domingo, 20 de julho de 2008
Não sentes esse barulho crescente, esse vento nascendo degraus de letreiros trocados, esse vento vertendo sílabas tapando suspiros de olhos indicando a perda das decisões e revisões à hora do café, que vai ficando gelado? Quando a respiração se consegue escapar não deixes que os fósseis troquem palavras e olhares, pois os batimentos das unhas gelam-se e podes ficar retido nas suas prisões familiares. Não aparece como uma pergunta, é um pedido... Diz-se que é um bandido, que vem quando o sol se põe e mal se vê a sua face, de pano enrolado, ele diz-te apenas: “queres aquilo que pediste?” Não podes vacilar…Do outro lado do jardim a planície acompanha os ramos d’ouro e de marés de calor que se espalham cheios pelo sopros dos dentes de leão voadores que começaste. As colinas sonham um sonho já começado que começou há muito, de cores douradas que a beira de água das estradas reflectem na tarde de sono breve cheia de quantos-queres, reclinada e abraçada sobre o que perdura dessa mão quente que aquece e vai aquecendo sempre. Floresce uma varanda que se estende e estende como se não soubesse fazer outra coisa nesse rosto sorridente de dentes mansos rosa e verdes deslizando na pulsação que se afunda nas palavras mexidas da areia fingindo fogo de libélulas que levam nos teus olhos as cores de todos os horizontes. Vai escamando a espessura dos peixes da terra febril dando em loucos os bichos que se encontram num festim desenhado a rigor nessa cor dos lilases, tulipas e malvas. Eis o teu querer, mais que do querer, vê bem, fala com a saliva giratória inundada do cheiro da laranjeira e do limoeiro que minhas mãos em fonte te abriram. Os nossos corpos colam porque de tão vestidos estamos, as roupas apenas cobrem em musgo como se o possível fosse ainda mais possível. Mas repara, estou nua demais para estar vestida, pés também descalços, arranquei as unhas e os cabelos e pêlos. Apenas se os teus olhos forem grandes, grandes como mil berlindes em comunhão poderás sentir esse vento nascendo degraus, esse beijo, esse toque que traz consigo a humidade, no calor que abrasa os corpos que dizes serem prazer. Onde é o meu lugar só há pássaros e os teus olhos sei reconhecê-los aqui ao longe na padaria, no meio da correria dos cavalos, os teus olhos olho-os sempre de frente, como se de céu fossem fundindo-se com os meus e se me tocas já te toquei. O que vês é de olhos abertos sempre e o desejo não é mais do que um voo sem destino que vai eclodir. As colinas são o interior de algo que não sabes onde fica porque já perdes-te ou perdemos o lugar, respiramos apenas as nossas pupilas, papoilas, de deslumbramento como de vazio se pode falar tantas vezes?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário