sábado, 23 de agosto de 2014


Moras dentro de mim
Um lume aceso
Que se alastra como o vento
Abrindo um campo imenso
Onde mergulho:
Deixo-me invadir pela tua luz
Pelos milhões de partículas
De contentamento que se seguem
 
Jaime Campos
 
Morares dentro de mim foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Salvas-me a cada dia que passa. Tu és um campo imenso e mergulhar dentro de ti tanto é maravilhoso como mete medo. Mas o teu amor verdadeiro é verdadeiramente luminoso e traz-me tanta vida, vida que eu julgava já não existir. Nunca te vás embora porque o meu contentamento surge com o nosso contentamento. Cada invasão tua dentro de mim cada felicidade minha. E não há ninguém que me faça tão feliz. Segue-me amor, por todos os meus milhões de partículas que chamam por ti, que nos desejam, que nos festejam. Somos juntos um lume acesso que se propaga pelos nossos corações, desmedido. Demoremo-nos dentro um do outro para a eternidade.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.


(Mia Couto)

Sim, amor, com cada entrada em ti afogo-me no teu mundo e sou mais eu, mais desperta para algo maior que cresce sempre mais entre nós. Cego porque quero, para ver mais do que alguma vez vi pois ofereces-me a tua riqueza, algo que nunca senti. Sol e Lua, ambos me trazes, os teus, esculpidos só para mim. Minha noite alvorecida vens sempre para eu te saber meu.




Eu começo em mim. e escrevo como eu.

sábado, 16 de agosto de 2014


mas desta noite
Nenhum suspiro,  pensamento
Beijo ou olhar seja  
perdido
 
(W. D. Auden)
 
Sim, amor meu, não me deixes adormecer, para que tudo aconteça entre nós esta noite. O que tem esta noite de especial, perguntas? É nossa, uma noite em que nos sabemos um do outro e as estrelas cantam para nós. Peço o teu toque, aquele que conheço há décadas, peço-o dentro de mim. O rio que me percorre é o mesmo do que o teu e viajará longe esta noite. Esta noite pertence-nos, ofereço-ta, prenda de vontade de proximidade. Então vem, vamos juntos os dois.

"Procuro a  ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo"
 
(Eugénio de Andrade)

A  ternura súbita vem surpresa como um raio de sol num dia cinzento, vem de repente, abre-se de repente. Como tu vens às vezes, prenda de coração minha, vindo de próximo, olhos do tamanho do mundo. Nasces em mim e cada olhar alegra-nos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014


Eliot

 Morreste  naufragado Eliot. Tens a certeza? Porque leio agora cada verso teu e sinto-te mais vivo do que nunca. Há em ti uma vontade de continuares a captar tudo aquilo que vês, de tomares teu cada momento que observas. O que há de escondido também é teu, pois reconheces todas as línguas. A tua magia Eliot habita num mundo que nos conta tudo: a dança que a move é espantosa, são crianças brincando nos seus ritmos de liberdade. Vale a pena estares vivo pois as tuas divagações são o alimento de júbilo nosso. Perturba o universo, espreme-o quanto quiseres: faz com que o teu pensamento entre no caos suficiente para criares e recriares o teu universo. Vale a pena Eliot, vale a pena, seguires a tua voz e dizeres-nos quais são as tuas palavras de eleição.

Ò  Tó cadê a Maria, vistes-a?
Ò mulher sei lá da Maria, foi à fonte, sei lá…

Viva a Maria da Fonte
A cavalo e sem cair
Com a corneta na boca
A tocar a reunir

Eia avante, portugueses
Eia avante, não temer
Pela santa liberdade
Triunfar ou perecer!(refrão)

Lá raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho, que primeiro
O seu grito fez soar!

Essa mulher lá do Minho
Que da foice fez espada
Há-de ter na lusa história
Uma página dourada!
Hino da Maria da Fonte
E aqui vai uma homenagem a um grande homem:


Talcott Parsons

sábado, 2 de agosto de 2014

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.”

