terça-feira, 5 de agosto de 2008


(Frida Kahlo, "The Two Fridas")
Os sentimentos arrastaram-se pelas estradas
Endureceram, da lama tornaram-se pedra
Enquanto gritava em pânico
E perdia o sentido na decadência mais puta do ser

Primeiro perdi o caminhar dos pés
Depois a sensibilidade das mãos
No fim foi-se o coração
Restou aquela que se feria arrancando a pele

Venho de onde a noite era o dia inteiro
Onde as palavras não falavam
Onde o frio desfazia o corpo
E os ecos quebravam os sentidos

Os sonhos moribundos adormeceram
A morte rondava dia após dia
A ternura deixou de existir
Só o ódio dialogava

O meu mundo eram estilhaços
Facas afiadas e feridas demasiado abertas
Sufocava nos meus pedidos de ajuda
No silêncio que lhes respondia
Estes versos, despertado sentimento,
Falam de tudo o que é vivo em mim,
Quero que saibas que há todo este corrupio
Que corre para ti em todas as direcções

Foste tu nesse beijo que me tocou
Uma luz que nunca conheci
As tuas mãos entrelaças nas minhas
Perdem-se todo o dia nas tuas

Sonho o nosso sonho
Debruçada nas árvores e nas flores
Vou nua pelas estradas
Olhando os teus olhos

Por isso, deixo-te todos
Estes versos presentes dizendo-te
Conheci em ti mais de mim
E estarei contigo eternamente
Há um silêncio que diz uma pressa de dizer como se tudo pudesse ser dito em simultâneo, sem parar, numa ardência, uma chama que arde como quinhentas árvores, essa combustão que fica imobilizada e volta a olhar para o incontornável e pensa que talvez fosse possível dizer algo, esse algo inteiro que preenche esse mundo gigantesco que não cabe em lugar nenhum, extravasando por todos os lugares, que os vê olhos adentro como pudesse comer com eles e ser tudo e gritar as realidades, gritá-las até elas desaparecerem e serem criadas outras e todo poder começar e recomeçar.
O caminho é estar de frente
A momentos onde se não sei
Por onde seguir

Nesse obstáculo consigo
Descobrir um pensamento
Que segue em corrente

Talvez por vezes não faça sentido
Mas há um tempo para a poeira assentar
E o destino é vivido nas mãos
Elas tocam os dias com novos passos

Se aos infernos se desce
E os sonhos se desfazem
Levantamo-nos avançando
Como uma juventude

Amanhã é um dia
Onde novas ruas se cruzam
Onde fontes nos esperam
Oiço já o cantar dos pássaros

Isso é tudo o que interessa…
Quando as noites parecem não terminar…

Posso ter pouco
O pão faltar-me à boca
Mas esta minha escrita
Não cessa, não morre

Faz sentido o desejo do amor
Navegar por entre as brumas
Esse mar bravio
Só para te encontrar