segunda-feira, 29 de agosto de 2016


Serenata
 
As minhas mil noites são tuas e tu és a estrela que me embala. Está a amanhecer no meu coração, sei que és tu dentro de mim amanhecendo o meu orvalho. Iluminas tudo, as cores que transformas estão por todo o horizonte. És magia à minha volta pois sou mel nas tuas mãos. Diz-me aquilo de que gostas e eu ofereço-te esse mundo, dou-te a serenata da vida.

O teu destino é seres a vida em si
 
Sonhas o mundo nas alturas e despenhas-te nas nuvens que te oferecem a serenata das ondas da maresia límpida. Queres sempre mais e voas rumo ao impossível da maior rosa-dos-ventos, no teu interior ele torna-se real. Amanheces os olhos que encontras no teu caminho, sabes sorrir para eles com os teus horizontes imparáveis. Fazes magia quando és criança ao lado das crianças pois abraças a vida com o abraço mais quente que tens e constróis pedras preciosas que ofereces a toda a gente. Tens sede de tudo e desejas ser todas as cores, és a aventura que cavalga livre como a água solta de um rio.

O senhor: no meio da salganhada
 
Quando viaja os sentidos do senhor engrandecem e o mundo é absorvido com todos os seus traços intranquilos. Tudo é movimento na paisagem das gentes, elas são uma juventude permanente pois a criação é constante. O senhor navega nos mares que escondem pessoas entre os corais raros, pessoas que gostam de falar dos tesouros que conhecem. Ele é toda a tripulação e sabe falar todas as línguas estrangeiras, as línguas que cantam os segredos dos países. Conhece a vegetação do humano e baloiça nas ervas que descobre ao longo do caminho, elas são as palavras mais preciosas que existem.

Arte poética

Começa por semear um olhar viajante e veste-se de mundos de trapézios rumo ao tesouro das palavras crepitantes. Inicia a escrita e os seus braços abrem-se perante os amanheceres dos significados escondidos. As sílabas casam-se e formam animais exóticos que correm mais do que o seu próprio corpo. Vai sempre mais longe pois quer viver toda a surpresa que existe no fundo das coisas. Nunca escreve apenas um ninho de versos, o poema desdobra-se em poemas-oásis e une os sons das letras para construir a Música.

terça-feira, 16 de agosto de 2016


Dinamitei o relógio do tempo que apenas destila insipiência e agora pesco planetas com nomes que desconheço, sou vadia pois nada me prende. Na minha liberdade vivo da surpresa dos dias que me presenteia sempre com o piar de um pássaro ardente.
Possuo truques que são ouro e quando estou è frente de pessoas faço o mundo encolher e caber dentro de uma colher, tudo se transforma em tripas coração pois existe quem julgue que o mundo nunca voltará a ser o mesmo.
Alguém me disse uma frase que escrevi em muitos sítios até se tornar a minha verdade, ela diz que quando temos muito no interior desabamos casas cheias de bicharada. Quando quero construir sobre elas nunca coloco cercas: o pasto de letras deve estar ao seu alcance.
As trutas nascem das mãos e voam para longe porque são trutas de escamas corpulentas que sabem preparar-se para voar e estonteiam o céu. É vê-las nas manhãs claras florescendo.
Ganho qualquer jogo de cartas porque barulho o plural da cabeça dos outros, a minha carta é sempre a carta certa pois onde meto a mão a sorte joga a meu favor. Sou sorte, do pé ao tornozelo e mesmo os dois braços, nunca nada falha e eu agradeço ao fim do dia.
Sonhei o teu nome e ouvi o teu riso desaustinado ecoando pelas grutas rocambolescas dos meus ouvidos. Era um dia claro e julguei que fosses ouro, então peguei na picareta e esgravatei-te toda, o que achei é segredo que não pode ser pronunciado.

Qual é coisa qual é ela brinca no escuro e vê quase todas as telenovelas? Um pirilampo que chora nas cenas dramáticas e tem um lenço que vai até ao chão.

