segunda-feira, 9 de junho de 2008

achas que o meu sangue
podia dizer-te
que há uma substância nocturna
em mim
e tu olharias de frente
a noite mais terrível
conseguindo ser
o impossível acto de ser
o movimento que me chama
para a vida
e transformar-te num presente
cheio de folhas novas no ar
e mostrar-mas?

P.s.: nunca se olha de frente a escuridão, mas terias de olhar-me…


A fala desarticulada falou a exacta hora de quem disse na altura certa estou a partir, apanha-me a mão. A noite era sempre assustadora, uma idade demasiado velha e eu envelheci com ela. Eterna refém, demorei-me demasiado tempo, mas soube dizer-te que escoava-me na perdição do tempo. O rio, um rio sem lenha transportou-me rente ao seu fundo. As minhas palavras eram curtas mas falavam-te deste despenhar. A hora inexacta encerrou o que restava da abertura das pálpebras.


Surgir na profundidade das tuas pegadas e aprofundá-las, sentindo-as num tempo desmedido enquanto caminhas. Levas contigo a maldição da ilha de que não te libertas, enquanto eu entro à revelia. Sou a nudez que escorre as águas turvas e alimento o porto seco que arranco da tua canção. Quem diz a hora fúnebre? A desolação é o teu som, respiras sem pausas, eu apenas consumo os estremecimentos. Há um estranho brilho em todos os cantos do teu olhar, eu escavo o som do ar para permanecer no teu horizonte.

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