sexta-feira, 24 de setembro de 2010


(Arshile Gorky, "Enigmatic Combat")
Escrevi agora mesmo este poema para ti, aproveita-o bem, não ando muito dada à poesia nos tempos que correm:

Nas paisagens existe a tua imagem
Oceano crepusculando a vida
Neste sonho onde abro a persiana
Desafio-te a descobrires os sentidos das tuas mãos
E percorreres o meu falar
A minha pele estonteia com os teus passos
Quer ter a certeza do teu corpo
É tempo de rondares a minha casa
De revelares o teu toque
Bem, aqui vão as boas noites. Até a minha gata te espera. A esta hora da noite, quando me vou deitar, só me apetece agarrar-te. Mas eu sei que isso vai acontecer. Pena que estas noites tenham de ser tão solitárias agora sem ti, durante tanto tempo. Depois nunca mais te largo. Beijo melado.
Hoje chegou-me uma segunda carta da clínica de oftalmologia a que me referi no post abaixo, igualzinha. O que quererá dizer? Ando a ver assim tão mal? Será que ando a ver esta história do rapaz sem os óculos postos? Porque é inevitável que os use para ver bem. A verdade é que me sobressalto constantemente com a sua ausência, sinto um vazio no coração. Sim, um vazio no coração que deixaste quando te foste embora. Não sei como é possível, após uma noite tal acontecer. Já me estou a repetir, como sempre. Mas é que isso confunde-me tanto. É que também posso estar mortinha de amores por ti, e não obcecada. Como saber? As duas são más. Uma obsessão é sempre má, corrói-nos por dentro. Estar caída de amores por ti também não me parece bem, estás tão longe, e coração sofre como o caraças. Estar caída de amores é como descer por uma falécia abaixo sem controlo, e assim não pode ser rapaz. Entre um e outro venha o diabo e escolha, porque eu sinto-me uma bola de ping pong. Esta coisa de não perceber o que sinto está a tramar-me a cabeça. A Bruna disse-me com muita certeza que era Amor. Depois toda a gente diz que não é nada provável. Bem, segundo os conceitos é verdade que não é provável. Mas pergunto: o Amor enlouquece uma pessoa? Porque eu estou completamente louca por ti.

(Roberto Matta, "Morning on Earth")