domingo, 31 de agosto de 2008

Descalça ia Sara
Ia à fonte mais próxima
Pela imensidão dos campos
Os seus pés conheciam os caminhos
Colados de sacrifícios
Com as gentes coladas à pele
Ela queria restituir o sangue às feridas
A dignidade das bocas
Que se calaram ao medo
Descalça ia Sara
Ia à fonte sozinha
Lavar aquele silêncio das tormentas
Que encobre os pássaros
Que rouba a vida
Às mulheres e aos homens

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O fogo que dorme neste tempo
Não saberá a paisagem humana ateá-lo
E ser nele o seu espírito?
Um rio que se faz escutar
No espanto do vento
Que lê as cartas deitadas sobre si
De amores em desespero
Os contornos dos rostos marcados
Como um mapa no canto das aves
Esses rostos que procuram escapar
Ao silêncio da dor e da fadiga
O fundo azul da tarde
Derrama um sentimento de calma
O raio de um verso antigo exclama:
“Saúdo-te amigo no teu caminho
Dirijo-te a minha voz para que prossigas
Mesmo que o teu olhar não veja a passagem”


(Pablo Picasso, "The World Without Weapons")

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O amor é azul
Solto à dor
Desmanchando os sonhos
Dia após noite
Corroendo todo o corpo
Queimando as feridas que fez ontem
É um jogo que cobra caro
Somos as suas presas
Caindo nos pés de gigantes
O amor é azul como as lágrimas
Dos vidros partidos do ser
Sonetos sozinhos a vaguearem
Nas entranhas do fim do mundo
O amor é azul
Inútil, uma casa de escuridão
De onde só se quer fugir

sábado, 23 de agosto de 2008

Neste momento o futuro voa espreitando todos os recantos do mundo, elevando-se em cavalos espumando as patas pela boca, a velocidade é veloz ao encontro do despontar de todos os horizontes e entra no rebordo das nuvens, nos reflexos do sol ardendendo nos lagos esquecidos. Talvez não saibas mas os corpos abrem as pálpebras e voltam-se de frente, dos braços subem as raízes e ouvimo-los murmurar numa voz impercepível soltando o mar alto. Neste momento o futuro sopra com força os campos dentro de nós, nós os cavalos que respiramos tudo o que está à nossa volta.

(Jaime)


PAREM COM AS VIOLAÇÕES DIÁRIAS NO DARFUR!!!
Nas cores as águas agitavam-se
Como se falassem todas as línguas
Levantavam os braços
Para sentir a liberdade

Nasciam para crescer
Sonhar e serem ilimitadas
Porque os sentidos
Estão na entrega

Claro que te assustas
Dando voltas em ti mesmo
Adias os teus desejos
E cegas o caminho da alma

A felicidade é apenas estenderes
As mãos para as cores
Para dentro da tua vida
E soltares as águas
Os campos férteis desafiam os dias
E o ar corre livre pelas colinas
A vida apressada na beleza de
Um céu que agarra os olhos

A esperança é um rio que corre
Como a graça do sol apanha
O reflexo das águas
Envolta em cores de chamas

Nas mãos só sinto o deslumbramento
Do mundo por aventurar
Das danças que enchem os meus
Pés de vida nunca vivida
A força da poesia prolonga-se
Sente-se no sangue
A vibrar, estas palavras que te lanço

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Não há senão a Poesia

Não há senão a Poesia
Vida que arrepia
Um olhar sonhado de estrelas
O começo das fontes
A criação das cousas
A agitação anunciada
De um baile de folhas revoltas
Em torno da exaltação
Do interior das canções das colheitas
Não há senão a Poesia
Vida que transpira
A resina, o mel, a febre
Da natureza que se abre
Ao longo do encontro das paisagens

domingo, 17 de agosto de 2008





Adriano Celentano: "Azzurro"

Cerco l'estate tutto l'anno
e all'improvviso eccola qua.
Lei è partita per le spiaggee
sono solo quassù in città,
sento fischiare sopra i tetti
un aeroplano che se ne va.

Azzurro,
il pomeriggio è troppo azzurro
e lungo per me.
Mi accorgodi non avere più risorse,
senza di te,
e alloraio quasi quasi prendo il treno
e vengo, vengo da te,
ma il treno dei desiderinei
miei pensieri all'incontrario va.

Sembra quand'ero all'oratorio,
con tanto sole, tanti anni fa.
Quelle domeniche da soloin un cortile,
a passeggiar...
ora mi annoio più di allora,
neanche un prete per chiacchierar...

Azzurro,
il pomeriggio è troppo azzurro
e lungo per me.
Mi accorgodi non avere più risorse,
senza di te,
e alloraio quasi quasi prendo il treno
e vengo, vengo da te,
ma il treno dei desideri
nei miei pensieri all'incontrario va.

Cerco un pò d'Africa in giardino,
tra l'oleandro e il baobab,
come facevo da bambino,
ma qui c'è gente, non si può più,
stanno innaffiando le tue rose,
non c'è il leone, chissà dov'è...

