domingo, 20 de julho de 2008

Hoje há uma estranha humidade no ar, pensou António. Era necessária, no meio de mais uma casa, que não era sua, nenhuma delas tinha sua, isso provocava-lhe uma estranha insegurança, mas simultaneamente uma estranha liberdade. Podia partir com uma pequena mala, ele, António, o medroso dos medrosos dizendo: “vou para uma dessas casas onde recebem sem abrigos, gente com problema graves e fico lá, sempre me dão alimentação e cama lavada. Depois vou deambular pela cidade e pensar sobre as pessoas, acho que tenho jeito para isso. Pedir trocos, cravar cigarros, vender a ‘Cais’ e logo se vê.” António foi ter ao mesmo pensamento “sempre quis ter uma casa minha e nunca tive, de uma maneira ou de outra eram sempre de outras pessoas, nunca tive nada meu a não ser o meu cérebro que de uma forma ou de outra sempre quiseram controlá-lo porque nunca perceberam quem eu era.” António continuou, sentia-se, já há algum tempo a pessoa mais só do mundo porque era difícil de compreendê-lo, mas também poucos eram os esforços, o que interessava era que ele se “comporta-se segundo as normas, define-se um rumo para a sua vida.” António claramente mostrava um certo dom para a escrita e a partir de certa altura percebeu que seria esse o seu caminho e que esse seria um caminho simultaneamente prazeroso e penoso, muito trabalhoso. António estava confuso: “como se faz?” António tinha qualidades, determinação e capacidade de trabalho. Pensava que iriam ajudá-lo. Iria começar devagar, sem pôr a carroça à frente dos bois. António iria, no futuro, querer escrever um romance, mas iria fazer as coisas com calma. Falou com Oriana. Ela sorriu, disse apenas: “claro que sim António”.

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