segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Hei-de explicar-te que os números me perseguem e têm uma certa magia.

Então, no meu supermercado é assim, nos códigos para:

21: cerejas (muito romântico, vêm aos pares)

42: limões (sou amante louca)

Diz lá se não é de propósito?

(Georg Baselitz)
Hoje fui ver um filme. Quando vou ao cinema lembro-me sempre de ti, faz-me falta a tua mão a segurar a minha. “Águas agitadas” era o seu nome, era sobre culpa e redenção. Interessava-me bastante porque eu tenho um enorme problema com a culpa e há uma necessidade de me livrar dela com urgência. “Aceitar as coisas como elas são”, dizia a pastora ao assassino de um miúdo que tinha acabado de sair da prisão para viver a sua segunda oportunidade. Na verdade, eu estou sempre a escarafunchar o passado, até à exaustão, nesse meu sofrimento angustiante de culpa. Mas agora, que preenches grande parte dos meus pensamentos, escuso de estar sempre a pensar nessas parvoíces. Muito agradecida. Deves pensar que estou completamente obcecada por ti. Não estás muito longe da verdade. O que é que queres que eu faça? É completamente incontrolável!
Estive tanto tempo à espera da médica dietista…duas horas. Isto tudo porque ela pensou que a consulta tinha sido desmarcada. Que incompetência caramba! Entretanto, conheci três “malucos” como eu. Todos tinham estado internados. Agora, um deles continua internado, a outra está nos “tempos livres” do hospital, das 9 às 16, e o outro está “livre”. Estivemos a comparar as medicações, o que foi bastante divertido. O que está internado estava todo drogado por causa da medicação, a despertar, mas ainda a dormir em pé. A rapariga estava toda cortada nos braços, de baixo até cima. Fez-me pensar que as minhas cicatrizes dos cortes não têm importância nenhuma. O outro estava muito animado, não se calava por nada, festejava a vida, aquele encontro. Lembrava-se deles os dois mas eles não se lembravam dele, e andava aos pulos para ver se o reconheciam. Enfim, tudo aquilo me fez lembrar que também tive bons momentos ali. Internas-me no teu coração?
Sabes, eu fumo muito, um exagero. Calculo que não fumes tanto quanto eu. Portanto, tenho um plano para quando nos encontrarmos:

Porque é que não deixamos os dois de fumar?

Há aqui uma certa melodia romântica, claro. Mas é tudo em nome de um bem maior: a saúde. Parece-te bem?

(Fernando Botero, "Mulher a ler")
Enganei-me na hora da consulta da dietista do Hospital de Santa Maria, por isso estou a fazer tempo aqui em casa. E mais tempo vou ter de esperar lá porque sabes como são os tempos de espera nos hospitais…Sou suposta estar a emagrecer, mas na verdade não faço grandes esforços para isso. Quando tu me conheceste eu estava bem mais magra. Pergunto-me, aliás, se me reconhecerás neste estado físico alterado. E será que gostas de gajas gordinhas? Deixa estar que não caís da cama.
Vou-me deitar…podias estar a vestir o pijama aqui ao pé de mim. Enfim…podias. Estive muito fechadinha no meu quarto a tentar fazer umas almaterapias, completamente em vão. Definitivamente não fui talhada para isto. Sabes que, quando te levantaste do sofá onde estavas a dormir ao meu lado (bem, eu estava sentada, babada, a olhar para ti), entraste em pânico: “não vejo nada”, porque não tinhas os teus óculos. Eu tinha posto os óculos de lado para tu dormires melhor. Agora sou eu que uso óculos, o que é uma grande chatice, já passou um ano e eu ainda não me habituei a eles. Já estão rachados e eu passo a vida a limpá-los porque, não sei como, eles estão sempre sujos. Vais ter de me ensinar a limpá-los porque eu sou uma nulidade nesse departamento, tu deves ter mais experiência do que eu. Por fim, claro que não vias nada, por isso é que te foste embora feito parvo.