades de areia, colava umas em cima das outras para ficarem mais fortes, elas tinham o seu nome: uma tonalidade de azul.