Azzurro,
il pomeriggio è troppo azzurro
e lungo per me.
Mi accorgodi non avere più risorse,
senza di te,
e alloraio quasi quasi prendo il treno
e vengo, vengo da te,
ma il treno dei desiderinei
miei pensieri all'incontrario va.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008


(Gian Lorenzo Bernini "O Êxtase de Santa Teresa de Ávila")
A Visão descrita por Santa Teresa de Ávila:
I saw an angel close by me, on my left side in bodily form. This I am not accustomed to see unless very rarely. Though I have visions of angels frequently, yet I see them only by an intellectual vision, such as I have spoken of before. It was our Lord's will that in this vision I should see the angel in this wise. He was not large, but small of stature, and most beautiful - his face burning, as if he were one of the highest angels, who seem to be all of fire: they must be those whom we call Cherubim. I saw in his hand a long spear of gold, and at the iron's point there seemed to be a little fire. He appeared to me to be thrusting it at times into my heart and to pierce my very entrails; when he drew it out, he seemed to draw them out also and to leave me all on fire with a great love of God. The pain was so great that it made me moan; and yet so surpassing was the sweetness of this excessive pain that I could not wish to be rid of it. The soul is satisfied now with nothing less than God. The pain is not bodily, but spiritual; though the body has its share in it, even a large one. It is a caressing of love so sweet which now takes place between the soul and God, that I pray God of his goodness to make him experience it who may think that I am lying.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

um gesto eterno
uma onda alta
que se alimenta de fogueiras
a cabeça dias inteiros
os sonhos paisagens que derramam
planície feita de cidades
vivendo às janelas
gentes que se encontram nos caminhos
mil searas que se movimentam no horizonte
um gesto eterno
que alimenta a vida
e as estrelas brilhando por cima dela

sábado, 9 de agosto de 2008


(Pablo Picasso)
Estou à janela e sei sete canções
As histórias que conheço doem
No fundo dos meus olhos

Saltei grades e as pernas magoaram-se
As mãos sangraram
O sangue fresco da manhã

A paisagem continua bela
Mas o olhar está triste
O coração bate pesadamente
Ele sonha demasiado alto
E as estelas apenas continuam a brilhar

Estou à janela e sei sete músicas
Canto a minha vida sem rumo
Canto os nomes que desconheço das flores
Canto o movimento dos rios e das ondas

Sei de histórias novas que deixam
Os olhos abertos e que abrem mais a janela
Mas a vida sempre foi desacertada
E eu continuo à janela
O mundo dorme um sono certeiro
Eu encontrei um joelho que corria
Mais do que os pés macerados
Levaram-me a jantar e fomos às muralhas antigas
Antigas ou não com um sopro de mão
Foram deitadas abaixo essas fortalezas

Levantar-se e decidir que ser sonhador
É ser a frente de uma tarde aberta
Para das bocas saltarem as verdades
Nuas de seios nascendo pelo corpo todo
Há muita fome para alimentar
A vontade de mudar nestes saltos prevaleça

Pintando cigarras nos jardins
Elas cantam o amor no seu esplendor
Que lindas palavras para essa moça
Que passa enquanto estás sentado nesse banco
O que esperas para ires no seu passo
E lhe contares uma poesia ou duas?
Odeio as noites desde que são noite, só o seu cheiro nauseabundo me enlouquece a alma. Esfriam o meu calor e libertam fantasmas de dor com os seus sons e ruídos de silêncio. Falo com ela, com a Floriana, coloco tudo em dúvida, a vida e o absurdo que ela representa. Não vejo a Floriana mas sei que ela está escondida no meio de toda a escuridão da noite. Não durmo por vezes, por vezes choro e penso ouvir o choro dos outros. A noite sela a esperança, adormece toda e qualquer luz, mas a Floriana dá-me palavras de alento, ela, sem que veja, segura-me as mãos até adormecer. E acabo sempre por adormecer, muitas vezes no colo quente dela.
(Kuva Konehuone, "Pássaro Azul")
Ian McCulloch: "Baby Hold On"

When your life is wrong
And your days are gone
And the Night is coming on
Baby hold on
Baby hold on
Baby hold on

When your race is run
And the prize is won
Make the words to your song
Baby hold on
Baby hold on
Baby hold on

When it feels like no one listens
And it seems like no one hears you call
When your star no longer glistens
I'll be there to catch you
You won't fall
You won't fall

When your day is done
Like a setting sun
And the night keeps coming on
Baby hold on
Baby hold on
Baby hold on
O cheiro da lavanda
Nos ramos da vida
Acesa sobre a vida de uma mulher
Que deixou os restos da fruta na mesa
E partiu para a sua jornada
Ela estava perturbada
Mas o vento sobre a folhagem
Lia-lhe poemas da natureza profunda
E trouxe-lhe um cavalo que a levou
A casa sem hesitação
Um cavalo livre correndo pelos campos
Pelas searas harmoniosas
E ela passou por um cão acorrentado
Libertando dessa sua prisão
O bicho ladrou noite adentro de tal felicidade
Era música para as plantas e luar
Lavanda com cheiro a vida
Espalhando-se pelas mãos da mulher
Que dessa sua jornada
Fez do longe perto


(Pablo Picasso, "The Tragedy")

Flores que secam
Numa terra de cimento
As lágrimas da alma
Os passos que são tolhidos
O ser que arrebenta

Em combustão lenta

Noutros tempos
Seriam as promessas
A ouvir-se por todos
Os sentidos do vento
Agora os grãos da fome
Falam mais alto
Sentem-se na pele
Que cai sem amar
Desfaço-me em pedaços do que fui no líquido presente do tempo que flui sempre, a chama enfraquece, a inércia que corrói no correr das pernas que esmorecem. Range o corpo com a luz que se apaga na solidão, que foge nos segundos que envelhecem. O sol põe-se todos os dias e todos eles são os mesmos passos. Planta-me um girassol no coração podia pedir-te, mas sei que não existes. Posso dizer que as minhas mãos tremem, que já fui mais do que sou, a vida radiosa em mim morreu.

