sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Sabedoria

Já estive a semi-dançar trance para ver se não adormecia, depois bebi um shot de café. A coisa voltou a piorar, então, pus-me a ouvir música house e bebi mais um shot de café. Não se pense que me estou a tentar embebedar numa sexta-feira à noite, apenas quero manter-me acordada. Hoje não sai de casa, não me arrependo, estive tão bem no meu quarto sozinha a curtir durante todo o dia, não podia ter sido melhor. Escrevi bastante e isso pus-me muito bem-disposta, ainda para mais o que escrevi saio-me bem, o que comprova, mais uma vez, que sou uma ótima Escritora. Ainda bem que me faço estes elogios, mais ninguém mos faz, mas isso é porque não escutaram a minha Escrita com atenção. Sei que sou boa, é bom ter esta Sabedoria. Será que tenho muita Sabedoria? Às vezes parece que sei tão pouco, no entanto, ainda bem que há muito mais para saber. Será que um dia chego a ser a Sabedoria? Depois preciso de ter alunos, quem sabe poderei ter discípulos. Talvez já não esteja a dizer coisa com coisa, talvez precise de mais um shot de café. Mas, se me embebedo, quem trata de mim? Sei que és tu, tu que estás sempre ao meu lado, andas a seguir-me, já percebi. Afinal diz-me: “o que pretendes de mim?” Ele ri-se: “estou apenas a olhar para ti”. Sei que é mais do que isso, ele vai-me possuindo sem eu dar por isso. “Serei a tua ressaca”, diz-me. Eu rio-me: “o que tenho de te dar em troca?”. Ele responde: “os teus olhos azuis”. “Depois como vejo”, questiono-o. Ele responde-me: “eu vejo por ti, depois envio-te relatórios.” Rio-me novamente e digo-lhe que o acho muito divertido: “temos um humor parecido”, acrescento. Ele alegra-se por me ter feito ficar contente, sabe que não ando muito contente nos dias que correm: “deixa estar que viro a corrente.” “Já vi que sim, quero ofereço-te uma garrafa de shots de café pois graças a ti a coisa tem estado melhor, bebemos os dois juntos”. Ele aceita a minha prenda e quer oferecer-me algo também, estende as mãos: um rio de peixes muito coloridos apresenta-se perante os meus olhos azuis. Os peixes entram nos meus olhos azuis e nadam freneticamente fazendo-me cócegas, era isso que ele queria, alegrar-me mais e mais. Agradeço-lhe de coração, ele sabe que este gesto faz toda a diferença neste preciso momento. Continuo a ouvir house, ainda tenho shots de café mas agora faço uma pausa. E a Sabedoria? Está bem obrigada mas precisa de mais Sabedoria, anda muito tristonha, sentindo-se meia abandonada, tenho de tratar dela como quem trata de um pequeno pássaro ferido. Exagero, claro está. Os pequenos pássaros feridos vão para os cuidados intensivos e safam-se sempre. Será que me safo, tenho perguntado muito isso nos últimos tempos. Ando muito nervosa por causa disso, durmo muito mal e acordo para dias em que não me apetece viver. Pois, é isto que quero evitar, esta onda mais depressiva, então, tenho um plano: combater a onda depressiva, fodê-la toda. No entanto, não tenho como fugir: sinto que estou à beira de um precipício, nem olho lá para baixo, mas sei que posso cair. Se cair levanto-me, conheço este processo de cor, mas foda-se, depende do princípio, dizem que existem certos precipícios que não é possível a pessoa levantar-se. Que medo! Mas tenho um historial de cai, levanta, é a minha cena. Na verdade, o que é mesmo a minha cena é brilhar muito. Acendi tantas velas ao meu brilhar muito, de certeza acontecerá. Falei com Deus, sei que me escutou, acredito que puxe os cordelinhos a meu favor, apesar das nossas relações não serem as melhores. Ele toca uma espécie de sino, gozo: “julgas que és um igreja chamando os seus crentes?” Ele diz: “tomara ser a tua igreja, já tenho um altar preparado para ti”. Quem começou com a história dos altares fui eu, mas foste tu quem me quis conquistar. “Ouve bem, conquistaste-me, e sabes disso”, digo-te. Estou com fome, e agora? Na verdade não tenho nada para comer. Sobram quatro bolachas mas são as bolachas que como durante a noite na cama. Estou a comer uma, uma não faz diferença, calculo. Mas posso calcular mal, de qualquer forma tenho os biscoitos da minha gata, têm boa aparência. São em forma de peixes. Junto os teus peixes aos peixes dos biscoitos da gata e vou parecer um mar infindo. Ele diz-me: “tenho outras cartadas na manga para ti”. Sou muito curiosa, quero saber imediatamente quais são. Ele responde: “cada coisa a seu tempo”. Pergunto-lhe se ele cuida de mim, ele responde: “sempre”.

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