(Charles Chaplin)

Que ensaios? Somos deitados aos leões sem aviso prévio e que nos desembaracemos. E atuamos, atuamos perante esta situação ou aquela, perante esta ou aquela pessoa, consoante as áreas da vida. Usamos constantemente máscaras. Odeio isso! Mas exigem-me isso! Não posso ser eu. Sou bastante criticada. E sinto-me verdadeiramente mal. Porque me preocupo com isso, com o que os outros pensam de mim. Mas eu vivo em sociedade. Asfixia-me. Gostava de me sentir mais livre. Passei por uma situação horrível na minha vida. Nunca me tinham dito que podia acontecer. Tantos sonhos. E na minha cabeça quase todos realizáveis. Ensaios? Fizeste mal, ora torna a fazer. Fizeste merda? Tens as consequências, não podes voltar atrás. Isso é que era bom, ensaios. O mal não se desfaz, o que está feito feito está.



Era uma vez um A. que andava interessado numa garota. Ela desconfiou disso e pôs-se a pensar nele. Era uma figura interessante. Hum. A. não tinha coragem de se chegar ao pé dela. S. continuou a pensar em A. S. começou a pensar de tal forma em A. que se sentiu atraída por ele. Foi falar com ele. Olha lá, soube que tu estavas interessado em mim, eu também estou interessada em ti, como fazemos isto? A. era muito tímido. Olha, não percebo nada disto. Olha, eu também não, mas acho que temos de dar um beijo. Mas eu não posso. Porquê? Tenho mau hálito. Então vai lavar os dentes e a boca e depois damos o beijo. Ok, mas ainda assim não sei se a coisa vai resultar. Vamos tentar. A. lá foi. Depois voltou já todo limpinho da boca. S. disse-lhe: então podemos? E começaram a dar um beijo. Ai, queixou-se A. Desculpa, tenho um aparelho na boca, não és só tu que tens problemas. Então tira. Isto não se pode tirar. Ah, ok. Bem, então ficamos assim, eu tenho mau hálito e tu tens um aparelho. Fomos feitos um para o outro.

Quando falo contigo, tens razão, chama-lhe lá sintonia e afinidade, eu chamo-lhe Alegria e Magia…e…e…e…e…Amor Verdadeiro!


Os nossos filhos saltarão à corda, brincaram ao elástico, ao pião e aos berlindes.

Sabes  o que significas para mim. Quem sabe, digo timidamente: deixa que te  surpreenda. Há em mim um desejo de ser melhor para ti: dar-te mais atenção. Se fosses uma música eu ia querer passar o dia a ouvi-la. Se escrevesse uma história sobre ti escreveria sempre mais. Framboesa. A minha dança de te dar as boas vindas é a tua também. Sei o que significas para mim. Apanhamos sempre o comboio. O nosso. Se durmo? Durmo virada para ti, aconchegada por ti. E tu também. Se as nossas flores são Primaveris? Ela são pássaros. O que é o sol? Ele amanhece dentro da nossa união e ilumina cada parte de nós. Vamos? Vem dar o nome às ruas onde passeamos juntos, às borboletas que nos acompanham e aos barcos que partem connosco. Quero surpreender-te, como faz a raposa ao coelho.
Peixinho mais saltitão do mar, escamas arco-íris, olhito solto, nadas no mar como se este fosse o teu reinado. E eu sou a tua sereia cor-de-rosa.

quarta-feira, 23 de julho de 2014



Eu sei que consigo dar mais de mim.




Mas tenho dois problemas:




Eu não acredito em mim.




Ninguém acredita em mim.




Mas há uma pessoa que acredita que eu sou capaz de dar mais de mim.

podias abrir um pequeno orifício na minha pele, furar devagarinho e tocar-me o coração

sábado, 19 de julho de 2014


No primeiro concerto de Nick Cave a que fui conheci-o e ele disse-me que queria ir ao Inferno.


Não sei se chegou a ir.


Eu fui.


Foi a pior coisa que me aconteceu na vida.


I  understood how a man who has nothing left in the world still may know bliss.


(Frankl, "Man's Search for Meaning")

Frankl afirma isto após ter estado num campo de concentração nazi.


Tendo pouco se faz muita vida às vezes.


