sábado, 5 de junho de 2010


(Márcia Melo, "A cortina de renda")
Às vezes a madrugada não se abre
Como quando as fontes do peito se enchem de saudade
De um tempo de lume
Que ficou mergulhado no sangue
As janelas fecham-se à luz
As areias entram nos sentidos
E os dedos perdem a força
Estás demasiado longe e eu não voo sem ti
Na minha paisagem não se avista expressão de vida
A mim dói-me sempre
Neste coração que deixaste na sombra

(Clóvis Graciano, "Conversa no terraço")
Às vezes tudo estremece
E escorrego das tuas mãos
Digo que o oceano nunca me irá salvar
Digo então que as tuas ondas me pertencem
A tua canção não canta hoje
Talvez já não a saibas
Talvez agora naveguemos
Ao sabor da nossa própria nudez
Se do Outono cai a chuva
De nós vem uma tristeza lenta
Não sei perder o ouro que me deste
Apenas sei continuar a dizer as nossas palavras
Este silêncio de neve que cresce na paisagem
Pesa um navio sobre mim
Carrego uma viagem nunca feita
Uma carícia agora esquecida