segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Olá. Agora estou numa de te esquecer. Parece-me ser tão difícil quanto deixar de fumar. Como está a correr essa parte, podes perguntar? Estou a subir pelas paredes, estou a ressacar como o caraças. Enfim, agora quero esquecer-te. Então, resolvi recorrer à magia, tipo magia negra (também há a branca, para ficares esclarecido). Há as chamadas simpatias que são rituais usados principalmente para as pessoas encontrarem um novo amor ou então “amarrarem” (é assim que eles dizem) a outra pessoa. No meu caso, eu estava à procura de uma simpatia para esquecer um ex-amor, tu. Existiam algumas mas, ou não as podia fazer por falta de componentes, ou porque davam muito trabalho, então inventei uma minha. Escrever o nome da pessoa em causa, que se quer esquecer, neste caso “rapaz”, num bocado de papel, espetá-lo com uma agulha de um lado ao outro e metê-lo no congelador. Depois de estar lá três dias, deitá-lo para o caixote do lixo dizendo: “com esta esterqueira te irás porque tu também és sobras na minha vida. Desaparecerás com o apodrecimento destes restos.” Sei que é muito forte, mas é suposto sê-lo para me ver livre de ti. Até deves ficar mais descansado. Mas vai ser difícil tirar-te do corpo, bem sei como já está a ser difícil lidar com a falta do tabaco. Não posso vacilar, nem contigo, nem com o tabaco. Escreve as minhas palavras: eu não irei fazê-lo. Já estou farta destas merdas, ai gosto, ai não gosto, pareço uma miúda. Caramba, estou a morrer por um cigarro, não fazes ideia do sofrimento desta merda. E era exactamente ao computador o sítio onde eu fumava mais, à maluca, cigarro atrás de cigarro. Descobri aqui o número da Linha SOS Deixar de Fumar e amanhã telefono para lá, para ver se eles me dão umas dicas. Pena que não haja uma Linha SOS Casos Desesperados Marteladas na Cabeça das Gajas Estúpidas que Têm de Se Ver Livres das Suas Obsessões Patéticas. Eu seria a “cliente” nº 1. Olha que alívio rapaz, já devias sentir-te tão sufocado com tudo isto. E agora de empreitada, boa noite. Beijo estoirando.



(Ando Hiroshige, "Moonlight")