sábado, 7 de junho de 2008

Há sempre coisas estranhas a acontecer...
Agora não me deixam pôr mais imagens, isto tem um limite... Báááá!!! Bruno, vamos dar uma voltinha sem limites, please?

Sara
“Dreams never die”

"It wasn't so hard to cross that street after all. It depends on who's waiting on the other side"

(O Sabor do Amor)
“Dreams never die”

Ela disse que era um disparate, eu apenas queria ternura, pois era a ternura
Sei quem tu és
És a ternura
Sorrio ao dizer-te isto
Tens cor de ternura. Mal te olhei soube
É uma espécie de poesia
O sol abre-se
Fingimos que ele não tem raios mas somos atingidos por ele abruptamente
Mas olha, não ficamos cegos
Apenas estás dourado e és um peixe que nada dentro de mim
É tal a mistura que somos uma nova cor
Não sei como se chama, mas podia ser Amor
Podia ser esse teu abraço no meu
As tuas palavras nas minhas
O teu corpo sentindo por toda a parte o meu.

“Dreams never die”

Foi como se quisesse provar todo esse sangue do mundo, engoli-lo por inteiro e quase morrer com essa dor de ser e ser e ser. Sobrevoar a cidade querendo tocar tudo o que era vivo, mas nada me era permitido, e mesmo não sentido, tudo era dor. Voei nesse dia de sol de asas ardentes e quis ser maior que tudo, sabia onde ia rompendo pelos lugares adentro. Entrei pela janela daquele dia onde tu me deixaste entrar, e beijei-te, beijei-te como se o nosso beijo fosse o curso de um rio longo e os meus lábios tocando os teus iniciassem o andamento das águas.

(Matthew Woodson)

"Ele diz-nos que a vida não tem sentido sem o teu sonho, seja ele qual for. Sim... simplório. Assim como nós, com desejo de desejos."
Sim Bianca, conta-me esse ódio de partir todas as grades das faces belas que te encharcam de sangue. Acompanha um som duro e sê a maior das ratazanas, a loucura rasgando todos os vidros e estoirando as portas seguras dessas gentes sem significado. Arder as suas cabeças Bianca, atirá-las para poços profundos. Tirares-lhes a respiração e rir-te no seu olhar aterrado, perguntado apenas: “quem vos vai salvar agora da minha maldição?” Vá Bianca, atira-as pelas escadas de mil degraus, parte-lhes todos os ossos, massacra-lhes toda e qualquer emoção. Depena-as Bianca, como galinhas assustadas de terror, arrancando-lhes a pele impiedosamente. Corta-as ao meio com o ódio com que essa gente te violenta sem qualquer comoção.

Alexandre, sinto uma imensa saudade tua, dessas tuas palavras que se confundem com o ritmo de um mar sonhado quente navegando dentro do suor das minhas veias. Ondas doces que espero ao nascer de cada dia, chamando-me pelo recorte do corpo acidentado, sentindo-me gaivota da aragem de uma paisagem hexagonal, adivinhando o penetrar da tua substância no país que somos.

Sara

(Matthew Woodson)
Quanto te odeio Líria porque sorris tanto e quanto tudo é mentira. Queres de mim o que nunca me deste Líria. Vens com belas flores nas mãos Líria sempre sorrindo e queres que te sorria. Mas o meu sorriso é o meu ódio. Tudo em mim diz-me que tudo em ti falhou e agora essas flores são de todas as cores, enquanto a minha cor é um sorriso que esconde o meu ódio Líria.
Todos os posts anteriores foram apenas o dia 7 de Maio de 2008. Acho que esta tarefa vai dar comigo em doida!
Quem chamas nesse rumor que percorre o gelo que lentamente dirige a navegação incerta que um dia declarou os golpes ágeis das travessias do desassossego? Essa avalanche que esgrime contra as impossibilidades, as espadas roubando as redes, para que o grito se oiça mais alto. Quem surge como vibração de rosto rasgado, assassino sem bússola, na distância esfumaçada que arranca palavras à respiração oscilante do tacto desgastado dos precipícios que neste mundo estranho embatem uns nos outros? Quem chamas atrás da língua, tentando recordar o nome da terra esquecida, quando às escuras os pés se afundam?

Celeste, menina que flui a vida, brincas ao mundo e o mundo diz em voz alta os nomes das coisas. Celeste, brincas com o sol e a chuva nos olhos e sabes que o nome das coisas não se aprende, vive-se de mãos nas sementeiras. Celeste, as tuas veias correm ao contrário, é esse o teu nome. Aprendes as palavras começando por dizer “sinto a tua falta” e depois cantas todas as canções que o mundo já inventou e tu começaste a inventar.

