quarta-feira, 25 de novembro de 2015


“O verdadeiro amor não nasce  das sombras do desejo. É fonte cristalina e inexaurível do espírito eterno”.

(Francisco Xavier)

sábado, 14 de novembro de 2015

"O amor pode fazer um cão ladrar em versos."

(John Fletcher)
Desapareceu

As minhas vísceras escondem-se do mundo que só as sabe atacar, elas escondem-se mas nunca bem demais, por isso, elas sentem golpes fundos de espadas mais do que afiadas. Perdi-me e a paisagem não me diz nada acerca de um possível caminho, a paisagem desapareceu. As minhas pernas tremem, tropeço e caio: “outra vez, outra vez no chão”, digo em desespero. Há uma estrela no céu mas brilha tão pouco que mal a vejo, falta-lhe a vida que me falta a mim. Chego até à estação de comboios e oiço um aviso: “não partirão mais comboios a partir deste momento”. Sento-me num banco da estação e fico ali para a eternidade.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O meu filme

Ela estava no seu canto tentando sossegar-se, ainda assim sentia-se muito fraca. A sua pulsação era estranha: quase não tinha pulso mas, ao mesmo tempo, estava com taquicardia. Por vezes não se sentia nada bem e hiperventilava, nessas alturas receava ter um ataque de pânico. Então, tentava acalmar-se. Na verdade, ela passava os seus dias a tentar acalmar-se. Agora doíam-lhe as costas, os músculos estavam demasiado hirtos para fluir normalmente: “são os nervos, atacam-me sempre alguma coisa”. Ela enganava-se nos caminhos, não percebia que a relva não pisada significava uma rua sem saída. Tinha medo de atravessar estradas sem orientações, algo que dissesse: “parem, agora vou passar”. Ela queria passar, queria passar há já muito tempo, mas existiam tantos obstáculos, os dos outros, os dela. Os dela eram um carnaval de terror, os dos outros eram um inferno. Ela não exagerava, simplesmente ninguém olhava com atenção para ela, então, passava despercebida. Um dia entrou num sítio bonito e sentiu tonturas, não estava habituada a sítios bonitos, foi-se embora rapidamente. Ela gostava muito de ver filmes e pensava que a sua vida dava vários filmes, um deles podia chamar-se: “Um dia o meu coração acelerou”.

domingo, 8 de novembro de 2015

Ia em sentido contrário e ninguém disse nada. Nem queria acreditar que não me estavam a chamar a atenção. Fiquei feliz, finalmente tinham desistido de querer que eu fosse igual a eles. Andei muitos quilómetros em sentido contrário, quando cheguei ao cume de uma montanha gritei bem alto: “sou livre!”, nesse momento tornei-me na própria Liberdade. 

sábado, 7 de novembro de 2015

À flor da pele

Senti a tua presença antes de chegares a mim, acontece sempre isto, a razão está relacionada com ter sempre a flor da pele à tua espera. Passaste-me a mão pela face e sentia-a bem no meu âmago. Perguntaste-me o que se passava pois não me conseguia quase mover: “és tu, deixas-me assim, sem reação.” Riste-te e perguntas-te se isso era bom ou mau. “Tens demasiada influência sobre mim, fazes-me querer-te sempre demais, é bom se quiseres fazer-me bem.” Querias, disseste, já o sabia, e fazes-me sempre bem. Disseste que sempre tinhas sido ternura comigo, tratando-me como uma princesa. Gosto de ser a tua princesa, e gosto de te levar no meu coche real. Quiseste dançar, mas não havia música, dançámos na mesma, e eu senti-me num voo intenso feliz. “Ninguém me faz sentir assim”, disse-te. “Assim como, completamente encantada”, perguntaste. Ri-me, gostei da expressão e pensei que eras a pessoa indicada para mim. “Deixas-me a respiração fora de sítio”, disse-te. “Então quero a tua respiração”, disseste com o olhar à flor da pele.
A praia

Estava a estupidificar-me em casa, peguei neles todos e fomos à praia. Estava um calor do caralho, o pessoal não gostou. Meti os meus pezinhos nus na areia, o pessoal passou-se: estava a escaldar! Dei uma corrida até à areia molhada e abanquei o meu chapéu-de-sol num sítio calmo. Pôde, então, relaxar um pouco. Mas eis que tinha de pôr o creme solar. Peguei naquela bodega oleosa e espalhei-a pelo corpo, sempre a queixar-me. Procurei um gajo giro e pedi-lhe para me pôr o creme nas costas e, quando ele o fez, até me arrepiei pois ele tinha umas mãos de anjo. Depois fui até à água. Estava com uma cor fantástica e pensei, ingenuamente, que podia tomar um banho. Quando meti os pés dentro de água o pessoal marou: “vais tomar banho!? Perdeste a cabeça!”, pois água parecia gelo. Estava completamente fora de questão tomar banho, então, meti o rabo entre as pernas e fui descansar para a minha toalha. Estava um calor do caralho ao sol, o pessoal começou a chatear-me a cabeça. Foi-me pôr debaixo do chapéu-de-sol, estava uma sombrinha agradável. Apesar de pouco me mexer, às tantas, estava cheia de areia. Eles não paravam de se queixar e eu perdi a paciência, mandei a puta da praia à merda e fui para o café.
Estou num lugar que sabe a estranho e que sai fora dos eixos. Ideias difusas caminham na minha cabeça e continuam difusas porque não há uma conclusão decente. Escrevo a giz aquilo que apago de seguida e o que não apago não me agrada. Tudo é confuso em mim e o caos é a minha verdade. Estou a envelhecer e tremo perante esta realidade, não quero perder a pele pois é tudo o que eu tenho.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015