(Fada Oriana: Ideal dos Ideais)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Às vezes é necessário levarmos as situações o mais longe possível para nos apercebermos que aquele não é o caminho. No entanto, aprendemos sempre algo com ele, e neste caso penso que ajudei uma pessoa, o que só o tempo o dirá. Apercebi-me de outra entretanto, não sei novamente se é a correcta, mas cá estou.
Na fogueira estavas ao meu lado, tudo serpenteava. Dei-te um olhar meu e eis um sorriso teu. Sabes que sou tímida... Não o viste no meu olhar? Viste mais do que isso? Então convida-me para dançar...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008


(Ancanjo Miguel)
Andei por caminhos onde não estavas
Encontrei o sítio dos ninhos e o voo rasteiro das vespas
Achei um poço cheio onde mergulhei o meu olhar
Parei em todas as árvores, os seus ramos tentei apanhar
Coleccionei as flores mais variadas e respirei o seu ar
Apanhei as folhas com os pés e dobrei-as sobre os dedos
Segui o voo dos pássaros com admiração até me perder
Deitei-me na relva e adormeci serena
E encontrei o caminho onde estavas

Bianca
Um pássaro assustado
Pelo voo nas escarpas
Que demora no cimo
Das paisagens das naus
O vazio que compõe
O interior da demora
Existir na noite fria
No mar tenebroso
Sem chegada à espera
O vento a passar
Com as recordações
De outros dias
O nevoeiro que se embrulha
No passo dos olhos
O que satisfaz o coração?
Senão partir em busca
Da canção que ficou
Por cantar além mar

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Zeca Afonso: "Grândola Vila Morena"

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade

O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Pedido:

Azrael e Cassiel entendam-se para Nosso bem...

Sofia e Dinis
Dinis, perto da tua janela moro, tesouros nas minhas mãos tenho para te dar, vejo daqui o teu coração aberto que diz esperar o meu voo e a vida mais e mais acompanha o fundo do nosso olhar. Dinis, grande como as manhãs acordo junto da tua janela e toco o acordar dos teus sonhos, na minha fonte enfeitiças o meu mundo, e eu segredo-te a palavra amor.

Sofia Sara

(Aldemir Martins, "Flores")
Promessas, canções de vida
Olhando o meu olhar
A ternura saindo das algibeiras
Mil sóis prontos a desabrochar

Há lugares povoados de estradas
De uma luz onde se caminha sem ver
Porque se ardem as feridas do coração
Fala mais alto a esperança

Numa viagem de trovoada a dor clama
Mas o dia vai aclamando as feridas
Quando os voos nos levam mais alto
E percorrem-nos de novas partidas

Os sonhos querem ser outros
No meio das casas, das ruas, das gentes
Querem dançar ao som dos passos
E ser mais do que ecos num descampado
Os sonhos quebrados são recomeçados
Por um motor que se agita no interior
Quando a casa se movimenta ao som
De tanto repetir “não sou ninguém”

Os refúgios são ninhos que encontramos
Em lugares que nunca procurámos
Mas achamos na solidão
E repetem-nos “ eu sou música”

Levantam-nos no ar
Fazem-nos acreditar
Nas nossas conversas sozinhos
Que temos mil vidas

A noite traz o dia
Vem com uma luz que brota
No ser passos largos
Apenas querem de volta renascer

terça-feira, 5 de agosto de 2008


(Frida Kahlo, "The Two Fridas")
Os sentimentos arrastaram-se pelas estradas
Endureceram, da lama tornaram-se pedra
Enquanto gritava em pânico
E perdia o sentido na decadência mais puta do ser

Primeiro perdi o caminhar dos pés
Depois a sensibilidade das mãos
No fim foi-se o coração
Restou aquela que se feria arrancando a pele

Venho de onde a noite era o dia inteiro
Onde as palavras não falavam
Onde o frio desfazia o corpo
E os ecos quebravam os sentidos

Os sonhos moribundos adormeceram
A morte rondava dia após dia
A ternura deixou de existir
Só o ódio dialogava

O meu mundo eram estilhaços
Facas afiadas e feridas demasiado abertas
Sufocava nos meus pedidos de ajuda
No silêncio que lhes respondia
Estes versos, despertado sentimento,
Falam de tudo o que é vivo em mim,
Quero que saibas que há todo este corrupio
Que corre para ti em todas as direcções

Foste tu nesse beijo que me tocou
Uma luz que nunca conheci
As tuas mãos entrelaças nas minhas
Perdem-se todo o dia nas tuas

Sonho o nosso sonho
Debruçada nas árvores e nas flores
Vou nua pelas estradas
Olhando os teus olhos

Por isso, deixo-te todos
Estes versos presentes dizendo-te
Conheci em ti mais de mim
E estarei contigo eternamente
Há um silêncio que diz uma pressa de dizer como se tudo pudesse ser dito em simultâneo, sem parar, numa ardência, uma chama que arde como quinhentas árvores, essa combustão que fica imobilizada e volta a olhar para o incontornável e pensa que talvez fosse possível dizer algo, esse algo inteiro que preenche esse mundo gigantesco que não cabe em lugar nenhum, extravasando por todos os lugares, que os vê olhos adentro como pudesse comer com eles e ser tudo e gritar as realidades, gritá-las até elas desaparecerem e serem criadas outras e todo poder começar e recomeçar.
O caminho é estar de frente
A momentos onde se não sei
Por onde seguir

