terça-feira, 29 de junho de 2010


(Auguste Renoir, "La Promenade")
Foi há dois anos atrás que te conheci e incrivelmente não te esqueci. Ficaste-me na pele depois daquela nossa aventura de sentidos embriagados. Não sei exactamente porque é que não te consigo esquecer, apenas sei que és música nas minhas estações. O meu mundo voa mais alto contigo ao meu lado, quando te sinto de mãos dadas comigo. Despertaste os meus horizontes, tudo o que os rodeia. Acalentas em mim o Sonho do Amor.

(Upupa e averla piccola Beni Hasan, tomba di Khnumhotep III (tomba n. 3)
Os nossos dias serão estrelas
Abrindo-se luzentes no céu
Estrelas inundando o fogo da nossa respiração
Sentirás no rio dos sentidos
Todos os cânticos que te trouxe
Envolvidos em gestos
De melodias de matéria divina
És aquele que dá movimento ao nascimento
De todas as minhas manhãs
Quando sinto a riqueza do teu universo dentro de mim
És a minha companhia
Na minha casa habitada de arco-íris
Porque entras crescendo alegria no meu interior
Seremos o poema que se estende
Ao encontro de todas as paisagem

Seremos o florir de tudo

domingo, 13 de junho de 2010

Os Santos percorrem todos os gestos
E as luzes acendem-se por toda a parte
As ruas transbordam apaixonadas de gente
O cheiro a sardinhas aqui é a palavra
Os bailaricos despertam em qualquer parte
Tudo é formosura
Nestas festas de alegria
Há quem fale com Santo António
Pedem-lhe um belo casório
Os peitos sorriem as aventuras
Que descem e sobem pelas ruas
É um sonho onde só faltas tu

quinta-feira, 10 de junho de 2010


(Lord Frederick Leighton, "Flaming June")
Porque há coisas que rimam com beleza:

Amor, que o gesto humano na alma escreve

Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.

(Luís Vaz de Camões)

sábado, 5 de junho de 2010


(Márcia Melo, "A cortina de renda")
Às vezes a madrugada não se abre
Como quando as fontes do peito se enchem de saudade
De um tempo de lume
Que ficou mergulhado no sangue
As janelas fecham-se à luz
As areias entram nos sentidos
E os dedos perdem a força
Estás demasiado longe e eu não voo sem ti
Na minha paisagem não se avista expressão de vida
A mim dói-me sempre
Neste coração que deixaste na sombra

(Clóvis Graciano, "Conversa no terraço")
Às vezes tudo estremece
E escorrego das tuas mãos
Digo que o oceano nunca me irá salvar
Digo então que as tuas ondas me pertencem
A tua canção não canta hoje
Talvez já não a saibas
Talvez agora naveguemos
Ao sabor da nossa própria nudez
Se do Outono cai a chuva
De nós vem uma tristeza lenta
Não sei perder o ouro que me deste
Apenas sei continuar a dizer as nossas palavras
Este silêncio de neve que cresce na paisagem
Pesa um navio sobre mim
Carrego uma viagem nunca feita
Uma carícia agora esquecida