Estou completamente apaixonada por ti

Sei que queres que te repita a frase cinco estrelas: “estou completamente apaixonada por ti.” Quando ta repeti transformaste-te numa juba de leão branco brilhando ao sol. Agora que tens barba podemos ir ao cabeleireiro os dois dar um corte. Foste contrariado, mas não tiveste outra hipótese, precisava da tua valiosa opinião relativa ao meu corte. Depois, fomos comer gelados, eu pedi uma bola de café e outra de avelã, tu quiseste uma bola de framboesa e outra de cereja. Disseste que éramos como as cerejas, andávamos sempre juntos, e fez-se magia: começou a chover cor-de-rosa. Soube logo que tinhas sido tu a provocar a chuva, soube também que ela caia apenas para mim. Tinhas um chapéu-de-chuva muito engraçado, a sua estampa eram cavalos livres, ofereceste-mo e dancei à chuva com ele. Disse-te outra vez: “estou completamente apaixonada por ti”, e caíste-me nos braços. Os meus braços são muito grandes, cabes bem no seu entrelaçar, és perfeito para eles. Fomos comprar um pijama para ti, pediste-me para eu te escolher um e eu escolhi o das borboletinhas, disseste logo que era a tua praia. Estamos no mesmo tabuleiro, as minhas rainhas casam com os teus reis e não andam em cima de cavalos. Os cavalos são livres como nós dois juntos. Disse-te um dia: “não há maior liberdade do que a liberdade do Amor”, sinto-o tanto em mim porque sei que és sempre vento na minha direção. A seguir fomos comprar botões para a minha coleção de botões, estava a levar metade da loja comigo, tentavas não te rir mas rias-te à mesma. Tantas coleções, as nossas coleções, vamos fazer mais uma coleção? Tu zangaste-te comigo, não tínhamos espaço para mais uma coleção, e as coleções que tínhamos mal cabiam na nossa casa, tinhas de fazer uma enorme ginástica de cabeça para tentar que elas coubessem todas no mesmo sítio. Nunca ficas zangado comigo durante muito tempo, nem eu contigo, somos rápidos a renascer das cinzas, fica tudo bem rapidamente. Escrevo o teu nome numa parede e tu, por debaixo, escreves o meu, e desenhas um enorme coração vermelho cornalina à volta dos nossos nomes, à volta do coração escrevo: “Para a Eternidade. E mais. e mais.” Saltas de alegria, queres mais, então digo-te: “és único e és apenas meu”. Sentes-te muito feliz e mostras-me uma prenda que compraste quando eu não estava a ver: um cobertor azul-cobalto que irradia calor. Caí-te nos braços, estava radiante com o cobertor novo que ia fazer parte da minha coleção de cobertores oferecidos por ti. Disse-te: “sabes o que me apetece agora? O teu calor no meu interior”. Saltaste para dentro de mim ardente, quase me queimei.
Sou a maior

O meu pelo estava eriçado porque andava aborrecida, isso, já se sabe, é algo que está muito errado. Então, respirei fundo e pus-me a escrever à velocidade de um vento forte, libertei-me de algumas amarras internas e escrevi tudo aquilo que me veio à cabeça. Agora tento descansar mas o vento forte não me deixa. Tomei os meus comprimidos todos, já estavam esquecidos, tomei-os com chá de jasmim, souberam-me a pétalas de alecrim. Varri os meus fios elétricos todos para um canto do meu cérebro, se querem fazer estragos façam apenas num sítio limitado. Sei ao que vêm esses fios, querem baralhar-me os circuitos todos, pôr-me a fazer demasiadas contas. Contas do género: será que evento x vai acontecer? O maior evento de todos é a minha existência, sou a maior! O chá de jasmim e as pétalas de alecrim continuam a inundar a minha boca, estão num canto do meu céu-da-boca longínquo, ainda assim sinto os seus sabores intensos. Talvez conseguiam parar o descalabro que os meus fios elétricos estão a causar por mim toda. O vento forte está cada vez mais forte e traz consigo uma pequena tempestade. Não tenho medo da tempestade, já venci tempestades maiores do que esta. Grito-lhe: sou a maior!, ela amedronta-se e vai-se embora. Sou corajosa, o que escrevo faço, o que fiz até aqui foi não parar de me erguer. Não precisei de levantar o meu queixo, levantei a caneta e escrevi: não posso viver sem mim. Sempre que fico muito triste, sempre que me apetece morrer lembro-me: não posso viver sem mim. Nem sempre resulta, às vezes demoro mais a acordar. Os meus fios elétricos embaralharam-se completamente, será mau sinal? Sinto-me esquisita, há um tremor interno que está cada vez mais solto. E agora? Se me descontrolo perco o pé, e eu quero andar sempre de pé. Paro para pensar, penso durante algum tempo e, de seguida, vou pousar nua para uma aula de pintura. Essa atividade dura pouco tempo porque não consigo parar quieta, segue-se outra atividade: entrar em rota de colisão comigo mesma. Sou perita nessa atividade, nalguns desses momentos contradigo-me, é algo que está muito errado. Verde e azul não são a mesma cor. Mas uma serpente à minha beira diz-me que sim, ela chama-se ternura. A ternura é uma coisa que me é muito querida, tenho disso aos molhos, mas ninguém quer os meus molhos de ternura. É pena, dou uma ótima lareira. Existem dias em que as minhas chamas atacam o meu corpo e fico com demasiado calor, não adianta despir-me, a única coisa que adianta é não pensar tanto em ti, mas isso é uma tarefa quase impossível. Então penso, penso que podias estar comigo a fazer coisas boas. Sou uma avalanche que ultrapassa obstáculos difíceis de ultrapassar, por vezes, passo por cima de mim própria, é algo que está muito errado. Tudo é temporário, tenho de me lembrar disso com mais frequência, sou muito pessimista e, quando estou no meio de uma tempestade, penso que ela nunca vai passar. Mas conheço, também, os sons da alegria, somos grandes amigas e, quando nos juntamos, há sempre festa. Comes e bebes há sempre, ela traz umas quantas bandas musicais, depois é ver-nos a subir, em fogo-de-artifício, pelo céu fora, o céu infindo é nosso. É tudo nosso porque somos as maiores! O vento forte diz-me para parar de escrever agora, já disse muita coisa. Queria repetir, terminando esta escrita toda: sou a maior!, e vivo porque não sei viver sem mim.
B.

