quinta-feira, 28 de abril de 2016


Para onde vai o sangue que sai do meu corpo sangrando, sangrando porque tu me esfaqueaste? Para onde vai o sangue? Choro por ele pois leva uma parte de mim que era feliz. Diz-me porque me magoas com a tua violência, diz-me porque é que me tentas rasgar toda. O sangue, o sangue escorrendo em jorramento vai para uma terra protegida? Preciso do meu sangue, não sei viver sem ele, não o consigo apanhar com as mãos. Diz-me porque perfuras a minha alegria e depois a assolas até a matar por completo.

Queria mergulhar numa rosa e esquecer-vos, desejava escapulir-me para uma viagem longínqua. Sou demasiado sensível para me resguardar das setas certeiras ao meu coração. Queria voar para a terra dos corações puros e viver como um. Sou ingénua e enganam-me com frases que apenas são letras pois não têm conteúdo. Não consigo ir-me embora pois sinto, sinto demais sentimentos que erram nas pessoas.

Sandra queria desistir de tudo porque a sua coragem estava a morrer e ela estava num desnorte. Sandra chorava e escondia aquilo que chorava pois eles faziam-na chorar ainda mais. Sandra apenas sabia o nome de ruas sombrias onde caminhava com a desesperança no coração. Sandra alimentava-se muito pouco porque quem encontrava não lhe oferecia nada. Sandra dificilmente aguentava o que lhe doía porque era demasiado.   

Ela chorava o que sentia, derramava o seu sangue corpo abaixo e sofria uma tristeza atroz. Ela pedia, pedia rezando para que eles se calassem e não mergulhassem facas por toda ela. Ela não queria Amar pois esse sentimento doía demasiado, esse sentimento que lhe arrancava a pele. Ela vivia em permanente angústia e sentia-se toda quebrada por dentro, sabia que as feridas gigantes não iam sarar. Ela morria no seu interior pois habitavam nela sons sufocantes que a dilaceravam.

Onda rente à direita com curva à esquerda, onda em crescendo numa viagem galopante pelo eco vivente da vida. Onda que apenas sabe girar nos caminhos das torrentes que habitam os motores crepitantes que fazem corridas em estradas ilimitadas. Onda a onda irrompe sempre adiante e festeja as vitórias com champagne dos Alpes. É uma onda perfuradora de qualquer rocha-obstáculo pois domina a arte do mergulho. Diria mais: é uma onda acesa pelo acordar das baterias elétricas de tudo o que é animado e inanimado cuspindo a verdade acerca das águas mais profundas.