quarta-feira, 27 de abril de 2016


Olho para o palavreado do teu olhar e sei de cor o que sentes porque conheço a sonoridade das tuas veias. Dizes-me com a tua meiguice no olhar que sou a menina que dança com a tua cor: “uma cor única que guardei apenas para ti.” Subo para o teu colo derretida com o teu encantamento e beijo-te a existência. Queres saber como te sinto: “sinto-te sempre em carrocel no meu interior, vives em permanência dentro de mim e rebentas todas as minhas escalas.” Quando estou sem ti perco o norte, saboreio as ondas mas falta o meu vento de sul, faltas tu Amando a música que toco na vida.

Ela tinha ar de dinossauro pois andava de braços cruzados na vida mas vestia-se com cores berrantes e a sua vida interior era uma ventania fulminante. Corria os corredores da alegria sem canseira, fazia festas de espuma na garagem e balouçava-se na água dos riachos para repousar. Roubava as estrelas para enfeitar o céu dos outros, no seu céu pintava mantas de sonhos que sonhava incansável. Sentia no seu interior mil invertebrados a subirem-lhe a temperatura e trepava camuflada árvores antigas que apenas contavam histórias do antigamente. Tinha sido tocada por um destino sorridente e plantava o seu próprio sentido de vida.

Há pulgas que conhecem todos os caminhos do mundo e vão fundo neles. São pulgas vagabundas que se interessam pela filosofia da existência e percorrem erraticamente a vida. Gostam de se empoleirar nas notas musicais e alterar-lhes todo o sentido, elas até mudam a velocidade dos ventos. Dinamitam tudo à sua volta com a sua esperteza grandiosa, fazem os animais falar estranhezas. Estas pulgas fazem tropelias o dia inteiro, sabem remar contra todas as marés e chegam vulcânicas aos destinos. Arrepiam qualquer um quando se erguem para inventar novas linguagens de decibéis. São pulgas que se atiram ao ar para mudar a cor do oxigénio.