(Chaim Soutine, "Return from school after the storm")
António, há um mundo estranho que te fala e tu não o ouves com claridade. Surge a angústia, o teu pranto. A tua intranquilidade apenas quer seguir os caminhos dos animais que passeiam em rebanho, pastando em campos serenos. Mas os teus dias são preenchidos pela habitação dos homens e pelas suas vozes. Como escapar a essa explosão dos sentidos, quando sentes que nada tem sentido por vezes nos seus mundos? António, a tua cabeça é cortada uma e outra vez e repetes uma qualquer oração desconhecida. Quem te segura a mão António?


Há flores gigantes que crescem por aí para ti e para mim Alex. Há pássaros que voam à velocidade da luz e do som levando-nos com eles nas suas asas de ternura. Há rios inventados só para nós Alex, cheios de sonhos azuis vestidos com a força do fogo, que afastam o frio do medo. Há mil janelas Alex, que se abrem para que regressemos à casa que sempre procurámos...

Sara

O fedor das coisas continua a estar estendido nos caminhos. Sara, não me engano com as gargalhadas dos seres que agora me tentam amansar, aqueles que outrora fizeram a minha queda ainda mais desumana. A cela apenas muda, estou no exterior mas imersa de sujidade e a minha revolta Sara tem mil olhos. Tudo é falso. Encontro-me só nos meus sentidos, mas eles valem o mundo inteiro. Aqueles que se cruzam comigo são dementes, desejo constantemente a fuga. Há seres Sara, no entanto, que são azuis, seres como nós, seres raros que talvez possam viajar connosco.


(Francis Bacon, "Study for the Human Body: Man turning on the light")
Oriana, o teu poema é belo, mas sinto a solidão das faces encobertas como um luto demasiado longo. Oriana, vejo os abraços das borboletas que me apontas. Sei que os pássaros voam sempre, mas eu sou o pássaro que nunca encontrará o sul. A minha terra é sonhadora e eu fixo-te nos olhos Oriana e choro no teu colo, na tua floresta, nos teus riachos. Abriga-me Oriana porque não sei viver o desfazer dos nossos sonhos.

Sara, o mundo está cheio de pedintes, de fome, de feridas. O mundo é um poço de dores. Gente que cai dos andaimes, não se consegue levantar e pede mãos que nunca estão lá. Sara, o mundo dói tanto. Nunca há milagres e gente realmente boa como as sereias cavalgando as ondas e salvando os marinheiros. Só há escuridão para tantos. Encontro-os facilmente esmigalhados no chão, absortos em dor Sara. Tive tantas dores e estive sempre tão só. As feridas Sara, elas estão abertas agora como dantes. Há uma pista de dança onde as criaturas espalham-se de rastos e rastejam Sara. Esfriei, mas tudo em mim é quente quando apenas resto eu na pista de dança, apenas resto eu Sara...

Andas há meia hora à procura de uma alma caridosa que me dê um cigarro. Podia ter-te dito: que te empretasse por uns minutos um cigarro. Dei-te um cigarro imediatamente e depois mais dois. Não quero que procures mais hora e meia e mais hora e meia. Quiseste lume também. Não encontrava o isqueiro. Nunca encontro nada... Sugeriste o lume do meu cigarro. Ri-me. Era óbvio. Perguntaste-me pela ferida recente no meu dedo. Aí foste quem eu procuro ser e quem procuro que o Outro seja. Sim, a ferida estava bem, ferida mas bem, agora que tinhas perguntado. Até à próxima disseste no final. Espero que sim, pensei.

(Max Pechstein, "Three Nudes in a Landscape")
I can change, I can change, I can change

Bruno, vamos com os saltos do vento, somos rostos nus perfeitos. Perdemo-nos sempre e gememos na carne que arrancamos, nessas dentadas mais profundas que os ilimitados oceanos. Somos as sementes do viver, o crescer é a erva que se abre nas nossas gargantas. Cheiramos aos restos dos infernos de onde subimos. Bruno, não há muralhas, apenas o ser livre, as ninfas sedentas de multiplicação dos peixes que correm nas nossas veias.

Carpinteira


“you and me, we got the kingdom, we got the key”

Lavo-te a cara com as minhas mãos douradas. Com o sol digo-te que tens o coração radiante. Sim Alexandre, o teu coração incendeia-se diante da minha canção. Eu serei a tua guia nas tuas horas que dizes sempre sombrias. A tua casa trancada Alexandre, encho-a de feno, quebro-lhe o silêncio, mostro-te o sol posto num caminho cheio de lanternas, num lume de carinho, e damos passos crescentes nos dias. Eu sei matar as feridas abertas das trevas Alexandre, sei como se fala com o medo e com as trovoadas que entornam o teu sangue. Estanco esse campo de batalha infindo com as minhas árvores que se estendem por amplos vales, dou-te o abrir das minhas palavras, das minhas sementes, o coração que bate nas minhas mãos.

Sara