terça-feira, 17 de junho de 2008

Dizem que se esquece como se esquece um nome. Agora o tempo agita os olhos de viajante que começam a conhecer os mapas da liberdade. Águas maduras que atravessam rios com o vigor das chamas. O canto dos pássaros nos braços das árvores acenando-me. Ainda chamas por mim… Uma nuvem é um desenho lançado a um tempo qualquer e eu desenho o meu com palavras roubadas de navios, roubados do mar, roubado de uma fogueira. Ainda queima essa maré desabitada? O canto das cigarras, oiço-o toda a noite, um apelo aos degraus do meu desejo. Desejo apenas despir-me em mil acácias…

Todas as folhas são violetas e o céu está forrado de rios e serras. É o dia dos poetas, que morreram um dia. Agora os seus braços de mel libertam as palavras presas para dizer que a miséria está viva e a podridão acontece a cada instante. Arrastam os seus soluços de joelhos correndo à frente do tempo nas histórias das outras vidas, cantando as suas dores adormecidas, os silêncios esbatidos, a incomplitude confusa de quem não sabe. O impossível mundo... é esse mundo que toca em todas as campainhas, é esse mundo que deve percorrer as veias dia e noite porque de matéria química somos feitos, essa sempre fecunda. Todas as folhas são violetas e o céu está forrado de rios e serras. E se ouves uma voz nessa cruz onde ficaste preso, é essa voz a que deves retornar.

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