sábado, 6 de setembro de 2008

Doze cordas que não amarram
Este barco sem salvação
Porque alguém me falou no amor
E ele não é mais do que
Um instrumento louco
A fugir-me das mãos
Tenho frio e a minha voz está gasta
De cantar sempre a mesma canção
Um vazio no fundo da cidade
Que me percorre interiormente
A respiração curvada perante
O jogo dilacerante
Que me perfura o coração
Eu ainda não escrevi
Tudo o que ela me disse
Limitei-me a deixar
Escorrer a lágrimas
Todas as manhãs e noites
A passagem das coisas é espessa
E os pensamentos cruéis
Não consigo engolir montanhas
E os pregos não se libertam
Quando a sua sombra
Me reduziu em pedaços
Não escrevi como decorridos os anos
O seu nome no vento
É uma ferida aberta
Que me atravessa imparável


(Francis Bacon)
A profundidade de uma estrela
No teu interior
Onde o meu turbilhão
Respira trepando unindo-se
À espessura do que somos
Guelras que se entrecruzam
Num mergulho lançado
De olhos espelhados
No rio um do outro
Enquanto cresce o campo
Do horizonte luminoso
O rosto que veste
A terra inventada
Ao nascer de um sol
Que guia o caminho
De um novo mundo
Acompanha-me
Demorando-se ao teu lado
Em ti presente
O abraço que a forma humana
De uma fogueira traz


(Urbano, "Models - The Hot Kiss")