O
meu filme
Ela
estava no seu canto tentando sossegar-se, ainda assim sentia-se muito fraca. A sua
pulsação era estranha: quase não tinha pulso mas, ao mesmo tempo, estava com
taquicardia. Por vezes não se sentia nada bem e hiperventilava, nessas alturas
receava ter um ataque de pânico. Então, tentava acalmar-se. Na verdade, ela passava
os seus dias a tentar acalmar-se. Agora doíam-lhe as costas, os músculos estavam
demasiado hirtos para fluir normalmente: “são os nervos, atacam-me sempre
alguma coisa”. Ela enganava-se nos caminhos, não percebia que a relva não
pisada significava uma rua sem saída. Tinha medo de atravessar estradas sem
orientações, algo que dissesse: “parem, agora vou passar”. Ela queria passar,
queria passar há já muito tempo, mas existiam tantos obstáculos, os dos outros,
os dela. Os dela eram um carnaval de terror, os dos outros eram um inferno. Ela
não exagerava, simplesmente ninguém olhava com atenção para ela, então, passava
despercebida. Um dia entrou num sítio bonito e sentiu tonturas, não estava habituada
a sítios bonitos, foi-se embora rapidamente. Ela gostava muito de ver filmes e
pensava que a sua vida dava vários filmes, um deles podia chamar-se: “Um dia o
meu coração acelerou”.
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