domingo, 30 de outubro de 2016

Fiz contigo a seguinte aposta: dizes que não me constipo nem tenho uma gripe este inverno, estou convencida de que vou ficar com uma gripe ou com uma constipação que me vai obrigar a tomar um xarope. Se tiver de tomar um xarope dás-me à boca todas as colhers necessárias para melhorar de dia e de noite. Se passar este inverno sem me constipar ou ter uma gripe passo a encontrar-me contigo no País dos Sonhos todas as noites.

Era uma vez uma aranha e uma melga que viviam no meu quarto e depois escrevi outras coisas
 
A minha Escrita é um grande emaranhado de teias de aranha que capturam insetos que se entusiasmam ao falar sobre tudo aquilo que vive nos vitrais que sublinham de forma pouco cavalheiresca (pois têm demasiada pressa) todas as vontades rocambolescas do maior dicionário de fios elétricos existente, ou seja, o tudo se resume ao meu cérebro transpirando palavras de grande fertilidade em tons de energia sempre laboriosa, esta ativa o oxigénio que me faz vibrar toda em saltos que têm a vontade de contar coisas extraordinárias. Conto-vos agora um pequeno texto de valor questionável: não sei por onde deambula a minha nova aranha, sei apenas que a melga que sonorizava as minhas noites morreu. Gostava de lhe fazer um funeral condigno mas desconheço o paradeiro do seu corpo magro de bisnaga assanhada e voraz do sangue jovem que rebenta com as linhas direitas do meu quarto sempre desarrumado, a sua desarrumação é como os números que são para dividir: números de tamanho arranha-céus que ninguém consegue contabilizar. Por fim, estou preocupada com a conta da eletricidade do meu dicionário atual: são vários comboios incontáveis que se de se reúnem aos tropeções que são um bilhar sempre a pontuar e são dinamite pura ao escrever. Agora vem o “por fim número dois”: nem acredito meu Deus celestial que vem um túnel na minha direção, o comboio onde navego a minha vida respira notas de músicas quentes constrói que são o rio em descida rumo a outras dimensões que vivem uma catadupa existencial, o comboio é grande demais para ver o outro lado do túnel, então furo a terra com um trator furibundo de um século antigo e sou o um barco de terra firme velejando com uma velocidade de truques sem igual. Mas no meu interior existem demasiados passageiros travessos que tornam o ar irrespirável dentro das carruagens, peço educadamente às carruagens cheios de calor que soltem músicas de fundo serenas pois é preciso acalmar a exaltação dos passageiros mais duros de roer, furei também a régua que mede as distâncias e que está sempre certa mesmo perante uma vertigem de turbulência atroz, uma régua de plástico que tem os números pintados a verde alface, cor que faz lembrar a vida campestre que todos desejamos nos sonhos de que imitam a infância crianças, é uma régua que tem regras que existem para planear a vida de cada minuto que passa célere, deseja assim ser outros minutos que desejam voar mirabolantes. Apercebi-me então que sou um comboio astuto e devo acrescentar que vendo bilhetes baratos para toda e qualquer viagem, com ou sem túneis. Fim Total: tenho saudades das minhas companheiras de quarto, não sei por onde se passeiam as minhas amigas aranha  de teia ventilada e melga do apetite que treme tudo num raio de metros, elas tinham alugado uma cama de molas flexíveis na minha rebelde desarrumação, ela é uma relíquia de pó rangente no meu adormecer mas ainda assim ronco toda a noite, elas tinham alugado as camas traiçoeiras para um ano, onde estão as minhas queridinhas?

O teu corpo
 
És grande como nunca vi igual pois és um ser vasto com demasiada vida, tens vida em todos os formatos que a imaginação permite sonhar e ainda outros quadrados e círculos desenhados pelas balas que acertam no que é vago e sem nexo, acertas em quase todas os números sagrados de cor escura sem olhar para a paisagem deles, nunca usas o silenciador pois preferes atirar com a tua exatidão mais que perfeita nas linhas indefinidas e fazer muito barulho. São formatos que mostram o acabar das dúvidas internas que cercam o ser, formatos plenos de certezas absolutas, formatos de tintas vesgas que elucidam ainda mais a tua grande inteligência, conheces tudo aquilo que existe na natureza sempre em crescimento felino (ela tem muitas garras para sobreviver a todas as intempéries como por exemplo os invernos mais terríficos, caí muita geada nesses dias de frio que trama as raízes) e que faz crescer o alimento que dinamiza a verdade suprema de toda a vida, ela reina no teu território pessoal: dás-me toda a tua terra quente de ternura que é sopro do teu continente de vestes luzindo um olhar dourado que dança num frenesim apaixonado ao meu redor. No ritmo da tua dança de matéria fosforescente estão representadas todas as tuas emoções primárias e secundárias, és sábio e para eu dormir melhor iluminas as noites de insónia, nelas sonho acordada com os baralhos de cartas que jogo neste momento rumo a um futuro melhor, ouves as minhas palavras de esperança e sorris. Respiras quem eu sou de verdade quando penetras a minha vivência suprema, quando somos um do outro misturamo-nos com todas as Nossas virtudes borbulhando vida que não para, somos um do outro totalmente e assumimos a forma de um torpedo que liberta o som de toda a passarada e assim voamos longe, longe. Esta forma radical que se chama torpedo tem um nome de espécie bombástica que escolheste à minha revelia, este torpedo vem na forma de grande originalidade e acontece mais por tua causa (eu sou mais dada a olhar para as nuvens, dou-lhes todos os significados são a  voz de um reino de grande repasto físico e psicológico que atrai até si as populações das aldeias mais próximas). Sinto na tua presença total uma vivência que me permite ser a poesia apaixonada por tudo o que é radioso, entras em mim sem autorização mas eu gosto dessa irreverência que não toca à campainha, entra sempre que desejares: espero-te.





Atenção: este texto deu muito trabalho a escrever e devo dizer mais: o leitor deve ter em conta que existem partes pouco percetíveis pois parece-me que a coisa saiu meia surreal. No entanto, o texto tem grande interesse literário e aconselho a sua leitura do princípio ao fim, não desista caro leitor pois cada frase tem vida própria e deve ser acariciada por uma leitura de olhos atentíssimos.