Nesse obstáculo consigo
Descobrir um pensamento
Que segue em corrente

Talvez por vezes não faça sentido
Mas há um tempo para a poeira assentar
E o destino é vivido nas mãos
Elas tocam os dias com novos passos

Se aos infernos se desce
E os sonhos se desfazem
Levantamo-nos avançando
Como uma juventude

Amanhã é um dia
Onde novas ruas se cruzam
Onde fontes nos esperam
Oiço já o cantar dos pássaros

Isso é tudo o que interessa…
Quando as noites parecem não terminar…

Posso ter pouco
O pão faltar-me à boca
Mas esta minha escrita
Não cessa, não morre

Faz sentido o desejo do amor
Navegar por entre as brumas
Esse mar bravio
Só para te encontrar

segunda-feira, 4 de agosto de 2008


(Kivuthi Mbuno, "Mang'oka Na Tumbiri")
Dinis, uma gaiola este tempo de ti afastada, à tua porta exaltada, por ti expectando. As palavras enchem-se de néctar, escritos acesos por ti, multiplicam-se pés ante pés numa fila que não se apaga, viva e dourada. Às tuas mãos quero chegar Dinis, o meu coração habita já solto no mais do que o teu íntimo. Os pensamentos respiro-os em ti, tudo te espera, num voo alargado, no espaço de todos os mundos.
***-** **** a pensar em mim...
A avó da minha bisavó Laurinda, a Clara de Jesus, era filha de um casal de ingleses e foi abandonada em Oliveira de Azeméis, junto do Porto, numa Roda (espécie de creche). Um médico falou com a esposa sobre a menina e eles adoptaram-na, teria ela 2 anos. Mais tarde os pais vieram buscá-la e ninguém disse onde é que a menina, já com cerca de 7 anos, estava. Durante o dia os pais guardavam-na no sótão, com uma ama. Mais tarde a minha avó Laurinda acabou por ir para Luanda com a mãe viúva, viviam as duas numa pensão, e aí conheceu o marido aos 16 anos. Passado um ano nasceu o meu avô Fernando. A pele claríssima e os olhos azuis que tenho devem-se a essa avó da minha bisavó, Clara de Jesus. Os meus avós, Fernanda e Fernando conheceram-se num casamento de amigos comuns. Daí nasceram a minha mãe Margarida, a mais velha, e o meu tio João.
Os grilos e as cigarras cantam o Nosso Amor!

(Ricci Otto)
Sara, esta aflicção do coração, este amor que fala alto como todos os animais desejando um espaço mais vivo, este amor que os poetas cantam há séculos, que as flores trocam entre si, que os gatos com ternura se olham quando anoitece, que a luz da floresta acende todos os dias, este amor Sara, ele encanta-me a todas as horas e leva-me à revelação das planícies, ao cimo dos degraus dos montes, ele está no rosto das árvores, no enrolar das ondas, no encaixe perfeito das conchas, nas colheitas que se estendem para lá dos horizontes, nas ilimitadas margens dos rios, na canção de uma menina, no movimento de um pássaro dançando o céu, no néctar dos frutos, nas carícias subterrâneas dos amantes, na terra que se entrelaça nos pés, nas portas que se abrem às conversas, nos abraços insaciáveis das crianças, é um coração de fogo que acompanha outro coração de fogo.

Sofia
Dinis, a minha pele cheira à tua, o meu interior ao teu, uma febre que te abraça de corpo inteiro, as mãos que te sentem como se fosses uma conchas virada para dentro de mim, os seios que anseiam o toque que tocaste, o corpo que sentiu o teu por completo nessa vontade mais que vontade numa relva que era um jardim só nosso, do tamanho dos nossos mundos, o enlace profundo de dois encantos. Diz-me Dinis, como é possível senão esta essência?

domingo, 3 de agosto de 2008


(Pink Night Owl)
Praia do Meco

Sempre de volta com Inia ou Nuska, os corpos livres, nus... O sol batendo neles aquecendo o seu frio... As ondas desmanchando os seus puzzles, fonte de prazer, a água no estado puro, o gostinho a sal que fica no corpo... As palavras que estendemos na areia ou no papel ou que trocámos sem fim entre nós... No fim a comida no restaurante do costume... Duas amigas, dois caminhos cruzados desde os 16 anos...

Sofia
Don't it make You smile?
Don't it make Me smile?
When the sun don't shine, it don't shine at all
Don't it make Me smile?
I miss You already... I miss You always
I miss You already... I miss You all day
This is how I feel...

(Pearl Jam)
Meu Amor Bianca,

Com este calor abrasador como tu, minha flor, só a relva fresca é uma possibilidade. Temos estado juntos nela, mas um pouco afastados. Minha querida, árvore que se estica no horizonte, tanto furor e já percebi que és tímida. No outro dia sem querer nossos lábios de lã quase se tocaram e tudo ferveu. Entendes Bianca que tu e eu só estamos bem a sós na relva bem juntos e como diz o povo "seja o que deus quiser".

desejo-te; quero-te; canção de liberdade; amor; ansejo-te; maravilhas-me; és o arco-íris; felicidade...

