domingo, 28 de setembro de 2008

A perda é sempre uma ameaça
Porque o ciclo do labirinto
Em que por vezes nos encerramos
Abre-se uma e outra vez
E o grito é igual a ontem
No sufoco que mal respira
O olhar desce com a mesma prostração
Aquela em que gelámos
Nas gaiolas sem portas
Quando estávamos enterrados
Na estagnação da vida
A perda pode repetir-se sempre
Pode secar novamente os rios
De um coração aceso
Pássaros da sabedoria
Num dia crescendo quente
Perseguem juntos o futuro
Sentindo esse despertar
Na sua mais íntima existência
A visão da beleza
Na voz das flores
No brilho dos bosques
Sem começo nem fim


(Gabriel)

Gabriel, por mim me levanto, com a força que tenho, quando caio sei que a tua presença me ajuda. És aquele que comigo está sempre, és aquele que me fala com as asas cobrindo o meu ser.

Na memória dos gestos
Encontra-se o ondular das folhas
Bebendo os frutos maduros
Cruzando-se com a essência
Do que somos
Disseste-me que tudo era esperança
Reaproximarmo-nos novamente do mundo
Desvendando os seus sentidos
Tocas-me com os olhos da compaixão
Tu que conheces a magia dos sonhos

À minha Avó Ivone
as penas esvoaçantes outrora
esticavam-se no ar libertas
como se não tivessem peso algum
no entanto a respiração parou
e há demasiada fraqueza
para plantar sementes
na terra endurecida
lembro-me de ser criança
em pleno voo
e o verde encadear-me os olhos
agora mergulho na areia funda
sem saber caminhar

(Peter Forward, "The Fear")