Continuando:


https://www.youtube.com/watch?v=LsBJ62jSCl0




Eu sou todos os nomes porque em mim vivem rios de centopeias que rumam a direções várias tentando viver o que é possível…neste momento. Não te apoquentes pois estás a ser sarada. Diz quem? Todos os nomes alimentam-me uns dos outros com sabedoria. Sabedoria? Ainda não tenho muito conhecimento mas já tenho mais que tinha. Todos se riem com a rima. Quem és? Não quem gostaria de ser porque não sou Livre e vivem em mim tantas prisões que à minha volta todo o campo murcha. À minha volta todo o campo tem a força do rinoceronte e é ele quem me ensina o nome das flores. Sou muito, tenho tantos nomes que me embrulho no quem é quem. Entre estou a arder a querer fazer-te sorrir também a ti e estou desanimada sentindo o abismo debaixo dos pés. Quem é quem? Podemos estar sempre juntos, foi assim que tudo aconteceu, os nossos nomes uniram o que já estava unido. Somos todos os nomes.



Todos
Apetece-me tanto fumar! Tenho um penso de nicotina fase 3 (final) pespegado no braço, sei que estou doente com uma treta qualquer ao nível das vias respiratórias e...apetece-me tanto fumar! Olho para os maços de tabaco dos outros como se fossem comida e eu já não comesse há três dias. E quando eles estão a fumar tudo piora, fico tão ansiosa que, às vezes, espumo da boca. Mudando de assunto, quem está no meio do fogo queima-se, toda a gente sabe, e eu queimo-me quase sempre. Porquê? Porque tenho a sensação de que domino as situações e que elas estão a correr como eu quero. Mas tenho as vistas curtas, por vezes a é b. A minha opinião sobre as pessoas é ruim. Elas simplesmente passam o tempo a magoar-me. E eu tanto as quero perto de mim, como longe.
Este tipo é extraordinário:


https://www.youtube.com/watch?v=Uw_Khlt3NiQ

quarta-feira, 16 de julho de 2014


O meu nome:
Gesto que fala para fora
Sinto-o como chuva imensa
Como incêndio
Horas de barco sempre rumando
Onde procuro escutar-me
Tacteando a minha música
Querendo ser o caminho das coisas
Um movimento da existência
Esperando a sua vez.
Percebo na paisagem
A presença da seiva dos frutos nas canções
E o desejo de me lançar na sua respiração
No mundo livre dos pássaros
Encontrarei a minha casa

Bruno


Vim de férias:

É pena que tenham acabado, vir outra vez para esta “regularidade” não me agrada.


Fui à praia uma vez e meti os pés dentro de água, só os pés.

Escrevi bastante, estou muito contente comigo.

A fantasia e eu namorámos bastante. Foi tão romântico…

Desconfio muito que tenho apneia do sono. Fantástico, posso morrer a dormir!

Já tenho uma consulta marcada. Mas, entretanto, posso morrer.

Esta parte do morrer sou eu a dramatizar. Eh, eh, eh.

Continuo sem fumar, mas existem alturas em que penso que não vou resistir.


É só cravar um cigarro ou comprar um maço, tão fácil quanto isso.

Às vezes sonho com pessoas com quem não gosto de sonhar porque, obviamente, me faz mal.

Ainda não descobri o sentido disto tudo.

sexta-feira, 4 de julho de 2014


Sem caminho
 
Ao caminho faltam sentidos para irmos munidos de amor. Está tudo a ruir e pergunto-me: onde vou cair? É verdade que tenho muitas almofadas mas estou preocupada com as pancadas. Relâmpagos ruidosos na minha cabeça, muito teimosos. Paz é coisa que não tenho, imbróglios de todo o tamanho. Raios partam esta canção, parece que não tem conclusão. Fugir para onde, não tenho o dinheiro de um conde. O sinal está sempre encarnado, para mim não há rebuçado. Falta de doces é um pecado, e eu bem os pedi no meu recado. Apanhei um barco a pensar que ia para um destino e acabei a tocar o sino da aflição. Mas sei nadar, e de mar em mar vou a passear com a correnteza. Com certeza que quero do melhor que há, ao meu redor andam coisas estranhas que têm as suas manhas e sussurram-me cartas de filosofia. Têm sabedoria, preferem brincar comigo ao jogo criativo de rebolar nas nuvens e fazer contrabando de cores encantadas, saladas de sabores para todos os gostos. Ninguém me faz favores, eu tenho de ir com a minha matilha toda maltrapilha pelo jogo dentro, contra o vento, contra tudo. E o futuro, dizem que é domínio de Deus.


