sábado, 26 de julho de 2008

Sandrina dá um passo, recua, dá dois passos. A primeira reacção foi ficar assustada e arrancar os botões ao casaco. Foi comprar envelopes para escrever a Dário o fixar dos seus olhos, esse seu desejo que não passa, não se perde, que demora dentro de si, porque ao vê-lo passar à sua frente como um caminho de terra onde só os que se atrevem a ultrapassarem-se são-no também um pouco de si - substância luminosa que parece ser a forma da tarde confundindo-se com a luz nos meus versos onde barcos se inquietam na busca, não pelo seu cais, mas pelo seu mar. São essas as fontes que desaguam em ti e em simultâneo onde todos os rios começam… Falta, faltou o que caiu no chão, o que esteve para ser. Sandrina não se pode aproximar mais de Dário, retida, prisioneira, sacudida, sem poder tocá-lo, e aqueles beijos não flutuaram ao longo dos rios, dos lagos, dos riachos. Teriam de lutar… Contra que forças? Contra que forças, Dário? Agora Sandrina evocava São Jorge, pensando no terrível demónio com o qual lutara e na sua nudez, que tanto a fragilizava, mas que simultaneamente a tornava num ser livre e honesto consigo mesma. Do interior suas veias mais subterrâneas vinha o poder de lutar por este grande amor. E seria com um beijo que a porta se abriria.

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