Vinha de fato e gravata e queria que o tratassem por B. B. era a inicial do seu nome, queria que o tratasse assim porque não queria que soubessem o seu nome completo. Um dia, do nada, surgiu um ladrão à sua frente com uma grande pistola, queria roubar o seu nome mas ele não cedeu. Disse-lhe apenas: B. O ladrão quis saber mais e puxou de outra pistola, ainda maior. Ele disse não ter medo, então, o ladrão apertou-lhe o nariz. B. aí teve medo e tentou fugir, mas surgiram os amigos do ladrão. Cercado, B. teve de ceder: B. de Bicho, disse. O ladrão e os seus amigos começaram a rir-se muito. B. sentiu-se muito ofendido e virou bicho: comeu-os a todos e guardou, na sua coleção de brasões, as pistolas que estavam meias birutas.


No meu parque de diversões podemos andar nos carrinhos de choque, estaríamos sempre a chocar e, assim, podíamos estar a namorar o tempo todo. Depois, saltavas para o meu carrinho e eu guiava-te rumo aos meus lugares desconhecidos, esses que sempre quiseste conhecer para eu poder nascer mais no teu interior. Ias até eles no comboio fantasma e, quando eu te tentava assustar com as minhas aranhas gigantes, tu apenas te rias. No final, surgia um baloiço mágico que te levava até à discoteca mais colorido-luzente jamais existente. Estava a dançar no meio da pista rotativa, tu vieste ter comigo e abraçaste-me. As luzes baixaram para darmos um beijo, feita marota molhei rapidamente os meus lábios nos teus, nunca tinhas provado um beijo tão bom e ficaste todo rosado. De seguida, sentámo-nos na mesa mais in da discoteca e começamos a filosofar, tu disseste que o caminho nunca é longo demais, eu disse que nem sempre conseguíamos encontrar o caminho. Depois, disseste que o caminho até mim tinha sido muito árduo, mas aquilo que era longo era o que estava para vir: uma longa passadeira vermelha esperava-nos, vinha aí vida boa. Pensei durante um bocado e rapidamente acreditei em ti. Fomos até ao bar e pedimos um garrafa de champanhe para comemorarmos esses novos dias e declaraste-te:” és tudo para mim, sonho um mundo maior para nós dois.” Disse-te apenas: “vamos andar nos carrinhos de choque.”
As doenças

Estava com muitas dores de costas, ficaste muito preocupado e foste logo buscar uma pomada especial para elas. Mas o pior não eram as costas, era a gripe que se abeirou de mim. Fiquei febril e tu foste buscar um mega comprimido para a minha febre. Disseste que tinha de beber muitos líquidos para não desidratar, depois acrescentaste para me assustar: “podes morrer assim”, apenas querias que bebe-se líquidos suficientes. Comecei a tossir muito, então, foste buscar um super xarope e meteste na minha boca uma mistela verde com um sabor pastoso. Comecei a espirrar, trouxeste-me um rolo de papel higiénico. Quis rir-me mas, no meio de tanta tosse e de tantos espirros, era impossível. Quis fazer chichi, não quiseste que me levantasse da cama e foste buscar um alguidar. Não disse nada, fiz o meu chichi muito sossegadinha num canto da cama, nada saiu de dentro do alguidar. Comecei a ter fome e trouxeste-me uma horta inteira para comer. Comi meia dúzia de coisas e pus o resto debaixo da almofada para comer mais tarde. A gripe lá se acalmou, já nem um pingo de febre tinha, então, deitaste-te na cama a descansar. Quando acordaste, duas horas mais tarde, eu tinha uma artrose rara e precisava de cuidados imediatos. Sobressaltado, folheaste o teu “Livro de Socorros para Pacientes Difíceis” e enfiaste-me dois comprimidos “qualquer tipo de artrose, por mais rara que seja” pela goela abaixo. Melhorei imediatamente e disse-te: “por hoje já chega de doenças, amanhã brincamos mais.” Puseste a tua cabeça na minha barriga e adormeceste novamente. 
A procura

Quando cheguei já tinhas partido, fui atrás de ti pois não sabia viver sem ti. Encontrei uma ex tua e pensei que tinhas voltado para ela, mas não, respirei de alívio. Continuei a minha procura, encontrei uma meia tua e pensei que estavas perto, mas não, a meia já estava ali há muito tempo. Perguntei por ti a todos os países mas ninguém sabia de ti. Comecei a desesperar e, então, escrevi-te uma carta que dizia: “o meu Amor Verdadeiro precisa do teu.” Deitei a carta ao mar e esperei. Sentei-me no nosso sofá de veludo cornalina e esperei por ti. Esperei muitas horas até que adormeci, quando acordei estavas de volta. Perguntei-te onde tinhas estado: “a beber um café, desculpa se demorei muito.” Perguntei-te se tinhas lido a minha carta: “li agora mesmo, o meu Amor Verdadeiro também precisa do teu.” Sentaste-te comigo no nosso sofá de veludo cornalina e mostraste-me o que estava escrito numa carta que me tinhas enviado: “moro no interior do teu coração e apenas sei viver aí.”

Conheces todos os meus dias, nos meus dias não trazes-me a tua beleza única para me tentar animar. És único e és apenas meu. Conheces-me como ninguém, até me dás novos nomes, nomes que nunca me lembraria. És um tesouro de tudo, no teu interior encontro a minha felicidade. És único e foste feito para mim. Conheces a minha pele e costumas amaciá-la com o teu fogo atribulado. Aprendi a dançar contigo, há dias em que me levanto apenas para nos ver bailar. És único e quero-te sempre junto de mim. Traduzes a minha linguagem para algo mais compreensível, o que quero dizer dizes melhor do que eu. Quando joaninho tu joaninhas comigo, voamos sempre em Sintonia. És único e adoro quando te faço xeque-mate. 
Perto