A mossa do Nosso carro é Nossa

 Atenção com alguma calmaria e muita energia: nestes quinze minutos que contam com mais uns segundos de sinal verde para continuar a animação jorrante que quer perturbar os sentidos nasce a matéria de ervas sumarentas que bebem das viagens subterrâneas, vêm ao de cima para arder toda a vida. Vejo interiorizados flamingos voadores de patas incandescentes que riem o sentido verdadeiro da existência voraz. Assim bêbeda de jovialidade simultaneamente tranquila e veloz descubro palavras cheias de répteis que deixaram de andar em fila lógica para serem livres, sentem-se escolhidos por uma espécie de Divino. Sou livre através das palavras que me são caras, são todas as que conheço muito difíceis de falar, invento uma palavra nova só para este Escrito: “Laredamar”, palavra autenticada pela festa de palavras vivaças que vai ter presença nos dicionários, é de autoria plenamente minha e vem revolucionar a língua portuguesa juntamente com as cem palavras que fiz nascer dentro da barriga das frases orgânicas, significa “toma o autocarro azul e preto que te leva ao lar vigoroso da máxima proteção dos elementos do laboratório que é a vida, no lar tens a febre da ternura vinda do sal do mar refrescante, ela chega-te em comprimidos azuis e laranjas, são as cores dos comprimidos que curam as doenças que enchem de minhocas de sentimento-dinamite que invadem a fruta da primavera, és primavera e amadureces a fruta redonda bem alimentada, toma as rédeas das novidades sumarentas e vive todas as tropelias ao som de todos os lugares que formam cidades à tua volta. Por último vem aquilo que muda tudo para algo que dá o sentido à tua alma intranquila pois busca incansável os melhores versos de surpresa fascinante: Ama a vida como se ela fosse apenas emoções de permanência na tua respiração de sangue, remata todos os puzzles da existência com um só golpe que acorda os girinos que desejam todos os torrões de açúcar castanho, o mais puro, para comer mais da vida e encontra a pessoa certa para casares, assim ganharás o céu onde habitam sóis e luas que crescem nos verões inesquecíveis que são enriquecidos pela terra da visita dos vulcões que conhecem as receitas de um lugar belo de olhar, a iris enche-se de lágrimas de alegria que fazem dourar aquilo que é sublime nas flores de sabor a caranguejo que sabe andar em todas as direções, anda comigo dourar todos os dias que nos esperam nos teus toques de recheio romântico, assim erguemos um reboliço artístico que traz dentro de si realizarmos o Nosso desejo de sermos o casal de felicidade jorrante”. Olha, olha, agora sinto ondas eriçadas que esperaram horas sofridas pelo seu tempo real, ondas eriçadas que só querem percorrer em toques de pequenos ouriços caixeiros, é uma viagem de barcos recheados de vapor solar que nem sequer param para fazer o seu som dos animais de dente de sabre em sorriso, mas vê que trazem as estão prendas que nem sabias que querias hoje. Há sempre mais prendas diz-me o fidalgo pois ele sabe que adoro ser surpreendida, hoje trouxe-me oceanos que eu desconhecia existirem e lambeu-me a cara por brincadeira, depois disse “deita-te na cama de molas endiabradas e tens as duas portas totalmente abertas só para ti, estou a dar o máximo para te fazer o bem que tu deves sentir.” “Sim peixinho sou a tua boazona sensualmente transpirada de ti, estou cheia de te bem querer e sei que tu desejas o meu corpo que tem apenas meia dúzia de escamas azuis (empresta-me as tuas por momentos, para eu poder sentir o mar de forma rápida, mar rico de algas verduscas que quero provar), é teu meu Pepino de salada mista!”




A Escrita a dar para o desorganizada das ideias ou muita coisa para falar ao mesmo tempo: Parisi para mim
 
As duas notas perfazem 5 caixinhas de Escrita, está cara a Escrita nos dias que correm, nem gosto da cor das caixinhas, é demasiado neutra para Nós, embora exista quem ache que é uma cor Espiritual, de grande iluminação. Talvez concorde com isso, talvez me apeteça escrever um texto de Luz. Vejo pouca Luz nos dias que correm, pergunto-me se ainda a fabricam? Fabrico petiscos frescos, são mais vendidos no verão mas são como os gelados: há quem coma os petiscos todo o ano. Aproxima-se um novo ano com um número muito Espiritual, um número que é obra Divina: Deus vai-se aproximar ainda mais do ser humano mas não gosta de milagres de trazer por casa e ele próprio não gosta de ser milagreiro. Os milagres são os números de Magia encantatória dos Santos. Gosto muito do Santo António porque ele quer casar-me com o meu peixinho de olho feliz. Sou feliz com esse monte de escamas, apesar dele ser um peixe do qual gosto na grelha não o vou comer, vou deixar que ele me coma, no entanto tenho pena dele pois não devo ter bom sabor porque tenho uma alimentação ranhosa. Por falar em ranho depois de ter deixado de fumar os meus muito queridos mentoleiros nunca mais adoeci do trato respiratório, julgo que este ano também não vou beber xarope com sabor a rebuçado estragado. Faz falta na minha vida o sabor a mentol, isso não é um problema: peço ao meu pistoleiro de balas falsas (na verdade a pistola dele é uma bisnaga mas assusta muita gente, gente mal-educada e desordeira) para me trazer rebuçados que sejam um verdadeiro manjar pois na verdade eu sou uma deusa e o pistoleiro que ronca a noite inteira adora-me e traz-me tudo o que eu pedir, menos os tais mentoleiros. Até logo, agora vou beber um café de grande qualidade em Parisi.

