Fiz contigo a seguinte aposta: dizes que não me constipo nem tenho uma gripe este inverno, estou convencida de que vou ficar com uma gripe ou com uma constipação que me vai obrigar a tomar um xarope. Se tiver de tomar um xarope dás-me à boca todas as colhers necessárias para melhorar de dia e de noite. Se passar este inverno sem me constipar ou ter uma gripe passo a encontrar-me contigo no País dos Sonhos todas as noites.
domingo, 30 de outubro de 2016
Era uma vez uma aranha e uma melga que viviam no
meu quarto e depois escrevi outras coisas
A minha Escrita é um grande emaranhado de teias
de aranha que capturam insetos que se entusiasmam ao falar sobre tudo aquilo
que vive nos vitrais que sublinham de forma pouco cavalheiresca (pois têm
demasiada pressa) todas as vontades rocambolescas do maior dicionário de fios
elétricos existente, ou seja, o tudo se resume ao meu cérebro transpirando palavras
de grande fertilidade em tons de energia sempre laboriosa, esta ativa o
oxigénio que me faz vibrar toda em saltos que têm a vontade de contar coisas
extraordinárias. Conto-vos agora um pequeno texto de valor questionável: não
sei por onde deambula a minha nova aranha, sei apenas que a melga que
sonorizava as minhas noites morreu. Gostava de lhe fazer um funeral condigno
mas desconheço o paradeiro do seu corpo magro de bisnaga assanhada e voraz do
sangue jovem que rebenta com as linhas direitas do meu quarto sempre desarrumado,
a sua desarrumação é como os números que são para dividir: números de tamanho arranha-céus
que ninguém consegue contabilizar. Por fim, estou preocupada com a conta da eletricidade
do meu dicionário atual: são vários comboios incontáveis que se de se reúnem aos
tropeções que são um bilhar sempre a pontuar e são dinamite pura ao escrever. Agora
vem o “por fim número dois”: nem acredito meu Deus celestial que vem um túnel na
minha direção, o comboio onde navego a minha vida respira notas de músicas quentes
constrói que são o rio em descida rumo a outras dimensões que vivem uma
catadupa existencial, o comboio é grande demais para ver o outro lado do túnel,
então furo a terra com um trator furibundo de um século antigo e sou o um barco
de terra firme velejando com uma velocidade de truques sem igual. Mas no meu
interior existem demasiados passageiros travessos que tornam o ar irrespirável
dentro das carruagens, peço educadamente às carruagens cheios de calor que
soltem músicas de fundo serenas pois é preciso acalmar a exaltação dos
passageiros mais duros de roer, furei também a régua que mede as distâncias e
que está sempre certa mesmo perante uma vertigem de turbulência atroz, uma
régua de plástico que tem os números pintados a verde alface, cor que faz lembrar
a vida campestre que todos desejamos nos sonhos de que imitam a infância
crianças, é uma régua que tem regras que existem para planear a vida de cada
minuto que passa célere, deseja assim ser outros minutos que desejam voar
mirabolantes. Apercebi-me então que sou um comboio astuto e devo acrescentar
que vendo bilhetes baratos para toda e qualquer viagem, com ou sem túneis. Fim Total: tenho saudades das minhas companheiras de quarto, não sei por onde se passeiam as minhas amigas aranha de teia ventilada e melga do apetite que treme tudo num raio de metros, elas tinham alugado uma cama de molas flexíveis na minha rebelde desarrumação, ela é uma relíquia de pó rangente no meu adormecer mas ainda assim ronco toda a noite, elas tinham alugado as camas traiçoeiras para um ano, onde estão as minhas queridinhas?
O teu corpo
Atenção:
este texto deu muito trabalho a escrever e devo dizer mais: o leitor deve ter em
conta que existem partes pouco percetíveis pois parece-me que a coisa saiu meia
surreal. No entanto, o texto tem grande interesse literário e aconselho a sua
leitura do princípio ao fim, não desista caro leitor pois cada frase tem vida própria e deve ser acariciada por uma leitura de olhos atentíssimos.
