segunda-feira, 19 de maio de 2014


O Rafeiro

 

O homem começou a praguejar contra quem o tinha tornado num qualquer rafeiro numa estrada que ele dizia ser podre. Quem o tentava acalmar era atingido por pedras de infâmias tenebrosas. Ele continuava, agora fazendo previsões cruéis: os vossos campos irão morrer nas vossas mãos, seus cobardes miseráveis. Delirava, delirava enquanto tentavam amansá-lo com a brisa agradável que corre perto do rio. Mas ele, bruto e assustado, era animal sem salvação. Entregava-se às suas terríficas torturas e soltava-as na direção de qualquer alma que passasse junto dele. Massacrava-se ferozmente enquanto os outros homens queriam tirá-lo do seu inferno. Mas ele já não sabia viver fora dele.

História do cigarro

Um cigarro desorganizado cantava ao luar tudo aquilo em que acreditava e mais um par de botas juntamente com as sandálias de um verão abrasador. Ele acendia-se com a força da melodia das estrelas e brilhava incandescente fazendo o furor dos pirilampos. Tudo fervia nele: ideias rebuscadas, ideias floreadas. O cigarro era um conquistador colecionador de isqueiros enferrujados, tinha uma oficina para torná-los requintados. A sua cinza era prateada clara, parecia um rio na época das enchentes repletas de peixes grávidos. Escolhia com precisão as bocas, tinha uma predileção pelos homens com cheiro a terra arada dos campos. Quando chegava à ponta sinaleira, o isqueiro fazia o milagre de tudo recomeçar.