Tentei dormir mas foi em vão, o meu corpo mexia-se muito. O meu corpo, de vez em quando, é muito emotivo e deixa transparecer essa emotividade através de movimentos involuntários que não me deixam dormir. Andava a esconder certas coisas mas esta noite o meu tesouro foi descoberto pois disse mais do que queria. Disse o teu nome tantas vezes que o quarto ficou surdo, disse o teu nome tantas vezes que já não sabia o teu nome, perdi-me nas suas letras. Fui visitar uma árvore caída, ela culpou-me imediatamente pois tinha sido eu a derrubá-la, pedi-lhe desculpa e ela aceito sem pestanejar pois precisa de mim para a regar. Reguei a cabeça para que surgissem novos pensamentos, mas foi em vão pois continuei a dizer o teu nome. O Francisquinho ursinho também não conseguia dormir, abracei-o com muita força e contei-lhe um segredo: “a felicidade está perto de nós.” Ele já sabia e disse-me: “mais perto do que julgas.”
O triciclo

Nádia andava no seu triciclo em contramão, não tinha medo pois acreditava que estava protegida por uma estrela. A sua estrela não sabia guiar e Nádia teve um pequeno acidente. No entanto, Nádia achou que tinha sido um acidente muito grave e chamou o reboque para levar o seu triciclo para arranjar. O triciclo disse-lhe que não precisava mas ela insistiu. Foram os três para o arranjo: o triciclo, Nádia e a sua estrela. Quando chegaram à garagem, o mecânico disse que o triciclo não tinha nenhum problemas, mas quis arranjar a estrela de Nádia, disse que brilhava de menos. Nádia não quis mas, quando surgiu a noite, pediu às outras estrelas para iluminarem a sua estrela. Então, a estrela recebeu muito brilho e, depois, pirou-se com o triciclo, foi curtir a vida.


Gosto de açúcar, fico mais docinha por dentro quando o devoro pois fico parecida com o algodão doce, o cor-de-rosa, aquele que lembra um fim de tarde esplendoroso no olhar de uma alma perdida. Meço a minha vida com colheres de açúcar, pequenos momentos e momentos maiores. Quando me encontro num momento maior pinto-me de arco-íris e irradio as suas cores todas. 

O meu porto é o mesmo do que o teu, partimos sempre juntos e regressamos sempre um ao outro. Nutrimos um estranho sentimento, um estranho sentimento que tem um nome simples: Amor Verdadeiro, um sentimento que vem connosco em todas as nossas viagens, ele é tudo para Nós. Partimos juntos num só barco porque somos dois barquinhos Amando-se, somos dois barquinhos nadando no interior um do outro. Nasceste para me navegares e eu nasci para percorrer as tuas águas, por isso estamos um com o outro. Sei que não gostas de remar por isso pego nos remos e passeio pelas águas despertas, sentindo apenas o som da tua canção no meu interior. Trouxe-te o lanche: dois pães-de-leite e um leite com chocolate da Mimosa. Como és gulosa, antes de meio da viagem, já o estás a comer sofregamente, rio-me apenas, não vale a pena dizer-te para teres calma. No entanto, perguntas-me se quero um bocado. Claro que quero, quero um dos pães-de-leite, mas fico-me por uma dentada, sei que gostas mais de pães-de-leite do que eu. O lago tem uma estranha cor, faz lembrar ciano, talvez seja uma cor prima dele. De repente, olhas para mim e os teus olhos brilham muito, pergunto-te o que se passa: dizes-me que te levo ao Paraíso. Pergunto-te: “como assim?” Dizes que sou feito de pedras semipreciosas muito valiosas, encantas-me dizendo que nunca conheceste ninguém tão valioso como eu. Tenho uma surpresa para ti, mostro-te uma torta de laranja e os teus olhos brilham ainda mais. Dividimos a torta embalados por uma brisa suave luminosa, e sempre abraçados ao ciano. Quando regressamos ao porto pedes-me para andar de carrossel. Sabia que ias pedir-mo e vim preparado, ponho-te às cavalitas e danço contigo o resto do dia. 
Poros

Comi um iogurte natural cheio de açúcar, tem de ser cheio de açúcar pois o iogurte natural tem um sabor muito ácido. Às vezes também gosto de ter esse sabor, por isso como muitos limões. O sabor ácido ajuda-me a deitar fogo pelos meus poros, gosto de fazê-lo em noites especiais, noites a dar para o estranho em que fica tudo desencaixado. Gosto de encaixar tudo, fazer puzzles que me fascinam. Hoje desenvolvi bastante o tema “sexo”, talvez porque me apeteça fazer sexo. Parece-me que sim. É sexta-feira à noite, estou a aprontar-me, não tarda nada saio de casa e vou caçar homens, esta noite vai acabar comigo a fazer sexo. Hoje quero um tipo loiro, bem vestido, de fato e gravata. Sei onde tenho de ir, sou muito experiente neste tema e safo-me bem. Será que sei despir um fato com gravata? Parece-me mais um puzzle. Mas faço este puzzle com uma mão atrás das costas, sou perita em puzzles. Sou uma pessoa cheia de perguntas, apressada em obter as respostas. Sei que a coisa não funciona assim, as respostas aparecem a seu tempo. Mas sou do género muito ansiosa e não quero esperar. Os meus poros estão a fermentar o fogo, mas tenho de ter atenção, às vezes, a coisa corre mal e fico com os poros rebentados. Ele ri-se, sabe que gosto de ficar com os poros rebentado, por vezes, isso acontece por causa dele. Adoro quando ele faz isso, é quando me sinto mais contente. Ele espera o momento mais indicado pois gosta de me surpreender. Ele é a minha Alegria, e sabe bem disso. A minha garrafa de água parece que foi esmurrada, isto porque estou sempre a beber água e quando o faço sou sôfrega. Passo os dias na casa de banho a mijar, mijo completamente os canos, devo ser a pessoa que mais mija no meu prédio. Continuo com fome após o iogurte, mas um iogurte mal tira a fome. Não tarda nada vou comer margarina, é o que existe no frigorífico. Habitam ninhos no interior da minha cabeça, é só passarada dentro de mim, fazem muito chiqueiro mas cantam muito bem. Ensino-lhes canções inventadas por mim e eles atinam com elas, nunca desafinam. As canções que invento são cinco estrelas, é muito luxo. Vivo de uma forma muito luxuosa, viajo sempre em 1ª classe, deixo-me penetrar por ti e encontro a melhor viagem do Mundo. Bem, estou pronta, vou para a noite sacar o meu loiro. 