A mossa do Nosso carro é Nossa
Atenção com alguma calmaria e muita energia:
nestes quinze minutos que contam com mais uns segundos de sinal verde
para continuar a animação jorrante que quer perturbar os sentidos nasce a
matéria de ervas sumarentas que bebem das viagens subterrâneas, vêm ao de cima
para arder toda a vida. Vejo interiorizados flamingos voadores de patas
incandescentes que riem o sentido verdadeiro da existência voraz. Assim bêbeda
de jovialidade simultaneamente tranquila e veloz descubro palavras cheias de
répteis que deixaram de andar em fila lógica para serem livres, sentem-se escolhidos
por uma espécie de Divino. Sou livre através das palavras que me são caras, são
todas as que conheço muito difíceis de falar, invento uma palavra nova só para
este Escrito: “Laredamar”, palavra autenticada pela festa de palavras vivaças que
vai ter presença nos dicionários, é de autoria plenamente minha e vem
revolucionar a língua portuguesa juntamente com as cem palavras que fiz nascer
dentro da barriga das frases orgânicas, significa “toma o autocarro azul e
preto que te leva ao lar vigoroso da máxima proteção dos elementos do
laboratório que é a vida, no lar tens a febre da ternura vinda do sal do mar
refrescante, ela chega-te em comprimidos azuis e laranjas, são as cores dos
comprimidos que curam as doenças que enchem de minhocas de sentimento-dinamite
que invadem a fruta da primavera, és primavera e amadureces a fruta redonda bem
alimentada, toma as rédeas das novidades sumarentas e vive todas as tropelias
ao som de todos os lugares que formam cidades à tua volta. Por último vem
aquilo que muda tudo para algo que dá o sentido à tua alma intranquila pois
busca incansável os melhores versos de surpresa fascinante: Ama a vida como se
ela fosse apenas emoções de permanência na tua respiração de sangue, remata
todos os puzzles da existência com um só golpe que acorda os girinos que
desejam todos os torrões de açúcar castanho, o mais puro, para comer mais da
vida e encontra a pessoa certa para casares, assim ganharás o céu onde habitam
sóis e luas que crescem nos verões inesquecíveis que são enriquecidos pela terra
da visita dos vulcões que conhecem as receitas de um lugar belo de olhar, a
iris enche-se de lágrimas de alegria que fazem dourar aquilo que é sublime nas
flores de sabor a caranguejo que sabe andar em todas as direções, anda comigo
dourar todos os dias que nos esperam nos teus toques de recheio romântico, assim
erguemos um reboliço artístico que traz dentro de si realizarmos o Nosso desejo
de sermos o casal de felicidade jorrante”. Olha, olha, agora sinto ondas eriçadas
que esperaram horas sofridas pelo seu tempo real, ondas eriçadas que só querem percorrer
em toques de pequenos ouriços caixeiros, é uma viagem de barcos recheados de
vapor solar que nem sequer param para fazer o seu som dos animais de dente de
sabre em sorriso, mas vê que trazem as estão prendas que nem sabias que querias
hoje. Há sempre mais prendas diz-me o fidalgo pois ele sabe que adoro ser
surpreendida, hoje trouxe-me oceanos que eu desconhecia existirem e lambeu-me a
cara por brincadeira, depois disse “deita-te na cama de molas endiabradas e
tens as duas portas totalmente abertas só para ti, estou a dar o máximo para te
fazer o bem que tu deves sentir.” “Sim peixinho sou a tua boazona sensualmente
transpirada de ti, estou cheia de te bem querer e sei que tu desejas o meu
corpo que tem apenas meia dúzia de escamas azuis (empresta-me as tuas por
momentos, para eu poder sentir o mar de forma rápida, mar rico de algas verduscas
que quero provar), é teu meu Pepino de salada mista!”