O Teu Amor,

Bruno

Rebola-te comigo na relva, sim?
Acabaram os "antigos" do Heliosfera, uma vez mais, são sempre confusas estas transferências ; )
Antigo

o amor de estar
no sopro do olhar
que desliza
da tua vida gravitando
no arco das minhas mãos
sobre a tua face nua
a revelação do invisível
nas carícias embriagadas
pelos nossos mundos
expandindo-se
no presente absoluto

P.s.. presente absoluto... epá, caramba... nada a acrescentar ; )

Carpinteira


A metáfora da guerra que no mundo subterrâneo move moinhos de árvores negras interdita a circulação. As curvas são o desencontro das palavras nunca ditas. Há tantas paredes de bolor e ferrugem que são seres reais com olhos penetrantes doentes de cólera que desaguam nos nossos vales. As sombras são demasiado fortes e a leveza está inanimada. Neste planeta imenso a voz escreve o sabor azedo dos teus gestos e a tua voz sempre gritando. És um coágulo nas minhas veias e não consigo verter-te para dentro dos poços. Vê este espelho, vê-te nele.

Carpinteira
Antigo

Bianca, esse castigo que te faz abrir cinquenta portas e nenhuma está suficientemente aberta. É um castigo viver assim Bianca, viver não querendo ser ausente e sentir o pavor instalando-se. Bianca, um, dois, três riscos para passar. Ris-te. Chama-se qualquer coisa como ironia. "Estás a olhar para mim, pois olha bem esta flor rara que agora se cansa e foge num repente." Foram feridos sentidos, queimaste-te nas brasas Bianca, nas chamas, no fundo das entranhas, respirando mais do que a vida. Estás pálida, mas não inconsciente...

Carpinteira
Antigo



(Lyonel Feininger, "Dünen am Abend")
Antigo

Sou um pássaro azul e o meu voo é o mais azul de todos. Respiração rápida, livre se levanta, onde tudo começa, numa rajada de ar única, rompante como a abertura do céu, num desejo perfeito no espaço límpido que deseja ascender a todas as margens e futuros além.

Carpinteira


os mortos, os mortos… eles têm os rostos inchados, os rostos chupados, eles nem sequer ouvem a tristeza do nosso coração infinito… consigo amar-te até seres, mas deixaste de o ser nesse rosto frio, morto… morto… que esfriou com o passar das horas… eu corri ao teu encontro nesses dias em que eras minha e tudo nos pertencia… levantas-te voo… não consigo correr mais porque não me devolves o olhar… os mortos, os mortos, eles não têm mãos, nem dias para gastar, nem dias, nem novas paisagens… eu não tenho de me despedir pois não? essas memórias carregadas das tuas imagens são o meu coração respirando o que foi a tua canção… deixaste de cantar onde agora a vida é cinzenta escura neste céu que cobre a minha vida… há vestígios de tudo o que foi e permaneces morta, tal como os mortos que morrem nessa solidão terrível, aquela a que te acorrentaram… os mortos, os mortos, estás morta e permanecerás morta nessa violência com que te atravessou o medo… correste a liberdade, correste até te cansar a vida… um órgão que derramou e tudo acabou… prenderam-te, amarraram-te e esmagaram quem devias ser… morreste e não soubeste morrer porque querias correr… porque o ar sabia a liberdade… os mortos, os mortos, incham e calam-se e são para sempre livros fechados… lembro-me de ti… acariciei o teu cabelo nos meus sonhos e fiz-te rir, fiz-te rir muito… nos meus sonhos ainda sabes o meu nome e sabes que sou aquela que nasceu primeiro… devolves-me as nossas horas? as músicas que ouvias, os cordéis que fazias, as brincadeiras… o som do vento não diz nada, já não estás aqui, apenas o veneno de um rosto e um corpo que irá furar o chão… serás sempre luz, serás sempre o riso que ri comigo… porque não te podes rir agora? esse riso crava-se no fundo da minha pele e levanta-a deixando-a na desolação… mas sim, ri-te, ri-te, porque na verdade é tudo o que possuímos, é tudo o que possuímos …

Carpinteira


A minha tia Lita morreu ontem. Ela tinha o síndrome de Down e era a segunda filha de seis filhos que a minha avó teve, nasceu logo a seguir ao meu pai. Lembro-me bem dela na minha infância. Não percebia bem a doença dela pois era nova demais, mas gostava de cirandar à sua volta quando estava em casa dos meus avós. Sei que foi feliz, acho que sim, toda a família a adorava e na Casa de Saúde em que esteve a partir de certa altura fez amigas entre as outras pessoas. É isso que interessa não? A minha imagem dela sempre foi e será aquele sorriso, aquele riso só dela, o sorriso, o riso à Lita de felicidade.

Sara
Antigo



(Pierre-Auguste Renoir, "Girls at the piano")
Antigo

Se morreste não voltas nunca mais, vives já fora de mim, embora eu seja aquela que aceitou todas as tuas dádivas, todas as horas que não cessaram de crescer no cume mais alto da beleza onde agora fecho os olhos sentindo-te. Esta é a minha oração. Ramos perdidos que liberto do descanso e dou uma vida agitada, uma existência de vontade habitada em mim. Se morreste os pássaros soltam-se em todas as direcções e viajam o teu nome através da força das paisagens. Esta é a minha oração.

À Lita

Sara


Blackfield: "Where is my love?"

Endless fields of emptiness in my dark and wounded heart
Where is my love?

The freezing moment when you turned your head and waved goodbye
Where is my love?

Even all the biggest storms can't take my pain away
Where is my love?
Noisy happy people crossing streets from side to side
Where is my love?

I gave you everything I could but you want the stars
Where is my love?
Endless fields of emptiness in my dark and wounded heart
Where is my love?

Even all the biggest storms can't take my pain away
Where is my love?
Noisy happy people crossing streets from side to side
Where is my love?

Carpinteira
Antigo

A minha família sempre foi uma família de Grandes Mulheres. Dê por onde der, vá por que caminho for, eu não serei aquela que irá quebrar a "tradição familiar".