Era verde e depois transformou-se em azul, era azul e depois transformou-se em verde. Tinha árvores frondosas e águas bravias que se passeavam por debaixo de pontes que nos ligavam. As pontes eram em forma de aliança, estávamos ligados para sempre. O verde só gostava de estar com o azul e o azul com o verde. Nós apenas gostamos de estar um com o outro. Quando digo gostar digo gostar muito, o maior gostar que já existiu. Ofereceste-me o verde, era demasiado verde, mas eu tinha, no meio de todo o meu azul, um lugar para ele. Sorri-te azul e tu desejaste mais, então, fabriquei mais azul para te dar. Nós passeávamos por cima das pontes, elas eram nossas, gostávamos de lhes dar nomes, de cada vez que íamos até às pontes dávamos-lhes nomes diferentes. Um dia quiseste chamar-lhes azul, mas eu queria chamar-lhes verde, houve uma discussão. No final, surgiu o ciano, ficámos os dois contentes. Estávamos sempre contentes, exceto quando te desviavas da verdade, zangava-me mas rapidamente estava a dizer-te palavras bonitas: umas começavam por azul, outras por verde. 
Sabedoria

Já estive a semi-dançar trance para ver se não adormecia, depois bebi um shot de café. A coisa voltou a piorar, então, pus-me a ouvir música house e bebi mais um shot de café. Não se pense que me estou a tentar embebedar numa sexta-feira à noite, apenas quero manter-me acordada. Hoje não sai de casa, não me arrependo, estive tão bem no meu quarto sozinha a curtir durante todo o dia, não podia ter sido melhor. Escrevi bastante e isso pus-me muito bem-disposta, ainda para mais o que escrevi saio-me bem, o que comprova, mais uma vez, que sou uma ótima Escritora. Ainda bem que me faço estes elogios, mais ninguém mos faz, mas isso é porque não escutaram a minha Escrita com atenção. Sei que sou boa, é bom ter esta Sabedoria. Será que tenho muita Sabedoria? Às vezes parece que sei tão pouco, no entanto, ainda bem que há muito mais para saber. Será que um dia chego a ser a Sabedoria? Depois preciso de ter alunos, quem sabe poderei ter discípulos. Talvez já não esteja a dizer coisa com coisa, talvez precise de mais um shot de café. Mas, se me embebedo, quem trata de mim? Sei que és tu, tu que estás sempre ao meu lado, andas a seguir-me, já percebi. Afinal diz-me: “o que pretendes de mim?” Ele ri-se: “estou apenas a olhar para ti”. Sei que é mais do que isso, ele vai-me possuindo sem eu dar por isso. “Serei a tua ressaca”, diz-me. Eu rio-me: “o que tenho de te dar em troca?”. Ele responde: “os teus olhos azuis”. “Depois como vejo”, questiono-o. Ele responde-me: “eu vejo por ti, depois envio-te relatórios.” Rio-me novamente e digo-lhe que o acho muito divertido: “temos um humor parecido”, acrescento. Ele alegra-se por me ter feito ficar contente, sabe que não ando muito contente nos dias que correm: “deixa estar que viro a corrente.” “Já vi que sim, quero ofereço-te uma garrafa de shots de café pois graças a ti a coisa tem estado melhor, bebemos os dois juntos”. Ele aceita a minha prenda e quer oferecer-me algo também, estende as mãos: um rio de peixes muito coloridos apresenta-se perante os meus olhos azuis. Os peixes entram nos meus olhos azuis e nadam freneticamente fazendo-me cócegas, era isso que ele queria, alegrar-me mais e mais. Agradeço-lhe de coração, ele sabe que este gesto faz toda a diferença neste preciso momento. Continuo a ouvir house, ainda tenho shots de café mas agora faço uma pausa. E a Sabedoria? Está bem obrigada mas precisa de mais Sabedoria, anda muito tristonha, sentindo-se meia abandonada, tenho de tratar dela como quem trata de um pequeno pássaro ferido. Exagero, claro está. Os pequenos pássaros feridos vão para os cuidados intensivos e safam-se sempre. Será que me safo, tenho perguntado muito isso nos últimos tempos. Ando muito nervosa por causa disso, durmo muito mal e acordo para dias em que não me apetece viver. Pois, é isto que quero evitar, esta onda mais depressiva, então, tenho um plano: combater a onda depressiva, fodê-la toda. No entanto, não tenho como fugir: sinto que estou à beira de um precipício, nem olho lá para baixo, mas sei que posso cair. Se cair levanto-me, conheço este processo de cor, mas foda-se, depende do princípio, dizem que existem certos precipícios que não é possível a pessoa levantar-se. Que medo! Mas tenho um historial de cai, levanta, é a minha cena. Na verdade, o que é mesmo a minha cena é brilhar muito. Acendi tantas velas ao meu brilhar muito, de certeza acontecerá. Falei com Deus, sei que me escutou, acredito que puxe os cordelinhos a meu favor, apesar das nossas relações não serem as melhores. Ele toca uma espécie de sino, gozo: “julgas que és um igreja chamando os seus crentes?” Ele diz: “tomara ser a tua igreja, já tenho um altar preparado para ti”. Quem começou com a história dos altares fui eu, mas foste tu quem me quis conquistar. “Ouve bem, conquistaste-me, e sabes disso”, digo-te. Estou com fome, e agora? Na verdade não tenho nada para comer. Sobram quatro bolachas mas são as bolachas que como durante a noite na cama. Estou a comer uma, uma não faz diferença, calculo. Mas posso calcular mal, de qualquer forma tenho os biscoitos da minha gata, têm boa aparência. São em forma de peixes. Junto os teus peixes aos peixes dos biscoitos da gata e vou parecer um mar infindo. Ele diz-me: “tenho outras cartadas na manga para ti”. Sou muito curiosa, quero saber imediatamente quais são. Ele responde: “cada coisa a seu tempo”. Pergunto-lhe se ele cuida de mim, ele responde: “sempre”.
Beijar