A
Escrita a dar para o desorganizada das ideias ou muita coisa para falar ao
mesmo tempo: Parisi para mim
As
duas notas perfazem 5 caixinhas de Escrita, está cara a Escrita nos dias que
correm, nem gosto da cor das caixinhas, é demasiado neutra para Nós, embora
exista quem ache que é uma cor Espiritual, de grande iluminação. Talvez
concorde com isso, talvez me apeteça escrever um texto de Luz. Vejo pouca Luz
nos dias que correm, pergunto-me se ainda a fabricam? Fabrico petiscos frescos,
são mais vendidos no verão mas são como os gelados: há quem coma os petiscos todo
o ano. Aproxima-se um novo ano com um número muito Espiritual, um número que é
obra Divina: Deus vai-se aproximar ainda mais do ser humano mas não gosta de
milagres de trazer por casa e ele próprio não gosta de ser milagreiro. Os
milagres são os números de Magia encantatória dos Santos. Gosto muito do Santo
António porque ele quer casar-me com o meu peixinho de olho feliz. Sou feliz
com esse monte de escamas, apesar dele ser um peixe do qual gosto na grelha não
o vou comer, vou deixar que ele me coma, no entanto tenho pena dele pois não
devo ter bom sabor porque tenho uma alimentação ranhosa. Por falar em ranho
depois de ter deixado de fumar os meus muito queridos mentoleiros nunca mais
adoeci do trato respiratório, julgo que este ano também não vou beber xarope
com sabor a rebuçado estragado. Faz falta na minha vida o sabor a mentol, isso
não é um problema: peço ao meu pistoleiro de balas falsas (na verdade a pistola
dele é uma bisnaga mas assusta muita gente, gente mal-educada e desordeira) para
me trazer rebuçados que sejam um verdadeiro manjar pois na verdade eu sou uma
deusa e o pistoleiro que ronca a noite inteira adora-me e traz-me tudo o que eu
pedir, menos os tais mentoleiros. Até logo, agora vou beber um café de grande
qualidade em Parisi.
Os
Nossos Universos
Ele
é feroz a atirar-se à vida pois quer a vida toda a transbordar no seu sangue,
depois vem para dentro de mim mostrar o quão poderoso é. Nada disso, vem
mostrar o Amor que habita em todas as suas células, é um Amor enraizado no seu
coração e que faz o seu coração bater cada vez mais sonoro. Comigo nunca
vacila, sabe o que deseja da minha pele nua oferecida toda por mim, há um
perfume que uso na derme só para ele e que o põe doido. Festejamos todos os
momentos, há sempre festa para festejar e como ele sabe que adoro prendas dá-me
o mundo dele todo aos pedaços enormes e sempre muito coloridos. No entanto, é
sempre surpresa a dança do papel da prenda e dos laços que arquiteta, não posso
pedir, só posso pedir o Amor Verdadeiro dele que existe apenas para me fazer
feliz. Come metade dos meus croissants, come sempre a parte que está queimada
pois para mim não é saborosa mas para ele é uma viagem ao ser humano. Gasta muita
energia comigo e depois deita-se ao meu lado a dormitar a sesta dele, a meio
tem aulas sobre o aéreo. Temos todos os Nossos Universos juntos, Universos com cada
vez mais planetas habitados por emoções e pensamentos ricos em vitaminas e sais
minerais que nos alimentam durante a vida toda. Sou o seu alimento e o meu riso
é a sua comida preferida, ele gosta de se encher até ao pescoço e depois ele
ri-se mais alto do que eu, é fácil pois ele tem uma voz de homem muito grave (olha
pá, nunca faças uma greve tipo os autocarros que desaparecem durante um dia. Queres
que tenha um ataque de coração? Já basta o fígado dilacerado…), deixa-me mais
de metade da refeição pois eu sou mais corpulenta, durante os jantares e os
almoços beijamo-nos muito com comida na boca, somos muito beijoqueiros. O teu
beijo Pimento Verde é o beijo de todas as minhas vidas. Esta vida é para curtirmos
os dois juntos pois tu és o meu homem, quem mais? Tanta Sintonia existe entre
Nós, vê como ela desembainha as Nossas espadas, assim vemos todos os amanheceres
poéticos e não poéticos juntos para a Eternidade. E mais. e mais. Continua
noutro Escrito próximo do frenesim que somos juntos.