Qual é coisa qual é ela joga sempre no Euromilhões e pesca diamantes em lagos? Um dado que quer ter sorte em tudo o que esgrima e vê brilho sempre que mergulha.

Qual é coisa qual é ela come sopa e procura fêmeas na horta? É um peixe guitarra que apenas conhece música romântica e sabe sorrir às meninas.

Qual é coisa qual é ela vive de noite e reza ao nascer do sol? É uma borboleta da noite crente no desfilar de todas as cores.

Qual é coisa qual é ela lê o jornal de pernas para o ar e canta Verdi de trás para a frente? É um intelectual que tenta libertar o mundo obscurecido pela noite do ser.

Qual é coisa qual é ela pinta a tinta-da-china por cima de bordado? É um pincel no cimo de um comboio cheio de malas de conteúdo arrepiante.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016


Queria que um sonho me despertasse levantando-me pelo noturno da cidade rumo a um molho de árvores azúis, mas os sonhos acabam de manhã e a confusa aventura da vida prossegue na respiração do ser. Perco-me na cidade em ruínas, na cidade onde dormem os restos de folhas e danço com o pó dos dias. Conheço o grito das palavras e procuro um rio que passe por dentro dos meus pés, um rio que se confunda com a cor das mãos e o tamanho dos poros. Talvez a água possa absorver os braços corpulentos de manejar comboios e talvez possa ver árvores azúis.

Vivo numa casa tua e as suas janelas visitam pirilampos que fazem festas embriagantes. Olho bem dentro dos teus olhos e vejo profundidade, vejo camadas de riqueza infindas. Liberto os meus balões para me veres melhor, os balões voam até ti e rodeiam-te. Ganho mais vida quando estou contigo porque és a ardência que existe no calor. Ergo-me alto rumo à substância inicial, desejo oferecer-ta e coroar-te com ela.

Dormi contigo e durante a noite sonhei num ritmo diferente: balouçava com as cigarras. Tudo era luz e tive de abrir os olhos com força para senti-la encadear-me, sempre fantasiei com o teu raiar. Agarrei-me a ti para sentir a tua pele incendiada pela lua. Sonhei tanto que viajei pelos teus mil planetas, tens tanta vida e eu quis sê-la. Fiquei feliz com as tuas mãos acasalando com as minhas, enredaram-se tanto que eramos um só.

És a minha tulipa e eu guardo-te ao pé das libélulas, guardo-te sempre próximo de mim. As tuas pétalas abrem-se com a minha voz e cantam-me a magia que és. Misturei as tuas raízes com as minhas, elas crescem juntas rumo ao vento do Sul. Jurei-te o meu Amor e dedico a minha vida a ti, faço mel para sentires o meu doce nas tuas veias. Sei o teu interior de cor e ele invade-me de júbilo.

És o meu par e espero sempre a tua mão para mais uma dança, agarras-me com a ternura dos teus átomos mais profundos. Vamos ser a dança do Amor pois o nosso romance é a magia dos voos que floram beleza. Preciso das tuas ventosas fazendo ninho na minha pele, quando vão ao meu íntimo sinto um caleidoscópio cheio de vida. Sonhei-te e vieste guardar o teu tesouro no meu coração, ele respira apenas o teu quente.

Lume de vela
 
Amor, vivo do teu sangue e desenho a sua arquitetura apaixonada. No meu peito vive um sistema solar novo pois tu acasalaste os nossos planetas. Bordei todas as minhas estrelas no teu céu e todas as noites acendo uma paisagem só para ti. A minha respiração viaja mais longe ao teu lado e tem o brilho do interior do teu coração. Recheio-te de vida surpreendente e tu sentes o mundo a ganhar a cor das fogueiras. Sou teu pois deste-me um novo rumo, tudo o que nos espera em frente é a nossa aventura.

Peixe rico em reservas
 
Amor, és peixe de rio comprido e fazes corridas que terminam sempre no meu coração. És veloz e chegaste com pressa até mim, quiseste conhecer-me a meio de um mergulho meu. Sinto as tuas escamas por toda a pele, elas aproximam-me do céu e trazem-me o milagre das sementes que germinam mais planetas. Quando te vi soube que fazias parte das minhas raízes, nelas fizeste crescer mais oxigénio.