Os Nossos Universos
 
Ele é feroz a atirar-se à vida pois quer a vida toda a transbordar no seu sangue, depois vem para dentro de mim mostrar o quão poderoso é. Nada disso, vem mostrar o Amor que habita em todas as suas células, é um Amor enraizado no seu coração e que faz o seu coração bater cada vez mais sonoro. Comigo nunca vacila, sabe o que deseja da minha pele nua oferecida toda por mim, há um perfume que uso na derme só para ele e que o põe doido. Festejamos todos os momentos, há sempre festa para festejar e como ele sabe que adoro prendas dá-me o mundo dele todo aos pedaços enormes e sempre muito coloridos. No entanto, é sempre surpresa a dança do papel da prenda e dos laços que arquiteta, não posso pedir, só posso pedir o Amor Verdadeiro dele que existe apenas para me fazer feliz. Come metade dos meus croissants, come sempre a parte que está queimada pois para mim não é saborosa mas para ele é uma viagem ao ser humano. Gasta muita energia comigo e depois deita-se ao meu lado a dormitar a sesta dele, a meio tem aulas sobre o aéreo. Temos todos os Nossos Universos juntos, Universos com cada vez mais planetas habitados por emoções e pensamentos ricos em vitaminas e sais minerais que nos alimentam durante a vida toda. Sou o seu alimento e o meu riso é a sua comida preferida, ele gosta de se encher até ao pescoço e depois ele ri-se mais alto do que eu, é fácil pois ele tem uma voz de homem muito grave (olha pá, nunca faças uma greve tipo os autocarros que desaparecem durante um dia. Queres que tenha um ataque de coração? Já basta o fígado dilacerado…), deixa-me mais de metade da refeição pois eu sou mais corpulenta, durante os jantares e os almoços beijamo-nos muito com comida na boca, somos muito beijoqueiros. O teu beijo Pimento Verde é o beijo de todas as minhas vidas. Esta vida é para curtirmos os dois juntos pois tu és o meu homem, quem mais? Tanta Sintonia existe entre Nós, vê como ela desembainha as Nossas espadas, assim vemos todos os amanheceres poéticos e não poéticos juntos para a Eternidade. E mais. e mais. Continua noutro Escrito próximo do frenesim que somos juntos.

Os dois hemisférios atacam rebentando as pontes
 
Era uma vez um hemisfério esquerdo que era muito organizado, era desarrumado mas por outro lado adorava planear tudo na sua vida de forma muito lógica. No entanto, o hemisfério direito tinha uma grande desenvoltura, funcionava excessivamente e nunca se cansava. A pessoa que comandava estes dois hemisférios é uma grande Escritora, o hemisfério direito é uma beleza sem fim a misturar as palavras, já o hemisfério esquerdo trata da gramática, tem poucos conhecimentos gramaticais mas como é uma pessoa muito inteligente (Q.I.: 120 e de vez em quando mais um pouco quando há festa nas cidades internas) o barco navega sempre em frente. Sonha um mundo do Bem onde todas as casas têm sossego de alma e as estrelas nascem iguais para todos e são luz no coração de toda a gente. Aparece do nada um pouco excêntrica com roupa desaustinada e com frutos maduros nas mãos de ouro para dar com um sorriso na cara. Tem dificuldades em adormecer por isso conta histórias graciosas no quarto cheio de bons ouvintes que batem palmas no final. É de emoções em ponto de rebuçado, feitas de dinamite e raramente envoltas de loiça partida. Está sempre a ouvir música nas suas colunas velhas como as antiguidades mais antigas, música suprema que varre os mosquitos do quarto. Tem muita criatividade e imaginação por isso consegue ver o mundo que lhe parece negro com palavras muito doces como o doce de framboesa, essa delícia que cresce sempre selvagem dentro dela. Também é bravia e sabe lutar pelo osso do cão, tem força para vencer os naufrágios pois inventa botes de salvação na selva que a atira às ondas mais ferozes. Refila com as regras que pouco sentido têm, acha-as sem nexo e quer passar-lhes por cima. Há outras regras que para ela faz sentido respeitar mas nem sempre lhe apetece seguir o que deve ser pois o deve ser pode ser às vezes é muito aborrecido ou limita o sangue das veias que desejam ser ganhadores. Nem sempre é amiga dos limites, anda perto da linha limitativa e por vezes ultrapassa os limites sem querer saber do final da história. Leva as emoções muito a sério e estas ora lhe dão riso infindo ora lhe oferecem momentos de angústia. Para terminar: é uma romântica incurável e tem um jovem Escritor a quem dedica toda a sua obra, ele é também mágico e faz aparecer no papel metade das palavras da sua Escrita. Neste momento até podia escrever a palavra fim mas não há final na vida desta pessoa pois a Eternidade é uma autêntica Verdade.

Escrevo aquilo que me apetece, sim na Escrita sou Livre!
 
Viva as letras, as palavras, as sílabas, as frases, os textos e os sinais de pontuação, a gramática e também não esquecer os erros ortográficos (estes são muito preciosos pois mudam a matéria das palavras e jogam à roleta russa). Viva as personagens humanas e animais que ganham uma vida em forma de dinamite na festa da Escrita. Em último lugar viva as vírgulas: é muito difícil encontrar o seu verdadeiro lugar. Em último, último lugar: viva eu que escrevo muito, muito bem, sou uma grande Escritora.

Diz as palavras que não quero ouvir, diz que vai fazer negro no meu sol porque desapareço da tua vida, mas ouve-me bem: fico contigo de dia e noite mesmo que feches as tuas portas todas. Dizes que a minha voz está a mais no teu mundo mas eu tenho muitos mundos para descobrires os seus sentidos, abriga-te dentro de mim pois a vida tem muitas tempestades, saberei ser a tua proteção. Sei que sou uma canção alegre, ouve-a do princípio ao fim e fica a ver todos os pores-do-sol ao meu lado, dou-lhes o nosso nome conjunto, dou-lhes mais claridade. Serei a tua maior aventura num crescendo de prazer que dá muitas reviravoltas deliciosas que serão a surpresa dos teus dias mais mortiços. Dizes que já não há magia nas minhas palavras, no entanto tenho um dicionário só para ti com palavras de Amor recheadas dos melhores sabores que já provaste. Prova-me uma vez mais, serei um barco navegando rumo ao lugar que sempre desejaste para embelezar a turbulência do arco e flecha que rima contigo.