Os
dois hemisférios atacam rebentando as pontes
Era
uma vez um hemisfério esquerdo que era muito organizado, era desarrumado mas
por outro lado adorava planear tudo na sua vida de forma muito lógica. No entanto,
o hemisfério direito tinha uma grande desenvoltura, funcionava excessivamente e
nunca se cansava. A pessoa que comandava estes dois hemisférios é uma grande
Escritora, o hemisfério direito é uma beleza sem fim a misturar as palavras, já
o hemisfério esquerdo trata da gramática, tem poucos conhecimentos gramaticais
mas como é uma pessoa muito inteligente (Q.I.: 120 e de vez em quando mais um
pouco quando há festa nas cidades internas) o barco navega sempre em frente. Sonha
um mundo do Bem onde todas as casas têm sossego de alma e as estrelas nascem iguais
para todos e são luz no coração de toda a gente. Aparece do nada um pouco excêntrica
com roupa desaustinada e com frutos maduros nas mãos de ouro para dar com um
sorriso na cara. Tem dificuldades em adormecer por isso conta histórias graciosas
no quarto cheio de bons ouvintes que batem palmas no final. É de emoções em
ponto de rebuçado, feitas de dinamite e raramente envoltas de loiça partida. Está
sempre a ouvir música nas suas colunas velhas como as antiguidades mais
antigas, música suprema que varre os mosquitos do quarto. Tem muita
criatividade e imaginação por isso consegue ver o mundo que lhe parece negro
com palavras muito doces como o doce de framboesa, essa delícia que cresce
sempre selvagem dentro dela. Também é bravia e sabe lutar pelo osso do cão, tem
força para vencer os naufrágios pois inventa botes de salvação na selva que a
atira às ondas mais ferozes. Refila com as regras que pouco sentido têm,
acha-as sem nexo e quer passar-lhes por cima. Há outras regras que para ela faz
sentido respeitar mas nem sempre lhe apetece seguir o que deve ser pois o deve
ser pode ser às vezes é muito aborrecido ou limita o sangue das veias que
desejam ser ganhadores. Nem sempre é amiga dos limites, anda perto da linha
limitativa e por vezes ultrapassa os limites sem querer saber do final da
história. Leva as emoções muito a sério e estas ora lhe dão riso infindo ora
lhe oferecem momentos de angústia. Para terminar: é uma romântica incurável e
tem um jovem Escritor a quem dedica toda a sua obra, ele é também mágico e faz
aparecer no papel metade das palavras da sua Escrita. Neste momento até podia escrever a palavra fim mas não há final na vida desta pessoa pois a Eternidade é uma autêntica Verdade.
Escrevo
aquilo que me apetece, sim na Escrita sou Livre!
Viva
as letras, as palavras, as sílabas, as frases, os textos e os sinais de
pontuação, a gramática e também não esquecer os erros ortográficos (estes são
muito preciosos pois mudam a matéria das palavras e jogam à roleta russa). Viva
as personagens humanas e animais que ganham uma vida em forma de dinamite na
festa da Escrita. Em último lugar viva as vírgulas: é muito difícil encontrar o
seu verdadeiro lugar. Em último, último lugar: viva eu que escrevo muito, muito
bem, sou uma grande Escritora.
Diz
as palavras que não quero ouvir, diz que vai fazer negro no meu sol porque
desapareço da tua vida, mas ouve-me bem: fico contigo de dia e noite mesmo que
feches as tuas portas todas. Dizes que a minha voz está a mais no teu mundo mas
eu tenho muitos mundos para descobrires os seus sentidos, abriga-te dentro de
mim pois a vida tem muitas tempestades, saberei ser a tua proteção. Sei que sou
uma canção alegre, ouve-a do princípio ao fim e fica a ver todos os pores-do-sol
ao meu lado, dou-lhes o nosso nome conjunto, dou-lhes mais claridade. Serei a
tua maior aventura num crescendo de prazer que dá muitas reviravoltas deliciosas
que serão a surpresa dos teus dias mais mortiços. Dizes que já não há magia nas
minhas palavras, no entanto tenho um dicionário só para ti com palavras de Amor
recheadas dos melhores sabores que já provaste. Prova-me uma vez mais, serei um
barco navegando rumo ao lugar que sempre desejaste para embelezar a turbulência
do arco e flecha que rima contigo.