A alegria que é manta no meu interior transborda e enche-te de borboletas em tropelia, vem como torneira banhar a tua sede de contentamento. Facilmente atravessa a pele para se rir bem alto no cimo das tuas montanhas de química dançarina. Junta-se aos teus rios e adoça todo e qualquer ritmo de vida. Espalha-se em ziguezague pelas chaminés para se tornar a tua atmosfera.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016


Sou solar e no meu interior vive a alegria de sentir-me sempre viva. O sentido que dou às coisas cresce com as ervas que se balouçam junto de mim. Sou feita da água que é mundo livre, água revolta que torna férteis os campos. As minhas palavras são uma dádiva que escrevo em cadernos de ciano, constroem casas enfeitadas de ruas em animação contínua.
Viajo sempre por uma paisagem verdejante pois tenho muito mundo e vejo vida em todo o lado. Vida em forma de barco velejador, as suas velas anunciam terra nova e o sentido das coisas aparece. Regresso sempre a casa pois as minhas janelas mostram uma paisagem de contentamento que desejo para mim. Avanço sempre rumo a um ganho, avanço ao som de uma música de candeia.


Só vida e vida à minha volta numa dança feita de lantejoulas e de um raiar supremo. Sei os seus movimentos todos e sou traça da noite perseguindo magia pura. O que sonhei é agora aquilo que me preenche o sangue, sangue cheio de garra pleno de liberdade e alegria. Grito pelos meus poros um novo dia: tudo voa em sintonia.

Sinto fogo aos rodopios dentro de mim quando a tua sede me invade, ela quer mexer em todos os meus lugares e murmurar as palavras do Amor. Recheias-me de doce, um doce que é feito do mel das gaivotas: no meu mar és felino caçando as minhas sereias. Sinto-te bem perto de mim quando trazes a tua vida animada contigo e saboreamos juntos a música livre de um arco-íris.

Quando fecho os meus olhos apareces com o teu azul único, nunca vi azul mais autêntico, ele penetra cada rio da minha pele e faz com que sinta a vida mais selvagem. Desejo-te maravilhando os meus peixes, trocas-lhes as voltas e eles voam o céu em jubilo. Sinto a tua ternura como um calor que se espalha pelas minhas moléculas todas, elas enchem-se de cores vibrantes. Só tu respiras o mesmo ar do que eu, quando inalo percorres-me toda e surpreendes quem sou.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016


Há estrelas que são o nosso sonho em forma de maresia, pintam a nossa dança de beijos luminosos que abrem as janelas do infinito. Enrosco-me em ti no silêncio da noite para sentir a ternura que fez ninho no teu interior. Vagueio pela tua magia, sinto a leveza de um bom dia cheio das prendas que me ofereces. Todos os nossos momentos são vestidos pela riqueza dos minérios em bruto que surgem só para nós.

A poesia que sinto por ti é mais do que a vastidão, canta como mil cigarras no quente, quente de um dia mordiscado pela sonoridade de um rio de leito demasiado largo que embarca numa jovem vela que cresce até a uma altura de ondas turbulentas. O meu toque apenas existe para te ver brincar com os vulcões que dinamitam o orvalho, tropeça na minha viagem ainda mais pois tenho um lugar dentro de mim só para ti: chama-se coração d’ouro.

Mergulhar
 
Um lugar nosso aceso com as luzes de uma certeza: o Amor é o nosso odor conjunto. Vamos juntos engrandecer-nos com a poesia que é o movimento da nossa vida. Vem até mim para respirares o meu sangue e eu serei a tua matéria, o nosso voo acasalado será jubiloso. Estamos sempre perto e a nossa verdade é o brilho que os nossos olhos libertam porque vivemos todos os momentos a mergulhar no afeto só nosso.