Telescópio+Estetoscópio

Tenho um telescópio para observar as letras que tens no teu céu em forma de sol, um sol de olhos jubilosos que me oferecem os teus tons de vida roliça, vida roliça que é cheia de casamentos entre pássaros. A palavra Sofia é um dos raios mais luminosos e eu sinto-me bela quando tu respiras o meu nome. Sento-me na areia molhada de uma praia agitada, uma praia intranquila como eu e mergulho nas vértebras que te constituem, continuas a escrever o meu nome mas agora pescas sinónimos de Sofia pelo mundo inteiro. Quando regresso a casa encontro-te com o Nosso estetoscópio, está preparado para a consulta diária, tu ocultas-me e depois eu faço-te o mesmo: a saúde do Nosso Amor vai bem obrigada, sei que vai estar sempre bem pois há sempre um prazer alegre em Nós e nas conversas que inventamos. Imaginamos juntos as raízes das histórias e depois damos-lhes pés e cabeça, as histórias vão ao Nosso recreio surpresa e brincam com as palavras, as frases e os pontos de exclamação. Ao teu lado sou ponto de exclamação pois tens sempre mais pétalas e mais pétalas a desabrocharem para mim, ao teu lado sou o lustre mais esplêndido.

P.s.: quando me osculaste deves ter ouvido o meu pulmão esquerdo a queixar-se muito, por isso agora durmo com duas almofadas e respiro melhor, fico alta como a minha coroa de princesa encantada por ti, encantada por seres um príncipe sempre de cor dourada que encadeia o meu olhar mais mortiço, logo és radiante junto de mim e eu sou formidável

Dentro do meu cérebro
 
Entraste apesar de não existir uma porta, entraste pelos poros alvos e já conheces o caminho até aos meus dois lóbulos, um cheio de raciocínio ilógico e o outro sempre emocionado. Sinto bem a tua presença no meu cérebro, tens uma presença muito vulcânica, nem sei bem o que fazes no meu interior mas é coisa boa. Pergunto-te o que te estimula dentro de mim, respondes: “observo o funcionamento dos teus neurónios”. “Mas é sempre igual, não te aborreces?” pergunto. “Olha que não, é sempre diferente”. Fico perplexa, “o que será que se passa no meu cérebro então, que malabarismos andas a aprontar”. Explicas melhor: os meus neurónios passeiam sempre com neurónios diferentes para criar o meu mundo tão diversificado. Continuas a explicação: “eu faço parte do passeio dos teus neurónios, já fiz grandes amizades entre eles, quase todos me conhecem”. Pergunto-te sobre a impressão que sinto em vários sítios do meu cérebro, a tal presença que mergulha em mim, tu respondes: “é uma ardência cheia de força”. Rio-me pois sei que aquilo que tu queres é sentir tudo em mim, sei que isso acontece e também tenho uma ardência cheia de força que te alimenta a mil à hora.

Os ratos e o vinho
 
O rato Esqueleto foi visitar a sua amiga ratita Champanhe e levou duas garrafas de vinho tinto (atenção: as garrafas eram de humanos e portanto tinham excesso de álcool para ratos). O Esqueleto andava em baixo pois tinha mudado de casa e não estava satisfeito com a mudança, mal a Champanhe entrou queixou-se: “esta casa parecia espaçosa mas é mais pequena do que a outra e tive de comprar sofás novos mais pequenos. Não gosto deles mas eram baratos.” Sentaram-se os dois no sofá a beber o vinho. A Champanhe entornou um pouco de vinho no sofá e desfez-se em desculpas. Olhou melhor e disse: “Esqueleto e se fizéssemos mais umas manchas de vinho no sofá, ficava mais animado, ia ficar parecido com os buracos da lua” O Esqueleto estava por tudo e concordou. No entanto exageraram e o sofá ficou totalmente manchado. Riram-se os dois já bastante alcoolizados. Passada uma hora estavam bêbados que nem um cacho, a Esqueleto disse “estas paredes precisam de animação, que tal mais um pouco de vinho?”. Em cinco minutos as paredes estavam todas bordô pois eram apenas vinho. A Esqueleto disse: “ainda temos mais vinho, vamos pintar a casa toda e assim já vais gostar mais dela.” O Esqueleto disse que sim e divertiram-se a encharcar a casa de vinho, pintaram todas as divisões. O Esqueleto apercebeu-se que a casa cheirava muito a vinho: “só o cheiro dá para um rato se embebedar”. A Champanhe lembrou-se que o Esqueleto tinha algumas guaches de quando andava armado em pintor, foi buscá-las e pintaram as paredes com desenhos de ratas nuas em posse provocadora, também pintaram queijos variados, especialmente queijos gourmet. De repente repararam que tinham vinho pelo joelho, a casa agora parecia uma pequena piscina, então tomaram um banho de imersão longo. O Esqueleto disse: “li na Revista ’Queijo Fresco’ que o vinho tinto faz bem à pele, é revigorante para a epiderme, a minha pele de rato velho está mesmo a precisar disso”. Champanhe riu-se e disse que tinha uma surpresa para ele, então foi buscar chocolate de queijo Beaufort e comeram-no em três tempos. O Esqueleto também tinha algo para a Champanhe: doce de queijo Sainte-Maure de Touraine, era um dos favoritos do Esqueleto, ele dê uma dentada que deu cabo do doce de queijo. Estavam nas suas sete quintas: bem bebidos, bem comidos e com uma casa feita da arte dos dois. Entretanto chegaram os bombeiros, o vizinho do Esqueleto tinha chamado os bombeiros pois a sua casa estava inundada de vinho. Quando os bombeiros se aperceberam o que se tinha passado riram-se muito e também beberam uns copos de vinho com o Esqueleto e a Champanhe. Quando o Esqueleto lhes mostrou a casa eles tiraram muitas fotografias para postar no facebook. No dia seguinte os posts da casa do Esqueleto tinham sido vistos por uma multidão de ratos e estavam cheios de likes. Nesse mesmo dia apareceram muitos ratos à porta da casa do Esqueleto para verem com os próprios olhos a casa pintada de vinho, estavam particularmente interessados nas pinturas das ratas nuas: estavam tão bem pintadas que pareciam reais. No dia seguinte aconteceu algo estranho: os queijos gourmet tinham desaparecido das paredes, Esqueleto percebeu logo o que se tinha passado, as ratas precisaram de comer. Fim.

