Rabiosque
Era
uma vez uma centopeia que gostava de areia e lá ia toda ela aos bocadinhos
pelos grãos achando-se muito bela. Dizia que não rastejava, que ia a correr com
as patinhas a arder. Estas faziam poesia com o seu caminhar, era vê-las a
rabiscar em todo o lugar, palavras a rimar. Ela assinava com o rabiosque que,
de tal forma elegante era, estava sempre em Primavera e nem uma sarda de idade
tinha. Era portadora de uma grande fertilidade e existiam bichinhos seus por
aqui e por ali, bichos igualmente céleres e dados aos rabiscos. Tinha pavor de
ser feito isco, acabar comido como petisco não era de todo o seu excelso sonho.
Uma centopeia que subia dunas feita escada com as suas passadas escorregadias e
para si os dias nunca terminavam. Sabia sempre o que fazer, estava sempre
ocupada e às vezes aparecia com a sua manada e eram mil patinhas a dançar.