Telescópio+Estetoscópio
Tenho um telescópio
para observar as letras que tens no teu céu em forma de sol, um sol de olhos
jubilosos que me oferecem os teus tons de vida roliça, vida roliça que é cheia
de casamentos entre pássaros. A palavra Sofia é um dos raios mais luminosos e
eu sinto-me bela quando tu respiras o meu nome. Sento-me na areia molhada de
uma praia agitada, uma praia intranquila como eu e mergulho nas vértebras que
te constituem, continuas a escrever o meu nome mas agora pescas sinónimos de
Sofia pelo mundo inteiro. Quando regresso a casa encontro-te com o Nosso estetoscópio,
está preparado para a consulta diária, tu ocultas-me e depois eu faço-te o
mesmo: a saúde do Nosso Amor vai bem obrigada, sei que vai estar sempre bem
pois há sempre um prazer alegre em Nós e nas conversas que inventamos.
Imaginamos juntos as raízes das histórias e depois damos-lhes pés e cabeça, as
histórias vão ao Nosso recreio surpresa e brincam com as palavras, as frases e
os pontos de exclamação. Ao teu lado sou ponto de exclamação pois tens sempre
mais pétalas e mais pétalas a desabrocharem para mim, ao teu lado sou o lustre
mais esplêndido.
P.s.:
quando me osculaste deves ter ouvido o meu pulmão esquerdo a queixar-se muito,
por isso agora durmo com duas almofadas e respiro melhor, fico alta como a
minha coroa de princesa encantada por ti, encantada por seres um príncipe
sempre de cor dourada que encadeia o meu olhar mais mortiço, logo és radiante
junto de mim e eu sou formidável
Dentro
do meu cérebro
Entraste
apesar de não existir uma porta, entraste pelos poros alvos e já conheces o
caminho até aos meus dois lóbulos, um cheio de raciocínio ilógico e o outro
sempre emocionado. Sinto bem a tua presença no meu cérebro, tens uma presença
muito vulcânica, nem sei bem o que fazes no meu interior mas é coisa boa. Pergunto-te
o que te estimula dentro de mim, respondes: “observo o funcionamento dos teus
neurónios”. “Mas é sempre igual, não te aborreces?” pergunto. “Olha que não, é
sempre diferente”. Fico perplexa, “o que será que se passa no meu cérebro então,
que malabarismos andas a aprontar”. Explicas melhor: os meus neurónios passeiam
sempre com neurónios diferentes para criar o meu mundo tão diversificado.
Continuas a explicação: “eu faço parte do passeio dos teus neurónios, já fiz
grandes amizades entre eles, quase todos me conhecem”. Pergunto-te sobre a
impressão que sinto em vários sítios do meu cérebro, a tal presença que
mergulha em mim, tu respondes: “é uma ardência cheia de força”. Rio-me pois sei
que aquilo que tu queres é sentir tudo em mim, sei que isso acontece e também
tenho uma ardência cheia de força que te alimenta a mil à hora.
Os
ratos e o vinho
O
rato Esqueleto foi visitar a sua amiga ratita Champanhe e levou duas garrafas de
vinho tinto (atenção: as garrafas eram de humanos e portanto tinham excesso de álcool
para ratos). O Esqueleto andava em baixo pois tinha mudado de casa e não estava
satisfeito com a mudança, mal a Champanhe entrou queixou-se: “esta casa parecia
espaçosa mas é mais pequena do que a outra e tive de comprar sofás novos mais
pequenos. Não gosto deles mas eram baratos.” Sentaram-se os dois no sofá a
beber o vinho. A Champanhe entornou um pouco de vinho no sofá e desfez-se em
desculpas. Olhou melhor e disse: “Esqueleto e se fizéssemos mais umas manchas
de vinho no sofá, ficava mais animado, ia ficar parecido com os buracos da lua”
O Esqueleto estava por tudo e concordou. No entanto exageraram e o sofá ficou
totalmente manchado. Riram-se os dois já bastante alcoolizados. Passada uma
hora estavam bêbados que nem um cacho, a Esqueleto disse “estas paredes
precisam de animação, que tal mais um pouco de vinho?”. Em cinco minutos as
paredes estavam todas bordô pois eram apenas vinho. A Esqueleto disse: “ainda
temos mais vinho, vamos pintar a casa toda e assim já vais gostar mais dela.” O