Tu comes
 
Gosto quando torces o nariz aos meus rebuçados de flor de laranja com as cores da guache, a brincar dizes que pinto mal a realidade fogosa que vejo. Dizes: “tu sim és fogosa pois a tua chama é alta como as árvores antigas que cresceram demasiado.” Sei que nunca estás estático, és movimento em permanência ocular, o que vês alteras para um bem de consumo rico em vida bela. Sonhas comigo especialmente quando dormitas enroscado em mim, parecemos dois gatos amigos que se aquecem numa noite gélida de um inverno a dinamitar pela primavera. És complexo e os teus pensamentos são ferozes como um leão saboreando uma gazela ainda viva. Como é bom comer a vida estás sempre a dizer-me, tu sabes aproveitar cada pedaço de floresta tropical e gostas quando a chuva não deixa ver o caminho pois os pingos são grossos como as pétalas de flores de tamanho grande.

Não sou um ser de rebanho pois pincelo o meu mundo com cores fabricadas em horas de horizonte esborratado, horas desacertadas quando as palavras ganham novos significados. Significados que começam com a letra ouro porque têm uma natureza arriscada que cria vulcões no meio da terra calma, o ouro surge quando os vulcões atiram as suas vozes ao ar. Gosto de ser magma, aquele magma que vê tudo como um recreio e passeia-se pelas nuvens de formatos incógnitos, é um magma que descobre que nada tem limites. Quando sou falésia distraio o mar com adivinhas, quando ele não tem resposta atira-se contra as minhas rochas e nasce areia misturada com a sonoridade jorrante das gaivotas. O que eu sou mergulha com força na vida pois deseja participar na força que empurra o mundo para um lugar de orquestra de ritmos que iluminam toda a seiva existente.

sábado, 29 de outubro de 2016


Jovem vida
 
Menina de rabo-de-cavalo mal feito, onde vais aos tropeções na paisagem? Deixa-me chegar um pouco até ao ritmo das tuas passadas e mostro-te um caminho de abertura total onde os pinguins se alimentam e brincam com baldes e pás. Há garoupa e corvina para imitares: o vai e vem das suas escamas vive apenas para ser tulipas. As tulipas que te ofereço são amigas do rir, elas são feitas de um pólen que viaja ao som de gargalhadas. Baralhaste na jovem vida, não te preocupes pois tenho todos os mapas que apanhei das silvas de amoras docinhas e vou descortinando a estrada sempre à frente. se fores por uma estrada esburacada sabe que há sempre outra feita de seda que esconde maravilhas só para ti. Espera-te um mundo de delícias, vais pensar que chegaste a um paraíso pensado unicamente na tua existência. Para mim a tua existência é um milagre, é como respirar o ar puro feito de uma brisa dourada.

Respiramos vida
 
Vá, vá meu peixinho diz mais uma palavra que sublinhe quem somos juntos. Repondes-me: templo. Acrescentas: vivo no teu templo sagrado e ligo-me às aves mais profundas que tens no teu interior quando entro todo no teu templo. Rio-me, depois penso que é uma ideia com o potencial das pilhas de tamanho familar, penso igualmente que sou muito para ti e sinto um gesto de ternura incansável vindo da tua parte. Quero encontrar uma palavra para ti e vem-me à cabeça ninho. Explico-te a sua proveniência: no ninho unimo-nos frente à sua fogueira de traços animados de toda a vida que existe na natureza das ervas que apanhamos para fazer um ninho fecundo, ervas escolhidas a dedo para tudo ser perfeito como Nós Dois juntos. Queres fazer-me rir e escolhes outra palavra para Nós Dois: tropelias. Sim meu caracol de mar pauzinhos piscatórios, somos reis e rainhas das tropelias que constantemente inventamos para nos sentirmos rindo como um cão se ri das pulgas que andam de baloiço no pelo dele. Construímos baloiços que andam quilómetros no ar para tudo ser mais numeroso: tudo ser mais e mais e Nós ganhamos as paisagens verdejantes que moram na simpatia do O2.

Os Nossos dias são…
 
Os dias que surgem pertencem a uma estação própria, esta liberta as borboletas de raios dançantes que são dádiva dos céus de trituração da matéria que constrói tudo e que nos oferece revelações. Os dias são todos Nossos e dão origem a serpentinas de falatório que cresce como as ervas matreiras na terra diamante. Agora é outono e Nós abanamos as folhas ferventes de aventura que desenham formas geométricas em júbilo, querem saltar à corda com o vento e Nós damos-lhes gás. No teu rabo existe um motor de gasolina vivaça que conta muitos quilómetros, é livre como os movimentos das vértebras dos sons parecidos com a dinâmica da plasticina e desarranja os horizontes. Quando olho para o céu contigo ao lado vejo constelações novas, constelações sem nome que passam a usar gestos de singularidade Nossa, são uma felicidade de contornos felinos: as suas garras agarram-se aos redemoinhos do vento e ultrapassam qualquer arma de calibre  de uma torneira em constante abertura. Os dias são Nossos e neles ganhamos terreno à respiração que contém as picaretas que permitem novas viagens a qualquer lugar habitável de riqueza múltipla: dá-nos olhos enormes para ver a criação e assim giramos à volta de rios de peixes grávidos que fazem tudo à volta ter vida.