Embuste

Sou atormentada por repetidas visões de salvações que não se deram, que forçam os meus pés a enterrarem-se na profundidade de uma terra de dramas cujos nomes vou mudando mas cujo título é sempre o mesmo porque no sofrimento em que vivo constantemente não há lugar para uma pequena ternura. Correm-me nas veias cores que me atraiçoam quando tento construir dias diferentes, na minha cabeça um caos metálico trava-me os gestos e devaneio facilmente nas armadilhas da existência. Sinto cada vez mais o rugir de algo que vem com muita força de dentro de mim, é um choro aflito que me torce toda e que me cobre de sensações de uma penumbra que possui o meu corpo por inteiro. A angústia de não conseguir aniquilar a cristalização dos movimentos que sabotam qualquer filão de vida fresca parece navalhas num embute à minha espera, numa altura em que tenho demasiadas cordas a embaraçarem-se nas minhas pernas este está mais perto do que nunca.

Batido de morango

 

Beber batido de morango é um bálsamo de festins que só existe quando tu pegas nele e te deixas abrilhantar pela sua pura vida. Ele conquista os morangueiros todos enaltecendo o entusiasmo da terra e surpreende os morangos no seu crescimento vindo como vento de sabedoria. Conheço bem demais a cor do leite, os meus vestidos dançam com ela nas loucuras dos jogos de bonecas quando elas se desejam casar com o príncipe formoso do reino que dizem ser encantado. Quando o morango choca com o leite saltam faíscas e os morangos soltam-se em pedaços criando uma nova cor no leite macio. Que sabor celeste dizem ter, essa fusão de gostos, até aos anjos apraz.

domingo, 22 de junho de 2014

Existem ervas douradas que gostam de girar à roda do sol, têm cores variadas sempre luzentes pois ganham as cores que o sol pinta nas suas pétalas dançantes. O céu simpatiza com elas e envia-lhes raízes de pólen para enriquecê-las de sangue novo. Nada as deita abaixo, o vento respeita-as e, ao de leve, faz-lhes festas, sentido um enorme aprazimento ao poder ser delas por um curto instante. As abelhas, sendo da cor delas, sentem-se em casa e fazem viagens de barco buscando alimento nos seus ninhos. Quem sorri são sempre as outras plantas que se deliciam com a sua felicidade, fazem brindes com elas e jogam algumas tardes jogos de quando eram plantinhas e as pétalas ainda estavam semi fechadas. As ervas douradas pululam em cada lugar e em cada sítio pois são desejadas neles todos. E quando uma montanha nasce a primeira coisa a nascer nela são elas, elas são as convidadas principais. Tudo no mundo espera por elas, são elas quem cria uma parte do mundo. Elas são especiais porque não há quem dirija o sol daquela forma tão certeira que ilumina toda a vastidão.


Bernardo

sábado, 21 de junho de 2014

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Rabiosque

Era   uma vez uma centopeia que gostava de areia e lá ia toda ela aos bocadinhos  pelos grãos achando-se muito bela. Dizia que não rastejava, que ia a correr com as patinhas a arder. Estas faziam poesia com o seu caminhar, era vê-las a rabiscar em todo o lugar, palavras a rimar. Ela assinava com o rabiosque que, de tal forma elegante era, estava sempre em Primavera e nem uma sarda de idade tinha. Era portadora de uma grande fertilidade e existiam bichinhos seus por aqui e por ali, bichos igualmente céleres e dados aos rabiscos. Tinha pavor de ser feito isco, acabar comido como petisco não era de todo o seu excelso sonho. Uma centopeia que subia dunas feita escada com as suas passadas escorregadias e para si os dias nunca terminavam. Sabia sempre o que fazer, estava sempre ocupada e às vezes aparecia com a sua manada e eram mil patinhas a dançar.


quarta-feira, 11 de junho de 2014


Eu faço análises no Laboratório de Análises Clínicas Nova Era-Luz, Lda. Muito espiritual. Por isso é que nunca estou doente.

Simples amizade
 
Uma mulher era íntima favorita de um homem mas era coisa de simples amizade. Todos os dias existia uma conversa amável e ritmada por passos leves tida pelos dois compinchas numa passeata jubilosa pelo jardim. A vizinhança falava, falava, a coscuvilhice não tinha fim. Ambos viúvos, filhos já criados, uma bela estima entre os dois e tanto falatório. Nas esquinas tagarelava mais alto a inveja que subia o tom ao vê-los passar em seus familiares sorrisos. Um dia os seus sorrisos caíram em cima da coscuvilhice, do falatório e da inveja e fizeram com que eles se sentissem em dificuldades de moral.

