terça-feira, 17 de junho de 2008

dormindo embalada
pelo abraço do acordar
porque o calor
se espalha no que o amor
diz agora das janelas
encontrar-se-iam
nos sinais dos dias
quero desvendar
o que puder
nesse regresso voador
que canta nas veias
entrando nas salas
no alto dos mastros

P.s.: aí é que eu estava bem agora: no alto dos mastros...

O esboço desfeito, quando nem sequer queria construir um silêncio, apenas uma casa de nuvens. Mas houve um deus ofegante que inchou a sua corola e deteve o meu sonho. Tornei-me num caminho de areia, os meus desejos aprisionaram-me num erro seguido de outro. Depois disseste-me algo que a dor comeu em mim. Foi a perfeita restrição do ser nos seus movimentos, na figura de pedra sentindo mais do que era possível, com os seus dedos à míngua. Sabes como é não ter movimentos e ver os pássaros nos lábios de alguém sempre fugindo? Será que estás nos meus olhos? Porque és uma claridade oculta que chega frágil até mim. Na costa há feridas que não sabem adormecer e lendas que penso serem loucas. Fiz o caos ou o caos fez-me a mim, porque derrubei os muros, as cidades todas partiram e ri-me dos barcos que levaram os sentidos pois os sentidos são irreais. Estive de joelhos demasiado tempo, mas as palavras sempre tiveram a razão de cantar o seu espanto e o seu espanto nunca morreu. Rastejei pelo mundo que criaste, a tua voz juvenil cercou-me de medo e sugou-me no escuro da casa. Ninguém respondeu à criança da noite, ignorante, cega, desprotegida, no seu templo de solidão. Sacudo o sono dos sonos e mostro um novo segredo. Será que me entendes, esta liberdade que renuncia às bússolas orquestradas e apenas se guia pelos seus gestos essenciais? É preciso encostar os olhos à sede e deixar falar tudo o que me pertence e tudo o que me abraça. Ser passageira de um tempo que apenas passeia pelas frinchas, brechas, pelo veloz e qualquer sementeira que se esconda como um tesouro num espaço aberto na planície, um som vivo que transporta a minha voz.

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