domingo, 27 de julho de 2008

Ela era incomodativa, era chata, possessiva, cercava-o, agarrava-o quando estava distraído. Ela gostava de dançar o tango aos sábados à noite no teatro Luís de Bento, ao pé de casa. Era uma óptima dançarina, todos a adoravam, era simpática e prestável, bebia um gin ou dois e dançava, dançava. Levava um vestido apertado e curto, sensual, de cores fortes, cabelo solto e arranjado nesse dia no cabeleireiro. Penso que seria a melhor bailarina do sítio, todos pediam para dançar com ela. Tinha conversas animadas, contava histórias incríveis de todos os países que já tinha visitado e o seu quotidiano estava também recheado de histórias engraçadas, fora do comum. Mas ele não sabia nada disto porque ele falava por si, para si, em si. E nesse mundo assim ela era incomodativa e tudo o resto, ela que lhe pedia que ele lhe contasse as suas histórias e queria ouvir a sua voz acendendo-se. Mas quando ela falava, quando ela dançava para ele era menos do que mais.

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