sexta-feira, 4 de julho de 2014


Sem caminho
 
Ao caminho faltam sentidos para irmos munidos de amor. Está tudo a ruir e pergunto-me: onde vou cair? É verdade que tenho muitas almofadas mas estou preocupada com as pancadas. Relâmpagos ruidosos na minha cabeça, muito teimosos. Paz é coisa que não tenho, imbróglios de todo o tamanho. Raios partam esta canção, parece que não tem conclusão. Fugir para onde, não tenho o dinheiro de um conde. O sinal está sempre encarnado, para mim não há rebuçado. Falta de doces é um pecado, e eu bem os pedi no meu recado. Apanhei um barco a pensar que ia para um destino e acabei a tocar o sino da aflição. Mas sei nadar, e de mar em mar vou a passear com a correnteza. Com certeza que quero do melhor que há, ao meu redor andam coisas estranhas que têm as suas manhas e sussurram-me cartas de filosofia. Têm sabedoria, preferem brincar comigo ao jogo criativo de rebolar nas nuvens e fazer contrabando de cores encantadas, saladas de sabores para todos os gostos. Ninguém me faz favores, eu tenho de ir com a minha matilha toda maltrapilha pelo jogo dentro, contra o vento, contra tudo. E o futuro, dizem que é domínio de Deus.


Embuste

Sou atormentada por repetidas visões de salvações que não se deram, que forçam os meus pés a enterrarem-se na profundidade de uma terra de dramas cujos nomes vou mudando mas cujo título é sempre o mesmo porque no sofrimento em que vivo constantemente não há lugar para uma pequena ternura. Correm-me nas veias cores que me atraiçoam quando tento construir dias diferentes, na minha cabeça um caos metálico trava-me os gestos e devaneio facilmente nas armadilhas da existência. Sinto cada vez mais o rugir de algo que vem com muita força de dentro de mim, é um choro aflito que me torce toda e que me cobre de sensações de uma penumbra que possui o meu corpo por inteiro. A angústia de não conseguir aniquilar a cristalização dos movimentos que sabotam qualquer filão de vida fresca parece navalhas num embute à minha espera, numa altura em que tenho demasiadas cordas a embaraçarem-se nas minhas pernas este está mais perto do que nunca.

Batido de morango

 

Beber batido de morango é um bálsamo de festins que só existe quando tu pegas nele e te deixas abrilhantar pela sua pura vida. Ele conquista os morangueiros todos enaltecendo o entusiasmo da terra e surpreende os morangos no seu crescimento vindo como vento de sabedoria. Conheço bem demais a cor do leite, os meus vestidos dançam com ela nas loucuras dos jogos de bonecas quando elas se desejam casar com o príncipe formoso do reino que dizem ser encantado. Quando o morango choca com o leite saltam faíscas e os morangos soltam-se em pedaços criando uma nova cor no leite macio. Que sabor celeste dizem ter, essa fusão de gostos, até aos anjos apraz.