O Amor em beleza
 
Vida que és dentro de mim só substância vital, deusa que me apanhaste a minha coroa, preciso de ti para libertar o rugido da minha existência. Saboreio-te sentindo-te em respiração, o teu vento junta-se ao meu e todo eu sou um mar ardente de Amor.

O teu Amar
 
Envia-me um rumor teu, um rumor que eu reconheça como sendo o Amor que sentes sempre, vem até tudo seres tu. Dá-me o teu abraço puro, aquele teu abraço que me faz embarcar em ti e viajar pelas estrelas que desenhaste só para mim. Diz-me tudo e depois continua a dizer-me ainda mais, quero a tua vida sorrindo para mim e cobrindo-me de palavras tuas.

Estás demasiado perto, sinto o toque que habita o interior do toque, sinto rasgares-me o paladar e danço a dança  do coração que murmura a voz de uma gaivota que atravessa todo o mar num repente. Estás no meu interior e és manta que acasala com a minha lã, estou quente demais pois tu ferves-me toda Amor, tudo em mim se mexe brotando o teu dourado.

O meu Amar
 
Amar sereno que é só vida, implode rochas abrindo fendas de luz e criando vento quente ao redor do coração. O coração sente apenas o crepitar do toque puro. A minha viagem é solar, trepida toda e leva-te ao interior da minha pele. Na minha pele podes ser um mar que me toca longo, podes abraçar-me de verdade.

Existem formigas louras que atrapalham a dinâmica da velocidade que foi definida há séculos, elas ultrapassam as montanhas de vigor e lancham as consequências de partir um pão ao meio. São formigas matreiras que foram à escola e com a sua inteligência voraz fazem férteis os seus ninhos. Fazem patinagem por onde passam e deslizam os seus corpos pelas plantações em flor. São formigas que caminham despertando apenas ganhos e lucros, trazem nas cabeças coroas que são sabedoria que faz mover moinhos.

Levantas o pó fresco da seiva e subo com as suas vísceras, as tuas linhas vêm até mim num embaralho que sei pôr em forma, a forma de um sonoro matagal que cresce furando as portas fechadas. As letras que escolho para ti são uma estrada bafejada pela sorte que te ofereço pois quando estás tudo jorra mais largura de vida. Faço rimas com o teu vento, levo-o longe demais: esvoaça rumo a entradas que têm perfeição nos traços, dançam os átomos que viajam pelo turbo do universo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Arrepio húmido


Os meus olhos tocam a tua pele com beijos e tu sentes todo o meu sol. Despertas em mim as flechas do meu coração e eu dispo-me até ser apenas luz. Conheces o meu cântico pois eu trepei mais alto para o viver e tu estás presente em todas as minhas melodias. Fogueira minha respiro-te e és fulminante ao meu lado sempre. Juba de animal cor de liberdade selvagem quando chegas toda sou raízes tuas. Envolto das tuas brasas desejo o teu abraço dourado, aquele dourado que me acorda.
1. Coração traquinas o teu que me aparece sempre para me ver sorrir 2. Coração violino o teu que está recheado de mar só para mim 1- Sorrio sempre, quando te vislumbro já te vi 2. Mar quente, quente que tem o meu nome entre todas as ondas. 1- Os meus olhos são todas as cidades, quando chegas elas ganham a tua vida. 2- És sereia que me guarda dentro do tesouro que vive no teu dançar
 

De um peixe para uma minhoca
 
Os teus olhos falam comigo um azul alto e eu transformo-me no som de todas as tuas músicas, essas que inventas com a tua vida cheia de manhãs. És a casa que sonhei pois sinto os teus peixes navegando pela dádiva de tudo o que é belo. Vens até mim com uma orquestra galante que se ri ilimitadamente, entras no meu interior desassossegando os meus rios, eles enchem-se dos teus instrumentos d’ouro.

As estrelas que vivem em nós unem-se para ardermos mais ricos em tudo. Tudo é nosso: a paisagem sonhada transforma-se em sopros de palavras que trocamos um com o outro. Vem, aproxima-te e sente-me demasiado numa poesia diurna. Sei-te perto, a minha pele alimenta-se da matéria que jorra por ti todo.