sexta-feira, 4 de julho de 2014
Embuste
Sou atormentada por repetidas visões de salvações que não se deram, que forçam os meus pés a enterrarem-se na profundidade de uma terra de dramas cujos nomes vou mudando mas cujo título é sempre o mesmo porque no sofrimento em que vivo constantemente não há lugar para uma pequena ternura. Correm-me nas veias cores que me atraiçoam quando tento construir dias diferentes, na minha cabeça um caos metálico trava-me os gestos e devaneio facilmente nas armadilhas da existência. Sinto cada vez mais o rugir de algo que vem com muita força de dentro de mim, é um choro aflito que me torce toda e que me cobre de sensações de uma penumbra que possui o meu corpo por inteiro. A angústia de não conseguir aniquilar a cristalização dos movimentos que sabotam qualquer filão de vida fresca parece navalhas num embute à minha espera, numa altura em que tenho demasiadas cordas a embaraçarem-se nas minhas pernas este está mais perto do que nunca.
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