Embora para algumas pessoas sejam invisíveis eu já dei algumas provas desta minha "herança familiar", mas o caminho continua, é sempre levantado do chão...

Sara
Antigo



(Amedeo Modigliani, "Jeanne Hebuterne")
Antigo

Saí agora na estação de comboios da Damaia e debaixo de um banco, mas bem visível, estava uma pistola. Eu fiquei um pouco surpresa, mas nada de mais. Comentei com o bacano que vinha ao meu lado, que não conhecia de lado nenhum: "as coisas que uma pessoa encontra..." Ao que ele respondeu: "estava para ir lá ver a cena, mas epá não quis e tal". Epá, se calhar ele em casa tem uma melhor e tal. Se não fosse o facto de eu própria já ter visto umas armas e tal, se calhar tinha ido lá ver a cena e tal. Desde que não me apontem uma à cabeça tá-se bem... Podem apanhar-me num período depré e eu dizer: "epá dispara lá essa merda de uma vez por todas e a ver se acertas à primeira que eu não tenho o dia todo!" Isso tinha piada pá.

Carpinteira


Às vezes parece que o mundo ficou longe e fala baixinho. A Primavera é lamacenta e já não corro como dantes, deixei até de saltar à corda. Mas a minha verdade é a proximidade e uma voz encharcada de poesia. Salto as poças que tentam apanhar os pés e corro atrás do vento, dos seus sons cantantes. Há demasiada vida, tutta la vita nelle mani. Percorro-a com a sensibilidade dos dedos cegando o absurdo, dissolvendo o que parece indivisível. Ah, o inimaginável mundo da exploração de consciência desperta. Sorver os objectos, alimentar-me de banquetes, respirar fundo, embarcar contigo numa aventura e saltar à corda no fim do dia porque nunca se esquece o que está dentro de nós de forma ilimitada.

Carpinteira


chuva púrpura
nos nossos beijos
no instante de luz
que somos
nesta busca
do encontro
da palavra certa
para a respiração do amor
que fala
por mil bocas
a minha força viva
em ti
é um corpo livre
recomeça sempre
junto ao teu ser

P.s.: há que frisar: a minha força viva... sim, sim... ela está bem viva!

Carpinteira


Dentes de Leão

Lembraste de como o mundo era perfeito? Vês como o mundo é perfeito quando sopras as flores e elas voam para sempre... Lembraste de as soprares quando eras infância, tudo ser perfeito e o mundo era uma nuvem cor de rosa crescendo em ti. As laranjeiras à tua frente estão agora carregadas de laranjas, carregadas de ti e há um comboio que parte. Ele parte sempre e tem um mercado lá dentro que tu compras com o sorriso dos teus olhos.

Oriana
Antigo

Algo se passa na saída da estação de comboios da Damaia onde saio, há um grande rebuliço por lá e eu quero saber o que raio se passa! Já tinha reparado neste facto noutras ocasiões... A minha formação não me larga. Credo! Será algo relacionado com a venda de armas ilegais? Depois daquele encontro de 3º grau debaixo do banco da estação estou por tudo... Eh, eh, eh! Também quero uma, só para fazer parte da cena, do ambiente aqui da zona... Sem balas, claro, não vá matar um passarinho sem querer...

Esta conversa... será o início do delírio e da demência?

Carpinteira


Conversa no autocarro: "Não deixes o pão comer o cão!"

(Eu pensei: lá está, delírio e demência, progressão rápida e eficácia garantida...")

Carpinteira


Lendo o Manual Merck Online, penso que o passo seguinte após a leitura das Perturbações da glândula da tiróide seja o Delírio e a demência...

"Embora o delírio e a demência sejam descritos, muitas vezes, em conjunto nos livros de medicina, na realidade são duas perturbações bastante diferentes. Ao falar do delírio descreve-se uma alteração repentina e habitualmente reversível no estado mental, caracterizada por estados de confusão e de desorientação. A demência é uma doença crónica de progressão lenta que causa uma perda de memória e uma diminuição extrema de todos os aspectos da função mental; ao contrário do delírio, costuma ser irreversível." No meu caso, a demência teria uma progressão rápida e o delírio seria também irreversível...

Carpinteira
Antigo



(Leon Spilliaert, "Vertigo, Magic Staircase")
Antigo



(Dente de Leão)

Eu Sou um Dente de Leão e o Vento Voa Comigo...
Antigo



(8 1/2)

Não sei quem estava em delírio maior neste filme, o Marcello Mastroianni ou o Federico Fellini... : )

Claro que os gajos ficam malucos com a Claudia Cardinale. Digamos que vai bem sim senhora...

"Guido Anselmi é um realizador de cinema que tenta descontrair-se após o seu grande último êxito. No entanto, não consegue um momento de sossego, pois a sua mulher, a sua amante, o seu produtor e todos os amigos estão constantemente a pressioná-lo sobre uma coisa ou outra e procurando mais trabalho. Ele luta com o seu consciente, encontra-se numa crise de inspiração e não consegue uma ideia nova. Enquanto pensa, começa a recordar os grandes acontecimentos da sua vida e todas as mulheres que amou e abandonou. Um filme autobiográfico de Fellini sobre as tentativas e adversidades de realização cinematográfica. Nunca se fez uma obra tão genial sobre o processo de crição no cinema."

Ah, o processo de criação...

Escusado será dizer que este é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos...