Eu sou uma pessoa de relevo.


Sofia


As Patinhas

Era  uma vez  uma centopeia que gostava de areia e lá ia toda ela aos bocadinhos pelos   grãos achando-se muito bela. Dizia que não rastejava, que ia a correr com as patinhas a arder. Estas faziam poesia com o seu caminhar, era vê-las a rabiscar em todo o lugar, palavras a rimar. Ela assinava com o rabiosque que, de tal forma elegante era, estava sempre em Primavera e nem uma sarda de idade tinha. Era portadora de uma grande fertilidade e existiam bichinhos seus por aqui e por ali, bichos igualmente céleres e dados aos rabiscos. Tinha pavor de ser feito isco, acabar comido como petisco não era de todo o seu excelso sonho. Uma centopeia que subia dunas feita escada com as suas passadas escorregadias e para si os dias nunca terminavam. Sabia sempre o que fazer, estava sempre ocupada e às vezes aparecia com a sua manada e eram mil patinhas a dançar.


Faz tudo valer a pena, a vida é tão imensa.

 

Sabe bem a recompensa. Ser alegria e rir-me do cheiro do sol, do sabor da chuva.

Corre para a vida, senão ela murcha.

O que quer de mim a vida? Que eu seja esplendorosa como ela, brinque todos os dias.

Eu desejo que ela converse comigo horas a fio sobre o que é de aproveitar para eu o poder realizar.

sábado, 7 de junho de 2014

"The only time I feel alive is when I'm painting."


Vicent Van Gogh


Como o compreendo. É uma Liberdade. Chega, por vezes, a dar Paz de Espírito. A pessoa sente o sangue a correr nas veias, por vezes ferve. Mexe comigo escrever, tanto! De todas as formas possíveis. Fiquei sem computador uns dias e já estava a bater mal. Eu que não tenho quase nada, a escrita oferece-me, por vezes, quase tudo.


Sofia Sara
Acredito em Corações


Dizem que há corações grandes, por momentos vou acreditar. Vou acreditar com muita força. De tal forma que o meu coração se torna enorme e brilha em qualquer escuridão. Sou uma fogueira que te aquece e que te diz as palavras derramadas por um dia solarengo. Quero ser o teu sol e desejo que os meus raios sejam a tua alegria. O teu coração é grande, precisas de saber isso. Eu vou acreditar como quem acredita em monetinos. Porque, por momentos, eu vou acreditar que tenho um coração grande. Um coração desmedido que atravessa muitos e muitos campos. Que nunca dorme. Que te quer dar, a ti e a ti. E dá. Me acarinha, com todo o carinho pois também eu preciso do alimento do sentimento. Sei os gestos todos, as palavras todas para tos oferecer de coração feliz. Vou acreditar e há alturas que julgo que quero tudo isto.


Todos

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Amar: Amar é uma peça de fruta que se oferece, uma peça de fruta enorme, cheia da nossa vida. Amar é sermos nós na nossa essência, sermos a alegria que vive no nosso interior e espalharmo-la pelo resto do mundo. Amar é dar, o desejo de dar sincero e maravilhado por o sentir. Amar é ser um coração feito do brilho perfeito das estrelas. Amar é querer ir mais longe: plantar a árvore ao pé de ti.


Todos

domingo, 1 de junho de 2014

Dia da Criança: Vamos ser o que somos, crianças o tempo todo, aparecer de repente a correr debaixo do pó da terra por desenhar com os pés sujos, atirar serpentinas para cima das árvores de troncos esticados para o céu e balancearmo-nos nos baloiços para sempre. Olha, diz a menina: há um cágado a andar devagarinho e outro menino empurra-o como se os dois meninos pudessem crescer mais depressa. Risos e mais risos são escutados porque há uma festa que é uma descoberta diária e é sempre feita de paixões. Se eu fugir vens-me agarrar? E há tantas brincadeiras, como aquelas que principiam as canções, depois elas dançam em redor de fogueiras feitas no momento e vão desvelando os segredos que habitam nos sonhos.

segunda-feira, 19 de maio de 2014


O Rafeiro

 

O homem começou a praguejar contra quem o tinha tornado num qualquer rafeiro numa estrada que ele dizia ser podre. Quem o tentava acalmar era atingido por pedras de infâmias tenebrosas. Ele continuava, agora fazendo previsões cruéis: os vossos campos irão morrer nas vossas mãos, seus cobardes miseráveis. Delirava, delirava enquanto tentavam amansá-lo com a brisa agradável que corre perto do rio. Mas ele, bruto e assustado, era animal sem salvação. Entregava-se às suas terríficas torturas e soltava-as na direção de qualquer alma que passasse junto dele. Massacrava-se ferozmente enquanto os outros homens queriam tirá-lo do seu inferno. Mas ele já não sabia viver fora dele.