Vânio viu Amanda perto de si e chamou-a. Ela tinha uns lábios grossos muito rosados que se viam muito bem onde quer que ele estivesse. Os lábios foram ter com ele, muito sorridentes: “boa noite Vânio, não te tinha visto”; disse-lhe Amanda. “Não chamei por ti, chamei pelos teus lábios”, respondeu-lhe Vânio. Começaram a falar sobre coisas banais mas Vânio não tirava os olhos dos lábios dela. Ela reparou e perguntou-lhe: “o que têm os meus lábios assim de tão especial, parece que os estás a comer”. Desejo comê-los, e comê-los totalmente”. Ela riu-se muito e olhou para os lábios dele, eram apetecíveis. “Sim, olha bem, são estes lábios que vão comer os teus”, disse-lhe. Ela riu-se novamente e perguntou-lhe: “como sabes que vão comer os meus, pareces cheio de certezas”. Ele disse-lhe que se ela olhasse bem para os lábios dele ia querer comê-los também. Sem se conseguir controlar Amanda olhou novamente para os lábios dele, eram tentadores. Engoliu em seco e disse-lhe: “conta lá então o que queres fazer com os meus lábios”. “Os lábios são só o princípio, o que eu quero mesmo é entrar dentro da tua boca”, respondeu-lhe Vânio. Nesse momento, Amanda empurra os seus lábios contra os de André, roçando-se neles. Ele chupa-lhe os lábios, abre a sua boca e depois a sua língua saboreia os lábios dela. Ela mete a sua língua na boca de Vânio para brincar com a dele, e as suas línguas entrelaçam-se numa dança muito sensual. André e Amanda ficam tempos infindos nesta dança até que ele para, descola a sua boca da dela e, com a respiração ofegante, pergunta-lhe: “valeu a pena?” Amanda responde-lhe: “se calhar devíamos experimentar mais uma vez, não estou totalmente convencida.” “Não posso, tenho outras bocas à minha espera”, e foi-se embora. Mais tarde ela vê-o a beijar outra rapariga, depois outra e mais outra.
Sexo no jardim

Sandrina viu André sentado no banco de jardim e foi ter com ele. “Desculpa se me atrasei”, disse-lhe. Sentou-se no banco e começou a contar-lhe o seu dia, de repente, reparou que André estava com uma enorme tusa: “então, o que é isso?”, perguntou-lhe. “Só de ouvir a tua voz fico assim. “Toca-lhe”, pediu-lhe André. Ela riu-se, desapertou-lhe as calças, tirou-lhe o caralho para fora e começou a bater-lhe uma. Era bastante tarde e estavam numa parte do jardim onde não passava ninguém pois era bastante escondida, logo, não seriam observados. “Se vamos fazer isto a sério, vou comê-lo todo”, disse-lhe, e meteu o caralho dele na sua boca. Sandrina fazia aquilo bem, André já sabia, e teve de se controlar para não começar a gemer alto. Às tantas, ele disse para ela parar: “quero meter o meu caralho dentro de ti”. “Mas aqui?”, perguntou-lhe Sandrina. “Sim aqui, metes-te em cima de mim e não fazes nenhum barulho”, respondeu-lhe André. Ela já estava toda molhada, a sua boca no caralho de André deixava-a sempre assim. Estava de saia, o que dava bastante jeito, tirou as cuecas e montou-o. Quando a cona dela se enfiou toda pelo caralho dele, mordeu a língua para não fazer barulho. Os movimentos lentos dela tornaram-se cada vez mais rápidos, eles entraram em êxtase e vieram-se quase simultaneamente. Sandrina sentiu o jato fervente do caralho de André bem no fundo da sua cona e soube que ele se tinha vindo. “Gostaste?”, perguntou-lhe Sandrina. “Gosto sempre, e muito, por isso é que te convidei para vires aqui ter”, respondeu-lhe André. Ela percebeu que ele tinha planeado aquilo tudo e riu-se: “prepara-te para a próxima foda, já estou cheia de vontade”.

Se vieres até mim Ravi deixo que te venhas para cima da minha minissaia. Desejo a tua penetração profunda, chamo por ela todos os dias. Escutas a minha vagina quente a chamar por ti? Vem Ravi, deixo-te brincar no meu campo de futebol. Brincas com as minhas mamas, foram feitas para ti, foram feitas para passeares por elas, sinto-me já excitada. Se vieres até mim Ravi faço-te o teu broche preferido, queres que chupe o teu pénis e te encha de prazer? Chupo-to horas seguidas, quero vê-lo quase a rebentar. Apenas tens essa enorme tusa comigo, e tu sabes perfeitamente disso Ravi. Essa enorme tusa que me quer penetrar sem parar, que apenas conhece os sons húmidos da minha vagina. Ravi, sei que me querer tocar, tocar no meu orifício que geme, toca-me então. Ravi, mete-te aqui dentro, dentro da minha vagina quente que apenas te deseja a ti. Penetrares-me profundamente é o teu maior anseio, vem para dentro de mim, mete-te cá dentro à vontade. Se vieres até mim Ravi, deixo que me fodas toda.
Ela e ele