Esqueleto disse que sim e divertiram-se a encharcar a casa de vinho, pintaram
todas as divisões. O Esqueleto apercebeu-se que a casa cheirava muito a vinho: “só
o cheiro dá para um rato se embebedar”. A Champanhe lembrou-se que o Esqueleto
tinha algumas guaches de quando andava armado em pintor, foi buscá-las e
pintaram as paredes com desenhos de ratas nuas em posse provocadora, também
pintaram queijos variados, especialmente queijos gourmet. De repente repararam
que tinham vinho pelo joelho, a casa agora parecia uma pequena piscina, então
tomaram um banho de imersão longo. O Esqueleto disse: “li na Revista ’Queijo
Fresco’ que o vinho tinto faz bem à pele, é revigorante para a epiderme, a
minha pele de rato velho está mesmo a precisar disso”. Champanhe riu-se e disse
que tinha uma surpresa para ele, então foi buscar chocolate de queijo Beaufort
e comeram-no em três tempos. O Esqueleto também tinha algo para a Champanhe:
doce de queijo Sainte-Maure de Touraine,
era um dos favoritos do Esqueleto, ele dê uma dentada que deu cabo do doce de
queijo. Estavam nas suas sete quintas: bem bebidos, bem comidos e com uma casa
feita da arte dos dois. Entretanto chegaram os bombeiros, o vizinho do Esqueleto tinha
chamado os bombeiros pois a sua casa estava inundada de vinho. Quando os
bombeiros se aperceberam o que se tinha passado riram-se muito e também beberam
uns copos de vinho com o Esqueleto e a Champanhe. Quando o Esqueleto lhes
mostrou a casa eles tiraram muitas fotografias para postar no facebook. No dia
seguinte os posts da casa do Esqueleto tinham sido vistos por uma multidão de
ratos e estavam cheios de likes. Nesse mesmo dia apareceram muitos ratos à
porta da casa do Esqueleto para verem com os próprios olhos a casa pintada de
vinho, estavam particularmente interessados nas pinturas das ratas nuas:
estavam tão bem pintadas que pareciam reais. No dia seguinte aconteceu algo
estranho: os queijos gourmet tinham desaparecido das paredes, Esqueleto percebeu
logo o que se tinha passado, as ratas precisaram de comer. Fim.
Tu
comes
Gosto
quando torces o nariz aos meus rebuçados de flor de laranja com as cores da
guache, a brincar dizes que pinto mal a realidade fogosa que vejo. Dizes: “tu
sim és fogosa pois a tua chama é alta como as árvores antigas que cresceram
demasiado.” Sei que nunca estás estático, és movimento em permanência ocular, o
que vês alteras para um bem de consumo rico em vida bela. Sonhas comigo especialmente
quando dormitas enroscado em mim, parecemos dois gatos amigos que se aquecem
numa noite gélida de um inverno a dinamitar pela primavera. És complexo e os
teus pensamentos são ferozes como um leão saboreando uma gazela ainda viva. Como
é bom comer a vida estás sempre a dizer-me, tu sabes aproveitar cada pedaço de
floresta tropical e gostas quando a chuva não deixa ver o caminho pois os
pingos são grossos como as pétalas de flores de tamanho grande.
Não
sou um ser de rebanho pois pincelo o meu mundo com cores fabricadas em horas de
horizonte esborratado, horas desacertadas quando as palavras ganham novos
significados. Significados que começam com a letra ouro porque têm uma natureza
arriscada que cria vulcões no meio da terra calma, o ouro surge quando os
vulcões atiram as suas vozes ao ar. Gosto de ser magma, aquele magma que vê
tudo como um recreio e passeia-se pelas nuvens de formatos incógnitos, é um
magma que descobre que nada tem limites. Quando sou falésia distraio o mar com
adivinhas, quando ele não tem resposta atira-se contra as minhas rochas e nasce
areia misturada com a sonoridade jorrante das gaivotas. O que eu sou mergulha
com força na vida pois deseja participar na força que empurra o mundo para um
lugar de orquestra de ritmos que iluminam toda a seiva existente.
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