Certas ruas
Eram
ruas que se desequilibravam como se lhes faltasse a bengala, ruas de cidade nas
quais ninguém investia qualquer quantia. Passeavam por lá lobos solitários e
gentes que não sabiam a quantas iam. Pensamentos tortuosos deambulavam e diziam
boa noite a outros, outrora sensatos, agora decadentes. A lua surgia sempre com
os seus murmúrios entristecidos nessas ruas que cambaleavam juntamente com os
cães desabrigados do vento que lhes roía o seu âmago. Uma senhora falou e
ninguém ouviu, falou horas a fio. Parecia autêntica filosofia mas o ruído do
silêncio permaneceu nesse dia nas ruas que são agrestes a tudo o que é
diferente de cruzamentos e cruzamentos sem saída. Um estrangeiro quis
atravessá-las com a sua bondade mas foi afastado com uma maré de obscuridade. As
ruas estão repletas de frases arruaceiras ditas por criaturas de pouca
virtuosidade e engolidas em seco por homens de barba longa. Faltam-lhes
destinos, tropeçam nas pedras que estão no seu próprio caminho.
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