"Mi sembrava di avere le idee così chiare. Volevo fare un film onesto, senza bugie di nessun genere. Mi pareva d'avere qualcosa di così semplice, così semplice da dire, un film che potesse essere utile un po' a tutti, che aiutasse a seppellire per sempre tutto quello che di morto ci portiamo dentro. E invece io sono il primo a non avere il coraggio di seppellire proprio niente. Adesso ho la testa piena di confusione, questa torre tra i piedi… chissà perché le cose sono andate così. A che punto avrò sbagliato strada? Non ho veramente niente da dire, ma lo voglio dire lo stesso." (Guido Anselmi)

"Ma che cos'è questo lampo di felicità che mi fa tremare e mi ridà forza, vita? Vi domando scusa dolcissime creature non avevo capito, non sapevo, com'è giusto accettarvi, amarvi, e com'è semplice. Luisa, mi sento come liberato, tutto mi sembra buono, tutto ha un senso, tutto è vero. Ah, come vorrei sapermi spiegare... ma non so dire. Ecco, tutto ritorna come prima, tutto è di nuovo confuso, ma questa confusione sono io, io come sono non come vorrei essere, e non mi fa più paura. Dire la verità, quello che non so, che cerco, che non ho ancora trovato. Solo così mi sento vivo e posso guardare i tuoi occhi fedeli senza vergogna. È una festa la vita, viviamola insieme. Non so dirti altro Luisa né a te né agli altri. Accettami così come sono se puoi, è l'unico modo per tentare di trovarci." (Guido Anselmi)


"La mia vocazione più autentica mi sembra il rappresentare quanto vedo, quanto mi colpisce, mi affascina, mi sorprende..."

(Federico Fellini)

Carpinteira
Antigo

folha baloiçando
no meu murmúrio
onde os labirintos
se escondem
e as aves escutam
o que há de fértil
nas composições
que se erguem
ao longo dos ecos
das florestas
de cortinas densas
onde tu e eu
dançamos a noite
as vozes dos
seus sonhos

Carpinteira


Ensina-me a tua canção, aquela que cantas para mim, aquela cuja letra a tua bondade criou e quer sempre para mim:

"Virgem e Mãe Senhora Nossa Protegei-me e Guardei-me como Coisa Própria Vossa."

Sara


Doze árvores, uma família, chaminés robustas ao cimo dos telhados demorados em altura. Há uma luz vermelha que não pára de brilhar e um castelo que é a nossa fortaleza. Ergo uma bandeira, vou erguendo bandeiras, um de nós sabe o caminho. No cimo das varandas cantam-se todas as canções e tu ensinas-me mais uma.

A Nós (AI, AA, P, M, S, T, TM, C, G, T, L, C)

Sara
Antigo




(Matthew Woodson)
Antigo

A arte já sabemos nasce
da imperfeição das coisas
que trazemos para casa
com o pó da rua
quando a tarde finda
e não temos água quente
para lavar a cabeça.
Tentamos regular
com açudes de orações
o curso da tristeza
mudamos de cadeira
e levamos a noite
a dizer oxalá
como se a palavra
praticasse anestesia.

("Nocturno", José Miguel Silva)

Carpinteira


Um Verão feliz num cavalo branco percorrendo a perversidade do silêncio nos montes antigos. O horizonte intenso aberto escutando as formas de todas as coisas. Oiço agora as perguntas, elas doem enquanto afundam o caminho. O rio aqui contínua feliz, de uma simplicidade única. Mas o equilíbrio foi suspenso, um espaço ressequido que sinto em ti, alguém que é a mão da violência. Perscruto as pedras com o sabor das minhas mãos e sorrio. Elas tornam habitável o desejo, como a brisa de uma praia livre para o alcance das águas. Nada fecha este espaço de inundação de céu inteiro.

Sara


Posso estar toda tiróidica, reumatóidica, pulmóidica, colesteróidica, etc., mas este mês vou dar-lhe com força! (Aqui fica sempre bem um "So Help Me God", mas acho que já fiz esta piada há uns tempos atrás...)

"A change of speed, a change of style
A change of scene, with no regrets
A chance to watch, admire the distance
Different colours, different shades

We'll share a drink and step outside
An angry voice and one who cried
We'll give you everything and more
The strain's too much, can't take much more
Oh, I've walked on water, run through fire
It was me, waiting for me
Hoping for something more
Me, seeing me this time
Hoping for something else"

(Joy Division)

Liberdade, Amor e Eternidade

Carpinteira
Antigo



(Akif Hakan Celebi)
Antigo

Em relação ao post anterior "este mês vou dar-lhe com força!", ainda há outra hipótese a ser consagrada claro: o delírio e a demência... Mas lá está, nesse post não explicitei muito bem o que era "dar-lhe com força". E o delírio e a demência, quando são a sério, são com força... Eh, eh, eh! So Help Me God, agora sim!

Carpinteira
Antigo

Se fosse um tiro dispararia contra ti e cantava ao vento do oeste que a estação da neve terminara. Uma noite enamorada pela tocadora de harpa irrompe em fogo. Escorrega de mim o peso das folhas esquecidas de velho. Estendo os braços e assim por diante, por que escondes os olhos? Uma lista de estrelas abrindo os lábios, vou mais fundo que as embracações...

Carpinteira


Ich kam gegangen*

Destrói o que cobre a penitência, se são causas perdidas fala em relâmpagos, enterra os postiços com terra d'aço, a imaginação será sempre o teu fato-macaco. Por aqui não mais voltarei. Neste dia em que se respira fundo, que belas são as vistas.