História do cigarro

Um cigarro desorganizado cantava ao luar tudo aquilo em que acreditava e mais um par de botas juntamente com as sandálias de um verão abrasador. Ele acendia-se com a força da melodia das estrelas e brilhava incandescente fazendo o furor dos pirilampos. Tudo fervia nele: ideias rebuscadas, ideias floreadas. O cigarro era um conquistador colecionador de isqueiros enferrujados, tinha uma oficina para torná-los requintados. A sua cinza era prateada clara, parecia um rio na época das enchentes repletas de peixes grávidos. Escolhia com precisão as bocas, tinha uma predileção pelos homens com cheiro a terra arada dos campos. Quando chegava à ponta sinaleira, o isqueiro fazia o milagre de tudo recomeçar.



segunda-feira, 12 de maio de 2014


1. Qual é coisa qual é ela cai no chão fica amarela?


2. Qual é coisa qual é ela cai no chão fica preta?


Respostas:


 


1.                  É um sol que se transformou em gelatina de ananás.

2.                  É uma lua que a noite pintou quando estava mal disposta.

 

1.                  É água dourada de uma torneira que não para de jorrar.

2.                  É cocó de galinha estouvada que só bebe groselha escura.

 

1.                  É um bronzeado já ressequido de uma praia intranquila.

2.                  É uma pen desmazelada que, coitada, não armazenou bem os dados.

 

1. É uma colheira de limões cheia de minhocas no interior.

2. É o bater das asas dos morcegos nos seus voos tardios.

 

1.É uma contadora de histórias e a sua sabedoria nos campos de trigo.

2. É o catarro de um fumador cuspindo o chão de uma rua em silêncio.

 

1.                  É o meu isqueiro chamado alegria que acende qualquer forma de magia.

 

2.                  É a cor das letras do meu perfume, juntas formam Sofia e Sara.


Iguarias em cascata


Quero respirar um ar que dizem que é fresco e que traz iguarias em cascata mas não sei onde habita, se é que vive em lugar algum. Devo acreditar que existe tal ar, se nunca sequer vi um pequeno malabarismo dele? Existiu uma altura, chamada ilusão, em que o senti como ondas rebentando aos meus pés. Agora quero pressenti-lo por aqui e por ali e não sei se jogo bem aos dados de encontrar o seu caminho.

domingo, 11 de maio de 2014


Sonhar

Era uma vez uma menina fantástica que sonhava o céu mais bonito do que ele era pois via nele cerejas que se emaranhavam umas nas outras para fazer fogo-de-artifício em todas as cidades transformando-as em barcos de piratas brincando aos tesouros escondidos. Ela saltava à corda nas nuvens desenhando os horizontes da sua fantasia e oferecia essas cores de vida, em risos, a toda a gente. No seu voo solar habitavam mil segredos sempre prontos a serem contados e ela soprava-os ao teu ouvido. O seu sonho ela sonha junto de ti. Esperam-te mil passos em frente, seguindo-se outros mais.


Ela
 
Tinha de ser do jeito que ela queria, e ela era uma espécie de magia. O seu sorriso levantava voo e o mundo seguia-o, parecia quase uma ordem a ser cumprida. Deusa era quando queria que os olhares fossem todos joias reluzindo perante a sua pompa e circunstância. Pediam os seus conselhos, desde a mobília até ao chapéu do moço, e mudavam até a música que ouviam. Os percursos eram por ela escolhidos e quem ficasse no cais perdia a sorte de um trilho para o paraíso, segundo dizia. A sua beleza desnudava qualquer um e quem se aproximasse demasiado gozava a vida num esplendor ilimitado. A noite era sua amiga pois nela fazia as suas tropelias e confundia quem encontrava no caminho com a sua alegria. Quem a conhece sabe que ela é mais do que aparenta, menina de um coração repleto de ouro.


