quarta-feira, 7 de maio de 2014



Certas ruas

Eram ruas que se desequilibravam como se lhes faltasse a bengala, ruas de cidade nas quais ninguém investia qualquer quantia. Passeavam por lá lobos solitários e gentes que não sabiam a quantas iam. Pensamentos tortuosos deambulavam e diziam boa noite a outros, outrora sensatos, agora decadentes. A lua surgia sempre com os seus murmúrios entristecidos nessas ruas que cambaleavam juntamente com os cães desabrigados do vento que lhes roía o seu âmago. Uma senhora falou e ninguém ouviu, falou horas a fio. Parecia autêntica filosofia mas o ruído do silêncio permaneceu nesse dia nas ruas que são agrestes a tudo o que é diferente de cruzamentos e cruzamentos sem saída. Um estrangeiro quis atravessá-las com a sua bondade mas foi afastado com uma maré de obscuridade. As ruas estão repletas de frases arruaceiras ditas por criaturas de pouca virtuosidade e engolidas em seco por homens de barba longa. Faltam-lhes destinos, tropeçam nas pedras que estão no seu próprio caminho.

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