A zebra e a raposa
Um elefante andava em baixo e uma
lebre vestiu-se de raposa para o animar. O elefante percebeu o truque e também quis
ser outro animal: mascarou-se de zebra. A raposa aguçou o dente e quis comer a
zebra. A zebra tirou-lhe o tarot e nele viu um novo amor. A raposa deu pulos de
alegria, depois encheu a zebra de perguntas: quem é, onde está? A zebra disse apenas
que era um animal preto e branco. A raposa começou a rir-se: és tu, és boa para
o estômago mas és melhor esposa. A zebra atirou-se para os braços da raposa e
ficaram abraçadas um dia inteiro. No dia seguinte foram-se casar.
Begónias
De manhã levantei-me com o cheiro
a begónias, um cheiro que me perfumou o início deste dia, perseguiram-me até
agora, até às 17:19 de uma quinta-feira. Estava a chover, apenas levei as
galochas e fui correr por vales verdejantes. Azulei um deles e ele encheu-se de
comichão. A cada dia a minha confusão cresce, estou na parte alta de uma
montanha e não vejo um palmo à frente porque apenas há nevoeiro à minha roda. Passa
por mim um tipo de lábios carnudos e dou-lhe um beijo no lábio superior, ele
ri-se. Roubo-lhe o lábio e faço dele um dos meus porta-chaves. Quando aparece
um arco-íris conto-lhe as cores e faltam duas, fico muito contente porque é um
daqueles arco-íris que apenas aparecem um par de vezes na vida. Faço uma magia:
uma chuva de corações, as begónias ficam com odor a sol. Às 17:20 revejo as
minhas notas sobre este dia e digo: boa caçada.