Ela estava na discoteca a ouvir trance hardcore, viu-o no bar com um copo de whisky na mão e aproximou-se lentamente com o seu sorriso mais sensual. Encostou-se a ele e disse-lhe: “gostava de te fazer companhia naquilo que estás a beber”. Ele foi completamente apanhado de surpresa, não sabia o que havia de lhe dizer, pensou apenas: “que mulher mais deslumbrante”. Ela abanou um pouco o corpo para se pôr numa pose em que ele visse a sua minissaia azul-brilhante, perguntou-lhe: “então, faço-te companhia?” Ele pediu um whisky para ela e, sorrindo, disse-lhe: “a que devo a tua honra?”. “Pareceste-me mais interessante do que a música”, respondeu-lhe oferecendo-lhe mais um sorriso sensual. O whisky chegou, ele deu-lho e, quando o fez, roçou-se propositadamente no braço dela. “Fazemos um brinde”, propus à mulher encantadora que tinha à sua frente, tão perto de si que faltava pouco para estarem colados. Ela quis que o brinde fosse a ambos. Ele acedeu, fizeram um brinde e ele, propositadamente, entornou metade do seu copo em cima da t-shirt dela. Ela riu-se: “daqui a nada vais ter de beber outro”. Ele riu-se também: “desde que façamos outro brinde”. Começou a tocar uma música de que ela gostava muito, então, começou a dançar de forma muito sexy à frente dele. A t-shirt molhada agarrava-se aos seios dela e era impossível não ficar excitado. Ele agarrou-a para dançar com ela e, enquanto dançava, tocou-lhe no cu apalpando-o devagar. Ela ferveu e fez-lhe o mesmo. Ele ficou cheio de tusa, ela aumentou-a quando tocou no seu pénis. Ele meteu a mão dentro da t-shirt dela e ela sentiu a sua vagina tornar-se muito húmida. De repente, ela larga-o, dá um último gole no seu whisky e deseja-lhe boa noite. Ele ficou à toa, tentou ir atrás dela mas perdeu-a de vista. No fim-de-semana seguinte, ele viu-a no bar a beber um copo, foi ter com ela e disse-lhe: “gostava de te fazer companhia naquilo que estás a beber”. Ela fez o seu sorriso sensual e disse: “e se fôssemos dançar?” Foram dançar e aconteceu tudo aquilo que tinha acontecido da última vez. De repente, ele larga-a e deseja-lhe boa noite. No fim-de-semana seguinte, ele e ela procuram-se na discoteca e, quando se encontram, ela diz-lhe: “vamos brindar a ambos”, começam a dançar um com o outro e, de seguida, acontece tudo aquilo que tinha acontecido da última vez.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015


Sabotaste-me, entraste por uma pequena frincha do meu coração, lembraste? Vinhas com muitas mochilas, todas repletas do teu Amor Verdadeiro. Vinhas com muitos coraçõezinhos, apenas para mim, tinhas estado a cultivá-los, apenas para mim. Entraste no meu coração sem eu dar por isso e brincaste com o seu vermelho, misturaste o teu com o meu, ficou vermelho cornalina, o Nosso vermelho. Não dei conta que estavas cá dentro, foste a minha maior surpresa, fiquei do tamanho da alegria. O teu coração no meu interior faz o meu coração pulsar mais e mais, agora o meu coração apenas sabe pular, ele pula como um gafanhoto tonto. Entraste no meu coração como um clandestino, agora ele é o meu destino para a Eternidade. E mais. e mais.




Comprimidos



- desejava um comprimido para a dor de cabeça, por favor. Preciso de uma coisa que a faça passar rapidamente – disse o senhor nº 1


- por acaso ela fez-lhe algum mal para se querer ver livre dela – disse o senhor nº 2


- desculpe? Dói-me a cabeça, é doloroso, compreende? Claro que quero ver-me livre dela


- e se eu não gostasse do senhor, ia buscar a minha caçadeira de canos cerrados para me ver livre de si?


- o senhor parece maluco a falar, acha que está a dizer coisa com coisa?


- vocês não pensam no outro lado, a dor de cabeça também tem direito a existir, é um ser vivo como todos os outros


- sim, lá viva está, e está a ficar ainda mais viva com essa conversa sem sentido


- devia era tomar um comprimido para respeitar os outros, isso vendo-lhe. Veja bem, está com sorte, comprando esses comprimidos ofereço-lhe uma amostra dos comprimidos “como identificar um cato negritus”


- um cato está a sair-me o senhor, desde que aqui cheguei tem estado a espicaçar as minhas dores de cabeça. Se não me vende os comprimidos vou à farmácia mais adiante


- mãos ao alto, não vai a lado nenhum


- o senhor é totalmente louco, agora aponta-me uma caçadeira?


- e não é uma caçadeira qualquer, é uma caçadeira de canos cerrados. Agora vai assinar este documento dizendo que não vai comprar comprimidos para a dor de cabeça noutro sítio, vai deixar a sua dor de cabeça viver em liberdade


- mas posso assinar esse documento e depois comprar à mesma…


- nem por isso, depois leva consigo uma pulseira que lhe dá choques elétricos caso você queira comprar os comprimidos


- espere lá, tome lá, tome lá a minha dor de cabeça, adeus


- que raio, o tipo passou-me mesmo a dor de cabeça. Porra, onde meti os meus comprimidos para as dores de cabeça?


- nem penses pá, quietinho, senta-te aí na tua cadeira a descansar, pode ser que as dores de cabeça te passem, mas mostraste gostar tanto delas que não me parece que se vão embora – disse a caçadeira de canos cerrados


- e se eu for buscar os comprimidos para a dor de cabeça o que me vais fazer?


- dou-te um tiro


- tu já nem funcionas, apenas serves para meter medo às pessoas


- pum! Agora que já arrumei o tipo posso sacar-lhe as chaves para abrir os armários dos comprimidos e arranjar algo para a minha dor de dentes


Quando mexes no meu coração ele arde com uma estranha febre. Disseste-me que se chamava Amor Verdadeiro, não quis acreditar. Quis ler sobre isso mas não encontrei nada, mas tinha-te encontrado a ti, não queria mais nada a entrar pelos meus poros. Estranha febre esta que pulsa dentro de mim toda, aquece cada gota de sangue minha, rebenta cada veia minha. Tenho sangue real agora, olha como é todo azul. Nado no meu interior, num mar claro que se enche sempre dos teus peixes. Mexe ainda mais no meu coração: vem daí com as tuas baleias azuis. Serei o seu krill, espero-te.
Fui à caça de um lenço de papel pois precisava de me assoar e tinha uma certa urgência. Os lenços de papel tinham feito greve e não se encontravam em lado nenhum. Estava mesmo muito aflita e, então, fui à manifestação dos lenços de papel. Estavam mesmo lixados com a vida de lenço de papel, li num cartaz: “não nos agradecem no final!” Fui falar com um grupo que parecia mais pacífico, rabujaram imediatamente comigo: “são pessoas como a senhora que nos tratam como lixo”. De aflita passei a estar em pânico, nenhum dos lenços de papel cedia, então, peguei no cartaz e assoei-me. Depois, fugi a sete pés, não quis ser linchada.