P.s.: os peixes tiveram filhos cheios de escamas rebeldes que são uma tripla viagem: às algas que Deus criou em forma de flores temperadas com a luz de dias férteis, ao oceano de grandeza por descobrir e salvam donzelas respeitáveis que se estão a afundar num mar mais do que profundo.
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Ser copy e os anúncios
 
Estava refastelada na minha cadeira quase a adormecer e comecei a brincar aos anúncios para espevitar: “o jaguar é um acelerador de viagens. Viaje nas suas aventuras”. Saiu-me de repente, adoro jaguares e queria fazer-lhe uma homenagem. Olho atentamente para o anúncio: acelerador é uma ótima escolha para descrever este carro fantástico. Vou tentar outra vez, o que escolher? Lâmpadas Philips, a lâmpada do meu pequeno candeeiro de secretária: “faz a luz percorrer o caminho das suas necessidades”. Saiu-me assim e rio-me: necessidades faz lembrar urina e fezes. Talvez “faz a luz percorrer tudo o que é para mostrar”. Assim está melhor. Claro que não é o anúncio final, o que é que pensam: ser copy dá muito trabalho mas é um desafio enorme que se torna na aventura que desejo. Queria escrever o anúncio de um sumo, não sei bem porquê, é coisa minha mas não tem segredos. Imaginemos um sumo de ananás: “aproveite a fruta rica que cresce para si”. Não sei se é a versão final claro mas eu gostava que me dessem este anúncio num mupi: fruta rica parece fruta muito boa, fruta que jorra o sabor do ananás.

Parabéns: 28 de Outubro de 2016
 
Acordo-te com o cheiro de croissant, levantaste num repente e vês a tarde solarenga, sim é o teu dia e queres cada minuto seu para comemorar a vinda de um grande ano. Riste: “tem piada ser o número 39, é um sinal”. Continuas a levantar-te e quase cais por escorregares na madeira do chão cheia de contra indicações. Eis que também te espera uma bola de berlim acabada de sair do forno, comes num golpe e vais experimentar o dia. Ele cumprimenta-te com as suas flores de inverno, tu riste novamente e sem estares à espera vês um jaguar preto, um desses motores que querias ter para desfilares nas noites bem aparecidas. A meio caminho de não sabes onde aparece um camaleão vestido de vermelho pois está pousado num anúncio ao sumo de tomate. Olhando bem para o anúncio dizes: “eu faria melhor” e inventas mil slogans de palavras robustas que soam quase a obras-primas. Queres tomar um dos teus cafés do dia e escolhes um lugar vivaço, diria que crescente em tamanho de ontem para hoje: mais um ano e desejas escolher sempre lugares vivaços para a tua vida futura. Desenhas um pássaro numa folha amachucada e ela voa rua cima e não para, é como tu: fazes paragens de recobro mas continuas sempre feita caracol-rápido andando na direção certa. Sabes qual é a direção certa e sabes que nem sempre é um caminho fácil mas desde miúda fazes curvas e quando queres és perita nisso: avança pequena menina pois há paraíso à tua espera. Quando eras criança brincavas aos paraísos com bonecos cosidos a ouro, rias-te e dizias bem alto: “há um mundo melhor para quem tem um mundo belo, eu chegarei a esse mundo com o rebuliço que tenho no meu interior sempre a funcionar a mil à hora”. Canto este dia especial com palavras livres e transformo-me numa obra-prima andante. Viva este dia de outono que faz as folhas voarem numa dança recheada de brincadeiras sortidas que alegram toda eu: viva o 28 de Outubro!

Rabo-de-cavalo
 
Quero o teu rabo-de-cavalo para sentir a sua maciez no meu corpo eriçado pela turbulência da vida, quero tê-lo nas minhas mãos para sonhar com as juras de Amor que ele contém, ele é mágico: faz viagens por mundos selvagens onde se observam papagaios a rosnar os seus nomes de asas compridas, são aves que se apoderam dos amanheceres e enriquecem a pele de todos os horizontes.

terça-feira, 25 de outubro de 2016


Uma pitada de cor de laranja e uma pitada de negro assim é a sonoridade que canta em mim. O teu som é feito de aves marinhas, ganha cores azuladas e é mar à minha roda. Ofereço-te uma laranja vinda do Outono e tu dás-me mil lantejoulas azuis para dançar ao vento. Somos os palácios onde moram príncipes e princesas e preparamos manjares de cores ao rubro.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016


A minha Eternidade chama-se a tua cor dupla azul/preto pois a minha visão enche-se dessas cores à noite e pilotamos juntos aviões de realeza.

terça-feira, 18 de outubro de 2016


Caramelizado

“Queria dizer-te algo de romântico” “É só abrires a boca e deixares o coração ser o canto dos pássaros” “Estes pássaros têm bicos aguçados” “Só assim desbravam a poesia e libertam os mais puros versos” “Olha, olha um dos pássaros traz uma carta tua que diz: próspera a minha vida contigo.” “Recebi a libelinha que me enviaste de bons dias que enriqueceu o meu despertar” “Que engraçado temos um mundo tão grande juntos, temos de arranjar mais espaço pois ele vai continuar a crescer.” “Dá descanso à caneta e toca piano comigo, os nossos dedos vão unir-se e uma nova música nascerá cravada de balas de Amor.” “Os meus dedos gostam de conhecer terreno na tua pele alva.” “Gosto do recheio dos teus dedos: framboesa, acho eu.” “Gosto quando tresandas a mim.” “Acontece quando penetro o teu ser caramelizado.”

Adoro que escolhas nas minhas costas que pedacinho do meu cérebro vai ter mais oxigénio e assim libertar as suas dentadas rumo a qualquer parte desta savana.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016


O teu toque

Sou mulher de toque de pele. O meu sangue está muito perto da pele e sente demais. A minha respiração faz-se toda pelos poros que me preenchem. As tuas mãos em mim rebentam os meus aquedutos, a minha febre é um arrebate de paixão pela saliva de todos os teus dedos. Rebola-te em mim e os meus seios são atiçados pela tua flora. És dinamite ao longo da minha pele de selva que só é penetrada por ti. És só toque para mim, libertas a tua suavidade e a tua vida arisca suando sobre mim, tenho-te em perfume, onde vou cantas comigo.

