sábado, 26 de julho de 2008

Talvez precise desta cólera
Quando ao descer a calçada
Ela me vem aos olhos da boca
Vomitando-se e gemendo
Nomes e um império
No fundo deixou de ser uma dama
Para ser viúva de uma hora para um minuto
E se há gaivotas à minha volta
Elas são voam apenas por necessidade
Porque são animais de penas
Só isso sabem fazer
Não vendo a imensidão como imagina
Mas somente os olhos dos peixes
Que a sua fome dita todos os dias
Os meus desejos penso são comuns
Não serei gentil porque
Não sou da realeza
Não vou andar a beijar
Quem passa cumprimentando
Gentes que nem sei os nomes
Nem sei se são serpentes
Os meus desejos são comuns:
Rodear-me de rodeios
E também pouco pensar
Para quê olhar o fundo de um rio
Que não posso possuir
Se tudo o que desejamos
Não nos podemos aproximarmo-nos realmente?
O senhor ao lado sorriu-me
Eu nada digo e suspiro
Estes admiráveis botões de rosa
Sabem bem não me tocam
Eu daqui nem avisto o rio
Deixa-me sonhar alto
Diz a rapariga para a mãe
Sonha-se e perde-se a noção das coisas, a sensatez
Se todo é negócio nesta vida
Vai dizer o quê à criança
Que sonhar é um olhar atento
Às ondas do mar
Descobrindo as suas formas incríveis
Nomeando os peixes e molucos?
Não quero que me digas senhor
Eu já disse tudo
Respiro o som das palavras
E elas vão adivinhando os meus pensamentos
Ao descer a calçada
Enquanto a cólera se desfaz nos passos

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