Filosofia de pacotilha

 A filosofia queria ir para além da sua pequenez
E estreou-se na magia
Fazia desaparecer elefantes-bailarinos
Que voltavam pirilampos
Estes execravam cantar
Pois qualquer canção distraia a yoga que faziam
Tentou lavar ruas resumidas
Com um chuveiro de jubas de leão
Que logo enlameou o chão
E derrotou o alcatrão com o peso de quinquilharias
A filosofia desejava a mestria da sabedoria
Atirou-se ao alvo:
Aprendeu a contar histórias de embalar
Porque tinha de se enfiar num qualquer buraco

quarta-feira, 7 de maio de 2014



Certas ruas

Eram ruas que se desequilibravam como se lhes faltasse a bengala, ruas de cidade nas quais ninguém investia qualquer quantia. Passeavam por lá lobos solitários e gentes que não sabiam a quantas iam. Pensamentos tortuosos deambulavam e diziam boa noite a outros, outrora sensatos, agora decadentes. A lua surgia sempre com os seus murmúrios entristecidos nessas ruas que cambaleavam juntamente com os cães desabrigados do vento que lhes roía o seu âmago. Uma senhora falou e ninguém ouviu, falou horas a fio. Parecia autêntica filosofia mas o ruído do silêncio permaneceu nesse dia nas ruas que são agrestes a tudo o que é diferente de cruzamentos e cruzamentos sem saída. Um estrangeiro quis atravessá-las com a sua bondade mas foi afastado com uma maré de obscuridade. As ruas estão repletas de frases arruaceiras ditas por criaturas de pouca virtuosidade e engolidas em seco por homens de barba longa. Faltam-lhes destinos, tropeçam nas pedras que estão no seu próprio caminho.

O Café e a Saudade

Quando um coelho bebe café a mais o seu cérebro incha e explode ideias em corrente elétrica que surpreendem os empregados que se tinham esquecido das suas existências. São ideias que disparam tiros de assombro na direção de qualquer um, é preciso ter traquejo para falar com elas e uma inteligência velhaca acima da média. Aproveita-se, no entanto, o abstrato conceito de Saudade, sugerido como “a insuportabilidade de uma dor incompreensível”. Talvez este conceito seja fruto de uma saudade sentida como apertos magoando o coração, falhas cardíacas, contrário a uma respiração forte do coração. Um coração com força que vive da permanência.


História da Minhoca
 
Era Inverno e uma minhoca não queria sair da casota porque tinha perdido o seu cascol preferido. O seu amigo castor visitava-a todos os dias e raptou-a para o meio da floresta onde vivia para ela apanhar finalmente um pouco de ar fresco. Ela entrou em pânico e pisou uma formiga sem querer. As outras formigas viram e foi um grande sarilho, rebelaram-se e começaram a comer-lhe os olhos. Ela ficou cega, não conseguiu voltar para casa e pernoitou numa clareira cheia de frio. No dia seguinte, cheia de fome, procurou a árvore mais próxima e começou a comer uma folha. As outras folhas rebelaram-se e começaram a come-lhe as patinhas. Depois disto ela mal conseguia andar. Cega e coxa, ela começou a chorar. Um pássaro que voava pela zona deu por ela, fez voo cerrado, apanho-a certeiro, voou até ao seu ninho e deu-a de comer a uma das suas crias esfomeada. Resumindo e concluindo: sacana do castor!

A vida é muito estranha. Agora acredito em Deus e noutras coisas ligadas ao Divino. Estranhos fatos ocorreram na minha vida para isso acontecer. Era 100% ateia. Mas comprovaram-me o contrário: determinados fatos que me levaram a aprofundar o conhecimento sobre o ser humano. Tenho tentado explicar às outras pessoas. Mas elas não acreditam. Acho que só passando pelas experiências. Experiências religiosas, acho que se pode dizer assim, muito fortes. Embora não estejam ligadas a nenhuma religião. Sempre achei essas experiências estranhas pois são coisas muito diferentes do que se passa no dia-a-dia e na vida normal em sociedade. Há muito mais mundo para além deste mundo que conhecemos perto de nós.