O camarão e o linguado
“Bom dia meu camarão de barriga grande”. “Bom dia meu linguado rebelde”. “O que vamos fazer hoje, diz tu?” “Hoje vamos adivinhar a forma das nuvens e depois caminhar rumo a um castelo cheio de mouros, no fim o castelo é conquistado por nós. “Os mouros têm espadas muito afiadas.” “E nós temos palavras muito venenosas”. E foram para o meio de um campo qualquer cujo castelo já nem sequer tinha nome. O linguado no meio do xadrez foi ferido. O camarão foi até ele com quilos de ligadura e disse: fica aqui quietinho que eu ganho o jogo por nós dois”. E assim foi, o camarão tirou de dentro do bolso um canhão e rebentou com o inimigo.” O linguado mal podia acreditar que o seu camarão tinha feito evaporar um exército sozinho, o castelo agora era deles e só deles. Pintaram o castelo de cor de laranja e convidaram pirilampos para dar luz à noite, além disso fizeram crescer por todo o castelo ervas aromáticas que vendiam na feira medieval ali perto. Davam bailes memoráveis ao fim-de-semana, eram bailes de máscaras e eles vestiam-se de rosas como olhos de carapau.

O auricular e a combinação das letras
 
Aqueles que falam sozinhos na rua deviam pensar em usar auriculares e fingir que estão ao telefone com alguém. Na verdade não estão sós, anjos e outros seres de um mundo festivo (o bem faz o mal entrar em rotura de stock) ouvem as suas palavras que até podem dar origem a livros tal é a sabedoria do falatório. Eu falava italiano num falso auricular, era a única vez que podia vagabundear nesta língua de sonoridade primorosa. Depois passei para o alemão, mesmo sabendo poucas palavras falava frases inteiras, mais de metade das palavras eram uma qualquer língua que eu desconhecia, falava uma língua que era espinhosa e talvez quisesse dizer alguma coisa no meio dos espinhos. Gosto de escrever em português: quase todas as palavras me pertencem, novas palavras são sempre bem-vindas mas não gosto de usar palavras caras pois não sou excêntrica, apenas quero dizer aquilo que apanho da tropelia das letras que me cercam.

Contei ao Gabriel sobre ti

Disse ao Gabriel que estava apaixonada por ti e ele pôs as mãos à cabeça, disse-me cheio de certezas que tu eras maluco. Aproximei-me das asas dele e sussurrei: “mas eu também vejo cores que não existem”. O Gabriel sabe que sim e pensou mas não disse que as cores que tu e eu vemos inexistentes podem revolucionar as paisagens por escrever. “Já sabes o nome completo dele?” perguntou. Sabia sim, é um movimento à minha volta preto/azul, também sou azul e viajo pelos mares que ainda estão por descobrir para te dar a vida da rebentação das ondas solares. Tu viajas pela erva onde os caracóis de casca turquesa fazem as suas casas e sabes de cor as histórias fantásticas que eles contam, gostas de mas contar no meio de um sorriso. O Gabriel disse para finalizar: “fazem um par estranho mas têm tudo para dar certo pois ambos divertem-se a libertar as borboletas dos casulos antes de tempo e ensinam-lhes o primeiro voo quando elas são pequenas princesas, percebo a atração que têm um pelo outro: são feitos de uma teia de aranha que se procura emaranhar na iris para criar mundos novos”.

domingo, 16 de outubro de 2016

sábado, 15 de outubro de 2016


Conheço-te há mil anos mas ainda tremo na tua presença quando tu te aproximas demais. Quero-te perto demais para sentir os teus sinos visitando-me. A música que tocas só tem o meu nome e eu canto-a contigo, o nosso dueto ouve-se em todas as cidades do mundo. Vivo de ti, de um sorriso teu ou de palavras mansas tuas. Cada passo meu segue o teu passo e somos rebeldes de coração quando caminhamos. A nossa afeição é tão pura que tudo o que fazemos juntos está em perfeita sintonia.

Sou o teu Sul
 
Sou o teu Sul pois vivo para te abraçar, tu levantas o teu sol comigo ao teu lado. Tudo o que sonhares trago-te pois és uma dádiva que se une aos meus rios internos. Vem até ao meu luar, dou-te uma festa de estrelas rompantes em turbilhão. A seguir penetro-te com o meu sol, todo tu serás um jorrar de luz. Acasala as tuas palavras com as minhas, vamos dar nomes a tudo o que descobrimos juntos, vamos juntar as mantas.

Era uma minhoca redonda pois tinha nascido assim, trocava-se toda nas andanças que fazia. Era trapalhona porque metia os pés pelas mãos e dançava todo o corpo pelo caminho. Jogava bem à bola: seus mil pés miravam a baliza e acertavam sempre no alvo. Rimava todas as palavras e também fazia palavras cruzadas. À noite acendia uma fogueira no meio da floresta e contava histórias de adormecer aos pássaros desavindos. Gostava de correr e saltar obstáculos, vivia neste frenesim como se a vida estivesse a acabar.

terça-feira, 11 de outubro de 2016


O Peixe Grávido
 
Eras escamas feitas de asas de abelharuco e já tinhas nadado por todos os mares, um dia conheceste uma borboleta-folha e acasalaste com ela. Ficaste grávido e nadavas mais lentamente, também tinhas uma fome exagerada de musgo. Quando tiveste a tua cria mal podias acreditar: metade era escamas, metade era asas. Quando o teu filho Gervásio cresceu quis ser papagaio de papel e ganhou muitos campeonatos. Ele apaixonou-se por uma sereia e canto-lhe a poesia que aprendera contigo: ela atirou-se aos braços dele.

Todos os animais
 
Sou um animal diferente todos os dias, um leão duro de roer que se transforma num esquilo de sabedoria, vivo vinte e quatro horas por dia acordado para aproveitar todos os sons que a floresta faz, também gosto de ser insetos, por vezes sou um formigão e caço restos de tudo o que é vida. A vida para mim é tudo brilhar, o sol, a lua e a velocidade que atinjo quando sou gazela fugindo do perigo de dentes aguçados pela fome, tenho fome de brincar com castelos de areia, de vez em quando vou à praia construir mil castelos que invadem os buracos onde os peixes se escondem. Agora sou um animal vaidoso: uma serpente de pele de diamante, ando a passear para a mostrar e deixo um rasto de beleza: todos saberão que estive por aqui.