Somos as almas gémeas que começaram antes de tudo, começaram já lado a lado, num dia de ervas frescas olhámo-nos e nunca mais nos largámos. Soubemos que era para a Eternidade, embora ainda não soubéssemos o que era a Eternidade. Foram os teus olhos azuis, dirás, eu direi o mesmo, soubemos imediatamente. E ficámos deitados os dois entre as ervas frescas e um céu adorável.

Estava a ser um dia mau para mim mas tu vieste com esse teu ser divertido para me sacares sorrisos. Primeiro não quis saborear as tuas palavras mas tu mexeste em mim e disse-te a rir: “vê bem o disparate que estás para aí a dizer”. Tinhas uma prenda para mim, oferendaste-me, entre os teus disparates. Eram dois dados, “mas que raio, para quê?”, perguntei meia zonza. “Vamos brincar”, propuseste. O jogo era simples, se eu tivesse a pontuação mais alta apenas dizias coisas sérias e se tivesses a pontuação mais alta continuavas a dizer disparates e “roubo-te um beijo”. Achei um disparate mas concordei, avisei-te: “costumo ter sorte ao jogo”, e ri-me. Joguei primeiro: dois quatros, era uma boa pontuação. Gozaste: “tão pouco”, e jogaste. Saiu-te um quatro e um seis, tinhas ganho. “Azar ao jogo, sorte ao Amor”, e com isto deste-me um beijo. O dia continuou, um dia muito bom, apenas dizias disparates, eu só me ria. 
Era uma vez uma chama que pensou para si própria: “tenho pouca vida”, mas não quis ir até a uma fogueira buscar mais. Então, foi ao supermercado comprar fósforos e, como estava toda garganeira, levou os mais caros. Tentou acender-se ainda mais com eles mas a coisa não correu bem e ela queimou-se. Foi para o hospital com queimadoras em 3º grau e foi muito bem tratada. Após algumas semanas no hospital estava como nova e, como gostou muito da comida do hospital, sentiu-se com mais vida. Foi falar com as cozinheiras para lhes pedir umas quantas receitas. Elas acharam estranho pois ninguém gosta de comida de hospital, mas passaram-lhe as tais receitas. A chama passou a comer muito bem e muito e engordou bastante. Ficou preocupada, então, embebedou-se de água, o problema estava resolvido. Depois, foi tirar um curso de pirotecnia e estreou-se numa grande festa de cidade: nunca sentiu tanta vida!

Disse-te que seria a tua Poesia para sempre e tu choraste. Chorei também pois, de lágrimas puras em cache decorrendo pela cara, eras essa Poesia que sempre procurara. Disseste que ninguém te escrevia tão bem como eu e eu abri o sorriso mais resplendoroso que habitava no meu interior. Tu retribuíste o sorriso com as tuas mãos nas minhas e choraste novamente. Então, abraçámo-nos, e éramos dois mares azulões abraçados. Apenas sabemos ser assim abraçados e, quando as nossas lágrimas se uniram, eram dois campos verdes felizes em cache decorrendo pelas nossas caras.
Estava a sair do meu caracol e eis que me constipo. Reparei logo que não era uma constipação normal pois fez com que esta lesma marada ficasse mais parada, muito mole. Diz que sim, diz que a constipação faz isto mas não, a minha constipação é diferente, meia demente, e meti-me na casca. Não queria sair mas apetecia-me ir à piscina divertir-me, mas quem vai à piscina no meio do Inverno? Mas sim, está vazia, é só para mim. Quando lá cheguei estava cheia de caracóis e caracoletas a banharem-se, faziam bicha para saltar das pranchas. Saltei para dentro da piscina e pensei: coitados, vão ficar todos constipados. Quando chegou à minha vez de saltar da prancha deu-me o medo, não queria dar cabo da minha casca, mas fui em frente, fechei bem os olhos e fui em frente. Quando cheguei à água ouvi um “crash” e apercebi-me que tinha sido a minha casca, mas logo, logo, apareceu um pessoal bacano oferecendo-me para a arranjar. O arranjo demorou pouco tempo e, quando dei conta, a constipação tinha passado, então, fui a uma mariscada com o pessoal.

“É só Amor”, já te disse. E voei para fazer um desenho no céu apenas para ti. Eu, joaninha apaixonada, desenhei-te um coração cheio do meu Amor para saberes quem sou, toda Amor para ti, esse Amor diferente dos outros: Amor Verdadeiro. Quis que fosse de muitas cores, então, fui buscar luzes de Natal e as cores fizeram muitas cores para ti. E era um coração tão luzente, como Nós dois. Meu joaninho, o Natal está à porta, vais-me oferecer tudo o que eu desejo, verdade? Uma das prendas és tu, vens numa grande caixa cheia de laços, vens e ofereces-me as tuas asas, verdade? Quero as tuas asas para voar melhor.
Contigo comigo fluo melhor, o meu rio enfrenta menos obstáculos, sou livre…sempre te disse: contigo sou livre. Lembras-te? Sabes que sim e vens atrás de mim, desejas saborear a minha corrente. Conheço os ventos, sabes? E alcanço-te com eles à minha beira. Não preciso, eu sei. Alcanço-te porque me alcanças. E quando nos alcançamos é para a Eternidade. E mais. e mais.

Quando eles se juntam com os seus bolinhos muito "açucarados" tudo fica cor-de-rosa, são gulosos e comem-nos todos, e depois comem-se um ao outro. Delicious!