quinta-feira, 15 de dezembro de 2016



Num dos Nossos passeios marinhos encontrámos uma pardela-de-barrete morta, no entanto as suas asas ainda tinham alguma vida, tu quiseste uma, a mais escura e eu fiquei com aquela que era mais esbranquiçada. Fizemos-lhe um pequeno funeral, dissemos palavras que faziam voar qualquer bisonte e no fim deixámos alguns corais em cima da pardela-de-barrete. Nas Nossas palavras incluímos irmos tratar das asas dela como se fossem rainhas. As asas estavam muito desgostosas e queixavam-se muito. Então, quisemos voar para outro país, a ver se elas espaireciam, fomos até à ilha de Marajó e tivemos uma viagem cheia de turbulência planetária, até tive de ir vomitar duas vezes tal era a minha indisposição de vísceras. Mas quando vi a ilha de Marajó, “um paraíso na terra” (é o que dizem sobre a ilha, só me limitei a transcrever), atirei-me aos saltos para cima dela, como fiz isso ainda em voo estatelei-me à grande na areia, devo dizer que medindo em colheres de sopa comi o que equivale a uma sopa bem servida de areia). Não ficámos muito tempo porque não gosto de praia, a seguir quis ver cultura: fomos à Amsterdão para eu ver finalmente (o meu maior sonho artístico) o Museu Van Gogh. É mentira: não fomos à ilha de Marajó nem a Amsterdão, mas estivemos perto destes dois lugares, fantasiamos o que seriam e tivemos visões de como seriam. As asas queriam ser livres então largamo-las num repente de boa sorte e ficámos a olhar para magia com que voavam. Disse-te “devem ter sonhos como todos nós”. Tu respondeste: “querem ver mais do mundo, é só isso”.

P.s.: também quero ver mais do mundo mas tem de ser ao teu lado caso contrário não faz sentido. Atenção: ainda me esperem algumas viagens nesta vida e tu deves ter a noção de que posso adoecer e estragar a viagem toda. Digo-te: “não estragas, também sei divertir-me com o quão engraçada és doente, é um mundo de piolhos e pulgas desordeiros que têm de largar o osso, tu lutas por ter a pele limpa de bicharocos”. Sabes que mais: somos um casal jovem de pardelas-de-barrete e as Nossas asas levam-nos à parte bela do mundo. Vais ver meu krill: vamos ver verdadeira beleza por toda a parte! Mas Sapinho-brilhante eu já vejo muita beleza em ti e por isso sinto-me também eu bela. Sapinho-brilhante: SIM! Um sinónimo de belo: Nós.

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