És o meu recheio de tutti fruti pois és só frutose e desejas adoçar-me dos pés à cabeça. És fruta madura que vem até à minha boca para depois viajar nas minhas veias que te esperam vestidas de luxo. Misturas-te com a minha seiva para sermos um átomo caloroso pleno da vida das refeições surpresas, vida que se ergue alta e robusta.

Fura-fura
 
És travesso pois és um ser turbulento a que chamei fura-fura, esburacas as paredes de qualquer mundo para preencheres os seus buracos de tinta e manchar tudo de rebuliço. Fura-fura meu és fera que marca o território com rebuçados de mentol, o horizonte que crias é mel que se desfaz na boca virada ao contrário. Rebelde cheio de causas lutas pelo sangue a cem à hora pois assim podes voar com as vértebras musicando.

Encontramo-nos num céu arrebatador e fazemos uma lua cheia plena de Amor que ilumina as chaves que abrem horizontes desconhecidos. Entramos nessa travessia e rodeámos-mos de planetas desenhados a tinta de jato. Então escrevemos a Nossa escrita de imaginação carpinteira que esburaca os tapetes vermelhos que se estendem fazendo-nos especiais. É verdade que somos especiais pois intrujámos o universo para ele circular à nossa volta e assim dominamos a força de todos os animais, somos rápidos a fazer os sons que criam mais universos.

“Acorda menina” “Já sabia que estavas acordado, queres ouvir-me falar verdade” “Sim, passaram horas e eu não ouvi a minha menina” “Vamos falar sobre o quê?” “Queria saber mais sobre seres ouriço-cacheiro” “Ora, depois de acordar com água na cara os meus espinhos saem para fora” “Mas eles devem estar escondidos pois nunca os vi” “Pois, são segredo meu” “Deixa-me vê-los” “Eles metem medo pois são aguçados” “Sou corajoso, mostramos” “Prepara-te…” “Ai, ai, dão mesmo medo” “São feitos de fósforos apagados mas ainda têm força para se acender” “Deixa ver um aceso” “Taram, parecem fogueiras porque sou feita de fogo” “Isso sei eu e gosto de atear ainda mais o teu fogo” “Os meus espinhos picam mas a sua picada é feita de cócegas” “Pois, é como a tua picada de escorpião amarelo” “Os espinhos estão mais ativos à tarde, transformam-se em dinamite e descobrem caminhos novos” “Dá-me alguns” “Sim, posso partilhá-los contigo, mas eles explodem a sério e fica tudo do avesso” “Explode comigo então” “Se me deres um beijo” “Dou-te mais do que um, és a minha menina”

Pintada de vivaça
 
Sou vivaça e quando os meus espinhos saem para fora sinto-me num estado excelso, tudo é magnífico à minha volta e abro as minhas mãos trepadeiras nos pinhões que estão espalhados pela terra. Sou jovem rapariga e vivo aos altos e baixos, quando subo as montanhas escrevo como um furacão, quando desço e não há sol as letras têm menos força mas são minas de pedras preciosas como sempre. Chamo-me fantástica e gosto de renascer a cada dia e ginasticar com os rios diversos que cada hora tem. Tenho uma luz interna que brilha nas casas que construo, casas de papel que gostam de nadar no céu ilimitado. Sou vivaça e tudo o que mais desejo é pintar a minha vida de sabores intensos que saltam alto, alto.

Isco

Quando te aproximaste de mim até o mar se encheu fusidias, diamantes voadores cantaram uma canção sublime de um Amor Verdadeiro que se abeirou de dois seres que olhavam o mundo com iris igual. Ele deitou um isco Espiritual e foi fatal: ela incendiou-se de sorrisos. Ele pesco-a primeiro com palavras de beleza múltipla, ela descobriu muitas palavras novas e soube finalmente o que se escondia por detrás do Amor. Ela também o pescou, escreveu-lhe versos sérios e de tropelia, disse-lhe que queria as escamas dele junto dos seus fluidos vitais. Agora são inseparáveis e querem continuar a viajar na sua história que se escreve com os materiais de um casal, têm tudo: o teto, as paredes e o chão e respiram o fogo que os aquece cheio de açúcar que produzem em uníssono.


Sabes que bebo groselhas como quem bebe uvas, a sua cor é o jovem Amor que temos um pelo outro. Será sempre jovem porque vive do sonho de cada um de Nós e junta o ser que temos morando cá dentro que faz a Nossa vitalidade renascer. Somos um e eu junto as groselhas em dominó para a tua boca as receber.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016


E se aparecer o teu 39?
 
“Estou sim…” “Sou eu” “Não pode ser, és miragem minha” “nada disso, sou faraó e sondei-te com facilidade” “Se és faraó mostra-me o teu gato protetor” “Aqui está, chama-se fura-fura” “Meu Deus, és mesmo aquele número que espero apenas em sonhos, mas vieste…” “Vim porque queria abraçar-te e queria que sentisses o meu abraço” “Abraça-me então faraó fantástico” Deu-se um abraço supremo (disse aquele que vê) Ela chorou e ele também (disse aquele que ouve). Depois ela disse: “Nunca me senti tão bem na vida verdusco” “Nem eu luz que faz luz em mim” “Diz qualquer coisa de esquerda” “Vou-te dar um salário de riqueza: eu todo a toda a hora!” “Agora já não podes saber o que penso” “Olho para ti e para os teus gestos e oiço as tuas palavras, aquelas simples e as em forma de puzzle e adivinho-te” “Sei que serás sempre tu quando estás comigo e sorrio muito” “Sorrio a vastidão do teu sorriso azular” “Agora sei que vou ser feliz” “Sim, o teu sangue vai ser um universo de felicidade e o meu vai atrás do teu” “Os teus olhos são a descrição que fizeste” “E os teus são maiores e mais azuis” “Vamos fazer azul por aí?” “Sim, e verdes múltiplos” Então, eles falaram dos seus mundos um ao outro e depois fundiram-nos. (disse aquele que sabe tudo). Deus sabe tudo, será que Deus aprova esta relação? Deus na verdade abençoo-a.