Sugestão

Uma cantiga saiu a correr, a correr à procura de dentes de leão para comer uma sugestão. A sugestão era do tamanho da boca de um sapo escancarada, um caso de difícil solução. Os leões tinham ido à caça da bicharada e estavam a demorar mais do que o habitual, a cantiga em desespero dizia: “a sugestão quer dar comigo em doida”. Apareceu um leão com três dentes e emprestou-lhe um em troca de um verso seu: “ó leão, és o rei de todas as coroas”. Ela foi comer a sugestão mas ela não se deixava engolir. Eis que aparece o SOS: “dá-lhe uma marretada na cabeça”. E assim foi: a sugestão levou uma marretada na cabeça e abriu logo a garganta.



Tempos
 
As pessoas gostam de andaricar por aqui e por ali com fatos de banho de Inverno porque nunca sabem que tempo vai fazer nestes novos tempos de incerteza absurda em que os ratinhos de ruas estreitas têm insónias e contam histórias sobre como era viver no campo enquanto brindam a um futuro sem raticidas. As pessoas apontam o dedo ao bêbado maltrapilho que se senta todos os dias no mesmo café, na mesma mesa e ele conta-lhes histórias de outros tempos em que era prisioneiro do fato e gravata, quando era um homem de negócios inútil. Agora, bêbado e maltrapilho, quando andarica nas ruas estreitas à noite jura ouvir conversas sobre como era viver no campo noutros tempos e como o mundo seria melhor sem…raticidas.


Agora sei porque não puderam ficar, pena não me terem dito. Era escusado tanto sofrimento. Eu não teria expetativas. Não tinha ficado à vossa espera, não teria sido uma pedinte. Tinha ficado sozinha na mesma mas sabia que estava sozinha sem essa dor de me sentir abandonada e de querer saber de vocês. Afinal de contas o que estiveram a fazer na minha vida se sempre me deixaram sozinha? Pode-se dizer: eu não era importante o suficiente, não podiam dar mais, eu era muito exigente. Fosse o que fosse. Não faz sentido estarem na minha vida. Não puderam ficar porque não gostam verdadeiramente de mim.  

Sofia


Andorinha-intranquila


O sorriso da andorinha-intranquila


É mais espaçoso do que o próprio mar


Ri-se na hora exata em que o lobo junta a matilha


Para ir à caçada das galinhas


E desabrocha sempre quando o marinheiro


Está a pescar o pescado que cantaroleia


Ela voa num grito suave


Abrindo as janelas para ondas célebres


Ondas com perfumes afrodisíacos


Que ela espalha pelas escamas dos camaleões


Com cores estrangeiradas


Ela conhece as versões de todas as bússolas


E encontra ouro verdadeiro nas suas agulhas


Como as suas asas são feitas de embarcações


Ela sobe em alegria


Intranquila


sexta-feira, 2 de maio de 2014

"Não [me posso esquecer] de que a minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência"



Fernando Pessoa


Só eu posso fazer isso, evitar que vá à falência, apenas eu.
E como é grande a minha empresa, ocupa o meu tempo todo.
E se for à falência, o que faço sem ela?
Tenho de me agarrar ao cimo do abismo.
Não descer por ele abaixo.
E ir por outra direção.
A outra direção, mostras-ma?

segunda-feira, 28 de abril de 2014

"I don't care if Monday's blue
Tuesday's gray and Wednesday too
Thursday I don't care about you
It's Friday, I'm in love"


The Cure


Na sexta-feira Amo-me, nos outros dias ando a tentar...


A Vida é para ganhar ou para perder? Diz-me...
"há sempre uma candeia"


"há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não"


Trova do vento que passa


Se há uma pequena luz no nosso interior que nos chama temos de a ouvir e calar essas vozes que nos querem calar. Tenho de me unir para que em mim nasça o ser solar que procuro.

domingo, 27 de abril de 2014


Hoje vi um belo ramo de Fusidias.

"Ser diferente pode ser mais estimulante do que ser o melhor."


 Martha Medeiros
 

“Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus companheiros, é porque ouve outro tambor.”


Henry Thoreau


Não quero ser uma formiga no carreiro. Se tiver de ir em sentido contrário vou, mesmo que pareça maluca e extravagante porque acho que as pessoas devem fazer aquilo em que acreditam no seu mais íntimo.

sábado, 26 de abril de 2014

Eu vinha no carreiro em sentido contrário.

Eu sou maluca...eu sou maluca...


Ou tenho algo de extraordinário?