*Vim caminhando

Carpinteira
Antigo



(Eugène Delacroix, "Andromeda")
Antigo

Jaime, eu queria a secreta viagem do teu nome no seu esplendor. Seguir-te porto após porto sabendo que não haveria a ilusão, mas as escamas desfazendo-se para eu ser contigo o casco mais forte dos cavalos e projectarmo-nos sem fronteiras no nosso encontro. Jaime, em ti sei que o amor torna a vida maior.

Carpinteira


anoiteço de novo
mas serei uma
estátua de movimentos velozes
ardendo as entranhas
nos quartos de aluguer
as cidades são éguas
que passam a correr
o som da liberdade
sei agora que
nunca fui parte de ti
porque os pássaros são gentis
e o teu vestido é branco
oferecendo apenas
superfícies lisas de gelo
numa festa que desejava
apenas o desejo
as minhas confidências
são a abertura lenta
de uma flor
uma espécie de jangada
abrindo o sulco de um rio
sou de novo quem sou
a égua que passa a correr

Carpinteira


A minha consciência encanta-se com as sensações das árvores e fala mais alto do que a voz de alguém. Quem fala comigo agora? Prolongas os cachos das uvas, mas o teu sabor é amargo. Saboreio este túnel de luz pobre amadurecendo até ao seu final. Os ruídos voltam, voltam sempre e eu respondo-lhes porque são aguçados e chamam-se as minhas feridas. O que me queres dizer? Eu salvei um cavalo-marinho, ele apresentou-me o mar inteiro. Tu falas-me de mordedoras e ainda me mordes. A areia perdida nas rochas, perdida entre as conchas abertas, as sombras das gaivotas escorrem agora para dentro de mim…

Carpinteira
Antigo



(Paul Cézanne, "Man in a room")
Antigo (mensagens da Heliosfera de Junho/Maio 2008)

talvez eu subisse a uma madrugada tua e a juntasse à minha, nós imensuráveis, impossíveis de dirigir... vegetação densa sempre cercando-nos... pareces reacender a descoberta das viagens enquanto caminhas... salva, hortelã-pimenta, a coroa das romãs curvando-se nas minhas palavras, um elemento da corrente que avança, tal como a tua...

Sara


Minha menina se foi ao mar
a contar ondas e pedrinhas,
porém se encontrou, de pronto,
com o rio de Sevilha.
Entre adelfas e sinos
cinco barcos se mexiam,
com os remos na água
e as velas na brisa.
Quem olha dentro a torre
adornada de Sevilha?
Cinco vozes contestavam
redondas como anéis.
O céu monta elegante
ao rio, de margem a margem.
No ar cor-de-rosa,
cinco anéis se mexiam.

(Federico García Lorca, de "Canciones Andaluzas")

Carpinteira


"Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas."

(Federico García Lorca - 5 de Junho de 1898/19 de Agosto de 1936)

Consegues ouvir-me...?

Carpinteira

sábado, 2 de agosto de 2008



("Cores Cores")

Oriana diz: "as Cores vão aumentar!"
Uma enxurrada de lágrimas
Que de uma colina estrafegada vem
Como se as praças fechassem
Se as armas abrissem fogo
Às entradas
As notas caíssem dos instrumentos
Não vejo mais
Do que as pedras no caminho
Não há casas para habitar
Só mãos cansadas de lutar
Sem direcção
I remain alone

Give me something, give me something
Give me something, give me something
Give me something, give me something real


(AFI)
Os Guns N' Roses dizem:

"Don't you cry tonight
There's a heaven above you baby"

Tenho chorado muito, ontem tive muitos pesadelos, a parte do céu ainda não vi/senti muito o Axl que me perdoe. O que é feito das rosas Axl?!
É com grande contentamento que anuncio que a Heliosfera está de novo no ar, mas com brevidade:

aqui


(Azulejo Gaivota)
Há perguntas que trazem os pesadelos frios que arranham a face e imobilizam o corpo nesse rio que não pára… mas sabes disso? Sabes que o corpo não pára, é uma revolução, e progride mesmo nesses movimentos lentos em que se cai fora da luz para se acordar na esperança e se ouvir um som de um mocho debaixo da cama e não ter medo porque as suas asas escalam as montanhas connosco e os sons da noite talvez só pernoitem e nós adormecemos no quente e não no frio.
"I'm Still Alive"

(Pearl Jam)

Se houve uma tesoura que usas-te para te magoar Sofia quando demasiado te doía, quando a espetaste com demasiada violência carne adentro como quem quer matar a pele, agora queres que as feridas serem, agora queres que as tesouras não sejam afiadas e não estejam com os bicos virados para ti e não queres Sofia pegar neles para te fazeres mal. Antes dizias Sofia que as tesouras eram tuas amigas, amigas da tua dor, agora a tua dor quer sair para fora sem entrar mais para dentro e as tesouras servem para recortares papéis para fazeres bonecos de cores.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Aqui vai de novo, porque nunca esquecido ; )



(António Paixão, "Banco de jardim Acompanhado")
as flores crescem mais depressa
nas nossas mãos
flores de cor que ardem as cores
porque a sua chama
é de trigo, milho e centeio
a jornada começa com o sol brilhando
sobre todas as janelas abertas
e deixa o olhar radiante
palavras de néctar
estas que falo contigo
porque o caminho para casa
é uma ave rumando sul
já se ouve o seu som
por estas paisagens
vai ao sabor de um vento
que a quer levar
vai ao sabor de tudo
o que é verde e azul
Se há liberdade nesse escorregar de dias, então há laços que se abrem, tranbordando como uma sala sem medidas, lagos sem feridas, futuros em contrução.